quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

" É SEMPRE ASSIM ... "



Quando o ser humano é submetido a uma qualquer situação de choque ou de sofrimento acima dos seus limites, normalmente reaje por fases.

Primeiramente, surpreende-se, revolta-se, entra num período de recusa e inaceitação, sente-se injustiçado, pergunta-se "porquê a si" ( como se devesse usufruir de algum privilégio em relação aos seus semelhantes ), rebela-se em desespero e impotência, interroga-se ... mas normalmente fica sem capacidade reactiva imediata, num estado cataléptico, sem poder de resposta ...
Fica simplesmente em choque, inerte, não age ... a tentar digerir ainda o que lhe está a acontecer ...

Numa fase subsequente, perante a situação fortemente adversa, torna-se interveniente, passa à acção, degladia-se, esbraceja, esgrime interpretações, ultrapassa-se na busca de soluções que imagina, inventa até o absurdo, numa tentativa de encontrar uma qualquer saída, que contornasse  a situação e repusesse a acalmia pré-traumática.
Esfalfa-se, cansa-se, luta, consegue exaurir todos os recursos que tem dentro de si, em desespero ... esgota-se !...
Os seus níveis de resistência física e mental, abanam no meio do "temporal", e poderá ter raízes sólidas que mesmo assim o mantenham preso à terra ... ou não !...

É um período de longo sofrimento e desgaste, físico e psicológico, em que são desproporcionais os recursos investidos, face aos resultados alcançados.
Quando as situações são inevitáveis e irreversíveis,  não adianta o  manancial  de esforços desenvolvidos.
Tudo continua a desenrolar-se como tem que se desenrolar, inabalavelmente, impiedosamente, sem se compadecer com o indivíduo, perdido no olho do furação, no coração da tempestade ...

Esse tempo, é um tempo de agonia, mais ou menos longo.
Ele  leva  finalmente  o indivíduo a tirar a venda dos olhos, coloca-o perante a inevitabilidade da experiência, perante a realidade objectiva, que recusa, desagrega-lhe convicções, desestrutura-lhe as capacidades, degrada-lhe as potencialidades de reacção e resposta, conturba-lhe a mente e o espírito, obriga-o a encarar finalmente o que tem entre mãos, e confronta-o com a sua ineficácia na reversão dos factos.
A esperança  vai-se, o cansaço é bem acima dos seus limites ...
É quando o indivíduo consciencializa que é assim, que nada mudará, é quando o guerreiro depõe armas, é quando se encolhem os ombros, é quando a desistência começa a imperar, é quando a algidez toma conta do náufrago à deriva, que se abandona ao destino ...

E chega-se à terceira fase do processo.
A fase de indiferença, a fase do não valer a pena, a fase de uma estranha e dolorida pacificação.
É por isso que nas grandes catástrofes, vemos pessoas com reacções estranhas  de insensibilidade, que nos surpreedem e que custamos a compreender, pessoas que parecem alheadas, adormecidas, mas que se calhar, estão é mortas por dentro.
É uma fase de uma espécie de luto de alma, ou talvez de adaptação  penosa, ou talvez de  assumpção  da real pequenez e irrelevância da sua capacidade actuante, face  à dimensão da onda gigante a que foram submetidas.
O indiferentismo patológico instalado, conduz a uma inércia de vida, a uma desistência de luta, a uma negação de tudo ...

É a fase em que a "avestruz mete a cabeça na areia " ... é a fase em que o ser humano claudica e abandona a vontade de acordar, de se reerguer, de viver ...
É a fase em que uma apatia imensa, é transversal a toda a sua vida.
O indivíduo torna-se indiferente, mesmo aos aspectos básicos e primários da mesma ...

É  como se uma longa e densa cortina de sono e silêncio, descesse sobre si e o tolhesse, enquanto ser vivente ...
Uma espécie de hibernação do coração e da alma !!!...

Anamar

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