domingo, 17 de fevereiro de 2013

" FILOSOFANDO, DIATRIBANDO ... OU NADA, SIMPLESMENTE ? "



O tempo está como nós, ou pelo menos o tempo está como eu, numa indefinição inexplicável, mas se calhar espectável, entre  manter-se o Inverno que ainda é, ou amanhecer Primavera que ainda não é, mas que todos gostaríamos por aqui ...
Ontem, de facto, um dia primaveril de sol morno, de luminosidade branda ...
Hoje, um cinzento implacável, sem princípio e sem fim, e uma chuva persistente, convincente na permanência com que cai.

A minha gaivota sobrevoa sozinha, o meu céu, fugida do desabrigo do litoral, recortando-se neste chumbo uniforme aqui de cima.
Lá em baixo, o meu "Farrusco do fiambre", de olhos amendoados, olha-me quando assomo.
Encharcado até à alma ( se gato também tem alma ), à chuva, encolhido, por forma a  reduzir-se à bolinha preta mais pequenina que consegue.

Olho o horizonte, que não é horizonte, porque não se sabe onde começa, nem onde acaba ...
Lá longe, o casario  embrulha-se numa neblina parda.
Por detrás dela, algures no Mundo, um lindo sol laranja, brilhará, tenho a certeza !
Dói-me a alma, e olho a chuva, desalentada ...
Está a despachar as pessoas  para casa ... para onde mais ?

Neste momento, para mim, ir para casa é um tormento.
Encontro uma casa ainda mais vazia, apesar de ter lá mais uma pessoa, a minha mãe.
Encontro uma casa mais pesada e doentia, porque o seu estado de saúde me desgasta, me atormenta, me desespera, me tira as forças.
Encontro uma casa ainda mais silenciosa, porque há um silêncio de crepúsculo, permanentemente a pairar por ali ...

Na minha casa instalou-se a luz difusa das catedrais em fim de tarde, o frio das lajes do empedrado, a infinitude e a imensidão da nave central, a dormência do que parece ausência de vida.
E há um roçar esvoaçante de morte, por lá.
Há o bafio dos seres que foram e já não são, seres que estão na linha difusa entre o cá e o lá.
E a minha mãe, neste momento, não vive.  Isto que ela detem, na pessoa que ela foi, é simplesmente um simulacro de vida.  É uma maldade do destino, que "marina" os seres vivos, a seu belo prazer, indiferente à tortura que institui.

Tenho a sensação que já escrevi sobre tudo ;  tenho a sensação que repito títulos, e também temas ;  tenho a sensação de ser teimosamente recorrente, nas abordagens .
Sei que sou execravelmente "aborrecente" ( aborrecida + insistente ...  inventei agora ...  :) ),  nas dissertações.
Isso significa que longe de haver evoluções no meu estado de espírito e ânimo, há involuções,  e significa que eu continuo na linha de partida, sem ouvir o disparo, e sem arrancar nunca !

Mas o que é facto, é que o ser humano, para diariamente cumprir mais uma etapa da prova, tem que ter um objectivo ;  tem que ter uma linha de meta a ultrapassar ;  tem que sentir que esse dia é mais uma batalha, da guerra que acredita vencer ;  e que o seu percurso é feito de somas, parcela a parcela ;  e que a escada, degrau a degrau, permitir-lhe-á, espreitar lá no alto, para além do muro ...

E isso, eu não sinto ;  e nisso eu não acredito !
E isto, eu já disse miríades de vezes ... "aborrecentemente" !!!

Sinto que o meu Tempo, não é o Tempo de ninguém.
Sinto que a minha vida, se faz  ironicamente, em contra-ciclo com todas as vidas  que comigo se cruzam.
Sinto que as minhas cotas de sonho, de esperança e de crer, são meras utopias apalermadas, desajustadas às realidades, desajustadas aos tempos, e à pessoa que eu já tinha que ter aprendido a ser ... "crescida", adulta, madura, realista, "pé no chão", e não adolescentemente utópica, e tontamente sonhadora !
E não sinto em mim, ânimo, nem força, nem convicção, para reiniciar a marcha, dobrar as esquinas, olhar a várzea do alto da penedia, porque dificilmente acredito em recomeços !!!...

Anamar

Sem comentários: