sábado, 23 de fevereiro de 2013

" UM POUCO DE NADA ..."



Já há alguns dias que não escrevo.  Contudo, preciso fazê-lo.
Já comecei mais do que um post, que deito fora de seguida.
Não tenho assunto, não tenho arrumação de ideias, não tenho fluidez de escrita ...

Toda eu estou caótica, cansativamente caótica.  Toda eu estou um turbilhão de sentimentos, de estados de espírito, de maus-estares.  Toda eu sou um conflito interior, uma tempestade sem bonança a espreitar, uma dor sem entorpecente que ajude, uma sangria sem garrote ...
Sinto a minha cabeça num liquidificador, sinto a mente numa montanha russa ... e do coração, já nem sei !...

No cérebro, as ideias e os pensamentos, batem ao ritmo das batidas da bola nas raquetes de ténis.
Ecoam em pancadas secas, enérgicas, sincopadas, perfeitamente ritmadas e agressivas.
Pum, pum, pum ...
Não tenho linhas de raciocínio, nem conexão de ideias, como disse.
Parece que mentalmente estou a esfiapar, como um elástico velho ...

Entretanto, o tempo que sempre tanto me perturba, está agreste, carrasco, pouco misericordioso.
Estamos a um mês da Primavera, virá o Verão a seguir, depois da tempestade  vem a bonança, nem tudo é branco, nem tudo é preto, o copo não está sempre meio vazio, pode também estar meio cheio ... as coisas complicadas  são  feitas  de  coisas  simples ... e   mais  uma dúzia  de   máximas  pré-fabricadas  e  inconsequentes ...

As chuvas abundantes, fizeram florescer e maturar tudo mais cedo.
Calculo que as tamareiras devem estar com os cachos das bagas verdes, já alaranjadas ;
calculo só ... porque sei que as mimosas já se engalanaram com o ouro esperançoso, desbundando o perfume intenso pelas matas ;  sei que as flores amarelas sem nome, também já enfeitam as falésias, e por certo as margaridas silvestres, também por lá estarão, a formar os tufos rasteiros, de tapete gracioso ...
Sei isso tudo ... e o que não sei, imagino fácil.
"Vejo" o mar, entre aquele verde-azul-cinzento, cavado, a bater com a força toda, nos rochedos que tentam confiná-lo  a  espaços a que chamamos praias.
Espelha o céu, uniformemente cinzento . 
E branco mesmo, só temos as rendas esvoaçantes da espuma nas areias, e o peito das gaivotas, que se deixam ir numa dança aleatória, ao sabor da aragem gélida.
Ainda de longe, e já se ouve o grasnido do bando, em volteios lúdicos, ou na euforia do mergulho no dorso das ondas ... p'ra peixe !

Como é que se vive sem objectivos ?
Como é que se caminha, se não se tem itinerário, e se é indiferente voltar à esquerda, ou à direita ?
Quem tem por que lutar, pode dar-se por feliz, porque ainda que a tempestade desabe sobre a sua cabeça e seja destruidora, terá o desiderato de a vencer, terá o móbil de se agigantar peramte ela.
E chegando ao fim de cada dia, provavelmente esgotado, acredita que está a dar passos para atingir o desígnio que persegue ... mesmo que nunca o atinja, mesmo que não tenha já tempo útil de o alcançar ...
Essa será a sua razão de vida, será o motivo por que acorda, será a onda que o impulsiona, será o motor que o não deixa desistir ... e sobrevive ... na realidade só sobrevive.
Mas sempre espera, que com mais uns dias, com mais uns meses, com mais uns anos, a meta atinge-se.
Até lá, não olha para o lado, não desvia atenções, todo o esforço e ânimo se canalizam e se centralizam no objectivo.
E esse indivíduo, se alguma vez o atingisse, ficaria esvaziado, ficaria amputado da razão de viver.
Porque se alimenta dele, respira por ele, ele é a sua estrela guia.  Esse indivíduo depende desse objectivo .
E vive !...

A inexistência  de "leit motiv" para se derrubarem as barreiras do dia a dia, é que nos faz sentir vazios, ninguém, nada !
A ausência de um "ter por que", é que nos faz sentir nem mais nem menos, que aquele pedaço de madeira que anda há anos, talvez há décadas, no mar que o traz, que o leva, que o joga à praia, ao sabor do sobe e desce das marés.

Costumava com alguma fixação, curiosidade e quase obsessão, numa espécie de jogo, experimentar seguir com os olhos, os avanços e recuos desses desperdícios indefesos, que a água arrasta ao sabor do seu ímpeto, como quem brinca, insensível ...
Costumava às vezes, vê-los encalhar nos rochedos, parecerem fixar-se, e eu com eles, ficava feliz, como que aliviada, porque aquela madeira envelhecida, carcomida e macerada, parecia ter encontrado um porto seguro, um sítio, uma "amarra", um lugar ... e parecia finalmente poder descansar, parar da  luta  incessante do vai-vem das ondas, alcançar paz !
E eu alegrava-me ... Estranhamente, eu alegrava-me  !...

Só que o açoite do mar não tem parança ou compaixão, e uma maré mais agigantada e forte, indiferente ao "assossegamento"  daquele tronco, como numa partida de criança traquina, voltava a pegá-lo, a enrolá-lo no rendilhado branco da espuma, e no recuo, arrastava-o de novo para o turbilhão, e no recuo rolava-o mais e mais nas batidas insistentes, rumo a outras areias, a outras escarpas rochosas, a outros destinos, a outros sofreres ...

Que contaria aquele cavaco, sem vontade própria, sem capacidade de defesa, sem rumo definido, sujeito à aleatoriedade da braveza das águas ?
Que histórias de cansaços, de más memórias, de mágoas vividas, terá na sua  história ?
E onde estaria ele, antes de ser tronco à deriva, feito árvore frondosa, hirta, erguida aos céus, donde contemplaria o Mundo ?
Seria árvore de floresta ?  Seria árvore de mangue ?  Seria árvore sozinha, de força e coragem ?
E claudicara porquê ?  Pela doença, pela velhice, pela adversidade dos elementos que a não pouparam ... ou pela mão e pelo coração desumanizado do Homem, sempre ele ?? ...

Não importa ...

Ele teria uma narrativa a contar seguramente, se alguém a quisesse escutar !...

E dia após dia, e noite após noite, e maré após maré, e praia depois de praia, em Verões e em Invernos, num desgaste continuado, rumo a mundos inóspitos, pertença de ninguém, tendo como únicas certezas, o mar e o céu e o Tempo imparável ... o tronco flutuará, sossobrará, desfragmentar-se-á, mero joguete dos acasos, cumprirá a sua sorte, rumo à infinitésima partícula da sua existência ... rumo ao vazio ... rumo ao nada ...

... ele,  como  todos  os  "troncos"  humanos,  que  sem  saberem,  imparavelmente  oscilam  nas  marés  da  VIDA !!!...

Anamar

1 comentário:

Anónimo disse...

So ωhаt can thiѕ аll іmply?


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