terça-feira, 11 de março de 2014

" A ESTRANHA EM MIM "



Olho-me no espelho, e não sei ver-me.
Olho aquela imagem, lá por detrás dele, e nela sobrepõem-se mil outras, que são e não são, minhas !
É estranho conviver, com a estranha que se desenha por detrás daquele vidro, postado bem na minha frente.
Não consigo perceber se estou gorda, se estou magra, se envelheci, se ainda tenho frescura no rosto ...
Não  consigo  distanciar-me  o suficiente  para  dizer, como  facilmente digo daqueles com quem me  cruzo ; " Ah, está tão diferente !" ... "Ah, está tão caída !"... " Ah, está mais novo !"...

Todos esses, são entidades fora de mim, que eu posso tocar, que não têm pontes físicas ou psicológicas comigo, com os quais não tenho um "compromisso" emocional, assumido.
É como quem olha um quadro.  Sem nenhuma envolvência emocional, consigo ver, analisar com objectividade, pelo menos, a minha objectividade ... e raciocinar a propósito, fazer a propósito um juízo de valor, uma apreciação !

Esta imagem aqui, atrás deste vidro manipulador, joga comigo de gato e de rato, não se corporiza na verdade, não consigo afastar-me dela o suficiente, para a analisar com olho clínico de observador atento, ou olho perspicaz de detective.
Aquela ali, devo ser eu ... mas na verdade, não me deixa margem de isenção, para que eu raciocine sobre ela, porque com ela estou envolvida.
É efectivamente, uma estranha em mim !...

Somos obrigados a conviver com um invólucro, desde que nascemos, até que o transportamos à porta de saída.
Um invólucro em permanente mutação, que às vezes nos agrada, noutras nos decepciona.  Que às vezes nos angustia, noutras nos enfurece. Com que guerreamos, com que nos empolgamos ...
Por vezes torna-se muito pessoal e próximo.  Noutras, fica desconhecido, distante, rejeitado, porque não queremos sequer, ter consciência dele.

Creio que projecto no espelho aquilo que quereria ver.
Se calhar, as outras pessoas, também !
Queremo-nos jovens, e com frequência, sem capacidade de senso crítico, permitimo-nos agir como tal !
E não temos distanciamento suficiente, para que percebamos que somos aquela imagem, e não a outra, a que temos no espelho cerebral !

O ser humano, quase sempre, afasta o que não quer, por defesa, por comodidade, desagrado, por insatisfação ... por sonho ...
Quantas vezes olhamos numa revista cor-de-rosa, um rosto obviamente bonito ( são ... ou põem-nos, quase todos ), e pensamos : "aqui está o corte de cabelo que me deixaria deslumbrante !  Tenho que fazê-lo ! "
Mas depois, quando caímos em nós, percebemos que mesmo ostentando o cabelo daquela forma, na ausência daquele rosto, jamais ficaríamos deslumbrantes, como a pessoa em causa, obviamente.

Não sei se as outras mulheres são assim também, ou se serei só eu, que tenho a auto-estima aos calcanhares, sou tonta, ou deliro ...
Mas isto é consequência única, de um "equívoco",  pelo qual  recusei momentaneamente assumir a minha real imagem, porque a enjeitei e não me gratifica !...

Depois, quando reflicto sobre estas minudências ridículas, envergonho-me do ser pequenino que revelo ser, ao deixar aflorar tanta tonteria ;  mas logo a seguir, incho como algumas aves fazem, puxando dos "galões", para me impressionar.  Acaricio o ego, e digo : " o que na verdade conta, não é a imagem exterior de um ser humano, mas sim o que ele guarda em si mesmo, enquanto ser humano que é.
O que conta é a sua essência, o seu conteúdo ... não, o seu continente !
O que conta é a sua genuinidade, a riqueza interior, e não a frivolidade ...
E um ser bonito por dentro, jamais poderá ser feio e escuro por fora.  Um ser com um interior rico, forçosamente reflectirá essa luz à sua volta, não sendo necessária  muita perspicácia, para que isso se denote e perceba ! "...

E patati, e patata ...

E encharco-me com estas máximas sonantes, para me redimir e tranquilizar ...

Como se vê, este hoje, foi um post "da treta" !
Mas as pessoas são assim mesmo, creio ;  no seu dia a dia,  flagram-se com posturas, atitudes, pensamentos irrelevantemente caricatos, que são isso mesmo, irrelevantes e caricatos, frívolos, atingindo as raias do ridículo.
De tal forma que, quando os consciencializamos, os achamos profundamente idiotas ...

Mas olhem, e por que não falar também deles, se eles, embora pouco ortodoxos, pertencendo à área menos nobre do indivíduo, embora pertencendo ao "avesso" do socialmente adequado, embora estando na "ourela" de nós mesmos ( e a ourela, é o que não convém nunca ser exibido ) ... também fazem parte da minha imensa imperfeição, enquanto mulher ??!!...

Portanto, não salvei o mundo, não publiquei um assunto de estado, não assumi altruísmos sociais, desta vez, não esgrimi considerandos sobre assuntos proeminentes e avassaladoramente importantes, não estive politicamente correcta ...
... Enfim, deitei fora um "véu", pela janela, sem perturbações ...
E pelo menos, quem me ler, terá rido, seguramente ...

E dizem que rir, rir muito, é uma excelente profilaxia  do avanço das rugas !!! ... (rsrsrs)

Anamar

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