domingo, 23 de março de 2014

" A MATA "



Na mata havia um casal de melros, uma borboleta branca, e uma única mimosa ...

Demorei a redescobri-la, e pensei para mim, que na devastação que por lá provocaram, ela também teria ido.
Mas não !
Verdade seja, que seria uma vergonha, uma mata, sem mimosas !...
Vi-a há alguns dias, porque as bolinhas amarelas, começaram a abrir e a tornarem-se novelinhos de algodão, fofinhos  e  cheirosos, dependurados pela ramagem.  Faz de tudo para espreitar o sol, na clareira onde habita ...

As flores também deitaram o nariz de fora.  São brancas, amarelas e lilazes.
As azedas, ora abrem os cálices às abelhas, se o sol der a sua graça, ora ficam espremidinhas e dormem, bem fechadas, se o dia acinzenta, e alguma chuva miudinha desce.
Atapetam tudo, e na companhia  dos dentes de leão, dos pampilhos, das biscutelas, ou dos malmequeres silvestres, todos amarelos ( como são as primeiras flores que despertam no início das Primaveras ) ... dos folhados ( delicados bouquets brancos ), ou ainda das vincas ou  erva donzela, azuis arroxeadas, decoram e perfumam aquilo por lá ...

E depois, há o silêncio.
Esse, não tem preço, porque é um bem em vias de extinção, com um valor inestimável ...

Gente ... gente não encontro.
E é uma paz ... porque acho que gente, estragaria todo o contexto !

Ando com pouca paciência para encontrar pessoas ...
Estou mais no registo do urso pardo, que vagueia pela floresta, sozinho, com todo o tempo do mundo, dia após dia, seguindo a determinação da sua natureza biológica, simplesmente.
E não parece infeliz, o urso pardo !...

"Infeliz" ... que engraçado !...
Só o ser humano conota os estados de espírito, as contrariedades, as frustrações, as ansiedades, as amarguras ... com felicidade, ou infelicidade.
Felicidade ou o seu contrário, essas coisas que não existem, já aqui defendi, e que não passam de uma tradução, em linguagem humana, do grau de insatisfação, de desequilíbrio, de desajuste, de desarmonia, que o Homem experimenta ...
E complica a droga da vida !...
Coloca a existência, permanentemente na corda bamba, no "tem-te não caias ", do equilibrista de circo ... sem rede por baixo !...
Tudo, porque o Homem tem miolos, dentro da caixa negra que lhe colocaram por entre as orelhas.
Miolos, que são os "complicadores" de serviço, maioritariamente ...
Depois, quando resolvem entrar em negociações com o quartel-general, que está bem no meio do peito, fica tudo lixado !
Há um equilíbrio de forças "desequilibradas", tipo guerra fria, porque aqueles dois centros de resolução, estão quase sempre de candeias às avessas, de costas voltadas ...


E há então uma degladiação de forças, na capacidade decisória.  Há uma guerrilha constante, há guerra de emboscada, há golpes baixos, há toda uma panóplia de safadezas, que aqueles dois fazem um ao outro.
Parecem o governo e a oposição ...
Normalmente, se os miolos mostram um indicador de prudência, perante determinada  circunstância , o coração manda as tropas p'ra frente, com uma inconsciência que só ele, de facto, exibe ...
Outras vezes, este, sabe perfeitamente quão devastadora será esta ou aquela decisão, mas os miolos ordenam, que custe o que custar, é por ali, o caminho !
E aí temos nós, o ser humano, nesta maré de recuos e avanços, que destrói, que desgasta ... que mata !...

Por isso, eu ando cansada de gente que nem eu !...

Gosto mais de bichos, de plantas, de marés, de chuva, de vento e de sol ...
Gosto mais de nuvens, que embora sempre em fuga, constroem castelinhos lindos, no firmamento ;  pintam carneirinhos, em rebanhos de algodão pelos céus !...
Gosto mais da lua, que conversa comigo, e nunca me questiona, do sol que me alimenta os sonhos ... e das estrelas também, que como eu, fojem deste céu sem cor, e emigram para o deserto ... onde eu também acho que se está bem ...

Ah ... e de florestas ... de matas ...
Gosto da simplicidade, da harmonia, da paz e da alegria despreocupada e irreverente, da mata ... mesmo que só tenha um casal de melros, uma borboleta branca, e uma única mimosa !!!...

Anamar

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