terça-feira, 18 de março de 2014

" VÁ-SE LÁ SABER PORQUÊ !..."



Daqui a pouco é Páscoa ... daqui a pouco é Verão, e depois ... daí a pouco é Natal, !
E  pufft !.... Mais outro ano !...
A vertigem do tempo é qualquer coisa de loucos !...

Este tempo de Páscoa, vá-se lá saber porquê, chama-me ao Alentejo.

Não  sei  se  é  porque  os  campos  verdejaram, e as  flores   silvestres  os  adornam  despudoradamente ...

Não sei se é porque as cegonhas regressaram às suas antigas "casas", e as chaminés, os postes eléctricos, os locais altos e protegidos, ponteiam o céu com o branco da sua plumagem, encarrapitadas a desníveis ...

Não sei se é porque o sol ainda não castiga os campos, e apetece agarrá-lo todo, por inteiro, e prender a sua luz, que nesta altura é particularmente doce e luminosa, e com ela nos envolvermos e aquecermos por dentro ...

Não sei se é porque a brisa mansa que perpassa, traz em si todos os aromas, de tudo quanto é bravio, e se engalana de cores reinventadas e cheiros redescobertos ...

Não sei se é porque à tardinha, as andorinhas, em labuta incessante, rasam a planície, em volteios de "prima-dona", na busca de gravetos para os ninhos ...

Não sei se é porque as memórias passadas começam também a fervilhar, com a mesma pujança emocionante, com que os borbotos re-adornam os galhos das árvores adormecidas, e que num milagre, acordam ...

Não sei se é porque , a  terra púbere, em pousio, castanha e ocre, se assoma de onde em onde ...  E sobe e desce em amenas encostas, com ondulação espreguiçada, salpicada pelas vacas no pastoreio ... E  estas, dormem e amodorram, enquanto a melopeia dos chocalhos se ouve ao longe, e ecoa na planura deserta ...

Não sei se é porque as badaladas dos sinos nos campanários dos vilarejos e aldeias, perdidas naquele fim sem fim, nos pacificam a alma, nos lavam o coração e nos purificam o ser ... com avé-marias dolentes, na fresca da tarde ... e no céu em crepúsculo, a "estrela do boeiro" manda recolher o gado ...

Não sei se é porque aquela terra sem horizontes ou limites, berço do sol ao dormir, me acena com a liberdade, a paz, e o embalo de um regaço de mãe ... permitindo o reencontro comigo mesma ...

Não sei se é porque aquele silêncio de interioridade, desperta a menina azougada e feliz que eu era ... desperta a moreninha das tranças, rabo de cavalo e joelhos esfolados ... que me fugiu ...

Não  sei  se  é  porque  os  meus  pais, os  pais  dos  meus  pais,  os  meus  amigos, e  os  meus  "todos" ( e todos eram muitos, ainda assim, naqueles anos idos ... ) estão por lá, vão sempre estar por lá !!!...

Não  sei  se  é  porque  os  meus  "sítios",  por  mais  que  os  disfarcem, os  mudem, os  componham  ( dizem eles ) ... estão iguaizinhos, estão intocados, inalterados, com a força do mesmo sangue a correr-lhes nas veias ... porque eu, afinal, sempre continuei lá ...

Não sei se é porque, de quando em vez, os sonetos de Florbela , na minha cabeceira  adormecidos, saltam e povoam os meus sonhos ...
E ela vem contar-me histórias nossas, da charneca em flor que eu sei, das paixões e das mágoas ... que eu também sei ... porque ambas somos mulheres ...

Não sei se por alguma destas razões ... Não sei  se por todas elas ...
Sei lá !!!...

Tenho que voltar ao Alentejo !!!...

Anamar

2 comentários:

Anónimo disse...

Tenho que voltar ao Alentejo, ver as margaridas abrirem com o sol matinal.
Tenho que voltar ao Alentejo, para sentir aquele Sol abrasador, que me aquece os ossos.
Tenho que voltar ao Alentejo, para reencontrar o meu amor.

anamar disse...

Olá Anónimo

Sempre o Alentejo é uma esperança de vida... qualquer uma esperança,seja qual for !

Eu, sinto-o um pouco assim... o carregador desta bateria algures aqui dentro, e que só se carrega com sonhos.

Um abraço

Anamar