sexta-feira, 21 de março de 2014

" PRIMAVERA VERSUS FELICIDADE "



Já é Primavera !
Ontem, antes das cinco da tarde, o posicionamento dos astros determinou mais um equinócio, o equinócio de Março, potenciador das mudanças sempre auspiciosas das condições atmosféricas e naturais, que nos rodeiam.
Tivemos um Inverno excessivo, que, reforçado pelas condições socio-políticas em que vivemos, nos invernou a todos, e nos sugou a energia da esperança, da fé, e da paciência que lhe assiste.
O pessoal hibernou, ou pelo menos, eu tenho-me sentido hibernada !
Dias sem nenhum colorido, que é como quem diz, sem aquelas pequenas / grandes coisas, que nos injectam flashes de adrenalina, que de repente acendem uma luz intensa na nossa vida, que de repente nos fazem acreditar que tudo isto tem potencial para andar, e não é apenas material de sucata, a enferrujar progressivamente com os anos !...
E quando estamos em alta, neste estado de graça, tudo tem de facto graça, e faz sentido de novo.

Enternecemo-nos com a árvore à nossa porta, que, de um dia para o outro, se cobriu com pequenos borbotos tenros e verdes, que prometem as primeiras folhas a despontar, e os primeiros botões que tomarão cor, quase logo ...

Enternecemo-nos e aconchegamo-nos, no calor fraco de um sol que ainda não se atreve muito ...

Enternecemo-nos com o esplendor de um céu  azul diáfano, sem nuvens, ou com a frescura de uma brisa, que é mansa e nos acaricia  ... não nos açoita, como as rajadas do vento agreste, que ainda há um mês soprava ...

Enternecemo-nos com o pipilar das aves, afobadas no acasalamento, porque Março é época de "ninho", de família, do milagre da vida se renovar ... ou com as borboletas multicores, recém-chegadas dos casulos, que voejam, livres e despreocupadas ... apesar do efémero de vida que lhes é destinada, cumprindo o ciclo biológico para que estão programadas ...

Mania, de atribuirmos sentimentos humanos a tudo !...

Ontem, sobre a Primavera, uma frase sábia, dizia : "Se o Homem "pensasse" como o pássaro, saudava cada manhã, com uma linda canção !..."
Privilégio de não ser Homem, de facto, estou crente !...

Ontem também se assinalava, supostamente associada à Primavera, outra efeméride ... o Dia Mundial da Felicidade.
A felicidade, que não é um sentimento, mas um estado de alma, dizia um especialista nestas coisas, no telejornal da noite.
É um vector resultante, da consonância entre equilíbrio, harmonia, realização, plenitude ... bem estar, paz !...

As pessoas são felizes ou infelizes, por uma predisposição biológica.
De facto, quanto maior for a capacidade de procesamento  e tratamento desses sentimentos e estadios pessoais, mais facilmente o indivíduo atinge o Nirvana, em termos de felicidade, sendo que a infelicidade que as pessoas dizem sentir muitas vezes nas suas vidas, não é infelicidade ... mas sim, insatisfação !

A maioria das vezes, está-se insatisfeito por este ou aquele motivo,  com tanto mais frequência, quanto mais alta colocamos a fasquia das nossas exigências.
Consequentemente, desencadeia-se aquele desajustamento que nos deixa perdidos em maré de turbulência, e sem ânimo de prosseguir ... e julgamo-nos profundamente infelizes.

Esta tese, é corroborada efectivamente, quando pensamos na natural e espontânea felicidade, experimentada e exibida, incidentemente  nos povos menos insatisfeitos do globo, na sua vivência diária.
São exactamente, aqueles que, por não terem necessidades especiais, porque a elas não têm acesso, não lhes sentem a falta, não são determinantes nas suas vidas, não se amarguram com a sua ausência.
E é por essa razão, que a civilização dita primeiro mundista ( por que todos, em última análise, ironicamente lutamos ), a sociedade de bens e regalias, que nos sufoca e nos trucida, a sociedade que nos promete o bem estar, um mundo dourado de "felicidade" ... é aquela que gera a insatisfação dos misantropos e dos deprimidos em número crescente, dos que esquecem progressivamente o sorriso e a alegria .,..
É aquela que alberga  seres mais e mais descoloridos e escurecidos, por um mal estar progressivo, por uma solidão devastadora, uma apatia e uma indiferença , incapazes de enxergar e valorizar já, o verdadeiramente merecedor ... Uma tristeza que frequentemente faz sucumbir ...

Afinal, uma sociedade de insatisfeitos / infelizes !!!...

Anamar

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