domingo, 4 de agosto de 2019

" NA RENTRÉE "








Regressei de fora há quase duas semanas.  O tempo desliza à velocidade da luz !
Por aqui, o dia a dia repete-se.  Quem de cá não saíu, manteve obviamente, as rotinas.  Agora, café abre, café fecha, boas férias, boas férias, desejam-se as pessoas.  Afinal, tradicionalmente Agosto continuará a ser por excelência o mês escolhido pelos portugueses, para gozo de férias.
Os que estão, não foram e não irão, falam inevitavelmente das mesmas coisas ... política, que agora também está no defeso, futebol ... em época baixa com algumas competições avulsas sem interesse de maior, e claro ... doenças, porque as maleitas chegam em força a partir dos sessenta .
Depois ... desgraças ...  Acontecem todos os dias e a comunicação social, em especial alguma, adora e vive delas ...
É a faceta masoquista do ser humano !...

Existe uma espécie de hibernação por aqui.

Mala guardada, roupas tratadas e arrumadas, retoma dos hábitos de sempre ... Sinto-me como que "desempregada" ...

Por enquanto os meus sonhos, nocturnos, pelo menos, mantêm-se por lá, pelos sítios por onde andei.
Revivo o mar doce de quente, revejo a costa emoldurada pelo coqueiral, pelos pássaros e pela brisa que acaricia, revisito as caminhadas às seis da manhã, quilómetro a quilómetro, com os pés beijados pela maré espreguiçada e sonolenta.
Revejo o azul  turquesa e transparente, ora mais verde, ora mais intenso no azul que ostenta, ora prateado, escurecido se há nuvens encasteladas em abóboda brincando de fantasminhas, ou dourado e em fogo, se o sol nele se projecta, nos nasceres e nos pores.

Tudo está fresco e recente, as fotos estão-me nas mãos, e aquela "comichão" na sola dos pés que me empurraria para qualquer destino, é uma doença crónica.  Decididamente, eu padeço da síndrome das malas às costas ...  😃😃😃

Agora entrou Agosto, e com ele, esta modorra de um Verão meio descaracterizado que em termos meteorológicos ainda não se afirmou.
Vento e mais vento, dias frescos e enfarruscados ...  Bons para a minha caminhada.
Retomei-a esta semana, depois de uma de descanso, em que tentei por em ordem os pés que chegaram tremendamente inchados da viagem longa.
A circulação sanguínea, deficitária na imobilidade de um avião em horas e horas de voo, a isso leva !
Tromboflebites são um risco nestas circunstâncias, mas, faço de conta que não vejo, menos ainda valorizo.
Acho que também nisto, sou como o meu pai.  Não queria nada com médicos, como dizia.
Quando partiu, com noventa anos feitos, a sua secretária guardava no fundo das gavetas, medicamentos aviados e nunca tomados !  Era endiabrado, o meu pai !!!
Era um ser livre.  Talvez o mais livre que atravessou a minha vida.  Tinha uma faceta de menino desobediente e refilão.  Não passava cartão a convenções e obrigatoriedades.  Geria e regulamentava por si, a sua própria vida ...
Procurei, e penso que de alguma forma alcancei este estádio, também para mim própria.  Deixei de dar satisfações a terceiros, organizo-me ao meu jeito e modo, e tenho um pouco o lema de ... "quem gosta, gosta ... quem não gosta ... temos pena " ... como "soi dizer-se" !

Entretanto,  Agosto é "aquele" mês ... Três dos meus, aniversariam.  Mãe e filho no mesmo dia, completam respectivamente 46 e 18 anos.  O  "caçula" dessa equipa, uma semana depois, atinge os 12.
O António ... "vejo-o" de fraldas, bamboleando-se  ao som da "Joana come a papa" em fins de semana em casa de avós ... já fez o acesso ao Superior.  Ganhará o estatuto de universitário e prepara-se para tirar a carta de condução ...
Incrível, como isto é possível !  Como é que o rapaz cresceu desta forma, e eu nem dei por isso ?!...
A menorzinha, de outro "team", nos seus recentes dois aninhos, tudo fala, tudo conversa, numa alegria só, como criança livre, feliz, desinibida e sociável que é !

E como não estar eu própria,  feliz também ?...
Tenho saúde, tenho amigos, tenho uma família com as imperfeições e dificuldades maiores ou menores de todas as famílias ... vejo-os crescer, fazerem-se gente, sem demais atribulações.  Amo os que me amam.  Vivo cada dia de "per si" ... pois já percebi que quem sofre de véspera, é o perú do Natal ... 😌
Sonho ... continuo a sonhar, e tenho que acreditar que o melhor dia será sempre o de amanhã ...
Tenho muitas saudades dos meus pais ... sobretudo da minha mãe que ainda há pouco partiu.  Mas tenho a certeza que por onde quer que ela ande, também estará feliz.  Teve uma vida longa e realizada ao seu modo, e sentir-se-à orgulhosa, seguramente, ao espreitar cá para baixo  ( ? ), por todos os que por cá deixou ...
Porque afinal, todos não somos mais do que sementes da árvore que ela foi !...






Anamar

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