quinta-feira, 8 de agosto de 2019

" NOVOS TEMPOS ... NOVOS FORMATOS !..."





UM AMOR EM DUAS CASAS. QUANDO OS CASAIS DECIDEM VIVER SEPARADOS
30/07/2019


Não é um modelo de relação novo, mas parece ser cada vez mais frequente. É adotado por casais de todas as idades, pelas mais variadas razões, que vão desde a vontade de manter o espaço e a independência de cada um ao medo de envolver os filhos em novas relações. Quais as vantagens deste sistema? E as desvantagens? Dois psicólogos e terapeutas familiares explicam.
Texto de Joana Capucho

Duzentos metros. É esta a distância que separa a casa de Paulo, de 40 anos, da casa de Dina, de 41, com quem namora há 13. “Não foi uma decisão consciente, mas foi um culminar de circunstâncias. Sempre fomos os dois bastante independentes”, explica ao DN o designer.
O casal, que preferiu não ser fotografado, vive na baixa do Porto, onde conseguiram arrendar as duas casas numa altura em que os preços eram “normais”. “Neste momento, conseguir casa para os dois seria muito complicado. Como trabalhamos muito em casa, precisamos de espaço, mas nenhuma das nossas habitações tem condições para vivermos juntos”, diz. Além disso, Paulo tem gatos e Dina tem alergia a animais. Por tudo isto, não existem planos para viverem juntos – o que não quer dizer que um dia não venha a acontecer.
“Passamos mais tempo juntos do que muitos casais que vivem juntos. Quanto estamos, estamos realmente juntos”, diz Paulo.
Estão juntos quase todos os dias e falam com frequência ao telefone. “Passamos mais tempo juntos do que muitos casais que vivem juntos. Quanto estamos, estamos realmente juntos”, conta Paulo, destacando que passa várias noites e fins de semana em casa da namorada. Sem obrigatoriedade.

Este modelo de relação não é novo, mas parece estar a crescer. De acordo com a investigação científica, cerca de 10% dos adultos no Reino Unido fazem atualmente aquilo a que os sociólogos chamam living apart together (LAT). Já no Canadá, 1,5 milhões de pessoas com idades compreendidas entre os 25 e os 64 anos afirma ter uma relação, mas viver num sítio diferente do parceiro – houve um crescimento de 3% em dez anos. Um fenómeno que também é comum em países como EUA, Austrália, Bélgica e Holanda.

“Existem algumas variações, como dormir em quartos separados ou em duas camas, mas a evolução da sociedade, marcada pelo individualismo e por condições económicas mais favoráveis, promove este tipo de relações”

Paulo Vitória, terapeuta familiar, diz que “a experiência clínica e a evolução social e económica indicam que este tipo de realidade é cada vez mais comum”. Por cá, não há dados científicos que permitam comprovar esta perceção, mas, “de acordo com o PORDATA, entre 1999 e 2018, ou seja, em 20 anos, a quantidade de pessoas que declara viver sozinha (agregados domésticos unipessoais) quase duplicou” – passou de 502 mil pessoas para 938 mil.
Não se sabe, no entanto, quantos destes portugueses têm uma relação estável, mas Paulo Vitória acredita que, embora esta forma de viver as relações exista há algum tempo, “será agora mais frequente”.
“Existem algumas variações, como dormir em quartos separados ou em duas camas. Mas a evolução da sociedade em que vivemos, marcada pelo individualismo e por condições económicas mais favoráveis, promove este tipo de relações”, refere o professor da Faculdade de Medicina da Universidade da Beira Interior.
Outro motivo importante, diz o terapeuta familiar Paulo Vitória, é que, desta forma, as pessoas conseguem manter por mais tempo a relação de namoro. “O casamento é uma crise. Viver a dois nunca foi fácil.”
O individualismo é, no seu entender, uma das razões pelas quais os casais optam por este modelo de relação. “Muitas pessoas usam esta alternativa para definirem melhor as suas fronteiras individuais. Duas pessoas que têm uma relação não é a mesma coisa que um casal. As fronteiras individuais estão assim melhor definidas e as fronteiras com as famílias de origem de cada elemento do casal ficam mas fáceis de definir”, explica.
Outro motivo importante, diz o terapeuta familiar, é que, desta forma, as pessoas conseguem manter por mais tempo a relação de namoro. “O casamento é uma crise. Viver a dois nunca foi fácil e será ainda mais difícil numa sociedade cada vez mais marcada pelo individualismo. É passar de momentos em conjunto em que a disponibilidade para o outro é quase total para uma partilha do quotidiano. Algumas pessoas já têm experiência desta crise e preferem não passar por ela de novo.

Claro que as condições económicas são também um fator que pesa. Alguns casais vivem juntos para enfrentar em conjunto as despesas do dia a dia e os custos fixos da vida em comum”, afirma.

“Todos temos os nossos dias, nem sempre bem dispostos. Todos precisamos estar sozinhos, eu pelo menos preciso. E considero que vivendo sozinha consigo conciliar melhor tudo”.
Paula, 45 anos, nunca casou, mas já partilhou casa com dois namorados – uma experiência que espera não repetir. “Quando me separei pela segunda vez jurei que nunca mais iria morar com alguém, amorosamente falando. Passados muitos anos é possível que esse “nunca” possa não ser definitivo. Mas o facto é que tenho uma relação séria há alguns anos e não sinto essa necessidade”, conta.
Vê o namorado todos os dias e dormem juntos ao fim de semana. De resto, cada um fica na sua casa. “Todos temos os nossos dias, os nossos momentos, nem sempre bem dispostos. Todos precisamos estar sozinhos, eu pelo menos preciso. E considero que vivendo sozinha consigo conciliar melhor tudo. Estou nesta relação porque quero, não porque me sinta obrigada a isso”, salienta.
No tempo que está sozinha, Paula tem liberdade para fazer o que lhe apetece, “sem outras obrigações” e isso dá-lhe tempo “para sentir saudades e evitar o desgaste a que uma relação marital fica submetida na maioria dos casos”. Tem, assim, um compromisso sério e passa muito tempo com o namorado, mas “não aturam o pior um do outro, nem há a obrigação de estar na companhia um do outro só porque sim”. Quando estão é porque é isso que realmente querem.
O medo de envolver os filhos

Para Catarina Mexia, psicóloga e terapeuta familiar, os motivos para optar por este sistema variam consoante as idades. Nos casais mais jovens, prendem-se com a dificuldade de a pessoa abdicar do seu próprio espaço, mas, nas pessoas de meia-idade com filhos e histórico de relações que falharam, estão relacionados com o facto de “as pessoas não quererem submeter os filhos a uma nova relação que envolve coabitação e por vezes conviver com os filhos do outro”.

Em consultório, Catarina Mexia acompanha um casal – ela tem 62 anos e ele tem 65 – que escolheu viver desta forma. São viúvos, já não vivem com os filhos, mas não querem partilhar a mesma casa.
“Existe a noção que ambos têm a sua vida, que existe muita coisa em comum, que são um forte apoio um para o outro, mas pensam que viver juntos vai ser fonte de tensão e problemas”, explica. Procuraram a terapia para resolver questões relacionadas com a comunicação, que, sendo importante em qualquer relação, é especialmente importante nestas, em que há muito contacto que não é feito de forma presencial, o que pode gerar mais problemas.
Duas casas e contas a dobrar: pode pensar-se que este é um tipo de relação mais frequente entre a classe alta. Contudo, assegura Catarina Mexia, esta opção é “cada vez mais transversal” a todas as classes.

A forma como estes casais vivem o dia-a-dia varia, mas, de acordo com a terapeuta, “na maior parte das vezes não estão juntos todos os dias”. “É quase como um namoro, mas existe um compromisso sério. Evitam a rotina, que muitas vezes arrefece as relações”.
Quando há filhos, é comum a pessoa que passa menos tempo com as crianças ir adormecê-las, deitá-las e aparecer de manhã para tomar o pequeno-almoço. “Podem passar dois ou três dias juntos e os fins de semana, mas não há uma obrigatoriedade. Estão juntos quando se sentem bem. A relação é baseada no afeto e não na imposição das regras sociais”.
Duas casas e contas a dobrar: pode pensar-se que este é um tipo de relação mais frequente entre a classe alta.

Recorde-se, por exemplo, o caso do cineasta Tim Burton e da atriz britânica Helena Bonham Carter, que viviam em casas separadas, ligadas por um túnel. Tiveram uma relação de 13 anos e dois filhos. Antes de se separarem, Woddy Allen e Mia Farrow também viviam desta forma. Contudo, assegura Catarina Mexia, esta opção é “cada vez mais transversal” a todas as classes.
Entre as principais vantagens da separação física, Paulo Vitória destaca “viver mais tempo a leveza de uma relação tipo namoro em vez do peso de uma relação conjugal onde se partilha o quotidiano e se reduz a disponibilidade para o outro e a relação”.

Embora já exista mais abertura relativamente a este tema, a terapeuta familiar diz que “a sociedade empurra as pessoas para relações de coabitação”.
Ressalvando que os dois casais que acompanha que seguem este modelo não colocam de lado a hipótese de um dia virem a ter uma relação tradicional, Catarina Mexia diz que, regra geral, estas relações “não sofrem o desgaste da rotina e as pessoas investem mais nos momentos em que vão estar juntas”.
Por outro lado, frisa, “a intimidade e a qualidade da comunicação têm de estar muito afinadas para suportar a distância e a pressão social”. Embora já exista mais abertura relativamente a este tema, a terapeuta familiar diz que “a sociedade empurra as pessoas para relações de coabitação”.

Para Paulo, existem também vantagens no que diz respeito aos hábitos e rotinas dos elementos do casal. “Eu sou noctívago e a Dina prefere as manhãs. Quando as pessoas vivem juntas, o relógio biológico pode interferir na relação”, diz. Por outro lado, quando existem chatices, existe tempo e espaço “para espairecer”, embora isso nem sempre seja positivo, ressalva. Uma coisa é certa: “A relação tem de ser sólida para resultar assim. E a comunicação e a confiança são essenciais”.
Este modelo não funciona para todo o tipo de casais. “Precisam de ser pessoas bem estruturadas e de ter segurança financeira e psicológica.

No que diz respeito aos desafios, o psicólogo Paulo Vitória considera que a separação física pode resultar num “compromisso menos vincado que pode reduzir a duração da relação e reduzir a possibilidade de uma evolução da relação conjugal no sentido da parentalidade, ou seja, de ter filhos em comum”.
Este modelo não funciona para todo o tipo de casais. “Precisam de ser pessoas bem estruturadas e de ter segurança financeira e psicológica. As pessoas têm de estar seguras de si”, diz Catarina Mexia. Se os elementos do casal estão formatados para ter uma relação tradicional, este sistema poderia resultar em fracasso.
No entanto, diz a especialista, não existirá à partida um fator de insucesso nestas relações.

Nem se pode considerar que são melhores ou piores do que as consideradas tradicionais. “São diferentes”.


Este texto, repescado no Facebook e publicado no DN- Life,  da autoria de Joana Capucho, vem ao encontro, eu diria que integralmente, daquilo que defendo sobre a questão abordada.

Há muito que perfilho esta convicção, sendo que reconheço a sua maior vulgarização e adesão, nos tempos actuais.
Divorciei-me há largos anos, depois de um casamento longuíssimo.  Mais de trinta anos.  E recordo que a primeira coisa que me jurei, foi que, pudesse eu ter o futuro sentimental que tivesse, jamais viveria em coabitação com quem quer que fosse, por mais apaixonada que me encontrasse.
E eu era, de algum modo, ainda jovem, nessa altura.  E o meu divórcio nem sequer foi traumatizante ou desgastante, pelo menos para mim.
Não teve acontecimentos rocambolescos, não se verificaram agressões de nenhuma ordem e tudo se desenvolveu com cordialidade e civismo.

Contudo, já então, eu conhecia claramente o desgaste que a vida em comum pode causar numa relação, quiçá nos sentimentos dos envolvidos.
A saturação das rotinas é "mortal" em qualquer circunstância, e dificilmente se sobrevive a elas.
Acordar, com ou sem vontade, com o mesmo rosto ao lado, aguentar em permanência as manias, os hábitos, as boas e más disposições com que diariamente a vida nos brinda ... é dose !
Não há paixão que não estiole, não há amor que se aguente.

Tenho para mim, que uma relação com algum individualismo assumido, com a distância necessária e suficiente para cada um usufruir do seu espaço, da sua intimidade, do direito aos seus tempos ... até mesmo os de solidão ( que são absolutamente indispensáveis ao ser humano ), não significa menor afecto, ou interesse, mas sim até uma preocupação, de preservação da mesma, ao contrário do que possa parecer.
E essa questão torna-se muito mais premente, quando os anos avançam e não há mais espaço para relações hollywoodescas ou com o romantismo e a ingenuidade de tempos idos.

Por vezes as pessoas estão juntas simplesmente por um entendimento comum de interesses de ambos os lados, sejam eles financeiros, de mero companheirismo, amizade, partilha de algumas coisas, ou entreajuda...
Muitas vezes, é somente esta, a base do relacionamento e nada mais .
A ligação é portanto do interesse comum.
Ainda assim, considero que este modelo, é o mais vantajoso e respeitador das vontades individuais.

Talvez esteja a ser pragmática e fria demais.  Mas se aquilo que aproxima as pessoas tem como móbil o alcance de um certo e doseado equilíbrio, a assumpção  de uma vida mais facilitada para ambos ... tudo bem. Porquê, não ?!             
Estas pessoas têm uma ligação, não sendo contudo, um casal, no conceito tradicional e convencional do mesmo.  Não são propriamente valores sentimentais que mantêm as pessoas na vida uma da outra.  São interesses e vontades objectivas que ambos aceitam como de mais valia para cada um de per si.
Digamos que a este formato subjaz alguma "negociação" de parte a parte, duma forma pacífica.

De alguma forma, estas duas visões e abordagens diferentes das coisas, são de certo modo cabíveis no tema em análise, embora se trate, claramente, de vertentes distintas.
São contudo realidades quotidianas com que convivemos no nosso dia a dia.  Sinal dos tempos, sinal da evolução das mentalidades, sinal de inteligência do homem / mulher face à premência das vicissitudes da vida e forma de as contornar / ultrapassar !

Anamar

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