Será um blogue escrito com a aleatoriedade da aleatoriedade das emoções de cada momento... É de mim, para todos, mas também para ninguém... É feito de amor, com o amor que nutro pela escrita...
sábado, 4 de fevereiro de 2012
" E AFINAL, FOI TUDO ... ONTEM !... "
O homem do "Borda D'Água" é um romeno, magrinho, já idoso, boné na cabeça, sorriso no rosto.
É do "Borda D'Água", mas também dos pensos rápidos.
Compremos ou não, sempre sorri, sempre faz uma vénia, sempre agradece ...
Não ostenta nunca um ar miserabilista ou pedinchão. Não é chato ou insistente. Sempre nos sentimos compelidos a corresponder à sua simpatia ... "Bom dia !... Não, obrigada !"... digo-lhe eu à saída da porta ...
Sim, porque ele quase "mergulha" na minha escada.
Não articula um vocábulo de português. Mas sorri, com o rosto miúdo e iluminado ... e um sorriso sempre é igual em todas as línguas !
O "Borda D'Água" é também um espécime em vias de extinção. Os antigos, como diz a minha mãe, "guiavam-se" por ele ; as culturas obedeciam-lhe, o frio, o calor, as chuvas, os ventos, até as luas ... sempre úteis para as mulheres parideiras !
Lembrei o "Borda 'Água", porque recordei como anualmente sempre recordo ( e se o não lembrasse, a minha mãe encarregar-se-ia de mo trazer à memória ), que no passado dia 2, foi o dia da Senhora das Candeias, a tal santa também adivinhatória do tempo que fará daqui para a frente ...
Digamos que uma verdadeira assessora da metereologia do Paraíso ...
Fui reler o post que eu sabia obviamente ter colocado aqui neste meu espaço no ano transacto, pelo caricato, pela ternura, pela recordação ...
Nada mais que um registo para memórias futuras ... E lá estava o que ano após ano, oiço os quase 91 anos da minha mãe, vaticinarem : "Se a Senhora das Candeias rir, o Inverno está p'ra vir, mas se a Senhora das Candeias chora, temos o Inverno fora" ... ou seja, se o dia 2 de Fevereiro for um dia ensolarado, o Inverno estará p'ra chegar, mas se nesse dia chover, o Inverno está a acabar ...
Sempre irei seguramente lembrar com saudade, um dia mais tarde, esta faceta curiosa da minha mãe.
À boa moda da sua época, a voz do povo ainda era a "voz de Deus", e a sabedoria popular, sempre a considerar.
Hoje ela diz : " Está tudo ao contrário !... Desde que o Homem foi à lua, que nada é como era !..."
Desde que o Homem foi à lua !!!...
"Bem aventurados os simples e pobres de espírito ... deles será o Reino dos Céus" !...
Simples de facto ... simples no sentido de não se questionar o porquê de tanta coisa. Eram objectividades, eram factos, acontecia ... era assim !
Começava a chover pelo S. Mateus, e o Inverno seguia, como o espectável, de acordo com o "figurino". Sabia-se bem com o que se contava ... e não falhava, normalmente.
As mulheres que pariam, recolhiam em "resguardo", à cama, e eram tratadas com canja de galinha ...
Os nascituros, enfiados nuns cueiros que os "couraçavam", e lhes impediam os movimentos nos primeiros tempos ...
"Hoje as crianças já nascem de olhos abertos " !...
Tudo diferente, tudo provocadoramente diferente.
Nas alcofas, e sempre na meia obscuridade, se pareciam sonhar, e esboçavam aquele esgar semelhante a um sorriso que os bébés fazem enquanto dormem ... estavam com a "lua" !
A mãe, juntava uns pelinhos de lã de uma camisola, criava com eles uma bolinha, e com saliva colocava-lha na testa ... para passar a "lua" ...
No sarampo, o resguardo era total. Tudo se forrava a papel de seda vermelho ... os candeeiros, as lâmpadas, as vidraças, para a criança não ficar com a "vista prejudicada" ...
Não podia encarar a luz do dia !...
Se o bébé tinha prisão de ventre, estimulava-se a excreção das fezes, com um "talinho" de couve, molhado em azeite morno ...
Se se caía e se fazia um hematoma, o Hirudoid, tão nosso conhecido, nem ainda era sonhado. Havia um "produto" natural que resolvia o problema : as "bichas", que tanto quanto me foi explicado, mais não eram que sanguessugas ; colocadas sobre o hematoma, destinavam-se a "chuparem" o sangue pisado.
Como ficavam cheias e inchadas, despegavam da pele. Ali bem ao lado, deveria haver um recipiente com cinza quente, para onde elas rebolariam, e onde, ao que parece, largavam o sangue absorvido ... E pronto, aí tínhamos de novo, sanguessugas recicladas, prontas a entrar em acção !!!
As "catarreiras" ou males de peito, eram miraculosamente curadas com a "grade", desenhada com tintura de iodo, nas costas do doente, na zona pulmonar.
Era um cruzado de linhas, pintadas com a referida tintura.
Não me perguntem como actuavam, porque o não sei . Aliás ... não sei mesmo se alguém o saberia !...
Era tão simplesmente assim !...
As pessoas eram "sangradas", por uma incisão no pulso, para que, no sangue eliminado lhes saísse também o mal.
Havia ainda as "ventosas", que se colocavam nas costas, para o mesmo efeito.
A ventosa era uma espécie de copo em vidro, no interior do qual se colocava um pedaço de algodão a que se puxava fogo. Ao ser invertido sobre a pele, por ausência de oxigénio, a chama apagava, e como o nome indica, funcionava como uma ventosa. A pele do doente crescia para o seu interior, como que chupada pelo vácuo criado...
Devo acrescentar que se trata afinal de uma forma de medicina alternativa, originária da China, e de há muitos e muitos anos atrás!
Os "sinapismos", que me esforcei por perceber do que se tratava, feitos à custa de mostarda em pó embebida em água morna, ou as papas de linhaça, feitas de idêntica forma, só que a partir de sementes de linho, embebiam toalhas ou panos, formando uma cataplasma que colocada sobre o peito ou costas, aliviava a tosse, descongestionava os brônquios, era terapia das afecções respiratórias.
Eficácia ???... Desconheço !!!...
Penso que se curava quem tinha por destino curar-se ... e morria, quem via chegada a sua hora !!!
Na prisão de ventre, davam-se "clisteres". Existia para isso, na "farmácia" caseira, um famigerado irrigador, objecto em vidro, onde era colocada água morna ;
Tinha o seu escoamento feito atravás de um tubo de borracha com uma torneirinha, que abria e fechava ao ritmo desejado. A mesma, terminava numa "cânula". Essa sim, tinha o papel de verter para o intestino do paciente, a bendita água morna, a qual, passados alguns minutos ( convinha que fosse retida o máximo de tempo possível ), provocaria uma tal "revolução" orgânica, conducente à resolução do problema pendente !!!... Quais laxantes ... quais Microlaxes ... qual quê !!!
As mulheres menstruadas não deveriam tomar banho, menos ainda de mar ! E lavar o cabelo então, nem falar !!
Estavam-lhes vedadas certas tarefas, porque dado o seu "estado", as prejudicariam.
Lembro-me que uma vez teimei em fazer um bolo, porque me apetecia. Por obra do destino, o malfadado encruou, não cresceu, e teve por isso um fim trágico ... ( rsrsrs ).
Claro está, que a tia com quem eu estava na altura, logo me responsabilizou pelo sucedido : "Bem te disse!!!... És teimosa" !!!
Num destes dias, em casa da minha filha, o Frederico que não pára um só minuto, caíu e fez um "galo" na testa, daqueles que crescem de repente e ficam negros num ápice.
Flagrei-me a pedir rapidamente uma rodela de batata para lhe por no dito, atando-lhe à volta da cabeça um lenço para a segurar ...
Toda a gente me olhou com aquele ar estupefacto de comiseração, como quem diz : "Coitada ... desta vez passou-se "!!!.... ( rsrsrs )
Resquícios dos tempos, tão lá para trás !!!
Bem, onde eu já vou ...
Comecei no "Borda D'Água" do romeno da minha porta ...
E pergunto-me :
"Que sentido fará tudo isto, às gerações actuais, às gerações das altas tecnologias, sempre em perene desenvolvimento, das sofisticações a todos os níveis, dos conhecimentos científicos em descoberta constante e em todos os campos ... gerações ligadas permanentemente a teclados, a écrans, a virtualismos, a especulações, que de tão ficcionadas já são tomadas como reais" ??!!
Provavelmente parecer-lhes-emos verdadeiros ETs, e perguntarão como conseguimos sobreviver, para afinal lhes termos podido dar continuidade ??!!...
Anamar
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
"REFLITAMOS ! "...
Não me canso, nem me cansarei jamais, de ser grata com quem divide comigo sempre, alguma coisa do valer a pena desta vida ...
Com quem sabe e sabe-se dar e partilhar !
Tudo isso são provas de AMOR !
Assuntos mais ou menos contundentes, temas normalmente relevantes, humor fino e de bom gosto ... notícias da actualidade, que muitas vezes são veiculadas sem que nos cheguem às mãos ... figuras públicas, ainda assim desconhecidas de muitos de nós, só porque este Mundo é imenso, e as pessoas que nele fazem história e deixam "marca", são miríades ...inalcançáveis !
Hoje, trago aqui uma personagem que eu desconhecia ... talvez também muitos de vocês.
Carlos Alberto Libânio Christo , nascido em Agosto de 44 em Belo Horizonte, Brasil ... vulgo Frei Betto.
A sua biografia refere-o como "religioso, teólogo, escritor".
É de facto um escritor e religioso da Ordem Dominicana, filho de um jornalista e de uma escritora.
Adepto da "Teologia da Libertação", é militante de movimentos pastorais e sociais, ocupou funções de assessor especial do Presidente Lula da Silva, e foi coordenador de Mobilização Social do programa "Fome Zero".
Esteve preso por duas vezes sob a ditadura militar, em 64 e entre 69 e 73.
Tem inúmeros livros publicados, um deles relatando a resistência dos dominicanos à ditadura ( que passou por torturas e mortes ), foi mesmo adaptado ao cinema .
Recebeu vários prémios pela sua atuação em prol dos direitos humanos, e a favor dos movimentos populares.
Assessorou vários governos socialistas, em especial Cuba, nas relações Igreja Católica - Estado.
É chamado a proferir conferências, debates, colóquios, enfim ... tudo em que o seu espírito liberal, humanista, esclarecido e claro, pode intervir, mediar e influir, ajudando ...
Apresentado que está minimamente Frei Betto, vou limitar-me apenas a deixar-vos para reflexão, estes extraordinários quanto imprescindíveis excertos, tão necessários e importantes às sociedades em que vivemos, tecnocratas, consumistas, materialistas e sobretudo ... muito "corridas".... em que o ser humano perdeu o tempo, o saber e a capacidade de reflectir e meditar ....
Em que em última análise, o ser humano perdeu, e perde cada vez mais, a capacidade de ser....... HUMANO !!!
*************
Anamar
Com quem sabe e sabe-se dar e partilhar !
Tudo isso são provas de AMOR !
Assuntos mais ou menos contundentes, temas normalmente relevantes, humor fino e de bom gosto ... notícias da actualidade, que muitas vezes são veiculadas sem que nos cheguem às mãos ... figuras públicas, ainda assim desconhecidas de muitos de nós, só porque este Mundo é imenso, e as pessoas que nele fazem história e deixam "marca", são miríades ...inalcançáveis !
Hoje, trago aqui uma personagem que eu desconhecia ... talvez também muitos de vocês.
Carlos Alberto Libânio Christo , nascido em Agosto de 44 em Belo Horizonte, Brasil ... vulgo Frei Betto.
A sua biografia refere-o como "religioso, teólogo, escritor".
É de facto um escritor e religioso da Ordem Dominicana, filho de um jornalista e de uma escritora.
Adepto da "Teologia da Libertação", é militante de movimentos pastorais e sociais, ocupou funções de assessor especial do Presidente Lula da Silva, e foi coordenador de Mobilização Social do programa "Fome Zero".
Esteve preso por duas vezes sob a ditadura militar, em 64 e entre 69 e 73.
Tem inúmeros livros publicados, um deles relatando a resistência dos dominicanos à ditadura ( que passou por torturas e mortes ), foi mesmo adaptado ao cinema .
Recebeu vários prémios pela sua atuação em prol dos direitos humanos, e a favor dos movimentos populares.
Assessorou vários governos socialistas, em especial Cuba, nas relações Igreja Católica - Estado.
É chamado a proferir conferências, debates, colóquios, enfim ... tudo em que o seu espírito liberal, humanista, esclarecido e claro, pode intervir, mediar e influir, ajudando ...
Apresentado que está minimamente Frei Betto, vou limitar-me apenas a deixar-vos para reflexão, estes extraordinários quanto imprescindíveis excertos, tão necessários e importantes às sociedades em que vivemos, tecnocratas, consumistas, materialistas e sobretudo ... muito "corridas".... em que o ser humano perdeu o tempo, o saber e a capacidade de reflectir e meditar ....
Em que em última análise, o ser humano perdeu, e perde cada vez mais, a capacidade de ser....... HUMANO !!!
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Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão.
Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo : a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente.
Aquilo me fez refletir : "Qual dos dois modelos produz felicidade?"
Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei : "Não foi à aula?" Ela respondeu : "Não, tenho aula à tarde ".
Comemorei : "Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde ".
"Não", retrucou ela, "tenho tanta coisa de manhã ..."
"Que tanta coisa ?", perguntei.
"Aulas de Inglês, de ballet, de pintura, piscina", e começou a elencar seu programa de garota robotizada.
Fiquei pensando : "Que pena, a Daniela não disse : "Tenho aula de meditação ! "
Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados.
Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica ; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias !
Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito.
Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos : "Como estava o defunto ?" "Olha, uma maravilha, não tinha celulite !"
Mas como fica a questão da subjetividade ? Da espiritualidade ? Da ociosidade amorosa ?
Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra !
Tudo é virtual.
Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais.
E somos também eticamente virtuais ...
A palavra hoje é "entretenimento" ; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva.
Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela.
Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres : "Se tomar este refrigerante, vestir este ténis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá !"
O problema é que, em geral, não se chega !
Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios ...
Quem resiste, aumenta a neurose ...
O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista.
Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis : amizades, autoestima, ausência de stresse.
Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno.
Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral : hoje, no Brasil, constrói-se um shopping-center.
É curioso : a maioria dos shopping-centers têm linhas arquitetónicas de catedrais estilizadas ; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo.
E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca : não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas ...
Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista.
Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas.
Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus ...
Deve-se passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório ...
Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno ...
Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald ...
Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas : "Estou apenas fazendo um passeio socrático".
Diante dos seus olhares espantados explico : "Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas.
Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia : ..."Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser FELIZ !!!..."
Anamar
" MAIS UMA RECAÍDA "
Este Janeiro continua lindo !
Parece prenunciar uma Primavera antecipada, pelos dias claros e ensolarados, pelo tempo seco e pouco frio.
Custa-nos a acreditar que ainda possa vir chuva, neste cenário .
Os pássaros já chilreiam, a minha gaivota já deixou mais a praia, e já me aparece por aqui de quando em vez.
Hoje fui com a minha mãe ao teatro. Foi o seu presente de Natal ... vai hoje recebê-lo, portanto.
Para mim, é simplesmente mais um domingo profundamente vazio ...
Não tenho nada sobre que escrever, nenhum assunto ou tema que me mobilize, mas preciso fazê-lo, porque tenho uma "escorrência" inquieta, que só me pacifica se o fizer.
Há tempos atrás, ocupava estes fins de semana sem história, indo até ao rio, e por lá me sentava, perdida, com o olhar perdido também ...
ou ia até Belas, ler, ao sol, no café, simpático por sinal, sobre o golfe, sobranceiro àquele verde, àquela paz, àquele sol ...
Agora noto um estranho imobilismo em mim. Uma falta de vontade de me mexer, de me sentir viva.
Os dias são curtos, as noites longas ... e dou por mim com a noite a tombar-me num ápice, fora da janela, mas sobretudo cá dentro ... dentro do meu espaço e dentro de mim.
Experimento outra vez a velha sensação de desistência, de não valer a pena, de cansaço e abandono.
Será sina minha??
Por que ironiza sempre a Vida comigo??
Por que não consigo ter, como outras pessoas, uma vida dita "normal", pacata, sem demais sustos, angústias, atropelos?...
Uma daquelas vidinhas sem altos, sem baixos, de mar flat??!!
Só por si, os tempos que correm já o são de turbilhão e montanha russa para todos ; já o são de sobressaltos, conturbações e emoções nem sempre pela positiva, ou muito pouco pela positiva, para que os espíritos andem perturbados, assustados, inquietos ...
Se juntarmos a isso, este meu estado de espírito que hoje me assalta, temos um "mix" absolutamente explosivo.
Serei exigente em excesso, com esta coisa que apelidaram de "destino" ??!!...
Destino ... fado ... karma ??!!
Não consigo encaixar-me neste "fato", não feito por medida, e que por isso não me assenta, não me serve, não me satisfaz ... me incomoda .
Será que a minha concepção de Vida é deturpada ??
Eu, que até gosto ( e aqui tenho referido muitas vezes ), de a viver "a mil ", pareço claudicar neste momento.
Um sentido cansaço, parece dominar-me ...
Que se passa comigo ??
Voltamos à velha história que aqui reflicto muitas vezes. Terei uma imaturidade perene ?
Terei ficado parada emocionalmente lá atrás, e ainda focalizo tudo com o meu tradicional, quanto infantil, "olhar naïve" ??
Mas porquê ?
A vida já me ensinou demais. Os anos que por mim passaram ( e já são muitos ), já me distribuiram "lambada" que chegasse ... Talvez culpa minha, talvez exclusivamente responsabilidade minha, talvez incapacidade de gerir o meu próprio destino.
Não reclamo ! É objectivo !... É assim !... Foi assim !...
Aprendo pouco e mal ... Sempre sou uma aluna relapsa, que provavelmente faz pouco o trabalho de casa, ou que então vive à margem de regras, encolhe os ombros às mesmas ...
Não sei !!!
Amanhã talvez seja outro dia !...
Isto hoje foi um desabafo, foi um post de "chacha" ( de que me penitencio ) ... foi apenas uma recaída !!!...
Anamar
Nota : Este post está a ser publicado com o atraso de dois dias, pois foi escrito no passado domingo.
Parece prenunciar uma Primavera antecipada, pelos dias claros e ensolarados, pelo tempo seco e pouco frio.
Custa-nos a acreditar que ainda possa vir chuva, neste cenário .
Os pássaros já chilreiam, a minha gaivota já deixou mais a praia, e já me aparece por aqui de quando em vez.
Hoje fui com a minha mãe ao teatro. Foi o seu presente de Natal ... vai hoje recebê-lo, portanto.
Para mim, é simplesmente mais um domingo profundamente vazio ...
Não tenho nada sobre que escrever, nenhum assunto ou tema que me mobilize, mas preciso fazê-lo, porque tenho uma "escorrência" inquieta, que só me pacifica se o fizer.
Há tempos atrás, ocupava estes fins de semana sem história, indo até ao rio, e por lá me sentava, perdida, com o olhar perdido também ...
ou ia até Belas, ler, ao sol, no café, simpático por sinal, sobre o golfe, sobranceiro àquele verde, àquela paz, àquele sol ...
Agora noto um estranho imobilismo em mim. Uma falta de vontade de me mexer, de me sentir viva.
Os dias são curtos, as noites longas ... e dou por mim com a noite a tombar-me num ápice, fora da janela, mas sobretudo cá dentro ... dentro do meu espaço e dentro de mim.
Experimento outra vez a velha sensação de desistência, de não valer a pena, de cansaço e abandono.
Será sina minha??
Por que ironiza sempre a Vida comigo??
Por que não consigo ter, como outras pessoas, uma vida dita "normal", pacata, sem demais sustos, angústias, atropelos?...
Uma daquelas vidinhas sem altos, sem baixos, de mar flat??!!
Só por si, os tempos que correm já o são de turbilhão e montanha russa para todos ; já o são de sobressaltos, conturbações e emoções nem sempre pela positiva, ou muito pouco pela positiva, para que os espíritos andem perturbados, assustados, inquietos ...
Se juntarmos a isso, este meu estado de espírito que hoje me assalta, temos um "mix" absolutamente explosivo.
Serei exigente em excesso, com esta coisa que apelidaram de "destino" ??!!...
Destino ... fado ... karma ??!!
Não consigo encaixar-me neste "fato", não feito por medida, e que por isso não me assenta, não me serve, não me satisfaz ... me incomoda .
Será que a minha concepção de Vida é deturpada ??
Eu, que até gosto ( e aqui tenho referido muitas vezes ), de a viver "a mil ", pareço claudicar neste momento.
Um sentido cansaço, parece dominar-me ...
Que se passa comigo ??
Voltamos à velha história que aqui reflicto muitas vezes. Terei uma imaturidade perene ?
Terei ficado parada emocionalmente lá atrás, e ainda focalizo tudo com o meu tradicional, quanto infantil, "olhar naïve" ??
Mas porquê ?
A vida já me ensinou demais. Os anos que por mim passaram ( e já são muitos ), já me distribuiram "lambada" que chegasse ... Talvez culpa minha, talvez exclusivamente responsabilidade minha, talvez incapacidade de gerir o meu próprio destino.
Não reclamo ! É objectivo !... É assim !... Foi assim !...
Aprendo pouco e mal ... Sempre sou uma aluna relapsa, que provavelmente faz pouco o trabalho de casa, ou que então vive à margem de regras, encolhe os ombros às mesmas ...
Não sei !!!
Amanhã talvez seja outro dia !...
Isto hoje foi um desabafo, foi um post de "chacha" ( de que me penitencio ) ... foi apenas uma recaída !!!...
Anamar
Nota : Este post está a ser publicado com o atraso de dois dias, pois foi escrito no passado domingo.
domingo, 29 de janeiro de 2012
" O UIVO DO LOBO "
O céu estava escuro ... não se via uma só estrela.
Podia dizer-se que era uma noite de breu, não fora aquela imensa bola, prenhe de luz, que iluminasse o recorte da mata, junto à casa.
Cá dentro, era apenas a luz da lareira ainda acesa que iluminava a penumbra da sala.
Íngride "cutucava" as últimas brasas do lume, para as "espertar".
Adorava aquele pedaço de dia / noite, em que naquela cabana da montanha, feita totalmente da madeira dos pinheiros, abetos e faias que a rodeavam, se fazia finalmente silêncio, e a paz reinava.
Todos já haviam ido dormir.
Ali, estava só ela, a luz difusa das últimas chamas bruxuleantes, um CD a tocar como que "ao longe", os seus pensamentos, as suas reflexões.
Normalmente, nessas noites de silêncio e paz, de ausência de "vida", a sua, costumava desfilar-lhe, feito um filme que deslizasse lentamente frente aos seus olhos.
Era uma noite de lua cheia, daquelas em que, sendo noite cá dentro, reinava uma poalha clara, que inundava toda a floresta, e a montanha por detrás da cabana.
Íngride sabia de cór aqueles sítios.
Poderia caminhar lá fora agora mesmo, que traria no cesto as mesmas braçadas de flores silvestres que colhia durante o dia.
As bétulas, os mirtilos, azevinhos, amoras silvestres ... os musgos, os líquenes, sabia-os à volta da casa, ladeando os caminhos da mata.
A montanha ainda guardava os gelos perpétuos, do Inverno rigoroso da Noruega, que cobre tudo com as neves que sempre lá ficam, ano após ano, mesmo sendo já Março, e os dias amanhecendo claros e luminosos.
As sombras dos abetos, dos pinheiros , das faias e dos carvalhos, adensavam-se à medida que a montanha subia.
Íngride sempre os ouvia nestas noites.
O seu uivo territorial, ecoava no silêncio da madrugada.
Os lobos sempre uivam à lua cheia. É um cântico ou um choro ... é algo mítico, com uma magia própria ... uma canção inacabada ... uma dor não descrita.
Desde criança, quando subia à cabana para passar algum tempo, que "convivia" inevitavelmente com a sua presença .
Ela não os via, mas sentia-os claramente . Havia uma "cumplicidade" entre ela e eles, uma conivência, uma familiaridade.
Eram presenças mágicas na sua cabeça, desde as histórias infantis , e habituara-se a amá-los e a respeitá-los ...
Março era época de acasalamento. Os machos alfa delimitam território e escolhem fêmea.
Os lobos acasalam para toda a vida . Têm um sentido gregário e familiar poderosíssimo, e isso também a fascinava . Os lobos, também nisso ensinam os humanos ...
Colocou um xaile de lã sobre as costas, abriu mansamente a porta da cabana para que não rangesse nas dobradiças, e esgueirou-se pela noite gélida, lá para fora .
As sombras envolviam tudo e envolviam-na também, e a luz daquele imenso luar, projectava-lhe uma sombra agigantada e fantasmagórica, no caminho.
Íngride teve sempre, sem o perceber, uma relação estranha com a lua cheia. Eram duas "mulheres" que se "entendiam", que se "desafiavam", que se "provocavam".
Vieram-lhe à memória as histórias contadas entre dentes pelo povo, dos homens que nas encruzilhadas, viravam lobos, em noites de lua cheia, para só voltarem à condição de humanos quando o dia raiasse ...
O "lobisomem" é uma figura da mitologia, que atravessou gerações ...
Apoiou-se displicentemente na cancela, e ficou simplesmente ali, estática, a "escutar" o silêncio, a ver o fumo que ainda saía da chaminé da sala, a deixar-se inundar por aquele clarão, que tornava a noite em dia, e "sentir" no cimo do monte, a presença deles ... os reis da floresta ... e o seu "choro" ou o seu "grito", lançado lugubremente à lua ...
Em criança, a sua avó, também à lareira, também numa noite como essa, também naquela cabana de gerações, contou-lhe a lenda do "uivo do lobo", em noites de lua cheia.
Era uma história tão linda, tão comovente e tão enternecedora, que jamais a esquecera ...
Segundo a lenda, em tempos remotos, um lenhador e sua mulher viviam junto a uma floresta.
Haviam tido uma filha linda, tão linda, que decidiram preservá-la de qualquer contacto humano, por receio que pudesse ser raptada, coisa que os senhores poderosos costumavam fazer nessa época.
Assim, a jovem cresceu no estrito convívio de seus pais e dos animais da floresta, que amava por demais.
Sempre que alguém se aproximava da casa, corriam a trancar a filha numa cave, que haviam construído para esse fim.
Inevitavelmente nestas coisas, há um dia em que elas falham ...
E um dia, com os pais atarefados e distraídos, um jovem pastor aproximou-se da casa deles, e encontrou a menina no quintal.
Por seu lado, pela primeira vez, ela viu um rapaz da sua idade.
O espectável aconteceu, e apaixonaram-se um pelo outro.
A moça, cheia de avisos e reprimendas dos pais, sobre o deixar-se ver por alguém, correu a esconder-se, não sem que antes, os olhares trocados entre eles, deixassem uma promessa muda.
O tempo foi passando, e sempre arranjavam oportunidades para se verem e falarem, sem que os pais dela se apercebessem.
Como a situação se tornava cada vez mais insustentável, o pastor encheu-se de coragem, e foi falar com os pais da menina, pedindo-a em casamento.
Irritados e desgostosos pela desautorização havida, reagiram muito mal, e resolveram castigar os dois namorados.
Disseram ao pastor que voltasse à noite, para ter a resposta, e como a mãe da menina era conhecedora dos poderes e segredos de todas as plantas da floresta, preparou uma infusão com poderes de encantamento.
Bebendo-a, o rapaz transformar-se-ia num animal da floresta, e dessa forma separavam-no da sua filha.
Assim foi.
À noite, quando o pastor voltou, ofereceram-lhe a bebida, dizendo ser um licor caseiro por eles preparado, e logo ali ele se transformou num lindíssimo lobo, que desesperado, fugiu.
A menina, contudo, da sua cave vira pelas frinchas das tábuas o que acontecera ao seu amado, e mal os pais a libertaram, sem que tivessem tempo para a impedir, bebeu o resto da poção mágica, na esperança de se juntar ao seu amor.
Apenas o feitiço produzido no rapaz não foi igual para a menina, e esta transformou-se ali, numa imagem fugaz, semelhante a um raio de luar.
Brilhou por momentos, e logo que algumas nuvens cobriram a lua, desapareceu.
Entretanto o lobo encantado que voltara para perto da casa, soube o que havia acontecido à sua amada, lançando então um atormentado grito de dor, desespero, saudade e tristeza ... um uivo doloroso que ecoou por toda a floresta.
E é por isso que, desde então, os lobos uivam ao luar.
Julga-se que o encantamento nunca foi desfeito, pelo que, cada vez que um lobo uiva à lua, há um raio de luar em forma de mulher, que o vem banhar de luz ...
E os amantes, acabam assim, por se reunirem de novo, em cada noite de lua cheia, e por toda a eternidade ...
Íngride não deu pelo correr do tempo, mergulhada que estava no seu pensamento.
Também não deu pelo entorpecimento álgido que lhe tomara o corpo, pelo frio atroz da noite ...
Igualmente não se apercebeu, que também nessa noite as nuvens subiram no céu e cobriram a lua ...
Apenas despertou do "torpor" mágico que a dominava, quando bem à sua frente, na clareira do bosque junto à cabana, um lobo, um imenso lobo cinzento de olhos doces e tristes, a olhou longamente ...
Era uma figura imponente, era um ser superior ... parecia um ser de solidão e sofrimento ...
Ergueu a cabeça em direcção aos pálidos raios de luar que ainda atravessavam o firmamento escurecido, e de uma forma doída, sentida, desesperada e saudosa, lançou um uivo doloroso e profundo que ecoou por toda a montanha ...
Nessa noite, Íngride não teve mais dúvidas ...
Anamar
quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
"O TEMPO PASSOU E ME FORMEI EM SOLIDÃO"
Um post com os meus desassossegos, as minhas frustrações, as minhas inquietudes ...
Tentava organizar ideias, encarrilar raciocínios, afivelar conclusões !...
Exactamente em mais um dos exercícios que sistematicamente faço, que sistematicamente cultivo, cultivando exactamente, sem pensar muito, a minha "formação em solidão"!
Mas fui à caixa de correio, deste correio imaginário, sem rosto, sem pena, sem envelope ou selo.
E fui brindada, pela bondade de uma amiga, com este "estrondoso" texto, que de imediato me "obrigou" a parar a pequenez do meu relambório, para partilhar convosco a grandiosidade de todo o realismo, ternura, saudade mesmo ... porque de facto, era exactamente assim ... e de repente me vi naquela sala, na soleira daquela porta !
E de repente também, me senti velha, gasta, desiludida, saudosa, melancólica mesmo ... e pensei como foi possível ter deixado passar por cima de mim, tanto do tanto que ficou lá atrás, e já quase esquecemos por desábito ?!...
No tempo em que ainda, de facto, não nos "formávamos em solidão" !!!...
-" Vamos marcar uma saída.... -Ninguém quer entrar mais."
"O TEMPO PASSOU E ME FORMEI EM SOLIDÃO"
José Antônio Oliveira de Resende - ( Professor de Prática de Ensino de Língua Portuguesa, do Departamento de Letras, Artes e Cultura, da Universidade Federal de São João Del-Rei/MG ).
Sou do tempo em que ainda se faziam visitas. Lembro-me de minha mãe mandando a gente caprichar no banho porque a família toda iria visitar algum conhecido.
Íamos todos juntos, família grande, todo mundo a pé. Geralmente, à noite.
Ninguém avisava nada, o costume era chegar de páraquedas mesmo. E os donos da casa recebiam alegres a visita. Aos poucos, os moradores iam se apresentando, um por um.
- Olha o compadre aqui, garoto! Cumprimenta a comadre.
E o garoto apertava a mão do meu pai, da minha mãe, a minha mão e a mão dos meus irmãos. Aí chegava outro menino. Repetia-se toda a diplomacia.
- Mas vamos nos assentar, gente. Que surpresa agradável!
- Mas vamos nos assentar, gente. Que surpresa agradável!
A conversa rolava solta na sala. Meu pai conversando com o compadre e minha mãe de papo com a comadre. Eu e meus irmãos ficávamos assentados todos num mesmo sofá, entreolhando-nos e olhando a casa do tal compadre. Retratos na parede, duas imagens de santos numa cantoneira, flores na mesinha de centro... casa singela e acolhedora.
A nossa também era assim. Também eram assim as visitas, singelas e acolhedoras. Tão acolhedoras que era também costume servir um bom café aos visitantes.
Como um anjo benfazejo, surgia alguém lá da cozinha - geralmente uma das filhas - e dizia:
Como um anjo benfazejo, surgia alguém lá da cozinha - geralmente uma das filhas - e dizia:
- Gente, vem aqui pra dentro que o café está na mesa.
Tratava-se de uma metonímia gastronômica. O café era apenas uma parte: pães, bolo, broas, queijo fresco, manteiga, biscoitos, leite... tudo sobre a mesa.
Juntava todo mundo e as piadas pipocavam. As gargalhadas também.
Pra quê televisão? Pra quê rua? Pra quê droga? A vida estava ali, no riso, no café, na conversa, no abraço, na esperança... Era a vida respingando eternidade nos momentos que acabam.... era a vida transbordando simplicidade alegria e amizade...
Quando saíamos, os donos da casa ficavam à porta até que virássemos a esquina. Ainda nos acenávamos. E voltávamos para casa, caminhada muitas vezes longa, sem carro, mas com o coração aquecido pela ternura e pela acolhida.
Era assim também lá em casa. Recebíamos as visitas com o coração em festa... A mesma alegria se repetia. Quando iam embora, também ficávamos, a família toda, à porta. Olhávamos, olhávamos... até que sumissem no horizonte da noite.
O tempo passou e me formei em solidão. Tive bons professores: televisão, vídeo, DVD, e-mail... Cada um na sua e ninguém na de ninguém. Não se recebe mais em casa. Agora a gente combina encontros com os amigos fora de casa:
- Vamos marcar uma saída!... - ninguém quer entrar mais.
Assim, as casas vão se transformando em túmulos sem epitáfios, que escondem mortos anônimos e ossibilidades enterradas. Cemitério urbano, onde perambulam zumbis e fantasmas mais assustados que assustadores.
Casas trancadas.. Pra quê abrir? O ladrão pode entrar e roubar a lembrança do café, dos pães, do bolo, das broas, do queijo fresco, da manteiga, dos biscoitos do leite...
Que saudade do compadre e da comadre!
Anamar
quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
" ELES NÃO SABEM NEM SONHAM ".....
Hoje acordei meio "desconchavada" ...
Sabem quando se acorda com uma sensação incómoda de uma tristeza que vem não se sabe bem de onde, vem lá do fundo dos sonhos, daqueles que nos fizeram companhia de noite??!!...
São meio "safados" esses sonhos !
A gente deita-se, "programa-se" para sonhar com isto ou aquilo, que seria "baril", e pimba ... trocam-nos as voltas, azaram-nos a noite, com "filmes" completamente diferentes.
Personagens que não chamámos, cenários que inventámos e se calhar nunca vimos ... deixam-nos uma sensação estranha de insatisfação e desconforto.
E ainda por cima, deixam a sensação, e põem-se "a milhas" !
Queremos fazer reprises, tentar perceber aquela "gaita", e eles já foram ...
Porquê acordar assim??
Não sei, não faz sentido, é bizarro e não temos com quem refilar !
"Pufft" ... evaporaram-se no espaço, e a gente que se amanhe com a tal sensação de coisa não resolvida, mal resolvida, que a noite não nos conseguiu resolver ...
Os "sonhos de dia", são mais fiáveis, mais compinchas !!!
A esses, só vamos se nos deixarmos ... ir ... claro !
Esses, às vezes são um pouco controláveis, mesmo para os mais inveterados que nem eu, que estou sempre muito mais no mundo deles, que no nosso, tão insatisfatório !
Mas a esses conseguimos apresentar-lhes o sinal de stop, o cartão vermelho, se não nos agradam, se tentam driblar-nos ou manipular-nos a vida, feitos "filhos da mãe" !
A esses só aderimos se formos "crentes", ingénuos ou teimosos !
Às vezes, com muita sorte, conseguimos convencer um "sonho de dia" a passar a ser um "sonho de noite" ... e aí, é um paraíso, porque pelo menos acreditamos estar a vivê-lo, durante as horas do aconchego ...
A "droga" depois, é o acordar !!!
Revemos quem partiu, quem está longe, quem queremos abraçar, quem queremos que nos estreite ao coração ...
revemo-nos a brincar outra vez no pátio da escola, a namorar com todos os amores que afinal ainda não estavam no "banco dos suplentes" ...
podemos nascer outra vez, ser o espanto da nossa "paróquia" ... sermos o máximo, a viver o que nunca julgámos possível ...
tudo à séria ... tudo de carne e osso ... tudo ao vivo e a cores ...
Entramos no país das maravilhas, pela mão de fadas e duendes !
Invertemos a marcha do tempo, a nosso belo prazer, e de repente ... passamos a acreditar, que a noite se fez dia, num passe de mágica !!!...
Mas também podemos fazer o inverso ; brincar com um "sonho de noite", arrastá-lo até de madrugada, de mansinho, para não o espantar, e tentar convencê-lo que de dia é que é bestial !! E que de dia é que ele nos daria um jeitão ...
É mais difícil ... mas não impossível ... e se o enganarmos, excelente !! ...
Eu, que não sou totalmente "aparafusada", acontece-me ter que saltar da cama a meio da noite, para por no papel, aquela composição que "escrevi", arrumadinha, no sonho com que estava ...
escrever aquele poema ou aquela dedicatória do livro, que estava a sair tão bem rimada ou tão eloquente ...
ir a correr resolver um exercício de matemática (quando era estudante), só porque em sonhos, aquele "estrupício" que me queimara ingloriamente os neurónios, de repente teve um final feliz, bem simples, mesmo ali debaixo do meu nariz ... em sonhos ...
E também , encontrar saída, para tanta estrada, "sem" ...
E encontrar soluções para objectivos apenas esboçados ...
E sufocar-me de energia e entusiasmo, só porque era exactamente aquele o rumo que teria que ter dado já à minha vida, e ainda não o havia divisado !!...
Esses são os "sonhos de noite", que ainda têm algum préstimo ; porque na verdade, normalmente brincam connosco de gato e rato, e "defraudam-nos" noite após noite, porque são apenas isso ... sonhos de " não valer a pena", "sonhos de enganar" !!!...
E depois ... também há a ausência de sonhos !!!
Esse, é o "buraco negro" da nossa existência, seja de dia, ou seja de noite !... Aí , é uma desgraceira só !!!...
Porque, como sabem, "o sonho comanda a vida", e um Homem sem eles, não sabe nem imagina, a pobreza do seu existir, a aridez dos seus dias, o imobilismo a que condena o Mundo, que deixará de "pular e avançar", segundo o nosso imortal Gedeão !!!
Mas, sejam "sonhos de dia" ou "sonhos de noite", não devemos esquecer de facto, o sentido da charada ...
..."FÁCIL É TER UM SONHO !... DIFÍCIL É SONHAR" !!!...
domingo, 22 de janeiro de 2012
"E A MINHA TERRA LÁ TÃO LONGE !"...
"Em Janeiro, vai e sobe àquele outeiro ... Se vires verdejar, põe-te a chorar ... Se vires terrejar põe-te a cantar"!
No meu Alentejo, e com este Janeiro pródigo em dias claros de céu limpo e sol brilhante, de certeza já "verdeja" !
Desafio-vos a interpretar mais um dos ditados, dos noventa anos da minha mãe .
Às vezes penso que devia escrevê-los ... Qualquer dia acaba-se!
Bom, eu por aqui e na minha vida, vejo muito mais "terrejar" que outra coisa.
Cá estou, na janela onde o sol ainda bate, cá estou a fumar outro cigarro ( devo estar a candidatar-me a mais uma dor de cabeça ), cá estou com o meu "farrusco" reguila lá em baixo, de olhões virados cá para cima ( estou a achar que ele já me adoptou companheira de solidão ), o plátano e as "minorcas" vizinhas, continuam desoladamente despidas ... e no céu provocantemente azul, a minha gaivota "baldou-se" !
Afinal, para gaivota, isto ainda é tempo de época balnear ... na boa!
O meu Alentejo deve estar lindo !
Os verdes que despontam, os ocres e os castanhos da terra ainda sem frutos, as oliveiras, sobreiros, azinheiras, do meu imaginário, por lá continuam ... Breve, breve ...o dourado das mimosas engrinaldará a paisagem.
Nunca me "deixaram" ter uma mimosa, quando podia ! E eu adoro a cor, a singeleza e o aroma das suas flores !
De certeza, mais dia menos dia, as cegonhas estarão a regressar. Os postes eléctricos, o cimo da copa das árvores ... alguma chaminé de um monte perdido, as aguarda !
Agora, os campos enchem-se de azedas, murtas, giestas, rosmaninhos e alecrins a anteciparem a Páscoa ... mas ainda de boninas, dentes de leão, chupas-mel, dedaleiras, lírios, boquinhas de lobo, urze ...talvez papoilas ...
Tudo grátis, tudo extraordiariamente oferecido, por uma Natureza esbanjadora e generosa !
Que saudade, de quando, de braçada as trazia p'ra dentro de casa ... de quando o cheiro das "maias" inebriava o ar, e nos fazia crer que a Vida era assim, exactamente assim ... simples, fácil, leve !
Ou será mais saudade da que eu era ?? ...
Ou melhor, saudade mesmo, acho que era dos sonhos que eu tinha, isso sim !...
Hoje, o betão sufoca-me ...
Hoje, a ausência de horizontes lá longe, onde até a construção me escondeu a Pena, impedindo-me de sonhar ... deixa-me mais desfalcada, mais vazia ...
Hoje, com este sol que mendiguei aqui de cima ( e já está a querer desaparecer por detrás das barreiras em que o Homem o confina ), com um vazio estranho a tolher-me, e uma solidão a amarinhar-me ... fui inevitavelmente lembrar o meu Alentejo, o "útero" com que a Vida me presenteou, a "casa" onde sempre gosto de chegar, o "ninho" onde me enrosco, em dias assim, como o de hoje, em que só verdejou e floriu na minha imaginação !!!...
Anamar
No meu Alentejo, e com este Janeiro pródigo em dias claros de céu limpo e sol brilhante, de certeza já "verdeja" !
Desafio-vos a interpretar mais um dos ditados, dos noventa anos da minha mãe .
Às vezes penso que devia escrevê-los ... Qualquer dia acaba-se!
Bom, eu por aqui e na minha vida, vejo muito mais "terrejar" que outra coisa.
Cá estou, na janela onde o sol ainda bate, cá estou a fumar outro cigarro ( devo estar a candidatar-me a mais uma dor de cabeça ), cá estou com o meu "farrusco" reguila lá em baixo, de olhões virados cá para cima ( estou a achar que ele já me adoptou companheira de solidão ), o plátano e as "minorcas" vizinhas, continuam desoladamente despidas ... e no céu provocantemente azul, a minha gaivota "baldou-se" !
Afinal, para gaivota, isto ainda é tempo de época balnear ... na boa!
O meu Alentejo deve estar lindo !
Os verdes que despontam, os ocres e os castanhos da terra ainda sem frutos, as oliveiras, sobreiros, azinheiras, do meu imaginário, por lá continuam ... Breve, breve ...o dourado das mimosas engrinaldará a paisagem.
Nunca me "deixaram" ter uma mimosa, quando podia ! E eu adoro a cor, a singeleza e o aroma das suas flores !
De certeza, mais dia menos dia, as cegonhas estarão a regressar. Os postes eléctricos, o cimo da copa das árvores ... alguma chaminé de um monte perdido, as aguarda !
Agora, os campos enchem-se de azedas, murtas, giestas, rosmaninhos e alecrins a anteciparem a Páscoa ... mas ainda de boninas, dentes de leão, chupas-mel, dedaleiras, lírios, boquinhas de lobo, urze ...talvez papoilas ...
Tudo grátis, tudo extraordiariamente oferecido, por uma Natureza esbanjadora e generosa !
Que saudade, de quando, de braçada as trazia p'ra dentro de casa ... de quando o cheiro das "maias" inebriava o ar, e nos fazia crer que a Vida era assim, exactamente assim ... simples, fácil, leve !
Ou será mais saudade da que eu era ?? ...
Ou melhor, saudade mesmo, acho que era dos sonhos que eu tinha, isso sim !...
Hoje, o betão sufoca-me ...
Hoje, a ausência de horizontes lá longe, onde até a construção me escondeu a Pena, impedindo-me de sonhar ... deixa-me mais desfalcada, mais vazia ...
Hoje, com este sol que mendiguei aqui de cima ( e já está a querer desaparecer por detrás das barreiras em que o Homem o confina ), com um vazio estranho a tolher-me, e uma solidão a amarinhar-me ... fui inevitavelmente lembrar o meu Alentejo, o "útero" com que a Vida me presenteou, a "casa" onde sempre gosto de chegar, o "ninho" onde me enrosco, em dias assim, como o de hoje, em que só verdejou e floriu na minha imaginação !!!...
Anamar
sábado, 21 de janeiro de 2012
A CULPA É DA " FUNDIÇA " !...
Obviamente que estou de "fundiça" !
E obviamente que estou de "fundiça", porque é sábado, e mais ... é sábado com sol !
Passo a explicar : já adorei os sábados, adoro o sol ; hoje odeio os sábados, e muito mais sábado ensolarado !
Neste momento, para mim, sábado que se preze tem que estar de chuva !
"Fundiça" ... mais uma "herança" familiar, para me fornicar os miolos ; já a procurei exaustivamente, em tudo que foi sítio. "Ninguém" me disse do que se tratava ...
" Quando chove ao domingo em hora de missa, temos toda a semana de fundiça"...
" Não há sábado sem sol, nem domingo sem missa, nem segunda sem fundiça"... Bolas, toda a vida ouvi, e só pode ser ... "alentejanês" !!!...
Resolvi que isto estava a ser demais, e portanto tinha era que ir apanhar os últimos raios do dito ( nem que me banhassem só até à cintura ), na minha janela das traseiras.
As minhas traseiras dão, como sobejamente já aqui referi ( em visão que se estende no espaço ), para o casario insípido e incaracterístico de uma terra que também o é !! Em visão próxima e imediata, para os terraços dos prédios, meu e vizinhos.
Esses terraços, em tempos, eram habitados por gatos vadios, daqueles gatos à séria, não os "gatos de plástico" que criamos nos nossos apartamentos. Havia dezenas de exemplares.
Eu, do meu sétimo andar, perdia-me a segui-los com o olhar, nas suas rotinas de companheirismo, familiares e de clã.
Deitava-lhes pedacinhos de comida, à "surrelfa" da vizinhança, claro ... ( "Não se deve alimentar animais da rua" !!! ... Azar!! ).
Janeiro era o mês deles, como se sabe ...
Pelas madrugadas não havia paz, nem aqui no sétimo, porque os rituais de acasalamento eram de tal forma pornográficos, que assombravam o sono de qualquer um ...
Sumiram, de repente. Ainda gostava de saber porquê.
Hoje, constatei que existia um "filho pródigo", um único, prevaricador, todo preto, placidamente sentado lá em baixo.
Não sei porquê, olhava cá para cima, e eu só divisava naquela mancha negra, dois "berlindes" claros e espertos !
Nos terraços havia e há pombos ... muitos pombos ! ( também ... onde é que não há pombos neste momento ??!! )
Pois bem, também os gatos já não são o que eram, pensava eu ...
Afinal, gato vadio, presumivelmente é gato esfomeado e a viver de caça ... suponho.
Pois bem, estes pombos dançavam um sapateado desafiador, a um metro dos bigodes do meu "reguila" farrusco, e apesar de eu o "animar" cá de cima, entre dentes ... "Vai ... vai-te a eles ... é agora !!..." o "esparvoado" nem se mexia ...
Tudo absolutamente em paz ! Decididamente ele não era gato para grandes "stresses"...
Nas minhas traseiras também há um plátano idoso, e mais duas árvores minorcas.
Como consequência, na Primavera, montes de passarada ! Pois agora, Janeiro a decorrer, o plátano sem folhas nas ramagens, e as outras duas completamente despidas, não albergam "vivalma". Uma desolação !!!
Resolvi fumar um cigarro, talvez dois ...
Como estava de "fundiça", tinha que me compensar de alguma maneira.
E fumar era assim uma espécie de "partida", que eu pregava não sei bem a quem ... uma provocaçãozita ao que deveria logicamente fazer, que era não fumar ... óbvio !
Mas sossobrei e consumi efectivamente um cigarro, e com isso, ganhei por desígnios do "Arquitecto" ... uma dor de cabeça que me dissuadiu do segundo.
Por "Arquitecto", continuei eu a pensar ... Sim, porque de vez em quando eu penso ... (rsrsrs)
A actualidade informativa neste momento, virou os "holofotes" para o grande "assunto" nacional - a Maçonaria!
Escalpelizam-na, acusam-na, defendem-na ... levam até os mais desatentos, a informar-se sobre ...
Pois bem ... Há amores que correspondem a verdadeiros acordos maçónicos entre as pessoas.
Maçonaria temos muitas vezes em círculos mais particulares e restritos, em micro-universos, sem que nos apercebamos, ou o analisemos por essa óptica.
Repare-se : há amores secretos, sigilosos, vividos entre quatro paredes, em verdadeiros "Templos", sem fuga de informação ... sem conhecimento exterior ...
Há amores vividos em rituais distintos ... os rituais desses amores !
Não têm compasso nem esquadro, como simbologia própria ... mas podem ter por exemplo rosas e cruzes ... Rosas ... o "Homem das rosas" ( lembram-se ? ), teve como ritual oferecê-la no fim da história, como símbolo de alguma coisa, à Maribel ... a tal menina sortuda, do portão !!
Cruzes ... é o que não falta por aí, mesmo nos amores ! Eu própria carrego várias, algumas bem pesadas !
Depois, amor é solidariedade, cumplicidade, entreajuda incondicional ... Maçonaria, também ... dever de fraternidade, liberdade e igualdade entre os "irmãos" ... tal como nos grandes amores ...
O aperfeiçoamento, a melhoria pessoal e do par ... o comportamento impoluto e irrepreensível ... também valores comuns.
Devem limar-se arestas todos os dias, tal como na Maçonaria se "parte pedra" ...
O triângulo representando o passado, o presente e o futuro ... são também óbvios. Todos os amores têm passados e presentes ... e um futuro, é desejável ...
É o símbolo da tripla Força indivisível e divina que se manifesta como Vontade, Amar e Inteligência cósmicos.
E poderia continuar por aqui abaixo a encontrar semelhanças entre os "assuntos" que desencantei ...
Mas não traria nada de novo, se pensarmos que afinal ambas as situações, correspondem a acordos, tratados, aproximações e encontros de pessoas com ideias próximas, ideais comuns, vontades em consonância ...
se pensarmos que ambas as situações, são associações de indivíduos, que em última análise, perfilham a melhoria, tendem a expurgar as "nódoas" sociais, lutam por aperfeiçoamentos do Homem como pessoa inteira e livre, para com os seus semelhantes, em sociedade ... pugnam por princípios colectivos louváveis e defensáveis, independentemente de quaisquer outros vectores exógenos, sejam eles ideológicos, religiosos, políticos ou de descriminação económica ...
Enfim ... e agora que o sol já foi embora, concluo que os pensamentos também são como as "cerejas" ...
E por tudo isto, a culpa é, como já perceberam, exclusivamente ... da "Fundiça" !!!...
sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
" COMO É QUE SE FAZ ? "
Ontem Ary dos Santos fez parte do meu espaço.
Nem sempre este lugar é apenas um lugar exclusivamente pessoal, de reflexões e sentires meus.
Sempre este lugar é um lugar de divulgação e partilha de tudo que considero válido, seja meu, seja de outrem, desde que importante, desde que me faça sentido.
Hoje trago outra figura nacional, da nossa literatura, sobejamente conhecida e referenciada, creio que por todos : Miguel Esteves Cardoso, vulgo MEC.
Não conheço cabalmente a sua obra publicada ; conheço-o por me "cruzar" com ele, em crónicas avulsas, que publica em colaboração noutros espaços.
De qualquer forma, a ideia que tenho formada sobre a sua escrita, é de que é sempre uma escrita "aberta", clara, picaresca, algo controversa, desassombrada, quase sempre provocatória ... aquela pedrinha que jogamos à água para ver as ondinhas que se formam, ou aquele elemento que numa reunião levanta intencionalmente uma questão polémica, para que os espíritos se agitem.
A sua postura na vida, em sociedade, creio também corresponder a este registo.
É uma figura não acomodada, tem uma visão curiosa e segura do que expõe ...a sua ironia inteligente, sempre cirúrgica ...
O texto que aponho neste meu post, impressionou-me particularmente.
Ao lê-lo, a minha identificação com o escrito foi de tal ordem, que quase existiu uma "promiscuidade" de sentires, entre mim e ele.
Dei por mim, linha por linha, a dizer em surdina : "eu teria escrito isto" !... "bolas ... exactamente a expressão do meu pensamento" !...
Parecia tão simplesmente, que eu era ele e que ele era eu !
Para lá dessa razão, e àparte este aspecto particular que refiro, considero o artigo digno de uma leitura atenta, isenta ... digno de uma apreciação ponderada ...
Leiam com os olhos, mas sintam com o coração !!!...
"Como é que se Esquece Alguém que se Ama?
As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguem antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar.
É preciso aceitar esta mágoa esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si , isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução.
Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha.
Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado.
O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar. "
Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
"SÓ PARA QUE NÃO ESQUEÇAMOS"....
Teoricamente hoje não postaria nada.
Ainda se "digere" o post de ontem ...
Contudo talvez por ele, também por ele, trago-vos este espectacular, quanto sentido, poema do Ary,
Ary dos Santos não poderá nunca ser esquecido no coração dos portugueses, independentemente de se identificarem ou não, com o seu "sentir" político.
Antes de tudo, foi um extraordinário poeta ... depois, alguém para quem o sofrimento humano fazia sentido de luta!...
Convosco, e sem demais dispensáveis palavras ... "KYRIE"
Anamar
quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
" O PIOR É O SILÊNCIO ..."
" A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita, ou sobre a fronte. P'ra que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tem a marca, o nome da besta, ou o número do seu nome " [ ... ]
Texto do Apocalipse 13:11 - 18..
O Controle Global, na chamada Nova Ordem Mundial ( nwo ), era, ao que parece, algo premonitório, já no conteúdo da Bíblia.
Chamava-se-lhe aí, a "marca da besta".
Neste momento, vários são os países que pretendem estabelecer este novo sistema de identificação e controle dos cidadãos ( entre eles está Portugal, já existe na nossa vizinha Espanha ... )
O "biochip" aguardou clandestina e silenciosamente, nas mentes governativas, a melhor altura de deitar a cabeça de fora, de se impor.
O 11 de Setembro de 2001 deu-lhe visibilidade e total legitimidade, porque se poderia, com o seu implante, combater o terrorismo global, pelo rastreio, controle e catalogação de todos os cidadãos.
Numa abordagem superficial e "soft", a sua aplicação traria vantagens do ponto de vista prático ; pela simples passagem do dedo num scanner, teríamos acesso imediato a entrar em casa sem chave, a não precisar usar dinheiro ( não se correndo o risco de assalto ), não se precisaria usar vários cartões, por nele se concentrar toda a informação ...
Seríamos portanto, totalmente monitorizados por satélite.
Mas ... a que preço ???
A que preço trocamos a nossa privacidade, liberdade e consequente dignidade, por uma marca, um "ferrete", como no gado ou nos animais domésticos ??!!
Os animais são catalogados com o biochip ... e nós ... seremos os próximos a ser catalogados, como animais ??!!
Para quê?
Para sermos controlados totalmente 24 sobre 24 horas, via satélite, localizados, visionados e devassados até na nossa própria mente ??!!...
Ser escutado o nosso pensamento ??!!... ( Um Instituto de Pesquisas, concluiu que palavras subvocalizadas, formam padrões reconhecíveis ao EEG, passíveis de serem lidos por um computador ).
Com que direito ele pode ser obrigatório, sendo, quem o recusar, socialmente excluído??!!...
Que legitimidade têm os governos, por nós eleitos, para no-lo impor ??!!...
Aligeirando a questão, pegando-a numa vertente humorística, podemos sempre pensar que a sociedade de consumo em que vivemos, de tudo fará, de todo o tipo de artimanhas e aliciamentos deitará mão, para "formatar" os espíritos ...
Assim, as mulheres poderão preferir colocá-lo na testa, na zona do chacra frontal ( o terceiro olho ), bem ao estilo das jóias semi-preciosas exibidas pelas indianas ...
Os homens, como tatuagens ou piercings ...
Os jovens, sempre pioneiros e adeptos das revoluções e inovações, achá-lo-ão suficientemente "fixe" e "cool" ...
Os ladrões, em vez de dizerem : "Dê-me a carteira ou as jóias, que isto é um assalto !!"... dirão : "Dê-me o chip ... isto é um assalto !!"...
Vai ser preferível, consequentemente, assaltar o "chip" dos magnatas ... óbvio !
Estamos com o namorado ... o satélite mostra ...
Estamos na casa de banho ... que chatice !!!...
As "puladinhas de cerca" dos mais ousados ... vão p'ro "galheiro"... ou aumentam ainda mais os divórcios ...
Os filmes pornográficos deixam de ter audiências ! ... Pois se o "satélite" está no quarto de toda a gente, cada 24 horas !!! :)
Os profs não podem mais fazer manifestações, porque o satélite mostra ao Crato, quem é quem ...
As reuniões maçónicas só podem ocorrer sob coberturas "anti-satélite", e deve falar-se muito baixinho, p'ra que não haja fuga de informação, e também, já agora, p'ra que não se saiba quem as frequenta !!!...
É provável que vá haver chips de cores, tamanhos e formas diversas ... Armani, Gucci, Dolce e Gabana, Louis Vuiton ... mas também, da feira do relógio ou de Carcavelos, claro !!!
Chips com direito a captação de rádio (para os que curtem um som "nice" ), chips com captação dos berros da criança no infantário (para mães mais ansiosas ) ... ou dos concertos do Tony Carreira no Pavilhão Atlântico (p'ra quem curte essa "onda"....ahahah ) !!!...
Enfim, triste vai este Mundo ...
Mas, parando de brincar, e em resumo :
Os chips humanos, encapotados como convém, em obediência a lógicas importantes, princípios louváveis, pseudo-protecção pessoal e social ... a "bem" do indivíduo, da sociedade, do Mundo ...
As liberdades individuais a serem cerceadas, ali, bem debaixo do nosso nariz ...
Um atentado à dignidade, à privacidade, à independência do ser humano ... e nós a encolhermos os ombros...
Tudo a passar-nos à frente, em surdina, mansamente ... para não despertar atenções, reacções, tomadas de consciência ... para não fazer "ondas" ...
tudo a desfilar e a "mexer", por baixo do pano, atrás da cortina, ao sabor como sempre, dos interesses gigantescos, dos "lobbies" económicos e inalcançáveis que movem o Mundo, em nome de intencionalidades absolutamente suspeitas e duvidosas ...
O "Lobo" mascarado de "Capuchinho" !
Povos sem cultura, desinformados, gente tradicionalmente amorfa, não politizada, analfabeta em esmagadora maioria.
Gente não interventiva, por ignorância, comodismo, incapacidade organizativa e de militância ... por medo !
Um universo ideal para se implementarem medidas que seriam escandalosamente polémicas, ripostadas, inaceitadas ... se delas se tivesse tomado consciência atempadamente, se sobre elas se tivesse reflectido seriamente, se tivessem suscitado análise e consequente debate de "portas abertas", com transparência e clareza.
Isto, se considerarmos o mundo "dito" civilizado ; porque se pensarmos então numa África, na maior parte das vezes submetida a ditadores "sem prazo de validade", submetida a prepotências intoleráveis, utilizada chocantemente como marioneta num xadrês absurdo e desumano ...
se pensarmos numa Ásia, em que os indivíduos há muito deixaram de ser "pessoas" inteiras e plenas de deveres mas também de direitos, e portanto totalmente fragilizados e sem qualquer capacidade reivindicativa ...
se pensarmos então em zonas do planeta, flageladas por guerras sem sentido, manipuladas como sempre pelos interesses do "Grande Mundo", destruídas por conflitos que visam a sua "submersão" como nações e estados independentes, em prole novamente dos interesses das grandes potências ... verifica-se que afinal ...
tudo são estratégias concertadas de extermínio colectivo de povos, para supremacia de outros, e busca de hegemonia dos seus potentados, a qualquer preço, com qualquer custo, sejam quais forem o dano e o sofrimento infligidos !
Isto leva-nos a recuos memoráveis na nossa História recente, isto lembra acontecimentos, absoluta e intencionalmente programados, de genocídios em massa, isto exibe o lado mais escabroso, obscuro e selvático do Homem ... isto traz à luz do dia, o MONSTRO que o ser humano encerra em si !!!...
Convem a propósito, que lembremos MAIAKOVSKI ... BERTOLD BRECHT ... MARTIN NIEMÖLLER , CLÁUDIO HUMBERTO ...
Porque então, talvez se agitem consciências ... talvez se interiorize finalmente, que o pior de tudo ... é o SILÊNCIO !!!...
Anamar
domingo, 15 de janeiro de 2012
".... só porque eu sou IMPERFEITAMENTE HUMANA !..."
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Finalmente a chuva !...
Dia cinzento, pardacento, "regado" cá e lá com chuva não muito copiosa, a acompanhar algum frio que desta vez não foi embora.
Como conviria, e porque a tradição ainda é o que era no "reino das gaivotas"... a minha, veio visitar-me, bem roçagante à minha janela ... de asas bem esticadas, deixando-se ir, sem nenhum pejo perante a chuva que caía !
Há três dias que não escrevo. A inspiração tem estado falha.
Eu sou assim mesmo ... os "picos", em tudo na minha vida !
Ontem, numa daquelas noites sem sono, sem vontade de televisão, sem concentração para leituras, deu-me para cometer mais uma incoerência , porque, apesar de me "policiar" efectivamente, de procurar linhas de conduta com princípio, meio e fim, de tentar um logicismo de actuações e posturas, de vez em quando "desvio" a agulha, humana que sou ...
Bolas ... até parece que confesso aqui um crime, que o não foi !...
Defendi, ainda há bem pouco tempo neste espaço, defendo e defenderei a minha "incompatibilidade" formal com as redes sociais, aqui na Net.
Conheço mais ou menos bem o espírito de algumas, mas acho que de uma forma geral, não são muito diversas umas das outras. O "princípio" é o mesmo, o "leit motiv" também, a frequência das mesmas pelos utentes, também "grosso modo", por iguais razões.
Não tiro, de facto, uma vírgula a isto !...
Mas não me tentem "engrupir" com argumentos de "pílula dourada", porque não "descem" ...
Tenho um amigo que participava numa, para "conhecer por dentro o universo feminino" ...
"Comovente" e muito louvável, o princípio em si ... a "eficácia" ... outra, claro!
Tive que me rir, porque eu sou a tal, que há muito já não acredita no Pai Natal ...
Que as redes sociais são um espelho espantoso de realidades sociais e humanas, sem qualquer dúvida !... Que delas se pode em rigor e seriedade, fazer um brilhante estudo antropológico, quiçá uma "brilhante" tese ... é verdade !...
Só que "isso" é uma desculpa de "mau pagador" para quem as quer frequentar e não o quer assumir, porque objectivamente tecem-se opiniões, tiram-se conclusões, fazem-se conjecturas, mas penso que a opinião geral, resulta simplesmente, de uma mera sensibilidade sobre a realidade efectiva, e que não haverá ( pelo menos que eu conheça ), nenhum estudo sério sobre o "poder milagreiro" das novas tecnologias, nessa matéria.
Pois bem, dissertei, dissertei, andei aqui à roda, à roda, para dizer o quê??...
Tão simples quanto isto : voltei a reinscrever-me no Facebook, este sim um espaço absolutamente inexplicável, um fenómeno social de dimensão e alcance esmagadores ( ilógico, diria ), com uma abrangência incontrolável, com um poder insuspeito ...
Já foi alvo de argumento de pelo menos um filme ( que eu saiba ), origem de debates acalorados que movimentam multidões, suscita estudos sérios sobre as suas consequências, efeitos e distorções nas mentes humanas, nas famílias, nas sociedades.
Pelo Facebook têm passado notícias antecipadas, anúncios de acontecimentos tremendos para a humanidade, promoções pessoais, informações das mais variadas e suspeitas origens (de instituições reconhecidas, a grupos anónimos, a seitas ...), incitações a actividades legais mas também ilegais, divulgação de produtos, ideias, pessoas, movimentos ideológicos, conspirações políticas ... denúncia de temas, ainda que sigilosos ( que fogem às malhas de qualquer rede de controle ) ... verdadeira modelagem de personalidades ( acredito ), veiculação séria ou não, de informação de uma forma geral ( neste momento, até a calendarização das actividades das instituições, se faz, surpreendentemente, pelo Facebook !!! )
Já estivera no FB e já saíra, há mais de um ano atrás.
Não lhe achei particular piada, apesar de para além de colegas, amigos e familiares, espantosamente de tudo lá haver encontrado em profusão.
Tem uma interactividade meio estranha e algo confusa, parece-me.
Às vezes lembra-me as "conversas de aldeia", das comadres no mercado !
É a rede social com a mais genuína tipologia do "diz que diz", que conheço, da mais abismal "trica-larica" !!
Na altura, frequentava pouco. Era a altura do apogeu da "farmville", em que toda a gente andava louca, a plantar hortaliças, criar gado, transaccionar frutas, comprar "terrenos" para ampliar ... adubar, regar, colher ..
Depois, o restaurante ou o café, com a comida a esfriar, a esturrar, a gelar, a apodrecer ... Oh meu Deus ... pareciam os tempos alucinados do "Tamagoshi" ... e eu não era criança nem nada, nessa "afortunada" época !!! ( "Ganda" lacuna na minha formação !!! :) )
Encontrei falta de senso em algumas pessoas, encontrei falta de "saber estar" de outras, falta de "desconfiómetro" (como eloquentemente dizem os brasucas ) ... e mandei aquilo "às favas" ... bati a porta e saí !...
Ontem reabri-a. Não sei se às escâncaras, se a "meia-haste", se para voltar a fechá-la... Ver-se-á !
Foi mais para "ver", que outra coisa ... mais para brincar ( até o António por lá anda, nos seus dez aninhos, com a mãe a controlar-lhe a senha, claro ), mais para ocupar às vezes, horas de "pasmanço" no PC (que raio de vício esta máquina é !!!.... )... mais ... olhem ... mais por incoerência, afinal, porque "bem prega Frei Tomás ...", porque não consigo ser "direitinha" sempre, apesar de "partir muita pedra" todos os dias, como diz o Jonas ... e no lavar dos cestos ... não sou mais do que simples e IMPERFEITAMENTE HUMANA !!!...
Anamar
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Finalmente a chuva !...
Dia cinzento, pardacento, "regado" cá e lá com chuva não muito copiosa, a acompanhar algum frio que desta vez não foi embora.
Como conviria, e porque a tradição ainda é o que era no "reino das gaivotas"... a minha, veio visitar-me, bem roçagante à minha janela ... de asas bem esticadas, deixando-se ir, sem nenhum pejo perante a chuva que caía !
Há três dias que não escrevo. A inspiração tem estado falha.
Eu sou assim mesmo ... os "picos", em tudo na minha vida !
Ontem, numa daquelas noites sem sono, sem vontade de televisão, sem concentração para leituras, deu-me para cometer mais uma incoerência , porque, apesar de me "policiar" efectivamente, de procurar linhas de conduta com princípio, meio e fim, de tentar um logicismo de actuações e posturas, de vez em quando "desvio" a agulha, humana que sou ...
Bolas ... até parece que confesso aqui um crime, que o não foi !...
Defendi, ainda há bem pouco tempo neste espaço, defendo e defenderei a minha "incompatibilidade" formal com as redes sociais, aqui na Net.
Conheço mais ou menos bem o espírito de algumas, mas acho que de uma forma geral, não são muito diversas umas das outras. O "princípio" é o mesmo, o "leit motiv" também, a frequência das mesmas pelos utentes, também "grosso modo", por iguais razões.
Não tiro, de facto, uma vírgula a isto !...
Mas não me tentem "engrupir" com argumentos de "pílula dourada", porque não "descem" ...
Tenho um amigo que participava numa, para "conhecer por dentro o universo feminino" ...
"Comovente" e muito louvável, o princípio em si ... a "eficácia" ... outra, claro!
Tive que me rir, porque eu sou a tal, que há muito já não acredita no Pai Natal ...
Que as redes sociais são um espelho espantoso de realidades sociais e humanas, sem qualquer dúvida !... Que delas se pode em rigor e seriedade, fazer um brilhante estudo antropológico, quiçá uma "brilhante" tese ... é verdade !...
Só que "isso" é uma desculpa de "mau pagador" para quem as quer frequentar e não o quer assumir, porque objectivamente tecem-se opiniões, tiram-se conclusões, fazem-se conjecturas, mas penso que a opinião geral, resulta simplesmente, de uma mera sensibilidade sobre a realidade efectiva, e que não haverá ( pelo menos que eu conheça ), nenhum estudo sério sobre o "poder milagreiro" das novas tecnologias, nessa matéria.
Pois bem, dissertei, dissertei, andei aqui à roda, à roda, para dizer o quê??...
Tão simples quanto isto : voltei a reinscrever-me no Facebook, este sim um espaço absolutamente inexplicável, um fenómeno social de dimensão e alcance esmagadores ( ilógico, diria ), com uma abrangência incontrolável, com um poder insuspeito ...
Já foi alvo de argumento de pelo menos um filme ( que eu saiba ), origem de debates acalorados que movimentam multidões, suscita estudos sérios sobre as suas consequências, efeitos e distorções nas mentes humanas, nas famílias, nas sociedades.
Pelo Facebook têm passado notícias antecipadas, anúncios de acontecimentos tremendos para a humanidade, promoções pessoais, informações das mais variadas e suspeitas origens (de instituições reconhecidas, a grupos anónimos, a seitas ...), incitações a actividades legais mas também ilegais, divulgação de produtos, ideias, pessoas, movimentos ideológicos, conspirações políticas ... denúncia de temas, ainda que sigilosos ( que fogem às malhas de qualquer rede de controle ) ... verdadeira modelagem de personalidades ( acredito ), veiculação séria ou não, de informação de uma forma geral ( neste momento, até a calendarização das actividades das instituições, se faz, surpreendentemente, pelo Facebook !!! )
Já estivera no FB e já saíra, há mais de um ano atrás.
Não lhe achei particular piada, apesar de para além de colegas, amigos e familiares, espantosamente de tudo lá haver encontrado em profusão.
Tem uma interactividade meio estranha e algo confusa, parece-me.
Às vezes lembra-me as "conversas de aldeia", das comadres no mercado !
É a rede social com a mais genuína tipologia do "diz que diz", que conheço, da mais abismal "trica-larica" !!
Na altura, frequentava pouco. Era a altura do apogeu da "farmville", em que toda a gente andava louca, a plantar hortaliças, criar gado, transaccionar frutas, comprar "terrenos" para ampliar ... adubar, regar, colher ..
Depois, o restaurante ou o café, com a comida a esfriar, a esturrar, a gelar, a apodrecer ... Oh meu Deus ... pareciam os tempos alucinados do "Tamagoshi" ... e eu não era criança nem nada, nessa "afortunada" época !!! ( "Ganda" lacuna na minha formação !!! :) )
Encontrei falta de senso em algumas pessoas, encontrei falta de "saber estar" de outras, falta de "desconfiómetro" (como eloquentemente dizem os brasucas ) ... e mandei aquilo "às favas" ... bati a porta e saí !...
Ontem reabri-a. Não sei se às escâncaras, se a "meia-haste", se para voltar a fechá-la... Ver-se-á !
Foi mais para "ver", que outra coisa ... mais para brincar ( até o António por lá anda, nos seus dez aninhos, com a mãe a controlar-lhe a senha, claro ), mais para ocupar às vezes, horas de "pasmanço" no PC (que raio de vício esta máquina é !!!.... )... mais ... olhem ... mais por incoerência, afinal, porque "bem prega Frei Tomás ...", porque não consigo ser "direitinha" sempre, apesar de "partir muita pedra" todos os dias, como diz o Jonas ... e no lavar dos cestos ... não sou mais do que simples e IMPERFEITAMENTE HUMANA !!!...
Anamar
terça-feira, 10 de janeiro de 2012
"OS PRATOS DA BALANÇA ..."
Este início de 2012 trouxe-me aos miolos e à ponta do lápis, temas polémicos, controversos, quentes, que por tudo isso, têm suscitado "discussões" apaixonadas.
Comecei portanto o ano, não sei se mais para filosofices ... se mais para diatribes, sendo que ambas sempre estão interligadas na minha análise de qualquer assunto, na minha escrita.
Mais uma vez, no post de hoje, me vou focalizar nas relações humanas, relações casal, relações homem-mulher.
Constatamos, e é do domínio comum, o aumento de separações, divórcios, rompimentos, quebra de ligações.
Todos sabemos também, que para isso convergem inúmeros e variados vectores, e sabemos ainda que a "aposta", não é hoje o forte do Homem, no seio de uma relação ...
Já abordei esse aspecto, aqui mesmo neste espaço, lá para trás ... Referi a precariedade dos afectos, a fragilidade dos "fios" emocionais que unem as pessoas.
Correndo o risco de proferir uma enormidade, ou estar a ser demasiado simplista, diria que de duas vertentes depende primariamente a relação humana : o acerto no campo afectivo e o acerto no campo sexual.
No verdor dos anos, na idade pujante ( fisicamente falando ), na idade fértil e biologicamente preparada para o acasalamento, eu diria que o que aproxima dois seres, passa muito prioritariamente pela vertente física.
Assim é no ser humano, assim é no reino animal.
Falam muito alto as pulsões sexuais, são determinantes os estímulos visuais, olfactivos, auditivos, globalmente prima o conteúdo físico, destinado pela Natureza, exactamente para atrair o parceiro.
No reino animal, assistimos privilegiadamente, em programas e séries extraordinárias do National Geographic, a alterações, mutações, alindamentos de ambos os sexos, nas espécies, para os rituais de emparelhamento.
Estamos no domínio do irracional, mas no reino racional, no domínio dos humanos, tudo acontece de uma forma paralela.
Ambos os sexos estão no seu expoente máximo de beleza física, força, capacidades ... são possuidores de todos os dons propiciadores da atracção, são dotados dos "truques" naturais, necessários para garantir a aproximação ao sexo oposto.
Óbvio que este será o registo mais comum, penso. Aquele mais primariamente determinado, por desígnios biológicos.
Porque depois, se agora nos reportarmos apenas à espécie humana, cumprido este primeiro "requisito", e tão importante quanto, ou mais, virá a exigência e a satisfação ou não, do acerto afectivo.
O acerto afectivo entre dois seres, passa evidentemente por um acerto intelectual, cultural, social, ético, a que o ser humano é obviamente sensível.
Da conjunção desse conjunto de requisitos, nasce / nascerá a formação de um casal ou par, teoricamente perfeitos ... Idealisticamente sim, do equilíbrio dessas duas componentes.
Tal desiderato, é contudo, mais teórico que prático.
De facto, é extremamente difícil ou improvável, o alcance dessa referida equidade.
Sabemos que há relações fundamentadas, alicerçadas e sustentadas, mais por uma, ou mais por outra, dessas componentes.
E as pessoas mais ou menos ajustadas ou felizes, caminham nesse equilíbrio algo instável, e com ele se fazem as Vidas !...
Com o avanço dos anos, e com toda a alteração natural e biológica a que o ser humano é sujeito, atravessados diferentes tipos de estádios físicos, emocionais, intelectuais, culturais, familiares, sociais até ... cada indivíduo começa a "centrar-se" ou a exigir para o seu bem estar físico e emocional, que prevaleça uma das componentes em apreço.
A fase do fulgor físico começa a abandonar-nos, começa a não ser tão determinante a uma realização pessoal e particular, começa a valer mais a pena equacionar o viver dentro de outros parâmetros, aqueles que apresentaram afinal a solidez necessária à manutenção do casal , na travessia das tempestades e terramotos impostos pelos anos.
É a altura em que o "casal" enquanto casal, é reflectido, é reavaliado, é posto à prova ... É sopesado ou devê-lo-á ser, o que realmente terá de prevalecer, o que realmente é na verdade importante e definitivo, para a sua manutenção ... o que é genuíno, quais os valores que o são ( enquanto valores ), o que deverá ser colocado nos pratos da balança ...
Espantosamente ou talvez não, a balança irá pender para o lado do bom senso, do amor calmo e firme ( substituindo a paixão louca, tormentosa e efémera dos primeiros tempos ), para o lado da cumplicidade, das linguagens comuns, dos interesses comuns, dos afectos reais .
Os corações sobressaltam-se menos, a confiança mútua ( determinada pela ternura, pelo afecto e pelo amor ) traz paz aos espíritos ... O "saber" da partilha segura, traz "calor" à alma !...
Privilegia-se portanto, aquilo que eu chamo de consolidação do essencial .
Nesse estádio, pesem embora muitas e possíveis "solicitações" exteriores, as pessoas dão-se conta de que estão mais selectivas, dão-se conta de que pôr em risco uma relação duradoura, em favor de algumas "emoções" pontuais, não compensa, e de que magoar ou ferir irreversivelmente o seu par, em função talvez de nada ou de muito pouco, se calhar não valerá a pena ...
Atingiu-se portanto, uma maturidade existencial ...
Será esse reforço de laços, essa partilha séria de afectos, essa cumplicidade entre as duas pessoas, essa proximidade cada vez mais aglutinada num só ser ... que, sendo escolhida, tornará o casal, numa simbiose tão perfeita quanto possível, e fará com que trilhem o caminho sobrante, em aconchego de vida ...
Deixado para trás o supérfluo emocional, foram e vão ser companheiros de jornada, para o bem e para o mal, quando os olhos já não enxergarem direito, quando os ouvidos já tiverem endurecido, quando as pernas já claudicarem ... quando já quase só, forem a sombra um do outro, em que se tornaram ...
Anamar
sábado, 7 de janeiro de 2012
"BARALHAR ... E VOLTAR A DAR !"...
"Eu não falhei milhares de vezes. Apenas descobri milhares de métodos que não funcionam "! - Thomas Edison
Esta afirmação, proferida pelo genial criador da lâmpada eléctrica, entre mais de duas mil patentes registadas, de inventos por si criados ... chegou-me às mãos.
O artigo que a continha, reflectia sobre a necessidade da estimulação da criatividade no Homem, como base do seu desenvolvimento integral . Era ainda afirmado pelo autor do artigo que ... (sic) "A criatividade está ao alcance de qualquer ser humano, quando alguém se predispõe a sair da mesmice mental ".
Concordo formalmente com a frase supra-citada, não é sobre ela que pretendo pronunciar-me, mas vou sim pegar na afirmação de Edison, para, "jogando" com ela, a aproveitar para o espírito do que aqui desejo transmitir ...
Ou seja, vou "desmontar" o edifício mental, no senso em que aqui é utilizado, recreá-lo e adaptá-lo às minhas "filosofices" ...
Que me perdoe Edison !...
Muitas vezes ao longo da vida, talvez mais ao longo dos últimos anos ( em que mercê do meu percurso, das circunstâncias, da minha forma de estar e sentir ) ... me flagrei aplicando exactamente o pensamento de Edison, a mim própria.
Quem falha, não irá falhar sempre ... Se calhar, as falhas não foram mais do que tentativas frustradas de outros tantos acertos ...
A vida evolui, faz-se todos os dias, o ser humano erra e acerta, erra e acerta ...
Dos erros deviam ser tiradas ilações ..... por vezes ocorrem repetições !
Dos erros deviam ser colhidas aprendizagens ... muitas vezes não o são !
Uma coisa é certa ... Que as falhas e os erros deixam marcas, gravam cicatrizes ... indubitavelmente !!!...
Que os insucessos acontecidos, mais derrubam do que erguem, dependerá de cada indivíduo, mas penso que globalmente é verdadeiro !
Que nunca se fica o mesmo depois de cada dita "falha" ( ainda que tenhamos consciência, que ela foi apenas um ensaio de proveta não conclusivo ), também é verdade !
A "droga", é quando as dúvidas inculcadas dentro de nós por cada objectivo não atingido, nos tornam mais defendidos, tão defendidos que nos cerram os portões da alma, nos tornam mais "feios" como seres humanos, porque inevitavelmente inseguros, desconfiados, por medo do sofrimento de reincidências ...
A nossa "disponibilidade" como pessoas, face ao mundo e aos que nos rodeiam, fica diminuída, a nossa capacidade reactiva, fragilizada, ou então potencialmente agressiva, de uma forma irracional, por vezes mal direccionada ... como um animal acossado !!!
A vulnerabilidade aumenta, o "medo" instala-se, e com "medo", o indivíduo não é isento nas apreciações, nas análises, nas conclusões ...
A liberdade, como consequência, restringe-se ... é cerceada !
E aí temos nós, uma pessoa "amputada" do que de melhor teria em si , para se dar e dar aos outros.
Depois, desponta sempre um certo sentido de injustiça, uma certa vitimização ... "porquê eu ?!" ... "era necessário ?!"... "não podia !!"...
E esse sentimento incontrolável, muito acima do razoável, do que o bom senso determinaria, do que os outros talvez mereçam, torna-nos intolerantes, insuportáveis ... cansativos ...
Só que a "semente", boa ou má, uma vez caída na terra, germina, pode tornar-se erva daninha, pode proliferar feito "praga", pode secar ... matar tudo à sua volta !
Nessa altura, como sabemos, não há volta a dar ... e o único remédio eficaz, é arrancá-la pela raiz, para que dela nunca mais brote uma só folha verde!!!
E dessa forma radical, esse indivíduo definitivamente ficará fechado a novos horizontes, a novas esperanças, a novas tentativas ... tal como essa planta que morreu no pé !!!
Anamar
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