domingo, 12 de dezembro de 2010

"DIA........?"

Só consigo saber a data, porque no lobbie do hotel, todos os dias, com pedrinhas brancas está diariamente "escrita" a data.

Tenho claramente a sensação de que fui "chamada" a Bali...
Não sei explicar muito objectivamente, mas a reflexão que estes dias me têm permitido, o respeito e a admiração por este povo, o ar que por aqui passa, num fluxoduma energia tão positiva, são inenarráveis.
Penso que seguramente não irei a mesma na minha vida interior, nas minhas opções de vida, no trilho que percorrerei.
Penso que neste silêncio (porque segundo se diz na "Ilha dos Deuses", a forma privilegiada de comunicação é o silêncio), tenho repassado o filme da minha vida e tenho-o reprotagonizado vezes sem conta.
Um ancião falou-me: "Assenta bem os pés no chão, pensa com o coração e não com a cabeça, porque tu és uma mulher intrinsecamente boa e vais ser feliz..."

As pessoas pouco mais têm do que uma exuberância natural em tudo, ou seja, uma exuberância nos elementos (vulcões, tsunamis, sismos, furacões), e uma  exuberância duma vegetação plantada a esmo pelo Senhor da Terra, da água que abunda por todo o lado, pelo absurdo da beleza indescritível das flores, borboletas, aves...

Para além dissotêm um segredo inestimável: têm a doçura que emana da terra, da música, do som do vento nas caninhas de bambu suspensas, do teclado destes instrumentos subtilmente melódicos.
Têm uma voz absolutamente doce, uma postura de uma discrecão, humildade e afabilidade que não se definem, sempre, mas sempre.
Um sorriso ou um riso aberto para todos, conheçam ou não, seja ou não pessoal do staff do hotel, ou gente anónima da rua.
São comoventemente educados e delicados, vivem de bem com a vida, na maior precariedade que se imagine, não parecem andar, mas pairar, são puros de alma e perfumados de coração, como as flores de Bali, que sempre trazem na cabeça

Não me perguntem porquê, mas sempre me vem à cabeça que a flor de lótus ou o nenúfar, foram aqui "inventados", porque as raparigas de Bali, não são mais que nenúfares que dançam, andando...

Anamar

"DIA 3 OU DIA 4..."

Começo um pouco a perder a noção do tempo.
Sei que é 12 de Novembro, sei que ontem me telefonou a Cláudia, para que a minha mãe me falasse, mas penso que por uma questão de logística temporal, apenas...sei que hoje pelas 6h da manhã me ligou a Catarina, do outro lado do Mundo, o Brasil, dizendo que lá, pensava ela, seria ainda dia 11...Estes fusos horários brincam connosco de esconde-esconde, de dia e noite...

Confesso que também estou um pouco perdida...sei que hoje às 6h fui presenteada com o meu primeiro presente de aniversário....uma baratona do tamanho de um elefante, que teimava em não me deixar o cabelo e o pescoço...isto, para lá das centenas de mosquitos, em nuvem, que curiosamente e exclusivamente nessa noite, em toda a estadia, mesmo depois do "fumigamento" diário dos quartos, resistiram em bando, pelo quarto, nessa noite...

E pensei... (depois da barata): "Cá estão eles, os sessenta...tão depressa chegaram!...
Mas depois pensei:: "o meu pai foi embora com noventa anos, a minha mãe, está a meses de os fazer"...ou seja, nessa óptica, teoricamente teria um terço de vida à minha frente....
Agora, que terço?
Nota-se bem de ano para ano a quebra nos reflexos diários: é o equilíbrio que não se faz tão seguramente, é a agilidade que claudica, é a altura do levantar o pé do chão mal calculada (e o resultado, três trambolhões que já dei no precário tempo que estou cá)...é o tolerar o calor e o sol directo com muito menor capacidade doutras épocas, é o pedir do corpo ao sono depois da quebra do almoço...comparando com as 6h da manhã em que na República Dominicana, eu já estava na praia, há anos atrás, cheia de frescura para começar a aspirar os cheiros, os sons ou o silêncio...
Agora, a cama ainda mos pede para dormir mais um pouco e fico rabugenta se o não faço...

Esse o problema; é que os dois terços vividos qualitativamente na vida, não têm, não terão nada a ver, com o que virá a seguir...
Dou por mim a verificar vezes sem conta onde coloquei coisas de responsabilidade, dou por mim a esquecer momentaneamente onde as pus...e a apavorar-me não lhes "perca o norte".
E se perder o norte do que vivi para trás?
Isso dizia-me a Lena noutro dia, expressando o receio que tem de esquecer recordações e com elas identidade, óbvio...
Eu também acho que nada haverá de mais ingrato na vida, do que esquecer o bom e o mau que ela nos deu...os rostos, as pessoas, os momentos, os felizes e os que o não foram...porque há coisas que diariamente sentimos já, entrarem num nevoeiro que se adensa...

Mas afinal, a Vida continua a pregar-me as suas "partidas";
Há dez anos atrás, numa data perfeitamente carismática, também fui surpreendida, absolutamente surpreendida, por uma festa inesperada, surpreendente e incontável, preparada pela minha família...
Hoje, dez anos volvidos e com eles, volvidas tantas e tantas coisas, incluindo a família, planeando vir quase clandestinamente para este recanto do planeta, quase nas antípodas, onde a data passaria despercebida (essa a ideia), eis que sou de novo surpreendida com uma festinha preparada pela gerência do hotel, com direito a bolo de anos com velas e tudo, mesa personalizada e decorada com flores e a colocação de uma coroa simbólica na cabeça e um colar de flores ao pescoço, no meio do "happy birthday to you" cantado por vozes, diria, de todo o mundo, dos hóspedes que jantavam na sala cheia....

Bem, pensei...vou ter que agradecer tudo isto no meu inglês muito, muito precário, infelizmente, e vou ter uma vez mais, eu sim, que parabenizar a VIDA, que tantas vezes tão mal trato, pelo facto de estar viva e ser tão abençoada com momentos tão surpreendentes como este, que nos fazem extravazar o coração, parecendo não caber mais dentro do peito...

Anamar

"O SOL DA ALMA"





Dou por mim a pensar há quanto tempo eu não solto uma boa gargalhada....ou até mesmo se alguma vez o fiz.
Daquelas gargalhadas que vêm da alma, não da garganta ou de outro lado qualquer...

Lembro pessoas que até hoje têm gargalhadas de dar gosto nos meus ouvidos. Lembro a Inácia, colega de escola, de gargalhada fácil e inconfundível e lembro a gargalhada troante, à dimensão de quem a soltava, em plena sala dos professores....a gargalhada da Tininha, professora de história e que muitos talvez já não lembrem.
Partiu há muitos anos, mas o seu "logotipo", a sua imagem de marca, essa gargalhada, ficou por ali mesmo, na sala dos professores, e ainda por lá está, para quem consegue ouvi-la.
A Tininha era assim aquele "mulherão"...grande, alta, forte....e a sua gargalhada era de gosto igual.

Não me lembro , ao longo da minha vida de rir abertamente. Havia quem tivesse ternura pelo meu esboço de riso, em que parece que timidamente vou soltá-lo,  pedindo desculpa por o fazer, como se, nesta vida, esse "brinde" do riso solto e fácil, não fosse para mim...."Eu era chamada da menina do sorriso tímido", em que ele ainda estava a começar a soltar-se-me dos lábios, e já eu à pressa o agarrava para não o deixar vogar pelo espaço.

E no entanto as pessoas são unânimes em dizer (e eu também sei ver fotos), que eu fico bonita quando rio naturalmente, mas também sei que o riso se calhar é uma iluminação que vem da alma....e a minha tem as pilhas fundidas, de certeza....

E todos os dias se recebem emails, frases, pensamentos, máximas, das mais variadas entidades, filosóficas, espirituais, religiosas, apelando ao sorriso como uma fonte de saúde e de vida.
Eu leio, mas acho tudo aquilo uma "chachada", pura demagogia,  princípios metidos à calçadeira, entendem?.
Ele é o Dalai Lama, ele é o Xico Xavier, a Madre Teresa de Calcutá....e muitos outros....e tudo aquilo me soa a "postiço"....ou então é mesmo a minha incapacidade para lá chegar. Eu nasci em Novembro e realmente a minha personalidade está sempre mais para a mornidão destes dias de céu cinzento de neve, de cores entre os dourados, os castanhos e os vermelhos, de alamedas de jardins vazias, com folhas arrastadas pelo chão molhado, para o isolamento e a introspecção.
Uma pessoa com estas raízes no peito, não é seguramente de riso fácil...

Tenho algumas razões objectivas de vida que de facto, não me trazem alegria, gargalhada, sorriso fácil ao rosto. Mas não posso tornar a vida carrasca disso mesmo, porque afinal , seguramente, todos nós teremos dias de verão e de inverno, e no meu caso, como não canso de afirmar, continuo a achar o balanço positivo, apesar de sempre estar na borda da cratera do vulcão. É o meu estilo!...

Vou procurar restruturar-me interiormente, vou procurar não me sentir "atontada" se em vez do cenho fechado passar a desanuviar o rosto...Deve alegrar mais os outros....e a mim, fazer-me menos rugas.....rsrsrs!!

Anamar

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

"VENHA VER DONA!..."



Acordei com os grasnidos da minha gaivota rasando a minha janela.
Pela luz difusa que passava pela persiana, adivinhava-se que o dia, à semelhança do de ontem, seria cinzento, com chuva e frio.
Pensei: "Gaivotas em terra, temporal no mar....ela anda por aqui....teremos por certo mais um dia outono/inverno".

Aninhei-me o melhor que pude, com a Rita ao lado, com quem divido neste momento o édredon e penso que continuei naquele dorme não dorme, que de bom não tem nada.
E se calhar até gostaria que o dia estivesse exactamente assim...pelo menos estaria mais em consonância comigo mesma.
Mas não! Ao levantar-me, deparei-me com um céu todo azul, com um sol ainda quente, e apenas, ao longe, farrapos de nuvens que prometiam talvez adensar-se para a tarde.

Pensei em como seria bom comer um belo prato de amêijoas à Bulhão Pato, em S. Lourenço, com aquele mar que já me esqueceu...

E fui para a rua, para a "pseudo-rotina" do costume....pequeno almoço, compra de uma prendinha a uma amiga de aniversário já feito há dias...e regresso a casa.

Mas antes de entrar, e porque de facto, o sol inundava a praceta e os famigerados bancos de que sobejamente vos tenho falado, resolvi sentar-me e deixar-me atravessar pela luz, pelo calor, com um vazio mental atroz...longe, talvez muito longe mesmo, longe na vida, longe no espaço...em fuga, como eu vivo quase permanentemente...em fuga, até de mim mesma, ou sobretudo de mim mesma...
Apenas o "brouhaha" das ciganas com as suas vendas me importunava a paz..."Venha ver dona...calças de aquecimento só cinco "êrós"....Venha ver dona...venha ver....cinco êrinhos!!!....."

Que karma é de facto a minha existência!....Ou que incapacidade manifesta de crescimento mental eu tenho, para gerir com objectividade os desafios do dia a dia!!...
Continuo sempre sendo o barquinho de papel que em águas mansas flutua, mas também não passa do mesmo sítio...
Lembro um balão que não armazena ar. Vai esvaziando, esvaziando, sem bússola ou rumo.

Tenho vontade de dizer um palavrão....Se isso ajudasse!!!...

Anamar

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

"A ÚLTIMA AULA"...

David era professor na área das Tecnologias, em Harvard.
Era um homem bem apessoado, quarenta e poucos anos, uns óculos no rosto sem armações, o que os tornava como que inexistentes, e permitia ver claramente através deles, uns olhos intensamente azuis, risonhos, uns olhos de paz e afabilidade.

David fizera investigação durante alguns anos da sua carreira académica, mas era o magistério que o apaixonava. Estar fechado num laboratório, era sufocante, para alguém que gostava de se dividir com jovens plenos de sonhos e curiosidade pela vida.

Era muito mais que um professor; era um amigo, um companheirão...sempre disponível, sempre atento, sempre solícito, sempre com disponibilidade para qualquer aluno que o abordasse para a resolução de um problema, para a explicação de qualquer dificuldade, na mesa de um café, à sombra de uma árvore cá fora no relvado...para qualquer conversa pessoal e informal....

Ao chegar de manhã, sempre a horas, com o seu sobretudo e cachecol, pasta na mão, distribuía cumprimentos e sorrisos, com a naturalidade de quem está ali para servir, para se partilhar por todos os que o procuravam. E eram todos, porque David era na verdade, admirado , respeitado e querido, por todos quantos tiveram a felicidade de cruzar os seus caminhos com o dele...

Naquela manhã, como sempre, David chegara à hora habitual para a sua primeira aula do dia.
Passo estugado, a vencer o frio gélido que se fazia sentir.
Tinha um tema interessante, empolgante, preparado cuidadosamente para essa aula, para uma classe, que ficaria "suspensa", como habitualmente, das suas palavras, claras e concisas.
Sempre conseguia transformar os temas mais aborrecidos das matérias, tornando-os aliciantes, como o faz, quem de facto é um sacerdote da sua profissão, quem de facto, ama e vibra com o que transmite.

As suas aulas estavam sempre repletas de alunos, os anfiteatros plenos. Aquele dia, também não foi excepção.
David cumprimentou a classe, fez aquele seu sorriso de boa disposição de quem quer dizer: "Vamos lá a isto!"... e começou a aula.
Tinha por hábito, muitas vezes, sentar-se na secretária, ou até no estrado, frente à turma, porque o informal era o seu natural, e porque a proximidade física transfere "calor humano".
Também assim fez naquele dia; começou a exposição do tema que preparara cuidadosamente, frente àqueles rostos que lhe "bebiam" as palavras, sentando-se na beira do estrado, baloiçando as pernas...com o seu sorriso aberto no rosto, e os olhos de céu carregados de entusiasmo...

E repentinamente, e sem qualquer explicação lógica, aconteceu.
David tombou para o lado e não mais se mexeu, apesar dos esforços infrutíferos de socorrê-lo...
Tombou e ficou inerte, com os olhos cerrados, com o sorriso desertor...
A vida traíra-o; a ele, aos seus alunos e a todos os que pela manhã o viam chegar pela alameda da universidade, com o seu sobretudo, o seu cachecol, a sua pasta e o seu coração gigante dentro do peito...

Na manhã seguinte, à hora costumeira, o anfiteatro estava de novo lotado; os alunos estavam em pé, as lágrimas traíam os rostos, os nós apertavam as gargantas dos mais resistentes...o silêncio era total; e só na secretária, uma rosa vermelha abandonada, assinalava que o professor David continuava por ali....

Anamar

"VIDAS CRUZADAS"



Entretanto o PC avariou, a câmara fotográfica também, e portanto não posso por enquanto disponibilizar-vos algumas das melhores fotografias de Bali.
Mas ainda assim, e porque estes posts já foram escritos há tempo, vou colocá-los aqui no meu espaço.



A vida cruza-se e entrecruza-se; os laços fazem-se e desfazem-se; a vida faz-se de encontros fugazes e desencontros mais fugazes ainda....de chegadas e partidas...
E pedaços de nós vão ficando espalhados pelo Mundo.
Em Bali, muito de mim ficou perdido, ou melhor, em Bali, muito de mim ficou preso, seguramente...
Páginas foram escritas, novas páginas a juntar ao colorido de uma vida sofrida, mas vivida.

Estou de regresso...horas e horas de voo e uma espécie de sonho sonhado, porque parece que tudo foi uma frase inacabada deixada entre parêntesis...
Outro mundo, outras gentes, outros hábitos, outros afectos expressados das mais variadas formas.
Loucuras que se cometem,o gosto do impensado à flor dos lábios. O novo, o nunca feito, uma "full moon" por entre os coqueiros, no silêncio, na escuridão, só com a batida do mar no areal...e ainda assim, doce, porque em Bali não há ondas, há afagos para o corpo, no calor do sol e da água, na alegria expressada em cada rosto, nas flores renovadas nos cabelos, e por todo o lado, em cada manhã...

Um colega meu que visitou Bali há algum tempo, referia-me que trouxera um porão de coisas que comprara, tal a multiplicidade da oferta e o valor da moeda.
De material, eu trouxe alguns búzios, alguns pedaços de coral que deram à costa, mas trouxe, de facto, um porão de valores, alimentos da alma e do espírito....

Não vou esquecer nunca aquele amigo inglês, o típico inglês fleumático, o David, aposentado, vítima de AVC numa viagem à Índia, que calcorreia o mundo, porque não desistiu ainda de viver ; "Não esqueças, Margarida, e repete sempre para ti : a idade é só um número!"...
A sua silhueta isolada, nos degraus do hotel, onde fez questão de vir despedir-se de mim, mostrou-me um homem talvez mais desalentado....
Beijei-o e abracei-o, dizendo-lhe: " Never say good bye, David....be carefull....take care of you !"
Na minha cabeça, à saída para o aeroporto, ecoavam as palavras que gostaria de lhe ter dito : "Não esqueças David....a idade é só um número!!!!...."

Anamar

domingo, 28 de novembro de 2010

"DIA 2"





DIA 2

Após o jantar espera-me uma sala de convívio de um hotel super agradável e aconchegante, espera-me um bar, espera-me um cocktail e uma mesa, onde não cansam de me perguntar se são duas pessoas....

Nas outras mesas, as pessoas estão em grupos, riem, conversam alto, destilam boa disposição...
É uma sensação estranha mas não nova, estar aqui somente como espectadora, sentindo que o não ter com quem dividir tudo isto, é de alguma forma uma injustiça de vida...

Aproveitei como faço, para me recostar comodamente e olhar, simplesmente olhar os comportamentos humanos, outras vezes "desligar" e deixar esta cabeça que nunca pára, sem rumo...
Perguntava-me há pouco: "se pudesses mudar a tua vida lá para trás, o que farias?"
E sabem a que conclusão, de alguma forma gratificante, cheguei?...Mudaria muito pouco....Assumiria os mesmos erros, faria os mesmos disparates, cometeria as mesmas loucuras...viveria, absorvendo o mais que pudesse, este cheiro inebriante de fruta madura no pé...

E de repente, senti uma gratidão e um respeito por este trilho erróneo tantas e tantas vezes, porque se o pintasse em aguarela, ele teria todas as cores da paleta e mais as intermédias, das bifurcações para onde fui atirada às vezes.
A minha "estória" é efectivamente uma história rica, porque teimei, ousei, persisti, não tive medo de arriscar, mesmo sabendo que o esse caminho me poderia levar a ter que o reverter.
A minha "estória2 não é, nem nunca foi cinzenta e acho que enquanto eu viva, só saberei ser assim, eternamente jovem, com a imaturidade dos meus dezoito anos num corpo de sessenta...

Bali está a começar a fazer-me pensar...quiçá....

Anamar

"CRÓNICAS DE VIAGEM"



DIA 1

Uma viagem é um brinde com laço e tudo.
É um cocktail de rostos, de cores, de línguas, de raças, de sentires e estares....É uma partilha, é uma mistura de valores, de aprendizagens, de experiências...é um quadro pintado por um artista...um aeroporto é o copo onde esse cocktail se inicia.
Basta determo-nos por algum tempo a observar, simplesmente observar...mais que ver....

Eu, vou em direcção ao sol, que é como quem diz, vou em direcção a oriente.
O sol sempre foi portador de boas energias, sempre veiculou bons fluidos, e eu, vou tentar reter todos os que puder...

Dizia-vos ontem que não sei o que vou achar, porque não sei do que ando à procura...mas que procuro desesperadamente um rumo, um norte, uma luz, isso procuro...
Não sei se vem na forma dum raio de sol, na forma de um ancião sábio, na forma do riso duma criança, na forma dum pôr ou dum nascer de sol...mas que necessito rodar a esfera da minha vida de 180º...sinto-o como premente, como urgente.

Estou farta da civilização ocidental, tão triste, tão frívola, tão vazia, tão sem sentido.
Estou farta de uma selva de predadores, em que os mais fortes estão destinados a vencer, estou farta de ser a adolescente insegura e crente da Alice do País das Maravilhas...
Visto mal a pele do Capuchinho Vermelho, acreditando que o lobo mau a vai ajudar na sua tarefa, e que de mau não tem nada...
Estou cansada, particularmente cansada.

Dar-vos-ei notícias, na forma de pequeníssimas crónicas, destes lados, onde o sol nasce todos os dias mais cedo...

Anamar

domingo, 7 de novembro de 2010

"A ILHA DOS DEUSES"


Véspera de partida é sempre um dia super estranho para mim.
A azáfama de não esquecer nada que seja importante, a alteração de costumes e ritmos que irá verificar-se, o desconhecido, o nosso "buraquinho" a ficar tão longe...as flores para regar, as persianas por descer...ou talvez não....fica escuro demais...subir...ou talvez não, quem sabe entra sol a mais...o desejo de levar sempre pouca coisa e achar, olhando o roupeiro, que tudo é imprescindível....os medicamentos que faz falta levarem-se, o deitar o lixo fora, o consumir ou encaminhar o que não se consumiu até hoje e vai estragar-se....e depois aquele ar e aqueles miados compungidos da Rita, a olhar para mim, com aqueles olhões verdes, pressentindo que está a passar-se qualquer coisa estranha (e eu a dizer-lhe: "a dona já vem", como sempre faço quando vou para a rua, sabendo de antemão que vai haver muitos nasceres e pores de sol em que ela está só, à minha procura no casarão...)....

Dá vontade de ficar, desistir de tudo e ficar...
É sempre assim, uma angústia anunciada...o mau estar de horas e horas de avião, o desconhecido e inesperado a mexerem-me até às entranhas...fazem com que a "bota não dê com a perdigota"!
As pessoas dizem: "Ai, leva-me contigo...""Ai, vai ser excelente!"..."És uma sortuda, vais para o paraíso"....e eu....com cara de cachorro vadio!! Isto não joga lá grande coisa...

Mas será que o ser humano é todo assim, ou sou eu que não tenho as "aduelas" muito no sítio???

Às vezes pergunto-me o que procuro nesta viagem, verdadeiramente??? Fugir?? Fugir de mim, fugir do mundo, fugir do "meu mundo" de todos os dias??
Mas eu "levo-me", e serei certamente a mesma lá como cá, e comigo carrego todo o meu mundo, e sempre o carregamos, ainda que o destino seja o fim do MUNDO!! Que ilusão!!!

Busco-me? mas como se pode achar, quando não se sabe o que se procura verdadeiramente????
Milagres?? Virei diferente?? P'ra melhor ou para pior, mercê das horas de recolhimento, encontro, meditação, silêncio...que penso ir encontrar??!!

Não acredito em milagres...cada vez mais, menos acredito em milagres!...
A vida encanta-me neste momento pela surpresa, mas é um encanto (vejamos se consigo explicar-vos)...é um encanto desencantado...um encanto amargo, um encanto desiludido....de bruxas e diabos ao contrário de fadas e duendes...

Tenho em mim uma certeza interior que me leva a acreditar, que não passarei nunca mais, de um passarito, de galho em galho, debaixo da intempérie, molhado duma chuva de que não consegue abrigar-se...
Tenho em mim a certeza de que os sentimentos que comandam esta vida, são muito pouco transparentes e verdadeiros. Antes, são "armadilhados", hipócritas, são de aproveitamento das situações, são da desvalorização do ser humano, em prol apenas das vontades e bem estar momentâneos de alguns.
Tudo é descartável...nem sequer reciclável...

Daqui a pouco vou dar um beijo à minha mãe (não gosto de despedidas), ao António, à Vitória e ao Frederico (pessoas que me estão muito estreitamente junto do coração), e depois...tentar dormir cedo, porque cedo me levantarei.

Eu realmente devo ser uma pessoa muito incompreensível, um contrasenso inexplicável, um puzzle sem términus possível...
Amanhã, quando o despertador tocar, parece que em vez de ir para a "ilha dos deuses"....vou para um funeral....
Fazer o quê, a esta cabeça e a este coração que não prestam? Há p'raí quem queira transplantar para mim??!!

Bem, deixo-vos um beijo, e um campo lindo de margaridas, não só porque elas são as minhas flores, como vos disse, são flores de despedida...e até daqui a uns dias...espero!!!

Anamar

terça-feira, 2 de novembro de 2010

"DIA DE FINADOS"

O dia de hoje é um dia de recolhimento, obviamente decretado pela hipocrisia social, explorado pela hipocrisia  religiosa : o dia dos fiéis defuntos....
E os que forem defuntos mas não tenham sido fiéis?....pergunto-me....
Claro que não há resposta p'ra isto.
Dia de finados, que como o nome indica se dirige a quem se finou, terminou a sua odisseia por aqui, e por isso, para quem os amou, todos os dias serão os seus dias...não é necessário calendário!

Mas ao contrário de um dia de reflexão, de balanço, de análise, até de nos projectarmos que um dia também nos tocará a nós, os cemitérios viram romaria, confusão, compadrio, "quadrilhice" muitas vezes.

Ontem, numa reportagem a propósito passada num telejornal, uma senhora dizia ser muito bonito todo aquele aparato....o colorido das flores, o vai-vém dos visitantes, a conversação que nem sequer guarda silêncio ou discreção...
Como é possível? Perguntava-me uma vez mais.

Mas o máximo a que já assisti até hoje, e juro que se eu própria o não constatasse o não acreditaria, foi a atitude tomada por um casal da Beira Alta, que, vivos os dois, compraram um lugar no cemitério da terra, gravaram os respectivos nomes com letras douradas, na campa em pedra mármore que mandaram fazer, e no dia de hoje, anos a fio, lá iam no "rebanho," lavar e limpar a dita campa, aproveitando, como por lá fazem, a passar o dia sentados na mesma, conversando com este mundo e o outro.

E isto repetiu-se ano após ano....uma campa devoluta, sem fiéis defuntos, tratada antecipadamente como apartamento de luxo!!!

Já lá vão muitos anos....e hoje, não sei se há familiares que os substituam, visto que ambos já desceram à "sub-cave"....

Também li no jornal, coisa que ignorava, serem as margaridas as flores associadas ao dia, por serem singelas, modestas, brancas....o que faz delas, pelo despojamento na pureza da cor, flores de despedida...
Isso, faz-me algum sentido pelo despretensioso que em si encerram!

Anamar

domingo, 31 de outubro de 2010

"CHUVA"

Adorei o dia de hoje, o de ontem o de antes de ontem. E espantosamente foram três dias em que estive doente, nauseada, cheia de dores de cabeça, com o corpo moído, e a ameaça de uma coisa entre gripe ou fígado que me fez passar os três dias a chá e tostas, pouco mais.

Passei as tardes debaixo do edredon, com saco de água quente aos pés, porque o frio também me atormentava, com a persiana a meia vidraça, com um cinzento uniforme e plúmbeo por todo o firmamento, com as bátegas fortíssimas de água a fustigarem a janela. Daqui da cama só vejo a minha gaivota, que adivinhando a borrasca que se adensou, faz voos rasantes cada vez mais próximos da minha janela, com as asas bem esticadas, desafiando a chuva que cai....
Parece que o S. Pedro resolveu despejar as piscinas lá de cima...

E que reconfortante é estar assim em casa, quando o dia nos despede lá de fora, no quentinho da cama, com a Rita que não me deixou um só minuto, ora se aninhando no exterior da roupa, ora entrando mesmo, e enroscando-se também dentro dos lençóis (como ela agora está sozinha, é um forrobodó.....nunca o Óscar teve ordem de cometer tais despautérios!....)

Claro que hoje já me sinto outra, e percebi que é de facto necessário haver tempestade para o Homem valorizar o sol e o céu azul, é necessário haver escuridão para que se abençoe a luz, haver doença para se valorizar a saúde, haver sofrimento para a felicidade saber a felicidade mesmo.
No fundo, estamos mal até que estejamos pior, e depois da pior invernia, pode ser que o sol finalmente comece a olhar cá para baixo e a achar que talvez convenha aparecer.

Dentro de uma semana, vou deixar por uns dias, espero, de vos contar as minhas "estórias" que de relevante pouco ou nada têm.
Vou ver se descubro um local na Terra que não tenha todos os dias do calendário. Vou passear, vou apanhar sol, vou desfrutar da turquesa do mar, mesclado com o azul do céu, ver o colorido das flores, usufruir da sombra dos coqueiros, ouvir as pessoas, ver como são e no que acreditam, e contar-lhes como é a minha gente, dançar os seus ritmos e tirar muitas, muitas fotografias, aliás como sempre.....
Agora é segredo.....mas depois eu conto tudo, ok????

Mas até lá, ainda por aqui passarei, creio...
hoje vou terminar este post, como em tempos terminava todos eles num outro espaço que "alugara" por aí : "Sejam felizes....se souberem!....

Anamar

terça-feira, 26 de outubro de 2010

"A ESTRELINHA VERDE"

Conta a lenda que um dia todas as estrelas do firmamento, reuniram e pediram a Deus, se as deixava virem viver para a Terra, por esta estar muito às escuras....O Criador concordou, e elas desceram como pequenos fogachos luminosos, para dar luz na escuridão.
Contra o previsto, passado algum tempo, todas voltaram para o céu, e quando inquiridas pelo Senhor, responderam não terem conseguido suportar tudo de ignóbil, de miséria, dor, sofrimento, a que haviam assistido.
Deus condescendeu, e lembrou-lhes que a Terra é lugar de passagem, de purgatório, de melhoramento, à custa da expurgação, da penitência, da miséria...
Contaram-se então todas as estrelas, e verificou-se que faltava uma....a estrelinha verde, a estrela da Esperança, que quisera ficar para habitar o coração do ser humano.
Por isso, de então para cá, só há uma coisa que o ser humano tem e Deus não tem.....a Esperança, já que Deus é detentor das certezas, e o Homem precisa dela em cada dia da sua vida....

Pois é! Comovente, não???....

Desde manhã que penso nesta lenda, porque há longa invernia que a estrelinha verde do meu coração estava apagada....mas acho que finalmente acordou, espreguiçou-se, tirou as ramelas dos olhos e decidiu que o meu coração precisava finalmente iluminar-se, cansado de tanta escuridão!

Ou então, tenho para mim, que o meu pai, que habita lá por cima uma estrela também (só não sei qual delas é, e ele ainda não me contou, quando antes de apagar a luz ao dormir, me despeço dele), achou que talvez já chegasse  de tanta desesperança, tanto cansaço, tanto desânimo, e me carregou no interruptor da minha estrelinha verde!!!!! Vá-se lá saber!!!

Sei que na minha caminhada de hoje, que agora é feita em parte pelo meio dum bosque frondoso, duma mata com passarinhos a pipilar, com a frescura e a multicor das árvores e arbustos, uns mais outonais que outros, distribuí sorrisos e bons-dias a todos quantos por mim passavam, a pé, em marcha, em corrida, em bicicleta....porque o bom-dia era mesmo um agradecimento pelo dia bom que se estava a viver...

Pensava eu : Lembram com certeza a história do Capuchinho Vermelho, do nosso imaginário infantil, quando o Capuchinho vai aos saltinhos, de flor em flor para levar uma braçada de flores silvestres à avozinha que está doente, e mais o bolo preparado pela mãe, no cestinho que leva no braço???
Pois assim parecia eu....não ia aos saltinhos, cantarolava para dentro, não tinha bolo, porque também já não tenho avozinha, não apanhava flores porque as não há nesta mata....mas ia, no meu passo acelerado da caminhada, sempre com a minha estrelinha verde, bem acesa, a iluminar-me o caminho, que é como quem diz....a inundar-me de luz o coração!!...

Anamar

domingo, 24 de outubro de 2010

"E SE TIVESSE SIDO DIFERENTE?..."

Faz hoje quarenta anos que me casei.
A primeira, a única, a última vez...
Era um sábado outonal, como hoje, de um sol fraco e pouco luminoso, como viria a ser a minha vida, afinal. Era um sábado do "Verão dos marmelos", como diz a minha mãe (depois vem o do S. Martinho, e depois, pronto, o Inverno fica à porta...)

O casamento era às 9,30 h da manhã, no Registo Civil de Oeiras, e até hoje, a sensação mais nítida que recordo, foi a do desconforto que senti (dorminhoca como eu era), de querer que me deixassem em paz, quando a minha mãe, às seis e pouco da manhã me foi acordar, quase me arrancando da cama, porque a cabeleireira vinha pentear-me, havia que vestir-me, havia que preparar coisas de última hora (sabem como é), os convidados (só família e a minha melhor amiga ao tempo), começariam a chegar, havia que recepcioná-los (porque afinal, depois o almoço ainda demoraria por certo), vinha também o fotógrafo...
Acho, que desde sempre, o entusiasmo que pairava, não era meu. Eu afinal tinha dezanove anos, se calhar, objectivamente rectroespectivando hoje, o que seria de esperar de uma criança metida a mulher??

Não vou entrar em pormenores...aliás, não quero entrar, porque fico nostálgica, interrogo-me e questiono-me sobre todo o meu percurso até hoje, passo a película mesmo sem querer, tendo a ponderar tudo e todos; não julgo, avalio, analiso-me e não vejo grande coisa que me aqueça o coração.
Esse casamento cessou há sete anos atrás; tardiamente, demasiado tardiamente, deixando obviamente, danos colaterais inultrapassáveis.
Lembro que foi  um casamento "morno", amorfo, cinzento, sem chama, sem paixão, desde sempre, mesmo desde o início, em que é espectável que a "fogueira" se acenda...

Talvez eu tenha sido a pessoa mais responsável por todo o insucesso de uma infelicidade acompanhada...
Eu era uma criança, filha única numa família de pais velhos, focalizados, obsessivamente focalizados em mim...e eu, tenho, como já perceberam, ânsia de liberdade, necessidade de asas...queria fazer-me ao mundo...aquela, foi a minha forma enviesada de o fazer...

Sempre vivi muito só, com a minha mãe, com uma ou duas amigas, tão crianças quanto eu. "Ninguém me obrigou" como a minha mãe costuma dizer...mas também ninguém me alertou ou falou comigo, como os pais de hoje se preocupam em saber dos sentires, dos estares, dos caminhos razoáveis ou não, a trilhar, por parte dos filhos...

Tenho dentro de mim, hoje, uma tristeza estranha; uma tristeza de perdedora, que dói, que me traz às lágrimas... afinal, eu não soube construir nada na minha vida, e à parte as minhas duas filhas (isso não se questiona, sequer), a  minha rota é de permanente colisão com a Vida.
O que se aproveita hoje na realidade?
Uma família esfrangalhada!! Uma família que duvido faça jus a esse nome!!

O que sobrou na verdade, foi uma profunda solidão;
solidão em mim, solidão e desacerto na vida da minha filha mais nova (que também não se encontra), e uma família talvez unida, da minha filha mais velha, que com três filhos, acabou construindo uma célula à parte, até talvez por defesa, por necessidade, ou porque foi a saída que lhe restou...
E desejo muito que ela, que luta sempre por uma ligação tradicional dos "sobrantes" (sem êxito, a maior parte das vezes), ela, que tentou arvorar-se em "matriarca" desta pseudo "coisa" que restou, pelo menos, no seu núcleo, a consiga manter...

Entretanto, aos "trancos e barrancos", como "soi dizer-se", vou manquejando vida fora, desacertando mais do que acertando, dando topadas que ferem, nas pedras desta estrada demasiado dura e cruel, e por cada ano que chega, acho que o "Verão dos marmelos" e depois o do "S.Martinho" vão acabando mais depressa, levando com eles o último sol, antes que o Inverno se instale, também cada vez mais cedo!!...

Anamar

terça-feira, 19 de outubro de 2010

"A VIDA ENTRE PARÊNTESIS"

Tenho a minha vida entre parêntesis...
Não são aqueles parêntesis que se abrem com o nascimento e se fecham com a morte. Esses, temos todos afinal, certos e seguros....e...."what you can't change, you must accept"...alguém disse....ou se não disse, digo eu agora....pronto!

Hoje, durante a caminhada, onde fui só, como acontece quase sempre agora, ia eu a pensar exactamente isso; parêntesis entre ritmos de vida profissionalmente falando, parêntesis entre um amor e outro (?), quem sabe, parêntesis entre um amor e muitos amores, parêntesis entre um amor e nada....parêntesis entre saúde e doença, cada vez mais plausível com o avanço dos anos...pendências económicas que nos deixam todos os dias na insegurança, que infelizmente quase todos sentimos e correspondem àquele espaçozinho entre os parêntesis...

Podem colocar-se entre eles as reticências, porque é exactamente o que esse espaço envolve... reticências, dúvidas, interregnos, pendências, é esse o termo que eu acho mais adequado. E para mim, não há pior que pendências, na vida.
Sempre gostei de arrumar o que quer que fosse, e arquivar, arrumar e arquivar, porque tudo o que está naquele "chove, não molha", à espera de... dá cabo de mim....e isso são os três pontinhos no intervalo dos parêntesis....

Na Matemática, existem os parêntesis rectos e os parêntesis curvos, devem lembrar-se.
A minha vida, acho que ainda está nos parêntesis rectos.
Só depois deles resolvidos, é que se passa para a operação seguinte, que é desembaraçar os curvos, e depois, na seguinte ainda, "limpá-los" finalmente e a equação simplificar-se!....

Pois bem, é exactamente isso a minha vida neste momento; uma nuvem que paira sobre a minha cabeça, e que oscila entre ser dissipada pela brisa que corre, ou "despencar" numa enchurrada de água...

Ontem falava com o sr. Alexandre, no Escudeiro, ao pequeno almoço, já não sei a propósito de quê, e lá veio a Vida e as suas estórias...
Dizia-lhe eu:" Felicidade é um conceito utópico....não existe, globalmente falando....Há pedaços de felicidade, e juntando todos, ainda não perdi a esperança de construir um castelo!"...
Ao que ele me respondeu: "Mas, nos intervalos desses pedaços, é que é uma "droga"!!!!!  Dói, dói horrores!"...

Abrunhosa , no seu último single diz: "Dói....sei como dói andares ao sol por essa "rua"...."!
Na verdade, a "rua", por vezes, é longa e dura demais... as reticências que intercalamos entre os nossos parêntesis, às vezes são tão cansativas e desesperantes!...

Durante o caminho, passo perto da igreja de Queluz, onde hoje decorria a missa do meio dia; apercebi-me disso, pelo coro de vozes, em uníssono, nos cânticos litúrgicos que chegavam cá fora....e pensei: "Para estas pessoas, as reticências no meio dos parêntesis, devem ser as mãos de Deus.... do seu Deus....e vão vivendo!

Logo ao lado, o pavilhão gimnodesportivo dos bombeiros, onde decorria alguma competição ou campeonato.
Em uníssono, outra liturgia, em que as palavras não se distinguem, apenas a melopeia é igual em qualquer lugar do Mundo.
E pensei: "O que põem estes, no meio dos parêntesis, no lugar das reticências? Provavelmente o exorcismo dos cinzentismos das suas vidas, no rasgo da felicidade, se o seu clube alcançar a vitória"...

Parêntesis...parêntesis...parêntesis...até que o último, curvo, saia da equação....e esta se simplifique de vez...

Anamar

sábado, 16 de outubro de 2010

"JOGAR CONVERSA FORA"...

O Outono está de facto em plenitude.
Olhando à nossa volta, as "marcas" todas estão lá. É o sol, fraquinho, fraquinho, é o azul duvidoso do céu, que tanto está azul, como ameaça com a aproximação de nuvens "suspeitas", é o despir despudorado das árvores por aí espalhadas...são as "benditas" iluminações de Natal, imaginem, que a Cãmara de onde vivo  se apressou a instalar...

E nem a teimosia de alguns, que persistem em continuar com as mangas curtas das t-shirts de verão, demovem as estações a modificar o seu percurso. Ainda assim, lembro-me, lembrar-nos-emos por certo, muitos de nós, do inusitado desta roupa leve, quase em pleno Novembro, há uns anos atrás, consequência como se sabe, das alterações climatéricas...
E até os ditados populares, desconfio que começam a cair em desuso....
Se aqui estivesse a minha mãe diria, como diz, ano após ano: "Águas verdadeiras, as do S. Mateus são as primeiras..." e acho que até o S. Mateus se anda a baldar...Que é feito dessas "águas"?

Neste momento, estou a ficar de novo "outonal".
Arrebitei na eminência de um trabalho que me propuseram, que não só me iria complementar a redução sofrida no vencimento, como me iria ocupar o corpo e o espírito. Simplesmente essa proposta ter-se-à gorado, creio.
E tirando a caminhada diária, e as voltas que todos temos que dar no quotidiano da vida, não há muito a acrescentar.

Breve, breve Novembro chega, e para "desgraça" minha, traz com ele todos os dias do calendário.
Eu, nem me vou alongar com este assunto, porque as pessoas me acham tontinha, mas cada um sente o que sente, tem direito a sentir, ainda por cima....e este ano, vou dar uma de "excêntrica do euro-milhões"....
Não há telemóvel p'ra ninguém, não há conversa p'ra ninguém, vou estar numa espécie de retiro ou"aquário" emocional....é um direito que me assiste.
Não vale a pena gastarem saliva a explicarem-me e a tentarem convencer-me que é uma infantilidade....que o dia se mantém no calendário, nem que eu fuja para a China, que afinal em todos os dias se comemoram coisas boas e más, que é óptimo, porque é sinal que estamos vivos, que não resolvo nada de nada fugindo a nada....obviamente!
Que "sabe-se lá para o ano a avó ainda cá está!"..... 
Como vêem, eu tenho a lição toda estudada, mas também, teimosa como sou, vou fazer como eu quiser!!!!!

Neste momento começo a ficar encasulada. A satisfação que tenho ao meter-me sob o édredon dentro de uns lençóis que eu, por gosto, ainda acho mais macios do que realmente são, é indescritível...
Parece ser a melhor hora do dia...parece um regresso ao útero materno, ou quando muito à toca ou covil do lobo.
É um local de protecção, porque, daí a pouco "apago-me"...e com esse apagão, lá se vão as mágoas, as preocupações, as inquietudes de mais um dia que se esgotou.
Ando a adormecer cedíssimo, o que seria óptimo, se representasse uma noite de sono apaziguador e continuado....
O pior é quando acordo, já sem sono, olho para o relógio e verifico que são por exemplo duas ou três da manhã....
Aí é que está tudo tramado, porque fico a "encroquetar" na cama duas ou três horas, até que o sono ou o cansaço se condoam de mim, e me repeguem nos braços...
Essas horas são absolutamente "lixadas"...toda a gente sabe disto, porque a solidão, o silêncio e o negrume da noite, agigantam nas nossas cabeças, o que às vezes nem a luz do sol dissipa....

Bom....isto hoje foi, como dizem os brasileiros um pouco "jogar conversa fora". Foi um mix de tudo e de nada....foi um deixar rolar!!!!....

Anamar

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

"RETALHOS DA VIDA REAL"

Não foi por norma, hábito meu, abordar determinados temas de maior controvérsia ou melindre social.
O meu último post focava uma questão sobre a qual já tenho reflectido, e que afinal nada tem de transcendente, antes, é do domínio comum.

Hoje trago aqui um outro tema que de alguma forma também tem contundido comigo, sobre o qual tenho reflectido, no qual já "peguei" por vários ângulos, tentando encontrar alguma lógica ou aceitação para mais uma hipocrisia social, ou para o sofisma baseado nos valores, na moral e bons costumes.

Reparem que não vou aqui tomar partido vinculativo de nada nem de ninguém, até porque o caso e as pessoas envolvidas nele, me merecem ambas, consideração e até amizade.
Apenas pretendo colocar um dedo numa chaga aberta, mais frequente que o que se supõe, e que gostaria de poder entender neste século XXI, já começado há uns aninhos.

Um casal, com um casamento mais teórica do que realmente estável, um filho pré-adolescente, uma vida já um pouco desgastata e desencantatória.
Uma separação latente que acaba consumando-se, com toda a panóplia de sofrimentos, dores, dificuldades....tudo o que nós sabemos envolve um divórcio. O filho, "obviamente", de acordo com uma lógica estabelecida, entregue à mãe.

Até aqui, infelizmente mais um caso igual a tantos e tantos outros.
Um homem habituado ao tradicional "esquemazinho" cómodo, das pantufas, televisão e casa organizada, vê-se de repente com o Mundo a desabar-lhe em cima; é a gestão de um local para viver, é a gestão das tarefas tradicionais do dia a dia, é o sentir-se órfão de uma mãe que ainda tem, mas de uma mulher que já não....

Nesta altura, chegam sempre os "anjos da guarda", amigos, muitos deles já veteranos da liberdade e independência, bombeiros na salvação daquela situação...
Aquele homem tem que esquecer, partir para outra, reentrar, como há largos anos não fazia, na frequência da "night"....agora com o "glamour" vantajoso da maturidade, do charme que as têmporas esbranquiçadas lhe conferem, da experiência acumulada e aperfeiçoada ao longo dos anos da "prisão dourada"....
E depois, aquele homem, é um homem....e um homem precisa de sexo, precisa de mulheres....indistintamente, qualquer uma que o faça esquecer de preferência a análise séria, honesta e detalhada, da vida que se esfrangalhou...
Disso, os "amigos" encarregam-se....Mulheres soltas por aí e predadoras pelas mais variadas razões, é o que não falta, nos bares, discotecas....sei lá!   E esse indivíduo, "come" uma qualquer, mesmo que na manhã seguinte lhe não recorde o rosto....

A ex-mulher....para essa, os valores sociais, éticos, impostos pela religião moral católica como sabemos, tem um sacerdócio de vida a cumprir.
Tem que educar o melhor que souber e puder aquele filho, tentando poupá-lo o mais possível ao ruir da arquitectura familiar em que vivera (o que só por si a coarta na sua independência e liberdade), deve dar-lhe um exemplo intocável de boa mãe, guiando-o por caminhos que façam dele um bom estudante, um rapaz com princípios de vida de honradez, de luta, determinação, respeito por si e pelos seus semelhantes.
Se possível, aquela mulher deveria tornar-se um ser assexuado....

Mas estamos de facto no Século XXI, e também ela não quer renunciar a ter vida própria, nos anos que ainda tem pela frente.
Recupera gostos que tinha e havia abandonado, recupera amigos que deixara com o casamento, recupera a vontade de ir a um cinema, a um bar ou a uma discoteca.
Arranja-se se calhar com mais cuidado, porque tenta recuperar a auto confiança e a auto-estima que se haviam esbatido lá para trás....e como tem corpo e sangue a pulsar, não perde a esperança de viver, retalhos de felicidade, visto que a Felicidade que ela julgava existir, sabe ser utópica...

Como é que a sociedade a vê, a rotula, a aceita?....
Infelizmente, e sobretudo nos meios masculinos (por incrível que pareça), ela não é mais do que uma "gaja"....e normalmente aquela "gaja" até é uma puta!!!....

Bom....abstenho-me de comentar mais o que quer que seja....Não trouxe novidades a ninguém.....Talvez apenas, abanões de consciência!!

Anamar

terça-feira, 12 de outubro de 2010

"A GRANDE SOLIDÃO..."



Já tenho lido com alguma frequência, que há homens que contratam o serviço de uma prostituta (acaba por tornar-se sempre a mesma), apenas para conversar com ela.
Não querem nenhuma prestação sexual, apenas buscam ouvidos, ombro, coração talvez, que os oiça, que lhes perceba o silêncio em que vivem mergulhados....a quem digam, como se não falassem com ninguém que pudesse apontar-lhes puritanamente um dedo social, a sua história...

Hoje, inesperadamente entendi-os.

Muitas pessoas têm uma dupla faceta ou personalidade nesta vida, como queiram.
Muitas pessoas são muitas vezes o que não são realmente. E quem com elas convive e lhes conhece por exemplo o seu lado lunar, apenas, não entende, quanta sensibilidade, fragilidade, convulsão de valores e sentimentos podem existir num lado solar daquela pessoa, que nunca haviam detectado existir...

A "máscara" socialmente aceite desses homens, por exemplo, precisa de quando em vez, cair, e, falando genuinamente para alguém que por vezes se transforma numa amiga, lhes alivia a alma, lhes apazigua o coração.

São normalmente pessoas votadas ao que eu chamo de "a grande solidão", por espartilhadas por uma gama de valores e princípios éticos, sociais e morais, quantas vezes hipócritas.
São pessoas que calam dentro de si o que contêm, até que não dê mais, e a máscara do sofrimento tenha que cair...

Anamar

domingo, 10 de outubro de 2010

"O EU INTERIOR..."

Tenho andado muito arredada da escrita.
Não tenho tido a concentração direccionada para aqui. Aliás, sinto-me um pouco dispersa, pensando em tudo e em nada, como se pressentisse que a minha vida vai dar uma volta. Uma volta qualquer...
Talvez seja algum renascimento da fase complicada que tenho vivido. Talvez seja o caracol a deitar os pauzinhos de fora, depois da "chuva" que caíu...
Sinto como que uma primavera antecipada, depois de um inverno rigoroso. Ando com aquele "frisson" que se tem, quando se inicia algo novo, se decora a divisão de uma casa, se começa um novo amor...
Não sei bem porquê este estado de espírito, das trevas p'ra luz....mas sinto-o...

Talvez um reencontro com o meu "eu" interior, com o meu equilíbrio, com o ponto central do meu "yang-yin"...
 Quero estar de bem com a vida, não posso estar permanentemente zangada com o mundo, e tenho que começar por algum lado, e esse lado está a ser a busca do meu equilíbrio pessoal, da paz do meu espírito...
Oxalá eu consiga levar esta nau a bom porto.

Ontem fui ao cinema. Fui ver um filme mal cotado pelos críticos, o que para mim lhe confere pontos, à partida;
Tinha SIMPLESMENTE dois actores de referência: Júlia Roberts, para mim indiscutível, e Xavier Barden, que já vira há anos atrás em "Mar adentro", e me marcara muitíssimo.

No seu global, é uma película soft, sem dúvida, rodada em locais espectaculares, com uma mensagem pouco inovadora no geral, mas aqui e ali, salpicada de enormes mensagens, em meio da pequena mensagem que "aparentemente" passa.

Lamento sempre a rapidez com que os planos se sobrepõem, nos filmes; não dão tempo para reflexão, interiorização, e desfrute das imagens simultâneamente, por vezes excepcionalmente belas, que até era o caso.
O filme, com um título meio estranho, e para mim, de mau gosto, "comer, orar e amar", foca exactamente o seu reencontro (depois de uma busca interior persistente), de uma mulher de sucesso, descrente, receosa, defendida do amor e da vida, que parte do zero, recusando uma vida que a insatisfaz e a incompleta...

Mas não é uma mulher qualquer, não é uma mulher acomodada, e luta e busca até ao fim do mundo (o filme termina na Indonésia, Bali) de valores espirituais em que acredita; procura ajuda, conhece pessoas e regista mensagens espantosas de uma civilização que nada tem a ver com aquela donde vem, a América,vazia, materialista, fundamentada em lobbies económicos e de consumo, corruptíveis.
É dito que a Indonésia é um apelo aos amantes de uma das formas de comunicação mais puras...o silêncio!

Aliás, tenho a sensação, que cada vez mais, a insatisfação dos princípios ocidentalistas, estão a aproximar as pessoas, de valores ancestrais autênticos, espiritualistas, despojados, vernáculos...

Lembro a minha ida à Tailândia, lembro a minha ida às Maldivas e sinto ainda hoje, sobretudo da Tailândia, tudo aquilo que arquivei no coração, na mente  e debaixo da pele...
Lembro com uma nitidez absoluta tudo o que lá inspirei e me preencheu a alma até hoje...
São locais de uma introspecção, de um silêncio, de um crescimento interior, de uma reflexão e meditação incríveis, que não há palavras que os descrevam...só vivendo-os lá mesmo...

Anamar

domingo, 3 de outubro de 2010

"AO GOTEJAR DA CHUVA NA VIDRAÇA"

 

Primeiro dia com "sabor" a Outono/Inverno, este ano.

Eu"julgava" que o sol nunca mais se ia embora, e sempre acreditava que os dias de sol quente e luminoso estariam "ad eternum"...
Mas não, hoje acordei desagradavelmente com um céu todo igual e todo cinzento, com chuva sistemática.
Desagradável, é injusto e inadequado, pois afinal é o terceiro dia do mês de Outubro, e isto, é efectivamente o que a mãe natureza prevê para esta altura...mas este convite ao recolhimento é de um doce/amargo, que pela surpresa me perturbou...

Lá dirão vocês, lá dirá a minha filha mais velha, o que raio tem o tempo de tão importante, para tanto mexer comigo?!...Não sei...não sei, mas tem.
Esta mudança de estação, que afinal como tudo, tem a sua beleza muito própria e que eu muito admiro, está envolta num casulo de nostalgia que me perturba. Ela convida à interioridade, ela faz sentir mais a solidão, ela é, pelo menos para mim, uma estação de balanço...

Pessoa, o mestre, como já nomeei tantas vezes, sabiamente proferiu aquela frase que coloquei num post há tempo e tempo, e que está inscrita na parede do restaurante em Geia : "Um dia de chuva é tão belo quanto um dia de sol...ambos existem, cada um, como é!"...tinha mais uma vez toda a razão ao dizê-lo...

Geia...Geia exactamente num Outubro lá para trás...para trás do nevoeiro..
Porque entretanto, uma parede de nevoeiro se instalou...e pronto...não se dissipou nunca mais...

Chegámos aos dias adivinhados dos jardins sozinhos, dos bancos vazios, das árvores a "descabelarem-se", do rodopio das folhas dos plátanos pelas alamedas, do vento desabrido, já a virar chapéus de chuva, de pessoas  que correm a fugir ao pingo-pingo desta chuva miudinha e teimosa...
Mas também às manhãs de domingo na cama, sem horas, sob o edredon, a dividir carinhos, confidências, ansiedades....a ouvir apenas as gotas da chuva a bater no beiral da janela e a convidar a dormir, acordar, dormir de novo....ao som da mesma melopeia pacificadora que nos convida a ficar, ficar, ficar...quando se pode...

A minha crónica de hoje, parece uma página do boletim metereológico...mas não é.
Estou no café dos domingos, como sempre a tomar o pequeno almoço tardio, sem conseguir ou poder pôr no papel do tanto que me vai cá dentro, deste aperto-sufocação, que pelos vistos tem estado latente, como uma doença incubada, e hoje extravasou...porque as comportas desta barragem de sentimentos, que se calhar ando a reprimir, foram galgadas pela torrente, porque as muralhas se desfizeram como os castelinhos de areia feitos à beira-mar, quando aquela ondinha provocadora sobe, e deixa os meninos tristes...só porque hoje amanheceu cinzento, com chuva, silencioso, só...e a minha habitual incoerência tocou "a rebate"!!...

Anamar

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

"SINAL DOS TEMPOS ! ..."


As pessoas não estão a investir no amor.

Verifico que as relações hoje em dia, são cada vez mais pontuais, efémeras, de momento, sem perspectivas de continuidade e se calhar, sem vontade mesmo dessa continuidade.
E este estado de coisas, desencantado, verifica-se em qualquer faixa etária.
Eu tenho uma filha com trinta e dois anos, que se pauta nesta base também, de sentimentos e vivências;
Tenho amigos da minha faixa etária com dois ou três insucessos sentimentais e afectivos, que por defesa, comodismo, descrédito. o que quer que seja, não arriscam nada mais, e preferem e dizem que querem viver sós, que estão bem sós, que não equacionam mais, outros esquemas de vida...

São pessoas com filhos já ausentes, tal como eu, que não querem limitações, justificações a dar, qualquer tipo que lhes "cheire" a pressão, ou que considerem como tal.

Fazem a vida como querem, rodeiam-se de amigos ou isolam-se, se é essa a sua vontade, agarram no carro e vão por aí, ou não, fazem amor menos vezes do que gostariam, mas "paciência", como dizem (tudo tem os seus custos....), e estão felizes ou aparentemente felizes, embora utopicamente defendam que o Homem é um animal gregário, e não existe para estar sozinho...

E este estado de coisas, partilha-se pelas mais diversas faixas etárias. A minha filha, teve desde sempre colegas e amigos, rapazes e raparigas, cujo percurso fui acompanhando ao longo das vidas.
Hoje, estão todos eles, logicamente na casa dos trinta anos e quase todos estão já, com dois ou três insucessos emocionais em cima, estão com separações, afastamentos, tristeza nas suas vidas.

Alguns têm filhos e optaram por viver para eles, ou limitados por eles (não sei como dizer), mas quase todos, no auge de uma juventude que deveria ser de alegria, descontracção e leveza de alma, a parecerem já "velhos", cansados no desencanto que carregam...

Assim sendo, e porque também vivem numa sociedade de competitividade feroz, agressividade e exigência profissional  desumanas,  fazem uma vida a trabalhar quase sem horários (muitos deles), e depois, têm os tais casos pontuais, que os deixam mais vazios afectivamente, porque de afectivo têm pouco, sendo meramente de realização física, quando são!...

E assim vão passando anos, e assim as pessoas vão ficando cada vez mais sós, vão perdendo o encanto e o acreditar, a frescura e o romantismo inerente a uma adolescência que desejaríamos todos, creio eu, se pudesse perpetuar no tempo, porque, de facto, o estado de paixão, ingenuidade, pureza e entrega incondicionais, são a maior "oferta" que poderíamos ter no tempo que por cá estamos....

Anamar