quinta-feira, 15 de março de 2012

" E SEMPRE ASSIM SERÁ !... "



Há coisas que são e não são.
Coisas que foram e deixaram de o ser.
Coisas que existiam porque as sentíamos, e na volta do tempo voltaram também.  Não se sabe para onde.

Ontem foi o ontem, amanhã irá ser o amanhã. Por agora temos o hoje.  E no hoje, às vezes não se percebe, mas pressente-se ...

Estranho, o puzzle labiríntico de vielas no meio de vielas, de praças e de becos, tudo a começar não se sabe bem quando, e tudo previsivelmente a acabar também, não se sabe bem onde !

De repente a língua deixa de fazer sentido, porque passámos a ser estranhos dentro de nós mesmos.  E há uma imperfeição, uma incompreensão que é isso mesmo ... algo que deixa de entender-se, nos perturba, mas sabemos que já não é.
E o único denominador comum a tudo, é apenas o tempo, que faz com que as coisas voltem, nas voltas que ele dá.
Os olhares cruzam-se, mas não são os mesmos olhares. Os desejos afloram, mas já não são mais aqueles.
E os caminhos são às vezes caminhos só de ida, e as estradas desembocam em rotundas, e as rotundas são caminhos de volta atrás.

Quantas vezes nos tornamos apenas pessoas de "vésperas" !
Vésperas do que poderia ser, vésperas do que inventáramos, vésperas do que tínhamos a certeza, aconteceria.
No entanto, apenas véspera ....
e da véspera ao dia seguinte, medeiam horas demais ...

Somos muito actores de ante-estreia, e como o nome indica, a ante-estreia pode não chegar sequer à estreia !
E o Mundo fica ainda maior, ainda que já seja enorme e ainda que nós sejamos grãos de areia insignificantes.
E as multidões que nos cruzam, são muito mais anónimas, porque sendo multidões, passam por nós em praças a perder de vista !...

E tudo fica diferente ...

Até a cor do sol nos surpreende com outros tons.  Os tons dos nossos olhos ...
Até a cor do mar nos espanta, e o seu ruído também, porque já não são exactamente os tons do nosso coração !...

Uma coisa permanece, tenho a certeza ...  Os pássaros, que não nos defraudam nunca !...
Agora, hoje, ontem ...  Sempre aquela garça voeja de asas estendidas ...
Aquela, a "minha" gaivota, continua aqui por cima da rebentação mansa, a planar na brisa da tarde.
E também aqui se trata da "minha" gaivota ... porque se eu sou dona de alguma coisa, é das gaivotas soltas e livres, como eu julgo ser !...

E há dias em que acreditamos com a força toda, que não vamos deixar mudar o que é mutável, só porque foi nosso.
Mas o vento e a tempestade que leva as gaivotas para longe da costa, varre das soleiras, as folhas de Inverno ... E nas molduras das mesas, as fotografias a sépia, vão esbatendo as imagens.
Nas molduras das mesas e dentro de nós !...
O inevitável ... Há sempre o inevitável !...

Ainda que as flores amarelas sem nome, continuem a alindar os caminhos e nasçam nas pedras, com o seu cheiro a fruta madura ...  Salpiquem o mato, as carrasquinhas, os tojos ... mesmo a nudez absoluta das falésias ...
Ainda que o mar continue imenso e perdido no horizonte ...  ainda que espume de raiva, de dor ou de embalo - nunca sei - nos rochedos abruptos semeados aos nossos pés ...
Ainda que prendamos com grilhetas, ao nosso coração, tudo o que nos preenche, nos inunda e nos transborda, para que não corra o risco de se perder nos dias ( na ilusão de que as âncoras serão seguras, fortes e perenes ) ...  as mãos abrem, os olhos cansam ... o coração claudica e cede ... e deixa ir torrente abaixo, tudo o que albergava, feito barquinho de papel, que nunca alcançamos ...

E apenas o nosso olhar o segue, na brincadeira de o ver encalhar, soltar, avançar, em vertigem de rápidos de viagem, do caminho que se faz, embora nunca possamos segui-lo e menos ainda prendê-lo ...

... porque os barquinhos de papel dos meninos, como o sonho e o desejo dos Homens, navegam sem prisões e sem amarras, à revelia de estrelas, faróis ou bússolas ... porque são barquinhos de papel na correnteza desbragada, e sonhos, e desejos de corações e almas livres e soltas, como as gaivotas !...

E sempre assim será !!!...

Anamar

sábado, 10 de março de 2012

" QUANDO O TEMPO DEIXA DE O SER ..."



Se hoje os dias acabassem, e o tempo deixasse de ser tempo, como seria olhar tudo aqui à volta, que ia ficar, quando eu já estivesse na estação das horas??!!

Iria sentar-me calmamente no banco da gare, e começaria por rever as primeiras páginas do livro ...
Desfolhá-lo, ia ser lento, embora eu não tivesse toda a lentidão disponível para o fazer!
Ia perder-me primeiro, no tempo das tranças, dos joelhos esfolados, das letras a soletrarem-se e magicamente a criarem palavras.
De certeza ia escutar risos e gargalhadas ... exactamente os risos e as gargalhadas que as Primaveras sempre permitem.  E ia extasiar-me com o olhar lânguido e doce, de tantos quantos já não vejo há séculos.
E ia interrogá-los ...  Ia perguntar-lhes como é exactamente, quando o tempo deixa de ser tempo ??!!
Apenas, eles não me ouviriam, o que não deixava de ser estranho !!!
Entravam naquele palco, desfilavam naquela "passerelle" onírica, e seguiam, sempre lenta e imperturbavelmente, tão lentamente como os gansos nos lagos, ou como as tamareiras demoram a ter frutos ...

O bibe ia ficar no cabide, e o ontem seria um pouco adiante ...

As outras páginas já não eram tão coloridas ...  Parecia que as tintas estavam a rarear, ou que o pintor já não atinava tão bem com a tela.

Mas surgiam então outras personagens, e íamos ter mais bibes, mais tranças, mais canções de ninar, mais sonhos, mais esperanças, mais amor, mas também algum desencanto, algum cansaço ...

Acontecia por vezes, voltarmos as costas uns aos outros, e depois cada um derivava para seu caminho.
Às vezes os caminhos eram paralelos, outras, eram linhas oblíquas a abrir ângulo, e portanto essas, nem no infinito se encontrariam.
Mas também havia trilhos que se cruzavam, mesmo que só se intersectassem, para se descruzarem a seguir ...

Claro que isso era numas folhas à frente ...

Ainda gritávamos, chamávamos, barafustávamos ... mas que adiantava ??!!.... O tempo era de Verão, e no Verão, o silêncio da planície é total ... nem as papoilas acordam !!!

Sol ... havia !  Havia sim !
Por entre as nuvens, no céu limpo ... ou mesmo em firmamentos de relâmpagos e trovões.  Sempre dávamos um jeito de o espreitar, e sempre tínhamos a capacidade de acreditar, que na página seguinte, tudo ia mudar a história.

O dia ainda ia a meio ...
O movimento era escasso.  Não havia passageiros em excesso naquele dia, naquela gare ... Nem todos traziam sob o braço, um livro, para queimar a espera, ou também nem todos estavam ainda interessados em saber, como era, quando o tempo deixa de ser tempo ...

Por isso, optaria de certeza, por passar página a página bem devagarzinho, a absorver o cheiro do papel envelhecido, a admirar a beleza das ilustrações, a devanear sobre o conteúdo de cada frase escrita ...

Aquela estação e aquele banco, estavam no meio dos verdes que já não eram esperança ;  mas também tinham na linha do horizonte, a penedia que despencava no mar.
E o mar sempre é alguma coisa que queremos "colar" a nós, para os dias mais desesperançosos e menos azuis ...  Só que eu já estava na estação das horas, e não podia dar-me ao luxo de o arrecadar, e levar dali !
Por isso optei por deixar vaguear os olhos até lá, ensonadamente, com a calma que ainda me era permitida ...

Espantosamente o livro cresceu, ganhou relevo ... As gravuras desenharam-se em 3D dali em diante, e foi a vez de caçar borboletas que me roçagavam o nariz, de apanhar cogumelos no bosque dos cedros, de dar migalhas à gaivota, que mercenariamente se deixou comprar pelas minhas promessas ...
Foi a vez de tentar juntar ramalhetes de flores silvestres, brancas, amarelas, róseas ... todas as que baloiçavam junto de mim, na aragem da tarde ...

Sim, porque a noite já vinha aí, os sinos dos campanários já se escutavam ao longe, e urgia juntar os minutos que ainda sobravam.

Virava as últimas folhas com alguma pressa, antes que a palavra "fim" me colhesse de surpresa, e me terminasse a espera antes da hora ...

Nesses restantes parágrafos, vos pergunto ...  esperava-me o fim da história, ou apenas o princípio de uma nova história ??!!...

Anamar

sexta-feira, 9 de março de 2012

" PENSAMENTOS À SOLTA - 7 Março - quarta-feira "


As cameleiras começavam a carregar as primeiras flores da época.
O tempo estava a ficar quente, o céu azulava sem quaisquer nuvens a perturbá-lo.  Os pássaros, em acasalamento prematuro, saltitavam no mato rasteiro, nos pinheiros a esmo, nas mimosas que se engrinaldavam.
Mais quinze dias  e o seu aroma espalhar-se-ia por ali. O mar ao fundo trazia  o seu marulhar, naquele por-de-sol de princípios de Março.

Havia uma harmonia tal, que se diria estarmos noutro mundo.
Num daqueles mundos com que sonharíamos um dia topar, pela simples razão de que só existem nos nossos sonhos ...

A perfeição ... haveria "perfeição", ou haveria simplesmente raros momentos fugazes, perfeitos ?...
Fugazes, demasiado fugazes seguramente ...

Quando o espírito humano repousa, porquê não o deixar repousar ?!
Quando a cabeça adormece numa pedra do caminho, por que não deixá-la ficar para sempre ?!
Quando uma sombra nos abençoa o corpo e a alma, por que não ficar nela dia após dia, noite após noite, pelo perder dos tempos ?!...
Quando à míngua encontramos uma fonte límpida, por que não podemos banhar-nos nas suas águas ?!

A lua imensa brilha no céu, incendeia dia na noite ;  a estrela de alva levanta-se, e deixa lugar a Vénus, quando o sol adormece de cansado.
A vida humana tem o significado dos momentos fugazes ... tem a duração das luas e dos sóis, é um tudo e é um nada ...
As ilusões são tão efémeras como os segundos a esvaírem-se nos ponteiros do tempo ; são tão fantasiosas, como o palhaço que esconde lágrimas na maquilhagem ...
São mesmo isso ... ilusões !...

Há um tempo de acreditar e um tempo de não acreditar, e o tempo maior é o tempo da velhice ...
Há lágrimas salgadas, mas também outras de sangue ...  Essas, quando escorrem, deixam mágoas que não saem.
E há cansaços ... cansaços que de tão cansados, nos tolhem os membros, mas muito mais a alma.
E essa não descansa com tónicos, com cânticos de pássaros, com cheiros de flores, com estrelas nos firmamentos ...
E depois há dor ... tanta dor, que corre o risco de se grudar no peito e se transformar em ferida escancarada e putrefacta.
Para essa também não há remédio ... nunca há remédio !...

E o que fomos, o que somos ... o que não seremos mais ...
Essa, a "assombração" das nossas existências ... Essa, a injustiça dos nossos seres !

E há viver, mas há muito mais morrer ... porque viver é uma das tais ilusões que nos perseguem ... e morrer é uma certeza dos dias !...
Porque de morte, se morre a cada momento, e a vida é uma escorrência de sentido único !

Alegria ??...  Só no olhar que se estende pelas mimosas, que de douradas, nos adoçam o coração ...
Paz ?? ...  Só a do mar, que é segura, e previsível, na melopeia do bater nas rochas, longa ... fielmente ... igual ... sem sobressaltos se a maré for mansa, e for dia de céu sem nuvens !...
Liberdade e esperança ...  Apenas as gaivotas as transportam nas asas, perdidas pelas aragens ...
Nós é que tontamente acreditamos que as detemos na concha das mãos ;  mas os golpes traiçoeiros de vento, sempre mostram que também não é bem assim !...

E vamos estando ... Acordando e adormecendo ... mesmo quebrado o encantamento !

E sempre as cameleiras vão começar a enfeitar-se pelos Marços da Vida, como senhoras vaidosas e ciosas de beleza, ao espelho ...
E sempre os pássaros, inconscientemente, pela lei biológica irão acasalar no mato rasteiro, entre os pinheiros mansos a esmo, e entre as mimosas de ramos baixos ...

E vamos estando ... e vamos ficando ...

Até quando ??!!...

Anamar

Nota :  O título aposto a este meu "desconchavado" post, foi-me sugerido por um amigo muito querido.
            Obrigada !

segunda-feira, 5 de março de 2012

" AS CORES DA PRIMAVERA "



A Primavera está a chegar ...
Absolutamente espantoso, como ainda ontem era  Natal e estamos a quinze dias de iniciarmos aquele período do ano, em que parece que num passe de mágica, tudo à nossa volta e nós mesmos, ganhamos cor !
Repentinamente e pela calada, o ar torna-se leve, o sol redefine o que vivia adormecido pela prostração e sono invernais, o "quadro" ganha vida, porque ganha uma alma nova outra vez !...

Aquilo que nos pesava parece começar a aligeirar, como as neves começam a dar lugar ao degelo ... como a Natureza começa a recobrir-se de um manto promissor, de verdes e de todas as tonalidades permitidas no espectro ...
O coração abre portadas, numa ânsia de faxina sazonal ... enfim, saímos da hibernação que nos tolheu além da conta !...

A vida do ser humano é feita de estações também.
Estações que se desenham diariamente à nossa frente, já que, "viver é a arte de começar de novo" !
E começar de novo, é saber gerir com inteligência as realidades, as dificuldades, as dúvidas, as desconfianças, os afectos e os desafectos, gestão essa que visa, ou visará encaminhar-nos para um patamar superior, em qualidade e perfeição .
Significa estabelecer pontes todos os dias, reconstruir paliçadas, contornar obstáculos ( como a água do rio no seu leito ), saber ou aprender a conviver com a incompletude inevitável que somos, com as frustrações com que topamos, com os obstáculos com que nos experimentam continuadamente.

As relações humanas, como diz uma metáfora que li e achei bem realista ( ainda que metáfora ), são como um passarinho que tenhamos entre as mãos : "se apertarmos demais ele morre, se abrirmos demais, ele foge"!
Ou como "soi dizer-se", em cada momento é um acto de sabedoria, "viver e deixar viver"!

Não é fácil convivermos muitas vezes, com situações marcantes que ensombraram as nossas vidas.
Não é fácil sermos seres de tanta "luz", que consigamos em "três penadas",  ultrapassar, perdoar, entender ... sobretudo entender o porquê ... e mais, termos capacidade para nos "reformatarmos", perante esse novo "figurino", por forma a que, como se diz, os danos colaterais sejam minimizados.
É importante percebermos que cada ser é uma individualidade diferente, com uma multiplicidade de sentimentos, de capacidades, de entendimentos sobre as realidades, e que como tal, sempre será difícil que alguém além de mim, sinta, analise e entenda alguma coisa, exactamente como eu ... pela simples razão de que ele é ele, e eu sou eu !...

Grande parte das frustrações que o ser humano carrega, advêm muito mais da inerência à sua própria personalidade, do que da imperfeição ou intencionalidade de outrem.
De facto, a maior parte das vezes em que saímos magoados de uma atitude, de um gesto, de uma "ofensa" que alguém nos fez, essa sensação de perda resulta muito mais da decepção que aquele ser nos infligiu ( transformando-se aos nossos olhos, como um "santo de pés de barro" ), e não tanto pela acção em si.
Foi antes a nossa fasquia de consideração sobre o outro, que colocámos alto demais, e não, quantas vezes, a gravidade da questão !...

O ser humano tem dificuldade em lidar e em aceitar que se enganou, nem que seja no "retrato" que tirou àquele indivíduo, ou no conceito em que o colocou, até porque de imediato está posta em causa a sua própria falta de perspicácia, justeza e correcção de análise, sobre essa personalidade ...
Por isso, tende a onerar, por vezes desproporcionadamente o seu semelhante.
Para convivermos bem com os outros, teremos portanto, primeiramente que encetar um trabalho de ponderação, aceitação crítica e empenho em melhoria, de nós mesmos, uma tentativa de reforço da nossa própria invulnerabilidade, e acréscimo das nossas auto-confiança e auto-estima, para que toda a magnanimidade e tolerância que consigamos reunir, nos levem a sentir o Mundo à nossa volta com maior leveza, a não o encararmos com a rudeza de algozes, a ver o que nos rodeia com maior colorido ... com as cores da renovação ... as cores da Primavera !!!...

Seguramente, não é de todo fácil !!!...
     

Anamar

sexta-feira, 2 de março de 2012

"DESENCONTROS"

Constato que não escrevo há quase uma semana.
Constato que escrevi bastante em Fevereiro ... a minha bipolaridade também na escrita !...

Hoje também não há assunto que me remeta ao papel, nesta sexta-feira enfarruscada como eu ; contudo, tenho um estrangulamento estranho dentro de mim, uma sensação que me faz aflorar inexplicavelmente, água aos olhos ... e começo a sentir-me farta uma vez mais, de mim própria, nos permanentes desencontros entre mim e mim ...

Em Fevereiro versei muitos temas objectivos, realistas, eventualmente com pertinência ou interesse.
Começo Março às avessas.
Começo Março novamente a "virar-me" para a concha, estranhamente nesta insatisfação defeituosa, na defeituosa forma que eu sou.
Efectivamente, mais do que desencontros e desacertos entre mim e a vida, sinto na pele inexplicáveis desencontros, entre a versão normal e a versão anormal do que experimento a cada momento.

Continuo a ser, um ser de um desequilíbrio total entre "cúmulos".
Aliás, os cúmulos desenharam, determinaram e "lixam" a minha vida em permanência.

Ao longo da mesma, sempre oscilei entre os tais extremos insalubres !...

Ser o cúmulo do acerto face ao cúmulo das posturas erráticas que assumo. Estar no cúmulo da felicidade e bem-estar, perante o maior "buraco" emocional em que mergulho ... Ser o irrazoável desvio das gentes normais, face ao desejo mórbido de conseguir viver em parâmetros comuns ...
Uma incoerência total, uma insatisfação constante, um coração "à nora", perdido por aí ...
Claro que tudo isto "embrulhado" em encomenda de infelicidade, com laço de fita de cansaço e sofrimento.

Bolas, pergunto-me ... Porquê tudo isto ?  Por que não sou igual à outra gente, que mesmo ao meu lado na mesa de café, conversa interessada e realizadamente, sobre receitas culinárias, acontecimentos caseiros e dos círculos próximos, a vida que se faz por cada dia, enfim, coisas comuns, de gente comum??!!

Por que sou um ser de incoerências ... aparentemente forte ... constantemente fraco ??!!...
Sou um "flop" como pessoa.
Qualquer coisa me põe nos píncaros, qualquer coisa me deixa no maior desconforto ...
Constituo, tenho que constituir forçosamente um "bluff", para muitos dos que me conhecem mais de perto !

Este discurso também é recorrente, já sabemos ...  Este discurso também não leva a nada, não me leva sequer a alterações substanciais, além da tomada de consciência, pela enésima vez, da verdadeira "patologia" da situação ...
Tudo bem, ou melhor, tudo mal, como costumo dizer.
Pelo menos não estou ainda inteiramente como a avestruz ... e no meio de tantos desencontros, tenho esperança que alguma vez consiga fazer o "encontro" de mim com uma pessoa real, menos utópica, menos sonhadora, menos exigente com a Vida ...

Em suma ... mais "pessoa", se calhar !!!...

Anamar

domingo, 26 de fevereiro de 2012

" EN PASSANT " - O gato preto



Agora, além da minha gaivota que bem se " borrifa " para mim em dias de céu azul e sol desanuviado, herdei um gato preto dos terraços das traseiras ...
Um gato preto em que, de claro só lhe luzem os olhões, duas bolas luminosas que distingo perfeitamente da altura de sete andares.

O gato preto partilha comigo alguns privilégios.
Gosta de se deitar sonhador, ao sol de Inverno, enquanto ele nos presenteia ( antes da sombra traiçoeira dos edifícios nos remeter para uma escuridão de dar dó !...)
Gosta de comer do meu fiambre, o que implica que a minha compra semanal deva alargar-se, porque partilhar é qualquer coisa que não discuto, sobretudo se for com animais ...
E talvez não goste ... ( eu também não ), da solidão destes sábados e domingos castigadores.

Mas também ... quem pode falar em solidão, se tem uma gaivota e um gato preto ??!!

De resto, tenho depois a meus pés, já vos contei, a panorâmica "emocionante", que vai do betão aos telhados, sem "rei nem roque", a alturas díspares e disposições caóticas.
Felizmente que não "embirram" comigo, já que a minha janela ocupa o cocuruto do prédio, e nada se lhe colocou nem colocará à frente.  Sou portanto uma sortuda !

Tenho também uma araucária que continua a "trepar" por patamares, ano após ano, sempre verde, sempre folhada ... Um plátano despudorado, que se despe sempre e completamente em pleno Inverno, sem preocupações de nudez exibida ... e uma outra arvorezita que o ladeia, e que para ser simpática, também se despe nesta altura.
Estes dois exemplares tornam-se interessantes, daqui sensivelmente a um mês, quando os verdes começam a despontar, e com eles, a passarada começa a acordar-me, aos primeiros raios de sol madrugadores.
Dantes tinha o Palácio da Pena no horizonte, mas fizeram o favor de o ocultar das minhas vistas, com a construção desenfreada.
Resta-me pois, lembrar o local donde ele me "espreitava", e imaginar que por detrás do casario, ele continua lá !...  E a imaginação é gratuita, felizmente !!!...

Depois também tenho pombos ... mas pombos nesta altura do campeonato, são uma praga, como se sabe.
Além de que os considero uns bichos estúpidos ...  Veja-se o sapateado que fazem à frente dos carros, para "virarem" tosta mista, na calçada, segundos depois ...
Portanto, neste meu cenário,
 estão reduzidos a "cartas fora do baralho" !...

Que mais poderei contar-vos aqui desta minha tribuna ?

Que estou "encarrapitada" na máquina de lavar roupa ... que estou a "espremer" o microondas contra a parede ...  E porquê ??
Para ter o sol a banhar-me praticamente de cima a baixo, o que me faz sentir de facto, mulher de sorte !

Há largos anos atrás, quando se colocou a questão da existência de um gato nesta casa, a única condição que a minha vertente de "bruxa" impôs, foi que ... "pois então ... que seja um gato preto "!

Todos os gatos são altivos, personalizados, independentes, livres ...  Mas um gato preto lembra-me uma pantera em tamanho "small", e a pantera é de facto um felídeo que me fascina.
Só que "o Homem põe, e Deus dispõe", e porque nesta casa não se compram animais, apenas se adoptam os que vêm das curvas do destino, e o primeiro "deserdado da sorte" que então surgiu foi o Óscar, aí fiquei eu, com um gato bem branquinho, concedendo algumas manchas apenas bejes ...

O Óscar já partiu, como também sabem.
A Rita, gata / gato remanescente, é o cinzento europeu, marcado a preto, mas ainda assim, cinzento.

Por isso, por todas as razões, não abro mão do meu "enfarruscado" do fiambre, ainda que eu esteja no sétimo e ele no terraço lá em baixo.
É preto, é rafeiro, tem olhos lindos e meigos, namora-me cada vez que me ouve abrir a janela, e o mais importante de tudo ... divide comigo solidões !...

 Anamar

sábado, 25 de fevereiro de 2012

QUEM NADA À TONA É ... "PATO" !...


O tema do meu post de hoje, versa o tipo de coisa para a qual não tenho jeito, que não gosto, que me violenta de certo modo, para que não sou vocacionada, que me irrita.

Desde sempre vos contei aqui, da indisciplina que caracteriza a minha forma de ser, e a relutância em me sujeitar a directrizes, determinações, seguidismos, se não os achar lógicos, certos, justos.
Embora tenha vivido grande parte da minha vida na época do silêncio, da mordaça, da submissão ... como diz Adriano, " há sempre alguém que resiste ... há sempre alguém que diz não !"... mesmo que o diga sem "estrilho", mesmo que o diga muitas vezes por pequenos / grandes gestos, ou pela assumpção de pequenos / grandes posicionamentos.
Nunca fui activista de nada, porque o não tenho na forma de ser ; mas também nunca me "encarneiraram", como costumo dizer, a massas acéfalas, a turbas meio confusas, a estruturas mais ou menos dúbias, e por isso pouco claras.
Por isso, nunca me filiei em nada que me exigisse submissão "cega", obediência inquestionável, seguidismo cómodo.
Tive o direito de extravasar a minha contestação quando o entendi, como estudante, nos memoráveis anos 60/70, no meu local de trabalho quando o achei necessário, nas relações sociais ( mais ou menos próximas ) como cidadã deste país, nas ruas, quando Abril já tão distante nos presenteou com "valeres a pena", quando Abril abanou até os mais imobilistas e acomodados, quando acendeu chamas em corações que há muito as tinham extinguido.

Não tenho, nunca me reconheci, dons de liderança, sequer de opiniões credíveis ou de peso ; nunca tive capacidade de mobilização ou arregimentação de "massas" ao meu lado ou atrás de mim, nunca tive carisma de líder de coisa nenhuma.
As minhas opiniões valem o que valem, a minha forma de ver as coisas enquadra-se tão simplesmente nos valores e nos princípios pessoais, morais, éticos, que me foram transmitidos de trás e em que acredito ... e evidentemente que tenho marcas bem nítidas, de um país extremamente apolitizado, com cidadãos demasiadamente desinteressados e desinformados, com uma participação feminina na vida pública e política pouco significativa, onde a questão das cotas atribuídas, por exemplo, não foi propriamente uma "quimera" longínqua, perdida no imemorial dos tempos, como sabemos.

Felizmente a realidade que entretanto se foi desenhando, teve capacidade mobilizadora, a sociedade abriu ou escancarou portas também às mulheres deste país, à semelhança da Europa e do Mundo que habitamos ...
A política começou a ver-se também por olhos femininos, o que sempre entendi como uma mais-valia, por beneficiar da adição de factores inerentes à sensibilidade da mulher, contra a exclusiva "musculação", advinda das mentes do tradicionalmente chamado ( ??? ) " sexo forte ".

Bom, mas todos os dias vamos vendo, vamos lendo, vamos ouvindo ...
Querendo ou não, acabamos por ser "mexidos" com isto ou aquilo que acontece ao "nosso lado", ou mais ou menos longe de nós, obviamente.
E foi exactamente o conteúdo de um mail circulante ( denunciador de situações abusivas, clamorosamente injustas, semelhante a muitos outros idênticos, sobre as mais diversas personalidades deste país e do xadrês político-social que nos rodeia, nos governa e nos insere ), que me trouxe a este escrito.

A informação veiculada,  era a tradicional neste contexto ( as reformas, arbitrária, duvidosa e injustamente alcançadas, os montantes absurdos das mesmas, a provocação ostentada frente ao cidadão comum, de benesses atribuídas muitas vezes imeritoriamente a indivíduos,  por ocuparem determinados lugares no jogo governativo ... e etc, etc, etc ...  Tudo idêntico a outros quinhentos mails que já li, e que deito rapidamente fora, encolhendo os ombros, não sei se por raiva, se por impotência, se por decepção ... )
Este mail apoiava-se em fontes informativas credíveis, remetia documentalmente para referenciados Diários da República, como sustentação.

Até aqui tudo bem, ou tudo mal ... Pelo menos, "tudo como dantes" !...

Então o que tanto me abanou, feito máquina de lavar roupa em plena centrifugação, para mexer nos meus "brios", a ponto de vir aqui debitar umas coisas??!!

É que o mail respeitava a uma personagem que embora não conhecendo cabalmente, me tem causado uma impressão favorável, apesar de pertencer a uma tendência política que não é  a "minha praia", se bem que eu não tenha propriamente uma "praia" ...
Eu defendo princípios sociais e não interesses partidários, eu defendo valores que lutem pela dignidade humana, pela justiça entre os seres, pela igualdade de direitos mas também de deveres, pela liberdade de acesso a quaisquer cargos públicos ( desde que haja transparência nesse acesso ), e de integral expressão individual, sem privilégios ou compadrios, por mérito ( porque a igualdade é p'ros burros ... também sei ...)

Assunção Esteves, actual Presidente da Assembleia da República, pelo partido do Governo, reformou-se com 42 anos.
Tem uma pensão mensal ( 14 vezes ao ano ) de € 2315,51 ... um vencimento mensal ( 14 vezes ao ano ) de € 5799,05 ... ajudas de custo mensais ( 14 vezes ao ano ) em média de € 2370,07,  o que a ser verdade o veiculado pelo mail  ( que remete para o Diário da República de 30 de Julho 1998 ), a dita senhora onera o erário público, num total mensal médio de € 12232,07  a que se adiciona viatura oficial BMW a tempo inteiro.

Que raios !...  Isto dispensa comentários !...

Que irritação !...   Até porque acresce que Assunção Esteves é mulher, e acaba de deitar por terra a minha ingenuidade e fé estúpida nas mulheres ... até mesmo nas loiras !!!..

Por que será que de repente me veio à mente Maria de Lourdes Pintasilgo ??!!  :)))

Já vos oiço dizer que nada disto passa de frases feitas ou demagogia barata.
Mas como diz um amigo meu, "uma verdade é feita de muitas verdades " e  eu acrescento  "uma verdadeira indignação deve advir de muitas pequenas / grandes indignações que lhe dêem voz "... sendo que será assim ( se mantivermos esperança ), que se poderá ir mudando / reformando / aperfeiçoando mentalidades, vontades, injustiças, assimetrias ... ilegalidades ... o Mundo !!!

Por outro lado, deparo-me constante e continuamente com a percepção de que continuamos exactamente como estávamos e sempre estivemos, em que os jogos de bastidores, as "protecções" entre amigos ( políticos e de interesses ), os velhinhos "tachos", os "boys" e os menos "boys", as redes, as seitas, as sociedades auto-protegidas, mais ou menos secretas e pouco transparentes, continuam a viabilizar, a facilitar, a abrir portas e a deitar escadas para "topos" ( por vezes bem suspeitos ), aos que "falam a mesma língua " e só a esses, em detrimento de outros possíveis e capazes, que apenas têm o azar de não pertencer a essas "cores", "credos", "interesses", "bastidores" encapotados ...
Continuamos a saber e a sentir, que o tráfico de influências e o "caciquismo" estão aí !!!...

Assim sendo, prosseguimos, e não tenham ilusões ( e eu não quero cair naquele raciocínio desenvolvido na  revista "Sábado" por Pacheco Pereira  " Dizemos que uma coisa é inevitável e deixamos de nos esforçar para a evitar, ou que é irrealista e logo a realidade se impõe sem apelo nem agravo, ou ainda irremediável e deixa de ter sentido procurar remédios " ( sic ) ... parece claro e definitivo, karma, destino ou fado, que cada vez mais, as intenções "tout court" não podem nem devem bastar ... Não chegam para fazer "destes", melhores que os "outros" ... dos "outros" melhores ainda que os "outros" ... e por aí adiante.
Até porque ( lá vou eu buscar a voz do Povo )... "Depois de mim virá, quem de mim, bom fará "!!...
Mas eu não quero ser simplista nem entrar em vulgaridades !

Moral da história : Dois caminhos são possíveis :

Ou alinhamos no esquema, espraiamos os olhos à volta e prospectamos onde se encontrará o auspicioso "furo", o "conhecimento", a "pessoa certa" para a abordagem perfeita, o "trampolim" apetecido ... a qualquer preço, sob quaisquer condições ( mas que nos dará tanto jeito ... ), e mandamos às "urtigas", coerência, valores, princípios, ética, boas intenções ... deixamo-nos de atitudes quixotescas utópicas e estúpidas ( ainda que por sobrevivência ) ...

ou

Continuamos "nhurros" ... "tótós" ... irredutíveis ... a "marrar" nas paredes ... a "topar" nas pedras ... armados em "pintas" não pactuantes, impolutos, incorruptíveis, com a mania "peregrina" de querer deitar a cabeça na almofada e dormirmos tranquilos, de consciência leve ( e acreditamos piamente que temos uma consciência a que devemos respostas ... ), ESTÚPIDOS e PARVOS ( em última análise ) ...... e então nadamos à tona do pântano fedorento onde nos encontramos ...

Mas aí, meus amigos, percamos as peneiras ... porque estamos todos "carecas" de saber que   "Quem nada à tona ... é obviamente PATO " !!!...

                    
Anamar

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

" SE ACORDAR A HORAS ..."

Não cultivo muito as relações.
As relações interpessoais, as de vizinhança, as de conhecimento superficial, se calhar as de amizade, se calhar as de afectos reais.
E no entanto, de alguma forma, dependo delas ou de algumas, para me equilibrar ...
Vivo muito na minha concha, no meu buraco, no meu "figurino" excessivamente musculado, que eu sei !

Dizia eu num post recente, que os "psis" buscam na cesta desarrumada das nossas infâncias, razões para linhas personalísticas definidoras do que somos, como somos .
A minha "cesta", acho que é um pouco parecida às já anedóticas malas das mulheres. Têm tudo, está tudo baralhado, nunca se acha nada ( embora saibamos que está lá ), ou seja ... um perfeito estado caótico ou caixa de Pandora !!!

Mas algo muito concreto me surge desde sempre, como claro e perfeitamente objectivo : a ausência de relações entre pessoas, que tive ao longo da vida, sobretudo enquanto vivi em casa paterna.

Recordo bem, em miúda, o perfeito boicote exercido pela minha mãe, a idas ou vindas de outras crianças a nossa casa e consequentemente de mim a outras casas.
Não queria "desarrumações", nada podia estar fora do sítio, o ritmo e esquema de vida, não podiam alterar-se.
Por outro lado, sempre me inculcou um sentimento de desconfiança e defesa, face a terceiros.
Amiga verdadeira era exclusivamente ela, pessoa confiável também, já que os outros quereriam apenas saber, para comentar ou criticar.
As potenciais amiguinhas e confidentes que qualquer criança ou adolescente arregimenta para clã seu, ficavam assim proscritas de relação mais próxima ...

Hoje, ao pensar nisto, arrepio-me, e um sentimento de raiva "amarinha-me", porque efectivamente, assim, desta forma tão simples, se moldam personalidades, se direccionam irreversivelmente formas de ver e viver a vida, de nela estar e a sentir ...

Dou de barato que a minha mãe tinha por mim um sentido protector obsessivo e possessivo ... dou de barato que sentia sobre si, excessivamente o peso da responsabilidade única da minha educação / formação, porque a vida do meu pai lhe impunha ausências prolongadas ...
Dou de barato que o fez por não o saber fazer melhor, porque ela própria não tinha instrução / conhecimento / cultura para mais, e os seus horizontes serem estreitos e próximos ...
Compreendo tudo isso, entendo-o ... se calhar aceito-o ( fazer o quê ? ), mas guardo em mim uma mágoa profunda ( por tal como tatuagem feita na pele, se tratar de algo praticamente irreversível, ou seja ... imutável ).
E imutável, com todas as consequências que daí advêm, que sempre sinto ao longo da Vida, e que não consigo "desagarrar" de debaixo da pele ... porque não consigo mesmo !
Estou assim formatada, e talvez também por falta de inteligência, de empenho, de força meus ... não consigo alterar nada !

Tive portanto uma infância profundamente sozinha, tão sozinha que recordo com uma nitidez perturbadora, as escassas excepções ... momentos pontuais e verdadeiramente fascinantes para a criança que eu era :
lembro um único aniversário, em que tive permissão para convidar algumas,  poucas, meninas do colégio que frequentava ( e "vejo" nitidamente ainda hoje, a mesa de anos, posta na sala de jantar, em Évora, onde vivíamos ...  Sou mesmo capaz de percepcionar a luminosidade que envolvia a sala !...  Engraçado !... ) :

Lembro uma festa de anos em casa da Elisinha, minha amiguinha, só de colégio, filha do presidente da Câmara da cidade, que até tinha um quarto de brinquedos, verdadeiramente saído de um conto de fadas do meu imaginário ... onde existia mesmo, uma tábua de engomar, com dimensão de criança, e ferro  que aquecia e tudo !...

Lembro a permissão, para nos Verões escaldantes do Alentejo, pela tardinha, quando a frescura já nos abençoava, poder brincar na rua, com crianças vizinhas ... uma delas, uma "menina rica" ( foi assim que ela me ficou "desenhada" para todo o sempre ), tinha a única bicicleta da avenida, e que, em boa maré, nos deixava dar uma voltinha, contudo muito negociada e de duração regateada !!!

Depois lembro, que nunca vizinhos ou amigos vinham a nossa casa.  Familiares também não existiam por perto !
E também recordo  como ( quando numa única vez, os sócios da firma comercial que o meu pai detinha, se deslocaram à cidade, a passeio ), isso ter constituído uma afobação, um mau estar incómodo de desestabilização, uma transcendência artificial em relação ao dia a dia, que parecia ser o presidente da república a visitar-nos, ou em nossa casa ter caído uma bomba atómica.
Tudo tinha que estar irrepreensível, não poderia haver uma única falha, nada era natural ou sequer normal !
Resultado ... um cansaço, uma intranquilidade, uma "chatice" ( passo a expressão ) ... e um alívio finalmente quando vimos as pessoas pelas costas ...

Tudo isto é tão espantoso quanto anormal, visto assim à distância ...
Tudo isto é profundamente grotesco e incompreensível ...  Mas era assim !!!...

Casei muito cedo, como já vos contei, e seguramente no meu "enxoval", também trouxe esta "herança".
Convívio restrito, relutei sempre e restringi o quanto possível, os relacionamentos, as visitas, as recepções, quer em nossa casa, quer indo a casa de terceiros ( porque depois seria de bom tom, retribuir, óbvio ... ).
Lembro que "castrei" sempre que pude, os desígnios da pessoa com quem partilhei a vida ( infeliz ou felizmente, exactamente o oposto da que eu era, nesta matéria ), o que sempre motivou um braço de ferro constante entre nós, com as consequências inerentes ...
Sei hoje, claramente, ter sido esse aspecto uma das grandes "pechas" do nosso casamento.
Claro que o radicalismo não era tão acentuado, mas existia.

O matriarcado da minha mãe ( muito próxima sempre de nós ), entretanto continuava a fazer-se sentir ...
Não podendo interferir directamente nesses convívios, sempre os repudiava ( por ela continuariam a não existir, como nos bons velhos tempos ... ) e assumia absurdamente a mesma postura resistente, em relação às amiguinhas das minhas filhas, no convívio que elas exigiam ter, na minha própria casa !...... Espantoso !!!...

Bom, hoje vivo só ...
Não sou a criança de Évora, não sou a adolescente de liceu ou Faculdade ( sem  grandes amigos ) ... considero ter sorte porque as pessoas com quem convivo gostam de mim ...
Tenho relações afáveis com quase todos ( de vizinhança, profissionais, sociais indistintamente ... )
Tenho quatro grandes amigas ( aquelas que até aturam telefonemas não atendidos por mim, quando me dá a neura ... indisponibilidades persistentes ... falta de "rega", muita falta de "rega" mesmo, na amizade ... posturas de egoísmo e comodismo atrozes, da minha parte )... mas continuo a ser uma pessoa que cultiva o isolamento, que não desce facilmente as "pontes levadiças", que não pratica o afecto, exibindo uma espécie de insensibilidade afectiva, de muralhas inexpugnáveis, que se calhar existem, porque simplesmente não conseguem ser derrubadas !...

Mas porque sou um ser gregário, sendo humana, e não sou propriamente um "monstro", questiono-me, analiso-me, sofro com tudo isto ... e quando racionalizo, tento alterar um pouco, insuficientemente um pouco !...

Todo o Homem precisa de afecto, precisa trocar emoções ...
E há uma fase da vida, na qual já me encontro, em que, porque os amigos se escolhem ou escolheram, ao invés da família que obviamente se herda, serão eles que tenderão a ser as nossas escoras, os nossos pilares, as nossas "bengalas" de apoio, nos caminhos cansados e tortuosos ...

Nesse campo, terei então seguramente, muito a aprender ... se "acordar" a horas !!!...

Anamar

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

" É A VIDA !!!... "


As torres cónicas do palácio da vila, sobranceiras ... a Regaleira lá mais para cima ... o Paris, na esquina com a esplanada amena ... A "Periquita" ... claro, a "Periquita", sem a qual Sintra não seria Sintra ...
Em ângulo mais feliz, a Pena ou o Castelo dos Mouros a dominar as vistas, e sempre sol regateado, porque Sintra só é generosa em amenidades no roçar de Primaveras e Verões, e a Primavera ainda não chegara nesse ano.
Os coches da romântica subida ao alto, parados, a aguardar hipotéticos clientes ... Eça a pairar por ali ... sempre !

Ela "vestira-se" de "turista" ociosa nesse dia.
Decretara feriado para si, e de mochila nas costas, ténis nos pés e câmara fotográfica ao pescoço, decidira que Sintra era o destino mais adequado para o seu espírito meio melancólico, meio cá, meio lá ... ausente que estava em pensamentos.
Não conseguiria definir-se, se o quisesse.  Sentia-se "pairar" meio "amodorrada", como o silêncio da Serra, que era a embalagem mais que perfeita, para o tanto que era aquela terra, uma prenda com que resolvera presentear-se nesse dia !

Por muito ... presente, passado ... a sua vida colava-se indiscutivelmente àquele chão.
Destino de muitos fins de semana, Verão ou Inverno, sempre as "propostas" que lhe eram oferecidas, inegavelmente aliciantes.
O Inverno, de neblinas cerradas, de frio "molhado", convidava a luvas, cachecóis, gorros e golas empinadas. E convidava também a mãos em bolsos trocados, na busca de conforto quente, e por quente, doce ...
No Verão, nos dias ensolarados de ar leve, era a frescura que descia da penedia, o convite generoso a pausa, a café, a leitura preguiçosa de livro ou revista.

E revisionava a sua vida nos últimos anos.
Tinha-a emoldurada, cativa, como o Palácio Real o está, em ângulo particular de Seteais ... passem dias, passem anos ... passem séculos !
Há muito que a tinha retida em caixilhos inventados, que a tinha "congelada", como o que aguarda fim de prazo de validade, que a tinha em hibernação como frase deixada entre parêntesis.

Era e não era ...

Tinha dias que caminhava em estradas amplas, decididas.
Tinha outros em que os caminhos estreitavam, eram de terreno irregular e titubeante, entre encruzilhadas, veredas confusas, trilhos sem saída.

Uns eram ladeados de prímulas, lírios roxos, macelas, violetas selvagens, chorões, miosótis ...
Eram penhascos, arribas, falésias, donde sempre se divisava um mar azul, que no horizonte se confundia com um céu igualmente azul.
E ambos, quer céu, quer mar, tinham dias de "carneirinhos", ou dias zangados, em que as tonalidades escureciam e se cavavam entre os cinzas indefinidos e os verdes agrestes, de "briga séria" lá no alto.

Outros desembocavam em areais de bonança ... praias de solidão, onde caminhava descalça, semi-nua, cabelo ao vento, na babugem da rebentação, como uma menina atrevida e provocadora.

Nuns e noutros caminhava ... O destino, é que muitas vezes ou quase sempre, desconhecia ...
Esse, flutuava como pena largada ao sabor da aragem, como a gaivota ( companheira de casarios insípidos ), que se soltava de asas aproveitadoras dos golpes de vento, espreguiçada e dolente ...

Era muito mais espectadora de vida, do que intérprete no palco da mesma.
Já desistira de lhe encontrar lógicas, definições, sentidos.  Sobretudo, sentidos que lhe parecessem sentidos mesmo ...
Sabia-se "à janela" da "dita", a vê-la passar ...
O diabo é que ela passava depressa demais ... ventando ... insensível ao que empurrava para diante !

E ficou-se por ali, numa nesga de sol envergonhado ... como gato ronronante em telhado quente.
A tarde ameaçava expirar-se. O sol já só batia no cocuruto das árvores da serra.
Os penedos, continuavam desafiadores, em equilíbrio instável, trepando pelas encostas ... Os musgos e os fetos vestiam muros, vestiam troncos, vestiam pedras ... pedras que sempre ali estiveram e estariam, antes dela e depois dela !...

E a Vida far-se-ia, alucinantemente ...
Por ali, só ela "passaria"....tudo o resto continuaria indiferentemente igual !!!

Anamar

NOTA : O título deste post adveio de uma conversa havida com um amigo, em que de acordo com o diálogo que mantínhamos, ele proferiu a frase "É a Vida"!!.......e "É a Vida"!! foi exactamente o título mais adequado a apor a tudo o que escrevi ... Por isso o adoptei. Obrigada !

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

" OS PASSADOS "...

" Nós podemos cortar com o passado ... mas o passado nunca corta connosco" !

Esta frase é repetida insistentemente ao longo do filme "Magnólia", a que assisti ontem, num serão desocupado de terça-feira de Carnaval, sem história.
Dia de dez da noite na cama, frente a um televisor que projecta canais que ainda por cima pagamos e que não vemos, ou vemos pouco ...
Recorre-se a filmes gravados, até o sono nos aconchegar, numa cama dividida com ... a Rita !...

E a frase continuou-me na cabeça madrugada fora, porque efectivamente foi noite de "madrugada fora " ...

De facto, não me venham com teorias ... Por mais bem modelados que sejamos, por mais racionais e objectivos que sejamos, por mais "arrumadas" que tenhamos as cabeças ... ninguém ignora que os nossos passados sempre se estendem aos nossos presentes, marcando-os mais ou menos, condicionando-os mais ou menos .
Claro que aos mais bem "artilhados" e defendidos ... menos ... Aos outros ( aos mais emocionais, emotivos, menos pragmáticos ),  mais ... muito mais !

Já os psicanalistas, os psicoterapeutas, todos esses malabaristas da "magia cerebral", que têm a capacidade de nos remexer nos neurónios, e ainda vasculhar na outra "caixinha" tão nossa, vão buscar invariavelmente aos nossos passados, as razões dos nossos presentes e se calhar dos nossos futuros.

Todos sabemos que "desmontam" as infâncias de frente para trás e de trás para a frente, às vezes despudorada e atrevidamente, dos nossos pontos de vista ... e "zás" ... de repente sai coelho da cartola ...

Isto explica-se por isto, aquilo por aquilo ... aqueloutro não poderia ser de outra forma ...
E encontram-se explicações espantosas para posturas, atitudes, sofrimentos, desajustes que muito e muito tempo não enxergáramos por que os tínhamos.
Não nos lembramos, não o consciencializáramos, mas eles existiam ... estavam lá ... numa curva muito curva, num cotovelo mesmo, do percurso.
Tão cotovelo, que para lá dele, a nossa humilde capacidade cognitiva não chegava, a nossa curta capacidade de descoberta, análise e reflexão, menos ainda ...

Bom, mas esses são os passados que remontam a outras "encarnações".
De ânimo leve, até pareceria que já não faria sentido deixarem-nos ainda "mossa"...

Porque depois, há os passados-presentes, aqueles que pela sua quase contemporaneidade, não conseguimos afastar muito de nós, mesmo por que, cada dia que vivemos, amanhã já é passado vivido, e porque ocorrem numa fase de maturidade, de consciência e reflexão, que nada têm a ver com a nossa infância bem remota.
Esses, povoam-nos de facto parte dos dias, povoam-nos de facto e "assombram-nos" mesmo, "madrugadas fora" ... "aterrorizam-nos" a existência ...
Contra esses, dificilmente e a duras penas reagimos, porque já nos apanharam numa fase da vida, menos passível de sermos modificados, porque tão escorados já estamos em certezas e convicções, tão forjados já estamos em fogos mais ou menos acesos (  nunca extintos contudo ), tão dilacerados ficámos às vezes, em feridas nunca saradas.

Contra esses, travamos diariamente e a todas as horas, lutas a maior parte das vezes  inglórias e extenuantes, porque o que é facto, é que na primeira ameaça que no-los lembre ... e eis-nos de prontidão, com o "exército", os "bombeiros" e a "artilharia pesada" ... enquanto nos "encolhemos", encolhidinhos por medo, por pavor mesmo, por incapacidade reactiva.

E o resultado é que não apostamos mais, ou dificilmente apostamos mais, não acreditamos mais, perdemos fé e esperança, porque o sangue coagulou apenas ... não estancou !

E aí estamos nós destruídos para todo o sempre, porque a personalidade que na verdade somos, se choca contínua e cansativamente com a que deveríamos ser, porque afinal, estamos a viver "presentes" e não esses passados... Estamos a hipotecar presentes, à custa desses passados !
Prosaicamente como diz o povo : "Gato escaldado de água fria tem medo" e o facto é que é exactamente assim ...

E a luta interior travada entre o racional e o que o não é, desgasta, desgasta, desgasta ...
Desgasta e "mata", porque realmente não nos reabilitamos nunca, para nos "desarmarmos" perante a Vida e perante terceiros.
Portanto sofremos por três vezes ... antes, durante e depois, sendo que nada nem ninguém, teria tido o direito de nos formatar, de nos adulterar, de nos aniquilar a possibilidade de defesa e reacção ...

Um ser acossado, assustado, permanentemente em vigília ... é um ser sem paz, sem descanso, sem FELICIDADE !...

Anamar

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

" EU DISSE QUE ESCOLHI VIVER ???!!!"


"EU ESCOLHI VIVER ..."

Esta, a frase com que encerrei o meu último post.
Esta, a afirmação que diariamente procuro repetir-me, para pelo menos acreditar !

Agora, que esta bendita coisa que instituíram chamar de "Vida", dá uma "mão de obra"... dá !!!
Acho mesmo que esta via sacra que percorremos, não passa de brincadeira de mau gosto, de Quem, lá donde supervisiona este carnaval, só pode estar a rir-se às nossas custas!

É de facto um filme de terror  muitos dias, de ficção noutros tantos ... de dramalhão anos vinte...a maior parte!
É algo de tão surrealista, de tão aleatório, de tão "jogo de dados"... que arrepia.

Quando pensamos que atingimos uma maré calma de águas mansas ... leito de riacho em terreno plano ...
Quando achamos que nos tiraram definitivamente a venda, e podemos enxergar melhor ... nos destaparam a boca, e podemos respirar até bem ao fundo ... pura ilusão !
Não é exactamente assim ... nós é que julgámos que era !

A Vida é realmente uma confusão de personagens, que se cruzam, que se trocam, que passam umas pelas outras, quase sempre sem se "verem" ...
A Vida é uma miscelânia de mal-entendidos, de confusões, de dissimulações, de desconfianças ...
A Vida é um acreditar, desacreditado ... É darmo-nos, apavorados ... É precisar sonhar, em meio de pesadelos !
A Vida é cair todos os dias ... mas ter que arranjar força p'ra sacudir a poeira e continuar.
É jurar por convicção, que cancros se curam com pensos rápidos ...
Quantas vezes vermos o que queremos, ou precisamos ver ... Inventarmos o que precisamos inventar ... Acreditarmos, como quando crianças, que existem fadas ... e fadas com varinhas de condão e tudo !...
E esquecer ou fazer de conta, que não existem bruxas ... e bruxas com caldeirões e poções mágicas ...

Vida é uma "corrida de cavalos"...p'ra uma meta onde nunca vamos chegar ...
É o maior improviso, que  ombreia com o melhor enredo teatral ... ainda por cima com personagens medíocres em cena, na maior parte das vezes !
É um "contentamento descontente" ... "é dor que arde sem doer"...dizia Camões sobre o Amor.
Por que não sobre a Vida, se ambos estão, ou deveriam enlear-se ??!!
É uma ilusão com que amanhecemos ... e uma fraude sentida ao deitar ...
Uma maratona esgotante, que nos deixa de língua de fora, a arfar, feito galgo em busca de vitória ...

E é varrer lixo todos os dias, tentando encontrar no meio de tanto desperdício, alguns "caquitos", que colados, ainda reconstruíssem peça imperfeita e danificada ... às vezes, irremediavelmente danificada ... NÓS !...
É levar continuadamente os sonhos à loja de penhores ... acreditando que um dia, quando pudermos, os vamos resgatar ... e mais ... que eles AINDA lá estão, à nossa espera !...
A Vida é a anedota mais perfeita e convincente que já alguma vez me contaram ... Mas pior que isso ... que não percebi ser anedota !

A Vida ... definitivamente, não é mesmo a minha "praia" !...

Desculpem a "bipolaridade" entre o ontem e o hoje.  Os doidos são assim mesmo !...
Apenas, nem como partida deste Carnaval "enquaresmado" ... estou a conseguir "vê-la" de outra forma , nem com óculos 3D !!!

Anamar

domingo, 19 de fevereiro de 2012

" A VIDA, ESCOLHE-SE VIVER ... OU NÃO " !


"A Vida, escolhe-se viver ... ou não" !...

Esta frase "caiu-me" em cima, vinda não sei bem de onde, mas perturbou-me, atormentou-me e obrigou-me a colocar aqui, o que se me ofereceu a respeito.

Saí de casa porque precisava que o sol me inundasse, me devassasse, me penetrasse até à alma, que estava a teimar em ficar escura, logo num dia espantosamente luminoso.
E vim para um banco qualquer, de um jardim qualquer, em que a única condição era estar banhado de sol.
Passam por mim  "passeadores" deste domingo de Carnaval, em "passeios de tristes" ( se calhar, tão tristes como o meu, sei lá !...), com criancinhas disfarçadas, bem ou mal disfarçadas ... se calhar tão disfarçadas quanto o estamos todos, nos trezentos e sessenta e cinco dias do ano ... sei lá !...
Não estou "de Carnaval", estou antes de quarta-feira de cinzas, numa Quaresma prematura vivida por antecipação, e de facto neste meu recolhimento de "Paixão", a dita frase martela-me ...

Escolher viver a Vida ou escolher não viver a Vida, é a dicotomia mais pungente que se coloca ao Homem todos os dias.

Quando somos crianças, a nossa realidade não traz grandes agruras ou aflições.
Sem nos questionarmos de nada, até porque a idade não nos pode obviamente consciencializar a propósito, vamos somando dias, numa leveza de alma, como é a alma dos inocentes ...
A estrada está em início, o piso ainda é plano, os obstáculos são diminutos ... são obstáculos infantis apenas, os que nos perturbam o rumo!
Na generalidade temos ao nosso lado quem nos "adoce" o terreno, quem nos oriente nas encruzilhadas, quem nos trate os "joelhos", se os esfolarmos ...
Ansiamos que o tempo corra, porque o estatuto de "gente crescida" com direitos ( que nos piscam os olhinhos desde já ), só se alcançará adiante.
Nesta altura, não tem portanto erro !...
Escolhemos caminhar, de preferência quanto mais rápido, melhor !

E continuamos ... a estrada é longa, os acidentes do terreno começam a surgir, nem sempre há sombras de descanso, por vezes a "paisagem" torna-se agreste.

Mas nada de maior !!!

Nada  que a juventude que detemos não resolva, nada que as nossas reservas de confiança ( em nós e nos outros ), de esperança ( em nós e na Vida ), de sonhos ( muitos ainda só sonhados ) ... se mostrem incapazes de ultrapassar ...

E mesmo começando a ser trabalhoso, às vezes cansativo, às vezes difícil ... continuamos a escolher viver, seguramente ...

Neste período das grandes realizações pessoais, da efectivação de grandes projectos, do alcance da maior parte das metas que nos propuséramos, como pessoas ( integradas já então em núcleos familiares próprios, profissionais e sociais ) ... nem se coloca a questão de opção entre escolher ou não "VIDA" !
Esse é de facto, o nosso desígnio, de tudo fazemos para o alcançar, vida vivida é a nossa escolha, é o nosso desiderato.

Apenas, ela continua implacavelmente ... e numa bela manhã, acordamos com a "mala" que transportáramos, tão pesada e tão penosa de carregar, que nos olhamos no espelho e nos perguntamos porquê.
Porquê subitamente apercebemos um cansaço estranho, um esforço esgotante, uma necessidade de sentar, parar, rever, reequacionar o trabalho de casa ??!!...

O espelho devolve-nos uma imagem surpreendente ...
Os cabelos embranqueceram, os olhos preguearam, as mãos encarquilharam, as costas curvaram, os pés embaralharam-se, os passos saíram incertos e titubeantes ... a marcha mais e mais indecisa ...
E aí,  percebemos que o coração claudica na proporção da ausência de vontade, de sonho, de desejo ...
Na razão directa da falta de força de alma, de aposta, de convicção ...
Na realidade, já não acreditamos em muita coisa, já nos dá uma "mão de obra" tramada, ir à luta ( mesmo pelo que nos fazia absoluto sentido ... ), já nos esgota sequer esperar e sonhar, já não nos vale a pena a fé no que quer que seja ...
E é aí que se coloca prementemente a questão : " O que vamos afinal escolher " ? 

Viver ou não, o que nos resta ??!!
Lutar ou não, pelo que sobrou ??!!
Juntar ou não os cacos espalhados, ( já nem sabemos onde ), ou cultivar o cansaço, a desistência que nos quer tomar conta ??!!
Tocar a reunir ... ou deixar que o "exército" ( que ainda possuímos embora não acreditemos bem ), se desmembre ??!!
Respirar fundo e oxigenar o coração e os pulmões para o que nos enfrenta ainda ... ou morrer por sufocação ??!!
Escancarar os olhos que já nos defraudam, e ver o azul do céu e do mar, ainda que lá longe ... ou perpetuarmos a noite que parece ter irremediavelmente descido ??!!
Sair de casa, sairmos de nós, e irmos por aí, à procura de um qualquer banco de um qualquer jardim, onde o sol não regateie aquecer-nos o corpo e "descongelar-nos" o sonho ... ou praticarmos o imobilismo de trancar as portas da alma e do coração ??!!

E porque "viver" se aprende, simplesmente "vivendo" ... EU ESCOLHI VIVER !!!...

Anamar

sábado, 18 de fevereiro de 2012

OS "TIRANOS"...


Os "tiraninhos"começaram numa famigerada noite, dia, ou momento, em que por obra do Grande Arquitecto ou do Mafarrico ( ainda estou p'ra saber qual dos dois estava de serviço ), um espermatozóide esperto, de vistas largas e tipo "Pepe Rápido", "violou" o reduto mais que defendido de um óvulo!

Nesse preciso e "mágico" momento, teremos entre mãos, um "projecto" de "tiraninho" !...

Reparem ... eu vou inserir este meu post na classificação de "Humor" ... Simplesmente e só, porque nas etiquetas que constam das minhas escolhas, não cabe o item "Humor / Drama" ... Porque, efectivamente o que penso a respeito, neste momento e cada vez mais, é que tudo isto, está mais para drama do que para rábula humorística ...

Pois bem ...dizia eu que a saga destas "personagens" maquiavélicas, começa nesse exacto momento ... e o dramático da coisa, é que não termina nunca mais !

Ainda em "aviário", e já o dito cujo se impõe, pelos enjoos, noites mal dormidas, exames sistemáticos ( uns mais simples que outros ), a que a mãe é sujeita ( a bem da criatura ) ... deformação inerente, daquelas curvas que tanto prezávamos, dentes cariados, ossos descalcificados, alguns sustos ... quantas vezes, angústias de ecografias que nem sempre mostram tudo ... gastos em despautério, na preparação do "enxoval" adequado ao "reizinho" ou à princezinha" a caminho ...
Nos últimos tempos, até abstinência sexual ... por via das dúvidas ...

E chega o dia, em que pela primeira vez, a mãe, obviamente, se consciencializa de quem "começa a mandar" no pedaço !
A hora do parto aproxima-se, e com ela as famigeradas dores que só nós conhecemos, os medos, as incertezas, a vontade louca de inverter aquela estrada sem hipótese  de marcha-atrás ... enfim, qualquer coisa que nos tirasse daquele filme ...
Mas como o que não tem remédio remediado está, e o "tiraninho" já assoma com a cabeça ... pé na tábua e vamos em frente !

Aí, a procissão ainda nem saíu do adro da igreja !...

Os próximos episódios ( quantas vezes tirados de um filme de terror, "suspense" e mistério ), caminham para nós a passos largos.
As noites incompleta e faseadamente dormidas, a "afinação techno" das goelas escancaradas, sempre à procura de uma mama de serviço, ou com a bendita cólica abdominal que não dá tréguas ... A fralda, no "muda que muda"...o creminho para o rabo ( que embora com todos os cuidados, se assou ...) ... enfim ... depois as papas, os berros dos primeiros dentes ( que é outro "petisco" muito jeitoso ... ), as otites, as viroses, os sustos dos primeiros passos, os perigos domésticos a espreitar ... e etc,etc, etc ...

O "tiraninho" está programado p'ra crescer ... e não pede licença.
Começam aí novas etapas.

Escola à vista ( estuda, não estuda, já estudou ?...), as companhias, os amigos escolhidos ( nem sempre os mais adequados, mas que aqueles "serzinhos" teimam em manter como desafio ), as primeiras saídas nos grupos  ( primeiro, festinhas inofensivas, em círculos de amizades próximas ), depois as saídas à noite com os bares e as discotecas ... e sabe-se lá mais o quê ?!.....
E nós impotentemente a ver crescer os nossos cabelos brancos, as nossas rugas, a "taquicardia" nos corações!! E a incapacidade para fazer frente ao "domínio" desenfreado e progressivo das exigências, das comparações, dos desafios, das "provas" em que deveremos ser aprovados !...

Os namorados, as primeiras relações, a explicação o mais prosaica e natural possível do tema ( sem ninguém nos ter ensinado nada sobre como fazê-lo ... ) ... a nossa angústia ( a nossa ... não a deles ! ), sobre possíveis gravidezes, doenças, desvios.
E no campo "minado" que temos à frente, a maior parte das vezes, uma inacessibilidade atroz !
Os "anjinhos" fecham-se em copas, cerram fileiras, guardam redutos até às últimas consequências !...

Depois, se for esse o rumo, casam ... para na primeira oportunidade, "descasarem" com uma limpeza total !
Se o não for, aí estamos nós novamente, com a dúvida e preocupação, sobre os quinhentos mil namorados que entretanto vão desfilando, dos quais, nem a cor, nem o carácter, nem as referências conhecemos ... Até porque os "tiraninhos", entretanto se acham gente bem graúda para darem satisfações, ou terem a vida pessoal devassada pelos "cotas" ... que em boa verdade, só atrapalham !

Os que casaram e tiveram filhos, pretendem obviamente alargar a "tirania" familiar, aos respectivos pais.
Aí temos nós os avós a queixarem-se então, que "agora que estariam libertos p'ra viverem as suas próprias vidas", têm que "aguentar" os pestinhas, em continuidade da espécie !!!
E dizem, com o ar mais desalentado possível : "Fazer o quê"???!!!!.....  ( É assim uma espécie de destino, não pedido !... )

Há ainda outro aspecto a considerar :
se eventualmente os pais dos "tiraninhos", caírem em desgraça e separarem eles próprios as suas vidas ... inicia-se outra cena rocambolesca ...
Armados em "mete nojo", suas excelências, não se coíbem de opinar, dar palpites, devassar, obstaculizar, quase reprimir, possíveis e futuras relações dos próprios pais ( coisa que não admitiram para eles, não esqueçamos ! )
O namorado / namorada, da mãe ou do pai, não cabe no "figurino" nem é "admitido / a", sem que antes passe na malha, na rede apertada, ou nos Raios X das criaturas!

E estamos perante algo perfeitamente surreal e hilariante ...
Os progenitores dos "tiraninhos" submetem-se piamente, culpabilizam-se, deixam-se acabrunhar, justificam, explicam, ouvem impropérios e adjectivos pouco edificantes a propósito, quase têm vergonha ... como se eles próprios não tivessem mais direito a viver, a escolher, a acertar ou mesmo a errar...
como se eles próprios, por terem a ousadia de infringir regras de ouro que povoam a cabeça das "encomendas", devessem ser chamados "à pala", devessem ser submetidos a julgamentos sumários, fossem mesmo ridicularizados, por afinal AINDA serem gente, terem sonhos, terem vontades, não serem assexuados como deveriam ...

E o que é facto, é que se "elas não matam ... moem" !...

E no mínimo, desestabilizam, geram conflitos, maus estares, parece mesmo que medos a lixarem-nos as almas ( com a fúria com que escrevo este post, como imaginam, o vocábulo "lixar", não era exactamente o que me apeteceria aplicar ) ...
E é espantoso, como nós, os da geração que os pariu e pôs neste Mundo, nos sentimos na obrigação de quase pedir licença ... ao invés de nos pormos nos bicos dos pés, erguermos bem a cabeça, e olhando-os nos olhos, darmos três berros, que é o mínimo necessário para quem não sabe remeter-se ao lugar e posição que devia!...

Fico por aqui ... porque até já me agoniei de raiva, fúria e desalento !!!

Quem nos mandou de facto, numa bela noite, dia ou momento, permitir que o Pepe-Rápido, "Bugs Bunny" ou "Perna-Longa", entrassem em "território alheio" ??... Ainda por cima, dentro de nós !!!...

Este post vai ser do desagrado de muita gente, que eu sei.
Porque é "incómodo", diz algumas verdades, obriga a alguma reflexão !
Corro mesmo o risco, de neste momento ter passado de "bestial" a besta ... e encarnar a "megera", aos olhos de alguns.
Não me faz qualquer diferença, e desafio mesmo os mais honestos, a desautorizarem e rebaterem, se o conseguirem, estas minhas "verdades"!!!...
                                             
Anamar

" 40 ANOS ... "

Pois é, a minha escola acendeu hoje 40 velinhas!

40 anos é cerca de metade da vida de alguém !...
Lá, eu fiz cerca de trinta e seis desses quarenta ... o que significa que também para mim, lá me passou perto de metade de uma vida, neste caso, a minha!

Entrei, lembro bem, com vinte e três anos de idade.
Cara de miúda, corpo de miúda ... sonhos e vontades de gente graúda.
Estávamos em 74, o 25 de Abril tinha sido apenas meses antes, o seu sonho sonhado povoava as cabeças !

Respirava-se esperança, respirava-se convicção de luta e vitória, respirava-se fé !...
Eram tempos promissores.
O "Inverno" terminara, e com ele, a longa estação escura na vida de todos os portugueses ...  Era impossível que o que se acreditava não virasse realidade !...

Entrei na escola, dossier debaixo do braço, determinação na alma ... susto no coração ... ar sério afivelado no rosto, na convicção de que daria assim credibilidade ao "boneco".
Mini-saia não era prevaricação na altura ... Até eu casara de mini-saia, poucos anos antes.
Mas, o empregado a postos no portão, resolveu tirar dúvidas e "barrou-me" a entrada...  "Onde é que a menina pensa que vai "?...

Corou ele, e corei eu, creio ... quando, timidamente lhe disse : "Desculpe, mas eu sou aqui professora "!...

Naquela escola "vivi" como disse, cerca de trinta e seis anos.
Lá me nasceu a minha filha mais nova ... lá criei laços, realizei sonhos, construí afectos.  Afectos que nunca se destruíram até hoje, na generalidade.
Lá me partilhei com todos, fossem empregados, colegas, alunos. Afinal, todos juntos éramos uma "família"!
Para lá, entrei com um montão de sonhos, esperanças, creres…mas também de dúvidas, medos e angústias no peito !

Ainda se "remava" na altura, numa só direcção.
Ainda não coabitávamos em "campo minado" !
Ainda não víamos no nosso par, um potencial "rival" ... Sim um amigo, um companheiro de jornada, quase um irmão !

Aprendia-se com uns, ensinava-se a outros ... Aprendia-se sempre muito mais que se ensinava !...
A entreajuda, o companheirismo, o trabalho de equipa norteavam os nossos ideais ... ninguém era "mais" que ninguém ... todos éramos aprendizes uns dos outros, nas vidas divididas.
A meta ... a "perfeição"...ou a aproximação da mesma, já que esta não existe !
A luta ... era pela formação de "gente", gente inteira, genuína, com valores ... Gente que continuaria a nossa estrada futuro adiante ... na ética, no respeito do indivíduo, dos valores humanos e sociais ...

Guardo memórias indestrutíveis, que são o espólio precioso da minha vida !
Guardo afectos até hoje, de pais de filhos, que também já passaram pela minha escola !
Guardo o calor da amizade sentida, de todos quantos dividiram comigo, espaço, tempo, vida !...
E estou grata, por tudo o que me foi dado, generosamente, porque tudo afinal, fez de mim também, a mulher que sou hoje !...

Como homenagem bem singela, deixo aqui um poema que ofereci em jeito de despedida, aos meus alunos, no último ano que leccionei.
Também vo-lo ofereço !...




 




ESCOLA SECUNDÁRIA DA AMADORA
Ano Lectivo de 2008/2009

AOS MEUS ALUNOS E AMIGOS
DAS TURMAS 11º e 10º B

“Até breve…”

Dizer adeus
e ver-te seguir em frente
mesmo ainda que o presente te seja penoso e duro,
acredita, vale a pena,
“se alma não é pequena”,
ser lavrador do amanhã,
tecer de esperança o futuro!

Mas…
Dizer adeus,
é também um até breve…
Alguém o disse, e estaria na razão.
Fomos companheiros,
Amigos verdadeiros,
E ser amigo, é um pouco ser irmão!...

Eu sou um marco da estrada…
Eu fico, tu vais partir…
Mas já me sinto feliz
se te ajudei a seguir…
Nada tenho p’ra te dar…
Tu já tens tudo contigo!...
Contudo, podes levar
a certeza de apertar
p’ra sempre, a mão de um amigo (a)


Ano lectivo 2008/2009  (talvez o meu último ano como docente)

Um grande beijinho de felicidades
da professora de Física e Química

Anamar

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

" APENAS ... "

Na vida, os perfis estão definidos.

Há estereótipos de tudo, perfeitamente alicerçados ...
É esperável que "mãe" seja isto, "avó" seja aquilo, "filho" tenha outro estatuto, "indivíduo socialmente enquadrado" obedeça a determinado figurino ... é espectável que - tendo-se responsabilidades profissionais - as mesmas se honrem, e não se desvie um milímetro do considerado "lógico" e "obrigatório" ... é "obrigatório que se crie e se mantenha um determinado "boneco", sempre de acordo com o que está na cabeça das pessoas, da sociedade, do Mundo.
Quem desvia, é marginal, é "outsider", é desenquadrado.

E logo aí, leva com uma carga emocional em cima, profundamente negativa.
Se não o for pelos juízos de valor que sobre esse indivíduo caem ( o que seria o de menos ), sê-lo-á pela culpabilização que a sociedade lhe infere, pelo facto de ser diferente, ou digamos, não conseguir ser igual.
Como sempre, ser igual aos iguais, não criar conflito, ser cinzento, ser "flat", ser "discreto" na forma como se pauta, não confrontar ... dá muito menos trabalho, é sempre mais cómodo, provocaria menor desgaste.
A droga, é que nem sempre se consegue, e nem sequer é por teimosia ou incoerência ... É porque é assim ... somos assim ... funcionamos imperfeitamente assim !!!

Eu tenho muito essa questão, a agitar-me turbulentamente os neurónios, sempre, e a apertar-me o coração ... As pessoas nem imaginam quanto !

Eu sou filha, sou mãe, sou avó.
Eu tive uma vida extremamente castradora, não que o fosse intencionalmente para me infligir danos, mas o que é facto, é que infligiu, e muito !

Fui filha única de pais "velhos" (  trinta e quarenta e oito anos ) , vivi numa época em que se vivia apenas e só, o que nos deixavam viver, em que se aceitava porque não havia como discordar, em que a dialéctica ou sequer o diálogo entre pais e filhos, não existia.
Era assim ... os de hoje não entendem, nem podem, claro .  Os da mesma geração que eu, conhecem-no claramente.
Sempre fui rebelde ;  sempre lutei por "espaço", pelo "meu espaço", e dificilmente me conseguiram "encarneirar" em rebanho.
Fui por isso, sempre ovelha fora do redil, quando e como podia ...
Contudo, repito, este "poder" era extremamente relativo e limitado ainda assim ...

Casei era uma criança ; tinha na altura dezanove anos e uma mão cheia de ilusões.
Penso que acreditei que ganharia com isso, um estatuto de autonomia e de posse do meu próprio destino.
Apenas então, o meu destino estava obviamente cruzado com outro, e se não os mesmos, outros "figurinos" se desenharam ...
Era uma mulher casada, com família constituída, com uma célula familiar que deveria ser convencional,  "calminha", seguindo os trilhos ditos normais e inerentes ao que se desejava : trabalhar, ser dona de casa, ter filhos, eventualmente netos, ser filha dedicada ( porque única, de pais a envelhecer a olhos vistos ), ser uma boa ou de preferência excepcional profissional, ter dedicação à casa, ou melhor, ao "lar", como estaria destinado ...

E fui indo ... fui indo, de facto !

Se fizesse um gráfico da minha vida, pareceria o registo electrocardiográfico de um doente acabado de morrer ... uma linha recta, sem picos ou depressões ... o registo do mar na maré baixa ... a ausência de brisa num dia irrespirável de calor !

E fui indo ... fui indo, de facto ... pautando-me o melhor que podia e conseguia, pelo que de mim se exigia, não me desviando da margem do riacho que estava escolhido para a minha vida !

E o tempo passou ... aliás, passou tempo demais !

Criei filhas, trabalhei ( fui considerada e reconhecida pelos meus pares e por quem de mim dependia ), fui uma "boa filha", como era "obrigação" e "justo" que fosse, fui esposa, ( novamente de acordo com os arquétipos estabelecidos ), construí e decorei casas ( lindas, mas sem alma ... carregadas de mim em cada centímetro quadrado ... Contudo impessoais, por frias, demasiado "arrumadas", demasiado "convencionais", porque sem Vida ... Aquela vida que, quando vivida, "bagunça", desarruma, grita, agita ... enche de choros e de gargalhadas os lares onde se faz ... ) !
Enfim, tudo, tudo direitinho, o melhor possível, o melhor que fui capaz !

E eu, como a "Bela Adormecida" das histórias da minha infância ... a dormir na torre do castelo ... sem perturbações.
Até um dia ... um dia em que, mesmo sem príncipe, acordei.
Acordei, porque aquele sono profundo já havia "virado" pesadelo, e os pesadelos fazem-nos normalmente acordar.

Abri as janelas, sacudi o mofo, olhei o céu cá fora e o sol que espreitava, e decidi que de "masmorra de alma", tinha que chegasse ...
Nesse dia, a minha vida mudou. E comecei a aprender a viver ...

Muito complicado ... tudo muito complicado.
Como uma criança nos trambolhões dos primeiros passos, como uma criança que se embrulha nos próprios pés ...
Muito sofrimento, muita mágoa, muita dor ... mas também a realização de quem galga a montanha a "pulso", sem ajudas ou empurrões.
Criei uma nova existência, uma nova consciência, um novo percurso ... Mais certo, mais errado ?  Não sei ! O meu, simplesmente ...
Muito imperfeito certamente, muito incompleto, a tactear, a tactear todos os dias ...  A errar aqui, para acertar ali ... provavelmente a errar mais, que acertar.
Mas sinto-me uma "resistente" e uma "vencedora"...
Já caí muitas vezes, já sossobrei outras tantas, já chorei lágrimas até secarem, mas também já ri muito ... já sorri às vezes sozinha, para mim mesma, para dentro do meu coração !
Já acreditei e já fui traída ... vezes demais !
Mas sempre continuo a acreditar, e por esse acreditar, já vale a pena !
E sempre espero ... sempre continuo a esperar. Esperar por amanhãs, que tenho fé, ainda me consigam ressarcir de tanto tempo na "torre do castelo" ...

Espero por compreensões que parecem demorar a chegar, espero por entendimentos e aceitações que quase nunca vêm ...
E sou diferente !  Se calhar sou !!  E fujo aos tais parâmetros que ficaram lá para trás, porque cansei de os viver !
Fujo à previsibilidade que de mim esperam, porque se calhar fui previsível tempo demais, durante "uma vida" ...
Defraudo muita gente que não aceita o perfil que tenho hoje, é provável ...  Dentro de mim tenho ânsia de recuperar tempo, de viver fora de horas o que deveria ter vivido nas horas certas ...
Não encaixo em padrões pré-definidos e previstos ... e não consigo encaixar por mais que me esforce !...
Não caibo no "modelito" social e familiar decidido para as mães da minha faixa etária, menos ainda para as avós da minha faixa etária ...   Fazer o quê ??!!...
O meu tempo vive-se de facto em contra-ciclo, vive-se ao arrepio dos anos, talvez de mim mesma ...  Fazer o quê ??!!...

Magoo-me se me confrontam com essa realidade, que parece aberrante ... sinal que não me entendem, sinal que não conhecem o meu sofrimento ...
Porque, na realidade, travo uma luta interior diária, comigo mesma, apesar de tudo ;  uma luta que defronto entre o esperável e o que na realidade sou de facto ... E sempre me sinto obviamente em falta, obviamente omissa, obviamente não cumpridora ...
E às vezes penso : "Que raio de destino o meu, que ( por estar fora do que me exigem e exigiram, antes e depois ), sempre erro, sempre estou em permanente falta ou défice, para com tudo e todos "??!!...

Nem sempre consigo ter as costas "tão largas" que aguente ...
Nem sempre consigo encolher os ombros, e dizer : "Que se f..... a taça" " ... Lamento !!!
Sou como sou ! Se calhar, o cúmulo da imperfeição !
Sou como apenas sei ser ... não como "escolho" ser "ser" !!!...  Lamento !!!

Mas hoje, sou "eu mesma" ... APENAS !!!

Anamar

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

"PARA REFLEXÃO ... "

 
Este meu espaço, é também um espaço de divulgação de 
tudo o que merece ser conhecido.
 
E disso me orgulho muito !
 
Deixo-vos pois, hoje, aqui este fabuloso texto, 
inteiramente à vossa reflexão. 
 
 
MEDINDO AS RIQUEZAS DO SER HUMANO!!!
  
 
Fabuloso texto escrito por Catón, jornalista mexicano.  
  
 
“Tenho a intenção de processar a revista "Fortune", 
porque fui vítima de uma omissão inexplicável. 
Ela publicou uma lista dos homens mais ricos do mundo,
e nesta lista eu não apareço.
 
Aparecem: o sultão de Brunei, os herdeiros de
Sam Walton e Mori Takichiro.  
Incluem personalidades como a rainha Elizabeth 
da Inglaterra, Niarkos Stavros, e os mexicanos Carlos 
Slim e Emilio Azcarraga.
 
Mas eu não sou mencionado na revista.
E eu sou um homem rico, imensamente rico. 
Como não?  Vou mostrar a vocês:
 
Eu tenho vida, que eu recebi não sei porquê, 
e saúde, que conservo  não sei como.
 
Eu tenho uma família, esposa adorável, que ao 
me entregar sua vida me deu o melhor para a minha; 
filhos maravilhosos, dos quais só recebi felicidades; 
e netos com os quais pratico uma nova e boa paternidade.
 
Eu tenho irmãos que são como meus amigos, e amigos 
que são como meus irmãos.
Tenho pessoas que sinceramente me amam, apesar dos 
meus defeitos, e a quem amo apesar dos meus defeitos.
 
Tenho quatro leitores a cada dia para agradecer-lhes 
porque eles lêem o que eu mal escrevo.
 
Eu tenho uma casa, e nela muitos livros (minha esposa 
iria dizer que tenho muitos livros e entre eles uma casa).
 
Eu tenho um pouco do mundo na forma de um jardim, que todo 
o ano me dá maçãs e que iria reduzir ainda mais a presença 
de Adão e Eva no Paraíso.
 
Eu tenho um cachorro que não vai dormir até que eu chegue, 
e que me recebe como se eu fosse o dono dos céus e da terra.
 
Eu tenho olhos que vêem e ouvidos para ouvir, pés para 
andar e mãos que acariciam; 
cérebro que pensa coisas que já ocorreram a outros, 
mas que para mim não haviam ocorrido nunca.
 
Eu sou a herança comum dos homens: alegrias para 
apreciá-las e compaixão para irmanar-me aos irmãos que 
estão sofrendo.
 
E eu tenho fé em Deus que vale para mim amor infinito.
 
Pode haver riquezas maiores do que a minha?
Por que, então, a revista "Fortune" não me colocou na 
lista dos homens mais ricos do planeta? "
 
E você, como se considera? Rico ou pobre?
 
Há pessoas pobres, mas tão pobres, que a única coisa 
que possuem é .....DINHEIRO.
 
Armando Fuentes Aguirre (Catón)
 
Anamar