sábado, 25 de fevereiro de 2012

QUEM NADA À TONA É ... "PATO" !...


O tema do meu post de hoje, versa o tipo de coisa para a qual não tenho jeito, que não gosto, que me violenta de certo modo, para que não sou vocacionada, que me irrita.

Desde sempre vos contei aqui, da indisciplina que caracteriza a minha forma de ser, e a relutância em me sujeitar a directrizes, determinações, seguidismos, se não os achar lógicos, certos, justos.
Embora tenha vivido grande parte da minha vida na época do silêncio, da mordaça, da submissão ... como diz Adriano, " há sempre alguém que resiste ... há sempre alguém que diz não !"... mesmo que o diga sem "estrilho", mesmo que o diga muitas vezes por pequenos / grandes gestos, ou pela assumpção de pequenos / grandes posicionamentos.
Nunca fui activista de nada, porque o não tenho na forma de ser ; mas também nunca me "encarneiraram", como costumo dizer, a massas acéfalas, a turbas meio confusas, a estruturas mais ou menos dúbias, e por isso pouco claras.
Por isso, nunca me filiei em nada que me exigisse submissão "cega", obediência inquestionável, seguidismo cómodo.
Tive o direito de extravasar a minha contestação quando o entendi, como estudante, nos memoráveis anos 60/70, no meu local de trabalho quando o achei necessário, nas relações sociais ( mais ou menos próximas ) como cidadã deste país, nas ruas, quando Abril já tão distante nos presenteou com "valeres a pena", quando Abril abanou até os mais imobilistas e acomodados, quando acendeu chamas em corações que há muito as tinham extinguido.

Não tenho, nunca me reconheci, dons de liderança, sequer de opiniões credíveis ou de peso ; nunca tive capacidade de mobilização ou arregimentação de "massas" ao meu lado ou atrás de mim, nunca tive carisma de líder de coisa nenhuma.
As minhas opiniões valem o que valem, a minha forma de ver as coisas enquadra-se tão simplesmente nos valores e nos princípios pessoais, morais, éticos, que me foram transmitidos de trás e em que acredito ... e evidentemente que tenho marcas bem nítidas, de um país extremamente apolitizado, com cidadãos demasiadamente desinteressados e desinformados, com uma participação feminina na vida pública e política pouco significativa, onde a questão das cotas atribuídas, por exemplo, não foi propriamente uma "quimera" longínqua, perdida no imemorial dos tempos, como sabemos.

Felizmente a realidade que entretanto se foi desenhando, teve capacidade mobilizadora, a sociedade abriu ou escancarou portas também às mulheres deste país, à semelhança da Europa e do Mundo que habitamos ...
A política começou a ver-se também por olhos femininos, o que sempre entendi como uma mais-valia, por beneficiar da adição de factores inerentes à sensibilidade da mulher, contra a exclusiva "musculação", advinda das mentes do tradicionalmente chamado ( ??? ) " sexo forte ".

Bom, mas todos os dias vamos vendo, vamos lendo, vamos ouvindo ...
Querendo ou não, acabamos por ser "mexidos" com isto ou aquilo que acontece ao "nosso lado", ou mais ou menos longe de nós, obviamente.
E foi exactamente o conteúdo de um mail circulante ( denunciador de situações abusivas, clamorosamente injustas, semelhante a muitos outros idênticos, sobre as mais diversas personalidades deste país e do xadrês político-social que nos rodeia, nos governa e nos insere ), que me trouxe a este escrito.

A informação veiculada,  era a tradicional neste contexto ( as reformas, arbitrária, duvidosa e injustamente alcançadas, os montantes absurdos das mesmas, a provocação ostentada frente ao cidadão comum, de benesses atribuídas muitas vezes imeritoriamente a indivíduos,  por ocuparem determinados lugares no jogo governativo ... e etc, etc, etc ...  Tudo idêntico a outros quinhentos mails que já li, e que deito rapidamente fora, encolhendo os ombros, não sei se por raiva, se por impotência, se por decepção ... )
Este mail apoiava-se em fontes informativas credíveis, remetia documentalmente para referenciados Diários da República, como sustentação.

Até aqui tudo bem, ou tudo mal ... Pelo menos, "tudo como dantes" !...

Então o que tanto me abanou, feito máquina de lavar roupa em plena centrifugação, para mexer nos meus "brios", a ponto de vir aqui debitar umas coisas??!!

É que o mail respeitava a uma personagem que embora não conhecendo cabalmente, me tem causado uma impressão favorável, apesar de pertencer a uma tendência política que não é  a "minha praia", se bem que eu não tenha propriamente uma "praia" ...
Eu defendo princípios sociais e não interesses partidários, eu defendo valores que lutem pela dignidade humana, pela justiça entre os seres, pela igualdade de direitos mas também de deveres, pela liberdade de acesso a quaisquer cargos públicos ( desde que haja transparência nesse acesso ), e de integral expressão individual, sem privilégios ou compadrios, por mérito ( porque a igualdade é p'ros burros ... também sei ...)

Assunção Esteves, actual Presidente da Assembleia da República, pelo partido do Governo, reformou-se com 42 anos.
Tem uma pensão mensal ( 14 vezes ao ano ) de € 2315,51 ... um vencimento mensal ( 14 vezes ao ano ) de € 5799,05 ... ajudas de custo mensais ( 14 vezes ao ano ) em média de € 2370,07,  o que a ser verdade o veiculado pelo mail  ( que remete para o Diário da República de 30 de Julho 1998 ), a dita senhora onera o erário público, num total mensal médio de € 12232,07  a que se adiciona viatura oficial BMW a tempo inteiro.

Que raios !...  Isto dispensa comentários !...

Que irritação !...   Até porque acresce que Assunção Esteves é mulher, e acaba de deitar por terra a minha ingenuidade e fé estúpida nas mulheres ... até mesmo nas loiras !!!..

Por que será que de repente me veio à mente Maria de Lourdes Pintasilgo ??!!  :)))

Já vos oiço dizer que nada disto passa de frases feitas ou demagogia barata.
Mas como diz um amigo meu, "uma verdade é feita de muitas verdades " e  eu acrescento  "uma verdadeira indignação deve advir de muitas pequenas / grandes indignações que lhe dêem voz "... sendo que será assim ( se mantivermos esperança ), que se poderá ir mudando / reformando / aperfeiçoando mentalidades, vontades, injustiças, assimetrias ... ilegalidades ... o Mundo !!!

Por outro lado, deparo-me constante e continuamente com a percepção de que continuamos exactamente como estávamos e sempre estivemos, em que os jogos de bastidores, as "protecções" entre amigos ( políticos e de interesses ), os velhinhos "tachos", os "boys" e os menos "boys", as redes, as seitas, as sociedades auto-protegidas, mais ou menos secretas e pouco transparentes, continuam a viabilizar, a facilitar, a abrir portas e a deitar escadas para "topos" ( por vezes bem suspeitos ), aos que "falam a mesma língua " e só a esses, em detrimento de outros possíveis e capazes, que apenas têm o azar de não pertencer a essas "cores", "credos", "interesses", "bastidores" encapotados ...
Continuamos a saber e a sentir, que o tráfico de influências e o "caciquismo" estão aí !!!...

Assim sendo, prosseguimos, e não tenham ilusões ( e eu não quero cair naquele raciocínio desenvolvido na  revista "Sábado" por Pacheco Pereira  " Dizemos que uma coisa é inevitável e deixamos de nos esforçar para a evitar, ou que é irrealista e logo a realidade se impõe sem apelo nem agravo, ou ainda irremediável e deixa de ter sentido procurar remédios " ( sic ) ... parece claro e definitivo, karma, destino ou fado, que cada vez mais, as intenções "tout court" não podem nem devem bastar ... Não chegam para fazer "destes", melhores que os "outros" ... dos "outros" melhores ainda que os "outros" ... e por aí adiante.
Até porque ( lá vou eu buscar a voz do Povo )... "Depois de mim virá, quem de mim, bom fará "!!...
Mas eu não quero ser simplista nem entrar em vulgaridades !

Moral da história : Dois caminhos são possíveis :

Ou alinhamos no esquema, espraiamos os olhos à volta e prospectamos onde se encontrará o auspicioso "furo", o "conhecimento", a "pessoa certa" para a abordagem perfeita, o "trampolim" apetecido ... a qualquer preço, sob quaisquer condições ( mas que nos dará tanto jeito ... ), e mandamos às "urtigas", coerência, valores, princípios, ética, boas intenções ... deixamo-nos de atitudes quixotescas utópicas e estúpidas ( ainda que por sobrevivência ) ...

ou

Continuamos "nhurros" ... "tótós" ... irredutíveis ... a "marrar" nas paredes ... a "topar" nas pedras ... armados em "pintas" não pactuantes, impolutos, incorruptíveis, com a mania "peregrina" de querer deitar a cabeça na almofada e dormirmos tranquilos, de consciência leve ( e acreditamos piamente que temos uma consciência a que devemos respostas ... ), ESTÚPIDOS e PARVOS ( em última análise ) ...... e então nadamos à tona do pântano fedorento onde nos encontramos ...

Mas aí, meus amigos, percamos as peneiras ... porque estamos todos "carecas" de saber que   "Quem nada à tona ... é obviamente PATO " !!!...

                    
Anamar

2 comentários:

Anónimo disse...

Conheco Assuncao Esteves do tempo em que foi casada com um dirigente do PS. Tenho-a na conta de pessoa seria, no entanto o que esta mal e a apatia das pessoas pela cidadania, o que da origem a um sistema injusto nas regalias atribuidas aos cidadaos, como ex juiza do famoso Tribunal Constitucional tem direito a uma reforma desproporcionada, as pessoas em vez de exigirem a alteracao deste tipo de coisas, preferem a maledicencia em relacao a alguma das pessoas que beneficiam em detrimento de outras que sao esquecidas

anamar disse...

Mas também era "bonito", anónimo, desejável e exigível, que sendo a senhora tão séria, partisse dela a tomada de posição adequada, sobre a questão.

Isso, sim ... fazem as pessoas sérias, dignas e justas.
Isto, fez Ramalho Eanes, não há muito tempo atrás...

Eu posso ter direito a uma coisa, mas se achar, em consciência, que talvez não seja justo, adequado, ou moralmente correcto usufruir dela ... talvez a não aceite...

Sabe, a isto chama-se "preço"... Há quem o tenha, e quem não !!!!

Obrigada por ter comentado, embora tardiamente.
Sabe? Do meu blogue, imprimo livros, que formam já um pequeno espólio, que me há-de sobreviver...
Estes comentários, neles, já não ficam registados ... e eu, tenho pena !!!

Um abraço

Anamar