quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

" OS PASSADOS "...

" Nós podemos cortar com o passado ... mas o passado nunca corta connosco" !

Esta frase é repetida insistentemente ao longo do filme "Magnólia", a que assisti ontem, num serão desocupado de terça-feira de Carnaval, sem história.
Dia de dez da noite na cama, frente a um televisor que projecta canais que ainda por cima pagamos e que não vemos, ou vemos pouco ...
Recorre-se a filmes gravados, até o sono nos aconchegar, numa cama dividida com ... a Rita !...

E a frase continuou-me na cabeça madrugada fora, porque efectivamente foi noite de "madrugada fora " ...

De facto, não me venham com teorias ... Por mais bem modelados que sejamos, por mais racionais e objectivos que sejamos, por mais "arrumadas" que tenhamos as cabeças ... ninguém ignora que os nossos passados sempre se estendem aos nossos presentes, marcando-os mais ou menos, condicionando-os mais ou menos .
Claro que aos mais bem "artilhados" e defendidos ... menos ... Aos outros ( aos mais emocionais, emotivos, menos pragmáticos ),  mais ... muito mais !

Já os psicanalistas, os psicoterapeutas, todos esses malabaristas da "magia cerebral", que têm a capacidade de nos remexer nos neurónios, e ainda vasculhar na outra "caixinha" tão nossa, vão buscar invariavelmente aos nossos passados, as razões dos nossos presentes e se calhar dos nossos futuros.

Todos sabemos que "desmontam" as infâncias de frente para trás e de trás para a frente, às vezes despudorada e atrevidamente, dos nossos pontos de vista ... e "zás" ... de repente sai coelho da cartola ...

Isto explica-se por isto, aquilo por aquilo ... aqueloutro não poderia ser de outra forma ...
E encontram-se explicações espantosas para posturas, atitudes, sofrimentos, desajustes que muito e muito tempo não enxergáramos por que os tínhamos.
Não nos lembramos, não o consciencializáramos, mas eles existiam ... estavam lá ... numa curva muito curva, num cotovelo mesmo, do percurso.
Tão cotovelo, que para lá dele, a nossa humilde capacidade cognitiva não chegava, a nossa curta capacidade de descoberta, análise e reflexão, menos ainda ...

Bom, mas esses são os passados que remontam a outras "encarnações".
De ânimo leve, até pareceria que já não faria sentido deixarem-nos ainda "mossa"...

Porque depois, há os passados-presentes, aqueles que pela sua quase contemporaneidade, não conseguimos afastar muito de nós, mesmo por que, cada dia que vivemos, amanhã já é passado vivido, e porque ocorrem numa fase de maturidade, de consciência e reflexão, que nada têm a ver com a nossa infância bem remota.
Esses, povoam-nos de facto parte dos dias, povoam-nos de facto e "assombram-nos" mesmo, "madrugadas fora" ... "aterrorizam-nos" a existência ...
Contra esses, dificilmente e a duras penas reagimos, porque já nos apanharam numa fase da vida, menos passível de sermos modificados, porque tão escorados já estamos em certezas e convicções, tão forjados já estamos em fogos mais ou menos acesos (  nunca extintos contudo ), tão dilacerados ficámos às vezes, em feridas nunca saradas.

Contra esses, travamos diariamente e a todas as horas, lutas a maior parte das vezes  inglórias e extenuantes, porque o que é facto, é que na primeira ameaça que no-los lembre ... e eis-nos de prontidão, com o "exército", os "bombeiros" e a "artilharia pesada" ... enquanto nos "encolhemos", encolhidinhos por medo, por pavor mesmo, por incapacidade reactiva.

E o resultado é que não apostamos mais, ou dificilmente apostamos mais, não acreditamos mais, perdemos fé e esperança, porque o sangue coagulou apenas ... não estancou !

E aí estamos nós destruídos para todo o sempre, porque a personalidade que na verdade somos, se choca contínua e cansativamente com a que deveríamos ser, porque afinal, estamos a viver "presentes" e não esses passados... Estamos a hipotecar presentes, à custa desses passados !
Prosaicamente como diz o povo : "Gato escaldado de água fria tem medo" e o facto é que é exactamente assim ...

E a luta interior travada entre o racional e o que o não é, desgasta, desgasta, desgasta ...
Desgasta e "mata", porque realmente não nos reabilitamos nunca, para nos "desarmarmos" perante a Vida e perante terceiros.
Portanto sofremos por três vezes ... antes, durante e depois, sendo que nada nem ninguém, teria tido o direito de nos formatar, de nos adulterar, de nos aniquilar a possibilidade de defesa e reacção ...

Um ser acossado, assustado, permanentemente em vigília ... é um ser sem paz, sem descanso, sem FELICIDADE !...

Anamar

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