domingo, 26 de fevereiro de 2012

" EN PASSANT " - O gato preto



Agora, além da minha gaivota que bem se " borrifa " para mim em dias de céu azul e sol desanuviado, herdei um gato preto dos terraços das traseiras ...
Um gato preto em que, de claro só lhe luzem os olhões, duas bolas luminosas que distingo perfeitamente da altura de sete andares.

O gato preto partilha comigo alguns privilégios.
Gosta de se deitar sonhador, ao sol de Inverno, enquanto ele nos presenteia ( antes da sombra traiçoeira dos edifícios nos remeter para uma escuridão de dar dó !...)
Gosta de comer do meu fiambre, o que implica que a minha compra semanal deva alargar-se, porque partilhar é qualquer coisa que não discuto, sobretudo se for com animais ...
E talvez não goste ... ( eu também não ), da solidão destes sábados e domingos castigadores.

Mas também ... quem pode falar em solidão, se tem uma gaivota e um gato preto ??!!

De resto, tenho depois a meus pés, já vos contei, a panorâmica "emocionante", que vai do betão aos telhados, sem "rei nem roque", a alturas díspares e disposições caóticas.
Felizmente que não "embirram" comigo, já que a minha janela ocupa o cocuruto do prédio, e nada se lhe colocou nem colocará à frente.  Sou portanto uma sortuda !

Tenho também uma araucária que continua a "trepar" por patamares, ano após ano, sempre verde, sempre folhada ... Um plátano despudorado, que se despe sempre e completamente em pleno Inverno, sem preocupações de nudez exibida ... e uma outra arvorezita que o ladeia, e que para ser simpática, também se despe nesta altura.
Estes dois exemplares tornam-se interessantes, daqui sensivelmente a um mês, quando os verdes começam a despontar, e com eles, a passarada começa a acordar-me, aos primeiros raios de sol madrugadores.
Dantes tinha o Palácio da Pena no horizonte, mas fizeram o favor de o ocultar das minhas vistas, com a construção desenfreada.
Resta-me pois, lembrar o local donde ele me "espreitava", e imaginar que por detrás do casario, ele continua lá !...  E a imaginação é gratuita, felizmente !!!...

Depois também tenho pombos ... mas pombos nesta altura do campeonato, são uma praga, como se sabe.
Além de que os considero uns bichos estúpidos ...  Veja-se o sapateado que fazem à frente dos carros, para "virarem" tosta mista, na calçada, segundos depois ...
Portanto, neste meu cenário,
 estão reduzidos a "cartas fora do baralho" !...

Que mais poderei contar-vos aqui desta minha tribuna ?

Que estou "encarrapitada" na máquina de lavar roupa ... que estou a "espremer" o microondas contra a parede ...  E porquê ??
Para ter o sol a banhar-me praticamente de cima a baixo, o que me faz sentir de facto, mulher de sorte !

Há largos anos atrás, quando se colocou a questão da existência de um gato nesta casa, a única condição que a minha vertente de "bruxa" impôs, foi que ... "pois então ... que seja um gato preto "!

Todos os gatos são altivos, personalizados, independentes, livres ...  Mas um gato preto lembra-me uma pantera em tamanho "small", e a pantera é de facto um felídeo que me fascina.
Só que "o Homem põe, e Deus dispõe", e porque nesta casa não se compram animais, apenas se adoptam os que vêm das curvas do destino, e o primeiro "deserdado da sorte" que então surgiu foi o Óscar, aí fiquei eu, com um gato bem branquinho, concedendo algumas manchas apenas bejes ...

O Óscar já partiu, como também sabem.
A Rita, gata / gato remanescente, é o cinzento europeu, marcado a preto, mas ainda assim, cinzento.

Por isso, por todas as razões, não abro mão do meu "enfarruscado" do fiambre, ainda que eu esteja no sétimo e ele no terraço lá em baixo.
É preto, é rafeiro, tem olhos lindos e meigos, namora-me cada vez que me ouve abrir a janela, e o mais importante de tudo ... divide comigo solidões !...

 Anamar

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