terça-feira, 28 de julho de 2009

"AO SOM DE STRAUSS..."



Este fim de tarde hoje, não passa de uma agonia em laranja...

Lá ao fundo o sol já se pôs, e apenas uma poalha entre um azul desmaiado e uma faixa ainda acesa, de ocre pálido, desenha esfingicamente os contornos do casario.

Não há pássaros no céu, os sons começam a esbater-se e o silêncio a imperar por aqui...
Vozes distantes, um cão que ladra...tudo indiviso, tudo aparentemente inerte...

A agonia do sol no horizonte, foi uma agonia também dentro de mim.
O sol amanhã levanta-se, e no outro dia, e no outro...e assim, dia após dia, vida após vida, gentes depois de gentes...

Estive a ouvir música com o Óscar.
Coloquei num gira-discos de prato, um vinil que já não ouvia talvez para mais de cinco anos...Valsas Vienenses...
Eu acho que o Óscar "curte" valsas vienenses...e eu também...

Transportei-me com elas para todos aqueles sítios para onde a memória, sempre à nossa revelia, nos transporta.
Deixei-me ir, simplesmente, impelida por uma indiferença adormentada, como quem se balança num barco parado, pela brisa da tarde.
Quis parar a mente, mas não fui capaz. "Rodei" para trás, "rodei" para a frente, revi e antecipei...

Daqui a dois pores-de-sol o Óscar já cá não está...

Talvez eu oiça Strauss de novo, talvez eu me passeie pelo Danúbio, talvez eu o veja ali aos meus pés, com os ouvidos atentos e os olhos amendoados fixos em mim...

A "casa dos passarinhos" com os pinhais em redor, a liberdade a um salto do muro, as sestas dormidas debaixo das hortenses pelas tardes de Verão...tudo isso pertence a outros pores-de-sol...tudo isso pertence a outra vida, que está quase a extinguir-se...

Anamar

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