terça-feira, 28 de julho de 2009

"TALVEZ VER !... "



Hora da almoço, Avenida de Roma, "Sul-América"...na esplanada.

Aqui perto, o D.Leonor, onde, há eternidades, dei aulas.
Nas mesas, por aqui, almoça-se.
O calor aperta, os chapéus de sol mal mantêm alguma frescura.

Vim até Lisboa tratar de um assunto, aproveitando para ver uma amiga... sem pressas...ao sabor da brisa que corre e hoje é abençoada.
Vim olhando e "vendo" as lojas abertas, as fechadas, as actuais, as "demodées"...porque também as há na Av.de Roma...

Atraquei agora aqui, quase a "cair" na esparguete com frango da mesa ao lado, ou na alheira, vinho e café da mesa de trás.

Os diálogos das empregadas de loja, ou funcionárias de serviços aqui da zona(que parecem ter como ponto de encontro diário esta esplanada), são interessantes...
Dos cozinhados às crianças, às madeixas ou extensões recentes, às férias inevitáveis entre o Algarve e a Costa Alentejana... a conversa de circunstância flui por aqui.

Tudo a um ritmo de modorra, bem mais lento que o fluxo de trânsito circulante dez passos à frente.

Topam-se as relações entre as pessoas...
O parzinho do secundário com as férias grandes acabadas de iniciar, de olhos embevecidos e em bico, num amor de Verão, a entornar ternura, ou se calhar desejo, pelos cantos...

O casal oscilante entre os sessenta dele e os vinte e tais dela, com sotaque a Brasil, toda fresca, desempoeirada, bem "sacudida"...estilo "Cheguei"!!...
Ele com ar entontecido, atoleimado...noutra galáxia!...
Não percebe a "generosidade" da pequena (esbanjadora, de olhos de bolo em balcão de pastelaria), por tudo quanto a rodeia e mexe...
nem percebe que o mancebo solitário que "lê" distraidamente um livro na mesa ao lado, a "come" por entre as folhas...

Há também os autóctones, que vê-se bem que o são...senhoras gordinhas, sem malas nem carteiras na mão, ou sequer ar cuidado. Vêm por aqui, a pequenas necessidades, ou passear o cão em hora de aperto.

E há os casais idosos, que passeiam de braços dados, como manda o "figurino", ao ritmo dos anos, e se calhar ainda, ao ritmo das "avenidas novas" dos anos 50...

E há também o mendigo que mendiga, tentando manter o ar da Av.de Roma (porque até para isso o "status" importa...)
Exibe um ar ainda distinto, traído pela biqueira dos sapatos, que escancara um "sorriso" lixado...
Vendo bem, não sei se será mesmo mendigo, ou já um "filho da crise", que atira as classes sociais de degrau em degrau para baixo...

"Penhalta Novias" na minha frente...
Mas quem quer ser "novia" hoje em dia?? Será que ainda querem??...
Lembro dez anos atrás, quando por aqui me esfalfei com a minha filha, também ela na convicção de que com um lindo vestido, o pacote da felicidade viria completo!...
Todos temos direito às nossas ilusões...

E depois, há os pombos, sempre presentes nesta Lisboa, e os pardalitos que não se ouvem por entre a folhagem, mas que continuam atrevidos e descarados...

E tudo isto foi Lisboa, numa tarde de Julho, em que não me apetece ir para casa, em que não me apetece pensar na vida, não me apetece "sentir" o destino...apenas me apetece olhar...e talvez "ver"!...

Anamar

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