terça-feira, 28 de julho de 2009

"IRÓNICO...OU TALVEZ NÃO..."



Teoricamente a esta hora já estou de férias.
Efectivamente, amanhã é o primeiro dia das ditas, e como já é meia noite dada...tudo perfeito!

O meu quarto, por acaso excessivamente quente tendo como comparação a temperatura do exterior auscultada há pouco, ao ir fechar as janelas da sala maior, ainda me faz sentir mais sufocada, mais cansada, e com um profundo desânimo e vontade de dormir.
Junto de mim, uma chávena de leite e um pacote de biscoitos, que como compulsivamente.
Lá fora...o Óscar...ainda...

Tirando isso, apenas uma "irónica ou talvez não" sensação de fraude, de ludíbrio, de vontade de sumir, como alguém acabado de chegar de uma maratona e está esvaziado do objectivo que o levou a fazê-la, ou alguém que amarinhou uma montanha na esperança de uma paisagem apaziguadora, bela, calma do outro lado...e constata que não é nada disso...

Este ano de trabalho foi madrasto, absoluta e completamente madrasto em termos profissionais, familiares, pessoais...
Uma espécie de cocktail explosivo ou de jantar que esturrou na panela.

Neste momento, e porque os tempos que se me avizinham não são de mar "flat", são sim de grandes decisões, viragens de página, com as inerentes angústias, dúvidas e incertezas, sinto que não estou com "estaleca" para tudo o que por aí vem...
Dou por mim a antecipar angustiadamente situações que teriam o seu tempo, dou por mim a delapidar as "munições" que tão necessárias me virão a ser, a desgastar esforços que precisarei arregimentar... dou por mim sem grande capacidade de reacção positiva a tudo o que experimento, e que neste contexto, obviamente se reveste de tonalidades carregadas...

É como se de dia para dia estivesse a perder alguma da ingenuidade que ainda conservava face à vida, é como se estivesse a deixar fugir-me dos dedos o crer em muita coisa em que acreditei, é como se de repente tivesse sido obrigada a "crescer", e a deixar lá atrás a criança que eu era e que ansiava nunca molestar.

Hoje, sou uma pessoa pior, mais dura e inflexível, se calhar menos generosa e muito mais defendida, menos crédula (por não conseguir mesmo encontrar no que acreditar), mais amarga...talvez brusca e repentinamente envelhecida...

e pergunto-me que é feito da minha capacidade inesgotável de me extasiar perante as coisas, as pessoas, os sentimentos??!!

que é feito do meu poder incondicional de entrega??!!

que é feito do caudal de afecto, sem tamanho, contenção ou medida, que jorrava em torrente incontida se acreditasse que valia a pena??!!

que é feito daquela sensibilidade acutilante que me levava às lágrimas, na emoção duma canção escutada, ou face ao mergulho laranja do sol sobre o mar lá ao fundo, ou ao marulhar leve das águas de um córrego por entre as rochas??!!...

Não sei...de facto não sei!
Sinto-me exaurida e se calhar, aos poucos e poucos fui-me esquecendo de mim pelo caminho...

Irónico......ou talvez não!...

Anamar

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