sábado, 25 de julho de 2009

"POR QUE TEMOS QUE SOBREVIVER AOS NOSSOS BICHOS??..."


Posted by Picasa


Por que é que temos que sobreviver aos nossos animais???

Eu sei que muitas pessoas não vão entender nem ter sensibilidade para perceber do que falo.
Primeiro...se muitas pessoas lessem as merdas que eu escrevo...
Segundo...se muitas pessoas curtissem verdadeiramente animais de estimação. E eu sei que cada vez menos gente, por comodismo, desinteresse ou falta de gosto ou sensibilidade mesmo, o experienciam.

Pois é...hoje, eu estou particularmente vulnerável a este tema.
Primeiro...porque o Óscar, meu gato companheiro de quinze anos da minha atribulada vida, tem pela frente, a curto prazo, a decisão minha (imaginem), de ser abatido.
Logo o Óscar, o gato mais "humano" que conheci...

O Óscar veio p'rà minha mão ainda tinha os olhos azuis do leite da mãe, abandonado que fora, junto com ela e mais quatro irmãos, nos baixos de um prédio...à consideração dos transeuntes...

O Óscar sempre foi uma "peste", desde que se tomou como gente.
Infligiu uma mordidela com direito a pontos, na mão duma ajudante de veterinária incipiente...
"exigiu" a presença de um veterinário-homem, para levar as primeiras vacinas, quando não tinha mais do que quinze centímetros de estatura...
pôs o meu ex-marido a andar de casa para fora (porque detestava animais), até que ele capitulou, para regressar à casa mãe...visto que o Óscar veio p'ra ficar...
odiou a minha filha mais velha, com quem, ao tempo, disputava o mesmo lugar do sofá...e a mim, a quem elegeu como dona, exteriorizava as suas meiguices, muitas e muitas vezes, personalisticamente, com arranhadelas ou mordeduras...
Portanto, tudo como o ser humano mais genuíno...

Tantas vezes lhe lancei impropérios: "Irra, que até a fazeres festas és bruto!!!!"

O Óscar atravessou comigo quinze anos da minha vida, dividindo as alegrias, as ausências, as boas e más disposições, os choros, as angústias, as fraudes...
Dividia e entendia...

Tenho para mim, que quando me olhava e só não me lambia as lágrimas porque nunca se sabia o que "viria" dali...ele me percebia, e à sua moda tentava reconfortar-me.
O Óscar, adoptava miados adequados, num diálogo que os dois cumpliciávamos.
Nunca refilava das minhas "galderices" de fim de semana, nunca tinha ciúmes ou exigia.
Sempre me esperava à porta, quando eu metia a chave e corria a lingueta na fechadura...e logo se "ensarilhava" nas minhas pernas, quase me fazendo cair, numa procura de alguma compensação para tão parcos afectos, às vezes...

O Óscar está muito, muito doente...
e parecendo adivinhar que o tempo de que dispõe lhe está a fugir, reivindica, solicita, mendiga, muitos muitos carinhos... Logo ele, que sempre foi senhor do seu nariz e só "dava" quando muito bem entendia...(daí eu dizer que ele é o gato mais humano que eu conheci...)

E vou ser eu, que terei que decidir dos seus destinos.
Vou ser eu que vou determinar, porquê e quando, o Óscar vai terminar os seus dias entre nós, ou melhor, perto de mim...

Vai haver um destes dias, em que eu vou acordar, e sei que nesse dia preciso, terei de pegar nele ao colo, metê-lo na transportadora (como num qualquer passeio à "casinha dos passarinhos", onde ele foi totalmente livre e feliz, há anos atrás), falar-lhe de mansinho...desta vez sem saber o que dizer-lhe...e sentindo que o estou a trair, levá-lo ao encontro da injecção da paz, levá-lo ao encontro definitivo da separação com a sua casa, o seu companheiro de todos os dias ( a Rita, que não vai perceber nada...), levá-lo até ao sono repousante, nas minhas mãos, dizendo-lhe baixinho, como sempre faço para o acalmar: "está aqui a doninha....já passou..."

Só que nesse dia, o Óscar não voltará para o que era seu, nem sequer para uma dona talvez relapsa e escassa na paciência, na partilha, nos afectos...

E quando penso em quanta generosidade tem a relação de um animal com um ser humano...
e quando a comparo inevitavelmente com a conturbação, a exigência, a insensibilidade, o egoísmo, a traição das relações inter-pares, no domínio dos ditos "racionais e sensíveis"...sinto uma revolta e quase um ódio, que não descrevo...

Desculpem o tema...Como habitualmente, não leiam.
Isto, também não interessa a ninguém! Interessou-me a mim pôr no papel, porque estou profundamente triste, profundamente defraudada...porque a vida me vai tirando tudo...e a relação com um animal nosso, é estritamente particular...muitos o sabem...

Não sei como vai ser...não sei onde vou arranjar coragem...
Uma coisa eu sei: na sua última viagem, eu não falharei ao Óscar.
E ainda que morra por dentro também, vou ter que arranjar as forças necessárias para lhe suster a cabeça, olhar os seus olhos, seguramente confiantes, e aguentar o peso do Mundo, que eu sei que nesse momento vai desabar sobre mim...uma vez mais!!!...

Anamar

4 comentários:

Anónimo disse...

Bonita homenagem!

Eu só vi o Oscar e a Rita uma vez...mas depois do que é escrito aqui parece que conheço o bichano desde sempre. Por que será que os animais nos marcam mais que alguns humanos ditos racionais?!
Os afectos são importantes e deixam saudades...

Coragem...
Um beijinho da tua fã numero UM,
Maria Romã

Anónimo disse...

Olá Ana:
Dá um beijinho ao Óscar.
Se fôr necessário tens de ter a coragem de o matar.
Já tive de fazer isso e sei que é difícil.
Existe todo um teatro de egoísmo e estupidez humana ao redor disto.
QUEM VAI PERCEBER BEM ISSO É O ÓSCAR.
O único crime é quando a gente os mata no coração.

Um beijinho para ti e para o Óscar

Fernando

anamar disse...

Maria Romã
Obrigada pelas tuas palavras...de coração!
Não sei como vai ser...mas será...
Eu defendo a eutanásia desde sempre, nos humanos e nos animais, desde que não tenhamos alternativas.
E é por esse profundo respeito e afecto que lhe devoto, que quero que o Óscar morra com dignidade...pelo menos, tanta quanta ele mostrou ao longo da sua vida...
Um grande beijo
Anamar

anamar disse...

Olá Fernando
Bem-hajas pelas tuas sábias e reconfortantes palavras.
Nem sabes a força que me deste ao dizer duas coisa no teu curto comentário: "Quem vai perceber bem isso é o Óscar" e "o único crime é quando a gente os mata no coração"!...
Isso, de facto jamais acontecerá...ele sempre foi mais UM DE NÓS, aqui por casa.
E quando eu lhe disser ao ouvido, como já disse: "desculpa, meu amigo...faço-o por ti"...o seu ronronar aquieta-me a alma...
Acho que ele entende, e já agora, dar-lhe-ei o teu beijinho, junto com muitos e muitos meus.
Beijo grande
Anamar