sábado, 16 de janeiro de 2010

"PARA ONDE CAMINHAMOS?....."



O  efémero "mata-me"....

Não ignoro que vivemos na era do descartável. Ainda bem não tem saído para o mercado um modelo de qualquer dispositivo, e praticamente já é descartável, porque já o apearam do lugar que ocupava, porque outro o substitui, sempre com vantagem....
Os carros saem dos stands e já desvalorizaram....só porque atravessaram aquela porta....
A informática e o virtual obrigam a reciclagens sobre reciclagens, porque o que se detém , está permanentemente a ser ultrapassado.
Quem se lembra de na geração dos seus pais (já não recuo mais no tempo), se trocar de móveis, por exemplo, não porque os que se têm já estão estragados, mas porque os "media" exibem aos quatro ventos, com a sua brutal agressividade, outros com um design intencionalmente diferente...
As pessoas medem-se pela capacidade de terem uma mente que deslize à velocidade duma montanha russa....por isso alguém, eu diria, dos quarenta para cima já é "cota"....já sofreu desvalorização...
As pessoas trocam-se quase pela cor dos olhos, do cabelo, das medidas modelares...

Os nomes que se impõem, não se impõem muitas vezes pelo valor, conhecimentos, provas seguras dadas ao longo da vida, trabalho feito, experiência assumida....
Não, são antes olhados como figuras quase dinossáuricas,  incómodas!....
Quem respeita Agostinho da Silva, quem se interessa por Pessoa, quem conhece Machado de Assis,  quem se lembra duma Natália Correia, duma Ivone Silva, António Aleixo, Variações, David Mourão Ferreira....Eça de Queirós....cada qual tendo o seu lugar "histórico"?...

Falo do português medianamente culto, se mais não fosse, por viver longe do Portugal profundo.

Essas figuras, uma gota de água num mar, "merecem" quase genericamente epítetos pouco abonatórios...ou simplesmente estão relegados ao esquecimento, para não falar de ignorância....

Tudo figuras descartáveis, com prazos de validade vencidos...
A sociedade só preza o jovem, o belo, o saudável.....todos os outros, podem de facto ir para o "velhão"!!...
E isto está tão interiorizado até determinadas faixas etárias, que os valores de conhecimento, de experiência, de persistência, associados aos mais velhos, em vez de uma mais valia social, é algo que cansa, chateia, desinteressa...é uma "seca"!....

O valor é o que advém do superficial, do imediatismo, do facilitismo.

Ouve-se dizer: nada é permanente, nada é certo, nada é p'ra valer....
O princípio da impermanência defendido pelos budistas, quanto a mim não deve ser interpretado como o está a ser.
O ser humano não deve ser preterido por não ter os dotes ou aptidões relacionáveis com uma faixa etária baixa, mas deve sim, ser valorizado, por tudo a que pode dar continuidade para as gerações futuras, pelas experiências e aprendizado que a vida já lhe proporcionou, pela persistência que mostra, ao continuar a achar que tem ainda direito a um lugar neste Mundo...

Há dias li uma crónica de Mega Ferreira que colocava duma forma interessante, a incompatibilidade do avanço das tecnologias em todas as vertentes, (o que permitiria alongar o tempo de vida dos mortais,  pelo garante dos seus desempenhos biológicos básicos),  numa sociedade, por seu lado, morta para varrê-los p'ra baixo do tapete....pelos "inconvenientes" que acarretariam às gerações produtivas, que essas sim, "merecem" viver....

Claro que o artigo é provocatório e ironizante....
Uma coisa é verdade, já hoje, o tratamento proporcionado a determinadas pessoas já pouco contributivas para o funcionamento social, chega a ser mais agressivo e discriminatório, do que o proporcionado a certos animais...

E assim se caminha para a preservação do nada, a troca é fácil e não deixa muitas "mossas", o esquecimento e a dor do não desejado, facilmente transposta...
A sociedade desumanizada em que se aposta, terá seguramente um preço exorbitante a pagar....
O materialismo, o interesse pessoal, o "dar-se bem" a qualquer custo, é meramente o que fica...Os valores, os afectos, os laços, serão "qualquer coisa", que qualquer dia as pessoas nem sabem que existiu....

Eu "luto" todos os dias pela dignidade do meu "espaço"...
Eu "sacralizo" pequenas coisas que tiveram na minha vida, o seu valor...
Eu quando abandono um local, mesmo de curta permanência, olho-o, recanto a recanto, acreditando na força da memória e do coração, para que o seu registo não perca uma gota do valor que lhe atribuí...
Eu quando amo alguém, a redoma onde arquivo, se for o caso, a força e a pureza desse amor, terá para todo o sempre, o seu lugar reservado no cantinho mais inacessível das minhas recordações....o jardim dos meus tesouros, esse sim, com valor incalculável !...

Quem me ler, pode conotar-me com o "velho do Restelo".......Longe disso!

Defendo a evolução, o avanço, defendo a competitividade saudável, anseio pelo mais e melhor, valorizo muito o esforço....mas que tudo isto tenha como pedra basilar, o respeito pela dignidade, pelos sentimentos, pelo valor que cada um empresta a uma melhoria alargada do ser humano, e o discernimento para ter capacidade de análises sérias e profundas, enjeitando o fácil e superficial !...



Anamar

2 comentários:

Anónimo disse...

O que nos espera?
O esquecimento...passar a borracha com rapidez e eficácia...

beij

Maria Romã

anamar disse...

Olá
Eu diria...fazer as malas e andar...
Beijinho
Anamar