quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

"SAUDADE..."



Sei que hoje preciso escrever...
Só sei isso; sobre o quê, não sei ; porquê...talvez saiba! Aliás, há na minha vida neste momento, tantas coisas por que devia escrever!...
O dia pôs-se a contento. Um céu uniformemente plúmbeo, uma chuva fraca mas constante e gélida, criam de facto um cenário de desalento, que, para quem está desalentada até às entranhas, reforça a necessidade de o fazer.

Penso que vou escrever sobre a saudade, porque a saudade é aquilo que estou de facto a sentir a tomar-me por inteiro....
Saudade de tudo...de pessoas, de animais, de tempos, de épocas e de episódios na minha vida...
A saudade é realmente algo que corrói, silenciosamente, com técnica adequada. Começa desesperante, anuncia-se esfarrapando-nos o coração...impera, e parece dizer-nos que tomou tanto conta de nós, que não há lugar para mais nada....
Depois de se ter instalado e grudado  mesmo bem no nosso coração, amansa, fica dócil., doída, com uma dor que embora já não corte como punhal, é uma dor paleativa que nos deixa inertes, sentida constante e persistentemente, que dilacera na mesma, corta, rasga, como um vidro...

Ampulhetas esvaziam umas a seguir às outras e com elas, o cubo de gelo em que a saudade se foi transformando, vai originando bem cá dentro, uma água tão gelada, mas tão gelada, que tudo à sua volta morre, estiola, perde a vida...

A minha gaivota rasou agora a minha janela. De asas estendidas, recorta-se esfingicamente no cinzento do céu, e aproveita  a aragem que corre e deixa-se ir, aleatoriamente, sem norte destinado,
neste fim de dia anunciado...
Invejo a liberdade com que me acena, a altivez com que exibe o seu voo...Nem ela pode supor quanto!...

A minha vida pautou-se efectivamente por muitas perdas (possivelmente a vida dos outros também...). Logicamente, muitas saudades acumuladas. Foi uma vida romanceada, onde felizmente não houve lugar para cinzentismos ou indiferentismos.
Dirão : "e não teve ganhos também? "
Claro que sim, mas como felizmente ela foi generosamente pintada com todas as cores da paleta do Mestre...quando a saudade, a tal saudade indistinta me amarfanha, me mata, me tolhe as capacidades até de auto-defesa, eu contabilizo, e creio não errar, neste cômputo do deve e do haver, que as cicatrizes das mazelas deixadas, e das que sangram ainda...estão bem à frente, ou seja, as minhas perdas e os meus ganhos estarão profundamente desequilibrados...

E assim se vai indo, umas vezes aceitando, outras, infelizmente, sossobrando...
A VIDA é assim, dizem as pessoas......talvez afinal, eu seja só uma aluna relapsa ou excessivamente exigente!...

Anamar

2 comentários:

Rafael Pereira disse...

Ola Margarida, mais uma vez revi-me nos teus sentimentos e reflexões.
Podes crer que a saudade por vezes é sufocante, tira-nos pedaços de vida. No meu caso a saudade torna-se desespero, torna-se ansiedade, de uma maneira quase incontrolável. Nem esse grande Mestre que tudo cura, que é o Tempo, consegue por vezes amenizar ou fazer esquecer/desaparecer certas vivências, que ficam como uma tatuagem. Ficam para sempre.

anamar disse...

Olá Rafael
Como eu te entendo e como me solidarizo contigo...
O que é um facto é que os pedaços de vida que ela nos rouba...nada nem ninguém os repõe.
Um beijinho para ti
Anamar