terça-feira, 26 de janeiro de 2010

"UMA MÃO CHEIA DE NADA, OUTRA DE COISA NENHUMA..."


Hoje acho que regredi no meu estado psicológico.....
Se avaliarmos pelo número de vezes com que fui ao frigorífico buscar fatias de bolo de chocolate....
Digam-me lá  quem é que depois de uma lasanha bolonhesa, encontraria zonas devolutas no estômago, para enfiar bolo de chocolate sucessivamente??!!

Nem um por de sol que caíu em laranja e arroxeados, tomando tudo o resto, aspecto de fotografia em contra
luz, ou seja, de um sombreado indefinido e fantasmagórico, me animou...

Desde as cinco e meia talvez, estou de pijama, robe e pantufas....está um frio gélido da serra, e já olhei para a cama, eu e a Rita, com ar guloso, cem vezes.
Estou "desconchavada",  inquieta, não consigo falar telefonicamente com os amigos, e por isso não atendo o telefone, estou doída cá pelos interiores, talvez saiba porquê, embora não seja cabível neste espaço, por me ser estritamente particular.
Penso que sofro daquela "síndrome", que calculo que os bébés tenham, que os leva a escancarar as goelas, a fim de que, alguém lhes mude a fralda, alguém lhes dê a chupeta que caíu, alguém lhes dê o leite que a sua fome acusa....ou simplesmente, alguém lhes dê o cólinho de que precisam para que lhes passem as energias em forma de afecto, que os acalme, lhes tire o receio, os faça confiar de novo, lhes diga ao ouvido, aninhando-os : "estou aqui....estou aqui e amo-te"....

Ou então, imagino eu, aquela outra síndrome de sofrimento de gente graúda , na ressaca, na carência duma outra droga...Esta, não o afecto para consigo mesmos....ou talvez o único"afecto" que consigo mesmos possam dividir....rejeitados que estão por todos e até por si próprios.....

Eu hoje estou exactamente assim...estou de ressaca, de ansiedade pungente, tenho um buraco tipo cratera em  carne viva no local daquela droga a que chamam coração....eu hoje rejeitei convites de amigos que sabem quanto eu adoro o mar e ele me tranquiliza, a minha ingratidão é tal que nem o telefone atendo de quem está objectivamente gravemente doente...Mas a solidão deste fim de tarde, com o casario a escurecer-se e a "empirilampar-se" todo, (desculpem o neologismo ; de vez em quando dá-me p'ra isto), a minha gaivota de asas bem esticadas, aproveitando as últimas aragens que ainda não são tempestuosas, deixou-me uma nostalgia que me está a sufocar progressivamente, e que não há drogas de espécie nenhuma, nem placebos com que tente tornar real o ilusório, que me assistam....

Desculpem, eu hoje tinha que vir aqui escrever alguma coisa, porque senão, o nó da gravata psicológica que me está a estrangular há que séculos, ia apertar até ao último sopro que eu conseguisse inspirar...

Anamar

Sem comentários: