segunda-feira, 18 de abril de 2011

"ESTE MUNDO NÃO É PARA VELHOS !!..."

Começo a constatar uma nova realidade que nunca antes havia observado neste país.
À porta dos supermercados, chefes de família, presumo, com um saco de plástico na mão, silenciosamente não pedem, mas mostram  o saco vazio aos que entram, num esgar de desespero.
Mostram assim que não pedem dinheiro, mas alimentos...

Também nos cafés, observo muitos homens válidos, na casa dos quarenta, cinquenta anos, a meio do dia, numa hora em que o expectável seria estarem nos empregos ou em trabalho, ociosamente frente a uma chávena vazia, a lerem o jornal da casa, ou mesmo apenas de olhos perdidos no vácuo.
Outros, nem isso... Estão silenciosamente entristecidos, silenciosamente vazios, silenciosamente sem rumo. Falam sozinhos às vezes...palavras ininteligíveis...

Na mesa à minha frente, um casal jovem, quase crianças eu diria, com aspecto extremamente carenciado, também toma um café, com um recém-nascido num carrinho. Percebi que acabara de sair da maternidade.
Ela, perdera o viço dos verdes anos, da juventude a que tinha direito...Ele, ora em "estado de graça" com aquele filho recém caído nos seus braços, não tardará a consciencializar que deverá ter capacidade de resposta, daqui para a frente, agora que aquele ser saíu do ventre da mãe...

Por que terá de ser a pobreza feia? Não chegaria já ser pobreza?...
Por que se continuam a colocar crianças neste Mundo, exactamente neste Mundo actual, quando os próprios pais nem a si se bastam?...
Até quando aquele casal será casal?...
Até quando aquele casal se manterá unido em torno daquela filha, que não pediu para estar cá?...

A mãe, parida de fresco, um "monstrinho"...
Roupa inadequada (não deverá ter outra provavelmente), cabelo oleoso, aspecto totalmente descuidado, nem um só resquício de alegria no olhar, nem por aquela "trouxinha" pequenina, que agora lhe cabe quase numa mão...
O pai, em fato de treino, tipo "farda" de trabalho...
Levaram o carrinho e foram eles próprios, para a zona de fumadores do café, sem perceberem o "crime" que cometiam.
Foram, porque iam fumar. Sempre se arranja dinheiro para tabaco!!...

Ontem passei a tarde num banco de um hospital civil desta cidade. Fui com a minha mãe, que carecia de exames com carácter de urgência.
A análise sociológica do que nos desfila pela frente nesse ambiente, é arrepiante, é indescritível, é esmagadora, fantasmagórica!...
Os utentes, normalmente pessoas carenciadas, que sempre o foram, são-no mais neste momento, em quantidade e em qualidade.
Os casos humanos de pessoas que "estrebucham" contra a doença, pessoas que sem outros recursos, não têm condições de pagar a "saúde" privilegiada...dói...

O desespero dos que esperam horas intermináveis para que os atendam, para que se lembrem que ali aguardam impacientemente...é intraduzível...
A dor que os assola, aumenta, porque o "abandono" parece abater-se sobre eles e a desesperança potencia o sofrimento.
Não há posição nas cadeiras, não há braços mais, para suporte de cabeças que pesam chumbo, os cheiros de gente humana em putrefacção paralisam... há uma desistência a dominar...

E as horas fazem-se sobre horas...e a tarde faz-se dessas horas...e as chagas que são do corpo, alastram-se até à alma!!!
A pobreza é feia, o sofrimento é feio, este povo está a ficar feio, este país também...o Mundo, horrível !!!...

Fui assaltada pelo nome daquele filme que vi em tempos e que neste momento "me encaixa" na perfeição:

     "ESTE MUNDO NÃO É PARA VELHOS!!!....."

Anamar

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