quinta-feira, 7 de abril de 2011

O "ALTER-EGO"




Revi ontem um clássico da sétima arte: "Instinto fatal", com Michael Douglas e Sharon Stone.

Qual é o homem que não lembra o "célebre" cruzar de pernas da bela Sharon, o que aliás renomou o filme, não tanto pelo conteúdo?!...
"Tá bem"...aceito! A trama também não está mal urdida!...
No fundo trata-se de  um thriller "requintado". Mas não foi essa a razão por que me tocou a campainha do sótão...

Sharon enquadra uma figura polémica, enigmática, com uma personalidade dúbia que tem o poder de baralhar, trapacear, pôr a cabeça à roda...
Ela é e não é...ela parece, mas talvez não seja, ela é um dois em um, encarnando um "alter-ego", que é a pedra de toque no filme, e prendendo os espectadores até ao fim, para que descodifiquem (se forem capazes), quem matou quem, e porquê...

Qual "Belle de Jour" - Catherine - Sharon - alicia os amantes, não se permite ter para com eles nenhum outro sentimento que não seja o físico e o carnal, e com uma frieza e um distanciamento premeditados, numa patologia obsessiva-compulsiva e quase delirante, elimina-os em crimes hediondos...
Ou talvez não...
essa, a duplicidade explorada no filme, no jogo de esconde-esconde feito pelo realizador sobre os espectadores.

Foi Catherine quem cometeu os crimes, foi Roxy, foi Lisa??... Quem, afinal??

É o de menos!!...

Pensei de imediato numa outra película que vi há tempos atrás, nos écrans da capital, com Jodie Foster como protagonista, a qual mereceu a minha análise que deixei registada num post escrito então. Chamava-se ele "A estranha em mim"
Jodie Foster representava sumariamente a figura de uma radialista, com uma vida de inteira normalidade, a qual é sujeita a uma situação traumatizante extrema, que lhe desvia a existência de cento e oitenta graus.
Absoluta e definitivamente marcada, assume posturas em consequência, que ela própria não reconhece.

Quando lhe é perguntado "como se sai de uma situação tão traumatizante", quanto a por si experienciada, ela responde amargamente : "Não se sai!..."
E quando lhe perguntam como é viver depois de tudo, ela  responde que não se vive..."sobrevive-se"!!...

As abordagens que fiz, têm em comum, o desencadear por razões patológicas ou situações de traumatismo físico ou psicológico, de um outro "eu" que provavelmente existirá dentro de cada um de nós, devidamente acorrentado , espartilhado, enquadrado por fronteiras ou comportas.
Uma vez desencadeada a manifestação desse "alter-ego", o indivíduo em causa poderá assumir comportamentos, atitudes, personalidades, posturas, até provavelmente irreversíveis e irreconhecíveis...

Talvez seja por algo deste tipo, que a sabedoria popular diz: "Ninguém diga: desta água não beberei!"...

Eu defendo, e já o disse em círculos próximos, que qualquer pessoa será capaz de qualquer coisa ; tudo depende das circunstâncias, dos antecedentes, do contexto, da vivência por que passou, da "tempestade" a que foi sujeita, em suma, do traumatismo que experimentou ou que lhe infligiram!

Daí em diante esse indivíduo, afinal esse "outro" indivíduo, terá respostas sociais, familiares, profissionais, ininteligíveis ou inesperadas até, numa duplicidade personalística, por todo o conflito interior que o afrontou.
A sua vida não é mais vida, é sobrevida;
Esse indivíduo não se permite restabelecer conexões de emoções ou afectos, por medos, necessidade de defesa ou sobrevivência!
Penso que essa "dupla personalidade" adquirida ou mesmo a assumpção de uma "outra" personalidade, uma vez estabelecida, não serão princípios morais (?), sociais ou outros, que a conseguirão impedir de se manifestar.

Não sou psicóloga, não tenho formação nessa área.
Falo por sensações/percepções. Falo por análise. Falo por conclusão.
Provavelmente sou inconsequente e assustadoramente atrevida!...

Desafio-vos para que opinem....
Se estiver errada, que mo digam. Ficaria grata!!...

Anamar

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