sábado, 16 de abril de 2011

"PÁSCOAS....PÁSCOAS...."



A Páscoa está à porta.
Sempre foi uma época do ano, algo incaracterística para mim.
Mais...uma festividade meio amorfa... 

Exceptuando as Páscoas da minha meninice ( Páscoas de Alentejo, em casa ociosa de avós, como já vos contei... essas sim, com "rituais" a cumprir por ainda ser totalmente "comandada" pelos regimes familiares impostos à época ), as restantes não tinham normalmente nada assinalável.

A maior parte, já lá vão bastantes anos, pautavam-se por férias na Beira Alta, em casa habitualmente cerrada e que demorava alguns dias a tornar-se "habitável".
Penso que essas, apesar de tudo, eram mais Páscoas para as minhas filhas, que em regime escolar interrompido, tinham pela frente as amizades de infância com os intermináveis jogos de cartas, as tardes fora de casa e a despreocupação dos verdes anos.
Eu, tinha outras panelas e outros tachos, algum tempo partilhado com o campo, o ar livre, as flores e os verdes a deitar as primeiras cabeças de fora, com o sol,  e por vezes o calor a destempo e nada de importante.
A "vidinha" de sempre...

Hoje, a Páscoa ainda é mais vazia.

Nem o Alentejo com as recordações mais doces, cheirosas e "quentes" da minha terra ao sul, com os poucos anos que então tinha, com a vida comprida, comprida pela frente...com a fé inabalável de que tudo seria sempre pelo menos tão doce quanto as amêndoas que se comiam...

Também não há mais Páscoas naquela casa que está lá nos campos da Beira, com flores brancas, glicíneas, magnólias, alecrins, alfazemas, plantados por mim e lá deixados, a viver Páscoas esquecidas de uma família que o foi...
Nem "Visita Pascal" de cruz e caldeirinha, de campainha e flores à porta...a convidar os vindouros...

Estou a ficar muito parecida com o meu pai neste tipo de vivências. Ele sempre disse (e repito-me, seguramente), que "os dias são todos iguais...nós é que os inventamos diferentes..."
Deve ser...cada vez mais acredito que a dureza da vida nos conduz a esta indiferença pálida e modorrenta, a esta catalepsia entediante;
Cada vez mais acredito que as cicatrizes que se vão "plantando" nos nossos corações...não têm capacidade nunca para florir de novo.

Fico nostálgica, contudo...
Este raio destes "separadores" que arranjaram para dividir o ano em "fatias", só servem para nos lembrar que mais um ano já foi (ainda ontem era Páscoa...), que menos um ano também já...para cada um de nós...

E que se calhar não haverá lugar a mais Páscoas de "amêndoas" que não as do supermercado, mais Páscoas de alecrins, rosmaninhos, giestas e alfazemas aromáticas, que polvilhem de perfume e cor, os corações mais descoloridos e bafientos que nem o meu...mais Páscoas com esperança de alguma coisa, de qualquer coisa que valha realmente a pena viver!!...

Anamar

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