quinta-feira, 28 de abril de 2011

"UM SONHO SONHADO P'LA METADE !...."

Uma amiga enviou-me um e-mail com a transcrição de um artigo de opinião de Clara Ferreira Alves.

Chamava-se ele "O MAIOR FRACASSO DA DEMOCRACIA PORTUGUESA" e foi publicado no semanário EXPRESSO.
Talvez alguns o tenham lido.

Clara Ferreira Alves não carece obviamente de apresentação, quer como personalidade, mediática que é, quer como jornalista, comentadora política, clara, como o seu próprio nome, contundente, esclarecida, desassombrada, pragmática.

Ela não fala para elites, linguagem hermética, precisando de descodificação. Ao contrário, tem um discurso escorreito, objectivo, esclarecedor.
Depois de a ouvir chamar as coisas pelos nomes, é usual concordar-se com a sua exposição e forma de análise crítica construtiva.

Durante a tarde, e porque a minha mãe se encontra convalescente aqui em casa, para a distrair, liguei o televisor, tentando cativá-la para o programa que passava, e assim, retirá-la da apatia que tem estado a instalar-se-lhe.
o programa era um filme/documentário sobre o 25 de Abril de 74, os acontecimentos que o dominaram...os bastidores da História...

A minha mãe é a tal que quer viver "até ver o país reerguer-se", como vos contei...e ficou "presa" ao écran, apesar do mal-estar que ainda a domina.

Eu, no PC, de costas para o televisor, ia ouvindo, decibéis muito acima do razoável ( o que me deixava os miolos quase fritos ), histórias da História.

Desde o discurso inflamado de então, aos slogans gritados em uníssono por multidões, que eram verdadeiras correntes com elos indissolúveis, às canções/bandeira erguidas por uma só voz, por um só povo, por uma só esperança...de tudo me chegava aos ouvidos.
As figuras carismáticas, rostos da revolução dos cravos, eram os genes de uma nova era que se pretendia de mudança, de fé, de muita esperança!

As cartas estavam finalmente na mesa, o "jogo" começava a fazer-se, mas ninguém, seguramente nesse dia, de todos os que anonimamente se felicitavam nas ruas, sorriam, se abraçavam, numa alucinação colectiva, acreditaria, que trinta e sete anos depois, a revolução de hoje, como lhe ouvi chamar, com bastante propriedade aliás...é a Revolução dos ( Es ) cravos!!!..

E senti dentro de mim, a raiva da criança que acreditou no sonho de alcançar a lua, a raiva da fé gorada nos poderes de Aladino e da sua lâmpada, ou tão só a fraude que se sente dentro do peito, quando demos tudo, mas tudo mesmo, por um sonho ou miragem que pareceu estar ali tão perto, e que afinal, não passou disso mesmo, uma miragem, um sonho sonhado p'la metade!...

Os custos emocionais acarretados para dentro de cada um de nós, acredito serem desmedidos, o fracasso para que fomos arrastados, sem tamanho...

E a "geração do desenrasca", que creio sermos também nós, os mais velhos, confrontados com o curso desta água podre por entre escolhos, faz como eu...fecha o televisor para não chorar!!!....

Anamar

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