terça-feira, 16 de junho de 2020

" MAIS UM DIA SEM HISTÓRIA "



Dia sem história, modorrento e arrastado. Dia daqueles que não levedam, que não levantam, quais claras em castelo sem fôlego.
Ontem, dia de aniversários. Dia destinado a festa, alegria e disposição. Jantar mascarado, naquele ritual fantasmagórico de chegada ao restaurante.  Cumprimentos de longe, de leve, sem compromisso, sem beijos ou abraços.  Resta a bebé, que dorme o sono dos justos sem saber que colo ou que peito a aninha ...
Tudo estranho, eufemisticamente desenhado como jantar de família, porque o calendário mandou ... a vontade não tanto !
Hoje, esbarro em mim própria, embrulho-me nas pernas, por astenia de vontade.   Encalho nas letras que se negam a formar palavras, menos ainda frases, ideias e histórias ...
Desperdiço tempo.  Levo os dias a desperdiçar os dias, neste arrastar de tempo sempre igual.
Tempo engelhado, enrugado, enrodilhado, envelhecido de esperado, tempo cansado de sonhado em vão.  Tempo sem história já !  Maculado do ranço acumulado ou dos sonhos vazios ...
Tempo escrito com histórias reinventadas, para ver se é menos inglória a jornada ...

Mais um dia com o sol a disparar rumo ao horizonte ... com pressa de chegar, porque a travessia de oriente a ocidente, é longa e desesperançosa.  Daqui a pouco é noite !
Já não há histórias que pintem de azul os dias, e de estrelas as noites.
A caminhada é insípida e sinuosa.  Labiríntica e sem rumo, como as estradas no deserto que rumam a lugar nenhum, embora sempre haja um oásis na cabeça de cada homem !
Puro engano ! Atrás de cada duna, há só mais uma duna, e nunca se chega ao fim da eternidade, e as miragens sempre atentam nas esquinas das areias ...

Cansaço.  Canseira.  Saturação.  Tempo inóspito rumo ao Verão, que se abeira sem água que nos dessedente.
As rosas já floresceram.  Os jacarandás pintalgam de lilás e mel as pedras da calçada.  E tudo foi em vão, porque a cidade não se acendeu com a alegria de sempre.
As vozes que nos povoam as noites desertas já não falam do amor embrulhado em laço de fita, as gaivotas que voam por aqui, já perderam o rumo das falésias distantes ...
E só há uma imensa e pesada solidão !...

Anamar

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