quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

" O PIOR É O SILÊNCIO ..."


" A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita, ou sobre a fronte. P'ra que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tem a marca, o nome da besta, ou o número do seu nome " [ ... ]
        Texto do Apocalipse  13:11 - 18..


O Controle Global, na chamada Nova Ordem Mundial ( nwo ), era, ao que parece, algo premonitório,  já  no conteúdo da Bíblia.
Chamava-se-lhe aí, a "marca da besta".

Neste momento, vários são os países que pretendem estabelecer este novo sistema de identificação e controle dos cidadãos ( entre eles está Portugal, já existe na nossa vizinha Espanha ... )
O "biochip" aguardou clandestina e silenciosamente, nas mentes governativas, a melhor altura de deitar a cabeça de fora, de se impor.
O 11 de Setembro de 2001 deu-lhe visibilidade e total legitimidade, porque se poderia, com o seu implante, combater o terrorismo global, pelo rastreio, controle e catalogação de todos os cidadãos.

Numa abordagem superficial e "soft", a sua aplicação traria vantagens do ponto de vista prático ; pela simples passagem do dedo num scanner, teríamos acesso imediato a entrar em casa sem chave, a não precisar usar dinheiro ( não se correndo o risco de assalto ), não se precisaria usar vários cartões, por nele se concentrar toda a informação ...
Seríamos portanto, totalmente monitorizados por satélite.

Mas ... a que preço ???

A que preço trocamos a nossa privacidade, liberdade e consequente dignidade, por uma marca, um "ferrete", como no gado ou nos animais domésticos ??!!
Os animais são catalogados com o biochip ... e nós ... seremos os próximos a ser catalogados, como animais ??!!

Para quê?

Para sermos controlados totalmente 24 sobre 24 horas, via satélite, localizados, visionados e devassados até na nossa própria mente ??!!...
Ser escutado o nosso pensamento ??!!... ( Um Instituto de Pesquisas, concluiu que palavras subvocalizadas, formam padrões reconhecíveis ao EEG, passíveis de serem lidos por um computador ).
Com que direito ele pode ser obrigatório, sendo, quem o recusar, socialmente excluído??!!...
Que legitimidade têm os governos, por nós eleitos, para no-lo impor ??!!...

Aligeirando a questão, pegando-a numa vertente humorística, podemos sempre pensar que a sociedade de consumo em que vivemos, de tudo fará, de todo o tipo de artimanhas e aliciamentos deitará mão, para "formatar" os espíritos ...
Assim, as mulheres poderão preferir colocá-lo na testa, na zona do chacra frontal ( o terceiro olho ), bem ao estilo das jóias semi-preciosas exibidas pelas indianas ...
Os homens, como tatuagens ou piercings ...
Os jovens, sempre pioneiros e adeptos das revoluções e inovações, achá-lo-ão suficientemente "fixe" e "cool" ...
Os ladrões, em vez de dizerem : "Dê-me a carteira ou as jóias, que isto é um assalto !!"... dirão : "Dê-me o chip ... isto é um assalto !!"...
Vai ser preferível, consequentemente, assaltar o "chip" dos magnatas ... óbvio !
Estamos com o namorado ... o satélite mostra ...
Estamos na casa de banho ... que chatice !!!...         
As "puladinhas de cerca" dos mais ousados ... vão p'ro "galheiro"... ou aumentam ainda mais os divórcios ...
Os filmes pornográficos deixam de ter audiências ! ... Pois se o "satélite" está no quarto de toda a gente, cada 24 horas !!!  :)
Os profs não podem mais fazer manifestações, porque o satélite mostra ao Crato, quem é quem ...
As reuniões maçónicas só podem ocorrer sob coberturas "anti-satélite", e deve falar-se muito baixinho, p'ra que não haja fuga de informação, e também, já agora, p'ra que não se saiba quem as frequenta !!!...
É provável que vá haver chips de cores, tamanhos e formas diversas ... Armani, Gucci, Dolce e Gabana, Louis Vuiton ... mas também, da feira do relógio ou de Carcavelos, claro !!!
Chips com direito a captação de rádio (para os que curtem um som "nice" ), chips com captação dos berros da criança no infantário (para mães mais ansiosas ) ... ou dos concertos do Tony Carreira no Pavilhão Atlântico (p'ra quem curte essa "onda"....ahahah ) !!!...

Enfim, triste vai este Mundo ...

Mas, parando de brincar, e em resumo :

Os chips humanos, encapotados como convém, em obediência a lógicas importantes, princípios louváveis, pseudo-protecção pessoal e social ... a "bem" do indivíduo, da sociedade, do Mundo ...
As liberdades individuais a serem cerceadas, ali, bem debaixo do nosso nariz ...
Um atentado à dignidade, à privacidade, à independência do ser humano ... e nós a encolhermos os ombros...
Tudo a passar-nos à frente, em surdina, mansamente ... para não despertar atenções, reacções, tomadas de consciência ... para não fazer "ondas" ...
tudo a desfilar e a "mexer",  por baixo do pano, atrás da cortina, ao sabor como sempre, dos interesses gigantescos, dos "lobbies" económicos e inalcançáveis que movem o Mundo, em nome de intencionalidades absolutamente suspeitas e duvidosas ...
O "Lobo" mascarado de "Capuchinho" !

Povos sem cultura, desinformados, gente tradicionalmente amorfa, não politizada, analfabeta em esmagadora maioria.
Gente não interventiva, por ignorância, comodismo, incapacidade organizativa e de militância ... por medo !
Um universo ideal para se implementarem medidas que seriam escandalosamente polémicas, ripostadas, inaceitadas ... se delas se tivesse tomado consciência atempadamente, se sobre elas se tivesse reflectido seriamente, se tivessem suscitado análise e consequente debate de "portas abertas", com transparência e clareza.

Isto, se considerarmos o mundo "dito" civilizado ; porque se pensarmos então numa África, na maior parte das vezes submetida a ditadores "sem prazo de validade", submetida a prepotências intoleráveis, utilizada chocantemente como marioneta num xadrês absurdo e desumano ...

se pensarmos numa Ásia, em que os indivíduos há muito deixaram de ser "pessoas" inteiras e plenas de deveres mas também de direitos, e portanto totalmente fragilizados e sem qualquer capacidade reivindicativa ...

se pensarmos então em zonas do planeta, flageladas por guerras sem sentido, manipuladas como sempre pelos interesses do "Grande Mundo",  destruídas por conflitos que visam a sua "submersão" como nações e estados independentes, em prole novamente dos interesses das grandes potências ... verifica-se que afinal ...

tudo são estratégias concertadas de extermínio colectivo de povos, para supremacia de outros, e busca de hegemonia dos seus potentados, a qualquer preço, com qualquer custo, sejam quais forem o dano e o sofrimento infligidos !

Isto leva-nos a recuos memoráveis na nossa História recente, isto lembra acontecimentos, absoluta e intencionalmente programados, de genocídios em massa, isto exibe o lado mais escabroso, obscuro e selvático do Homem ... isto traz à luz do dia, o MONSTRO que o ser humano encerra em si !!!...

Convem a propósito, que lembremos MAIAKOVSKI ... BERTOLD  BRECHT ... MARTIN NIEMÖLLER  , CLÁUDIO HUMBERTO ...

Porque então, talvez se agitem consciências ... talvez se interiorize finalmente, que o pior de tudo ... é o SILÊNCIO !!!...


                                       

Anamar

domingo, 15 de janeiro de 2012

".... só porque eu sou IMPERFEITAMENTE HUMANA !..."

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Finalmente a chuva !...

Dia cinzento, pardacento, "regado" cá e lá com chuva não muito copiosa, a acompanhar algum frio que desta vez não foi embora.
Como conviria, e porque a tradição ainda é o que era no "reino das gaivotas"... a minha, veio visitar-me, bem roçagante à minha janela ... de asas bem esticadas, deixando-se ir, sem nenhum pejo perante a chuva que caía !

Há três dias que não escrevo. A inspiração tem estado falha.
Eu sou assim mesmo ... os "picos", em tudo na minha vida !

Ontem, numa daquelas noites sem sono, sem vontade de televisão, sem concentração para leituras, deu-me para cometer mais uma incoerência , porque, apesar de me "policiar" efectivamente, de procurar linhas de conduta com princípio, meio e fim, de tentar um logicismo de actuações e posturas, de vez em quando "desvio" a agulha, humana que sou ...

Bolas ... até parece que confesso aqui um crime, que o não foi !...

Defendi, ainda há bem pouco tempo neste espaço, defendo e defenderei  a minha "incompatibilidade" formal com as redes sociais, aqui na Net.
Conheço mais ou menos bem o espírito de algumas, mas acho que de uma forma geral, não são muito diversas umas das outras.  O "princípio" é o mesmo, o "leit motiv" também, a frequência das mesmas pelos utentes, também "grosso modo", por iguais razões.
Não tiro, de facto, uma vírgula a isto !...

Mas não me tentem "engrupir" com argumentos de "pílula dourada",  porque não "descem" ...
Tenho um amigo que participava numa, para "conhecer por dentro o universo feminino" ...
"Comovente" e muito louvável, o princípio em si ... a "eficácia" ... outra, claro!
Tive que me rir, porque eu sou a tal, que há muito já não acredita no Pai Natal ...

Que as redes sociais são um espelho espantoso de realidades sociais e humanas, sem qualquer dúvida !...  Que delas se pode em rigor e seriedade, fazer um brilhante estudo antropológico, quiçá uma "brilhante" tese ... é verdade !...
Só que "isso" é uma desculpa de "mau pagador" para quem as quer frequentar e não o quer assumir, porque objectivamente tecem-se opiniões, tiram-se conclusões, fazem-se conjecturas, mas penso que a opinião geral, resulta simplesmente, de uma mera sensibilidade sobre a realidade efectiva, e que não haverá ( pelo menos que eu conheça ), nenhum estudo sério sobre o "poder milagreiro" das novas tecnologias, nessa matéria.

Pois bem, dissertei, dissertei, andei aqui à roda, à roda, para dizer o quê??...

Tão simples quanto isto : voltei a reinscrever-me no Facebook, este sim um espaço absolutamente inexplicável, um fenómeno social de dimensão e alcance esmagadores ( ilógico, diria ), com uma abrangência incontrolável, com um poder insuspeito ...
Já foi alvo de argumento de pelo menos um filme ( que eu saiba ), origem de debates acalorados que movimentam multidões, suscita estudos sérios sobre as suas consequências, efeitos e distorções nas mentes humanas, nas famílias, nas sociedades.

Pelo Facebook têm passado notícias antecipadas, anúncios de acontecimentos tremendos para a humanidade, promoções pessoais, informações das mais variadas e suspeitas origens (de instituições reconhecidas, a grupos anónimos, a seitas ...), incitações a actividades legais mas também ilegais, divulgação de produtos, ideias, pessoas, movimentos ideológicos, conspirações políticas ... denúncia de temas, ainda que sigilosos ( que fogem às malhas de qualquer rede de controle ) ...  verdadeira modelagem de personalidades ( acredito ), veiculação séria ou não, de informação de uma forma geral ( neste momento, até a calendarização das actividades das instituições, se faz, surpreendentemente, pelo Facebook !!! )

Já estivera no FB e já saíra, há mais de um ano atrás.
Não lhe achei particular piada, apesar de para além de colegas, amigos e familiares, espantosamente de tudo lá haver encontrado em profusão.
Tem uma interactividade meio estranha e algo confusa, parece-me.
Às vezes lembra-me as "conversas de aldeia", das comadres no mercado !
É a rede social com a mais genuína tipologia do "diz que diz", que conheço, da mais abismal "trica-larica" !!

Na altura, frequentava pouco. Era a altura do apogeu da "farmville", em que toda a gente andava louca, a plantar hortaliças, criar gado, transaccionar frutas, comprar "terrenos" para ampliar ... adubar, regar, colher ..
Depois, o restaurante ou o café, com a comida a esfriar, a esturrar, a gelar, a apodrecer ... Oh meu Deus ... pareciam os tempos alucinados do "Tamagoshi" ... e eu não era criança nem nada, nessa "afortunada" época !!! ( "Ganda" lacuna na minha formação !!!  :)  )


Encontrei falta de senso em algumas pessoas, encontrei falta de "saber estar" de outras, falta de "desconfiómetro" (como eloquentemente dizem os brasucas ) ... e mandei aquilo "às favas" ... bati a porta e saí !...

Ontem reabri-a.  Não sei se às escâncaras, se a "meia-haste", se para voltar a fechá-la... Ver-se-á !

Foi mais para "ver", que outra coisa ... mais para brincar ( até o António por lá anda, nos seus dez aninhos, com a mãe a controlar-lhe a senha, claro ), mais para ocupar às vezes, horas de "pasmanço" no PC (que raio de vício esta máquina é !!!.... )... mais ... olhem ... mais por incoerência, afinal, porque "bem prega Frei Tomás ...",  porque não consigo ser "direitinha" sempre, apesar de "partir muita pedra" todos os dias, como diz o Jonas ... e no lavar dos cestos ... não sou mais do que simples e IMPERFEITAMENTE HUMANA !!!...

Anamar

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

"OS PRATOS DA BALANÇA ..."


Este início de 2012 trouxe-me aos miolos e à ponta do lápis, temas polémicos, controversos, quentes, que por tudo isso, têm suscitado "discussões" apaixonadas.

Comecei portanto o ano, não sei se mais para filosofices ... se mais para diatribes, sendo que ambas sempre estão interligadas na minha análise de qualquer assunto, na minha escrita.

Mais uma vez, no post de hoje, me vou focalizar nas relações humanas, relações casal, relações homem-mulher.

Constatamos, e é do domínio comum, o aumento de separações, divórcios, rompimentos, quebra de ligações.
Todos sabemos também, que para isso convergem inúmeros e variados vectores, e sabemos ainda que a "aposta", não é hoje o forte do Homem, no seio de uma relação ...
Já abordei esse aspecto, aqui mesmo neste espaço, lá para trás ... Referi a precariedade dos afectos, a fragilidade dos "fios" emocionais que unem as pessoas.
Correndo o risco de proferir uma enormidade, ou estar a ser demasiado simplista, diria que de duas vertentes depende primariamente a relação humana : o acerto no campo afectivo e o acerto no campo sexual.

No verdor dos anos, na idade pujante ( fisicamente falando ), na idade fértil e biologicamente preparada para o acasalamento, eu diria que o que aproxima dois seres, passa muito prioritariamente pela vertente física.
Assim é no ser humano, assim é no reino animal.
Falam muito alto as pulsões sexuais, são determinantes os estímulos visuais, olfactivos, auditivos, globalmente prima o conteúdo físico, destinado pela Natureza, exactamente para atrair o parceiro.

No reino animal, assistimos privilegiadamente, em programas e séries extraordinárias do National Geographic, a alterações, mutações, alindamentos de ambos os sexos, nas espécies, para os rituais de emparelhamento.
Estamos no domínio do irracional, mas no reino racional, no domínio dos humanos, tudo acontece de uma forma paralela.
Ambos os sexos estão no seu expoente máximo de beleza física, força, capacidades ... são possuidores de todos os dons propiciadores da atracção, são dotados dos "truques" naturais, necessários para garantir a aproximação ao sexo oposto.

Óbvio que este será o registo mais comum, penso. Aquele mais primariamente determinado, por desígnios biológicos.
Porque depois, se agora nos reportarmos apenas à espécie humana, cumprido este primeiro "requisito", e tão importante quanto, ou mais, virá a exigência e a satisfação ou não, do acerto afectivo.

O acerto afectivo entre dois seres, passa evidentemente por um acerto intelectual, cultural, social, ético, a que o ser humano é obviamente sensível.
Da conjunção desse conjunto de requisitos, nasce / nascerá a formação de um casal ou par, teoricamente perfeitos ... Idealisticamente sim, do equilíbrio dessas duas componentes.
Tal desiderato, é contudo, mais teórico que prático.
De facto, é extremamente difícil ou improvável, o alcance dessa referida equidade.
Sabemos que há relações  fundamentadas, alicerçadas e sustentadas, mais por uma, ou mais por outra, dessas componentes.

E as pessoas mais ou menos ajustadas ou felizes, caminham nesse equilíbrio algo instável, e com ele se fazem as Vidas !...

Com o avanço dos anos, e com toda a alteração natural e biológica a que o ser humano é sujeito, atravessados diferentes tipos de estádios físicos, emocionais, intelectuais, culturais, familiares, sociais até ... cada indivíduo começa a "centrar-se" ou a exigir para o seu bem estar físico e emocional, que prevaleça uma das componentes em apreço.

A fase do fulgor físico começa a abandonar-nos, começa a não ser tão determinante a uma realização pessoal e particular, começa a valer mais a pena equacionar o viver dentro de outros parâmetros, aqueles que apresentaram afinal a solidez necessária à manutenção do casal , na travessia das tempestades e terramotos impostos pelos anos.

É a altura em que o "casal" enquanto casal, é reflectido, é reavaliado, é posto à prova ... É sopesado ou devê-lo-á ser, o que realmente terá de prevalecer, o que realmente é na verdade importante e definitivo, para a sua manutenção ... o que é genuíno, quais os valores que o são ( enquanto valores ), o que deverá ser colocado nos pratos da balança ...

Espantosamente ou talvez não, a balança irá pender para o lado do bom senso, do amor calmo e firme  ( substituindo a paixão louca, tormentosa e efémera dos primeiros tempos ), para o lado da cumplicidade, das linguagens comuns, dos interesses comuns, dos afectos reais .
Os corações sobressaltam-se menos, a confiança mútua ( determinada pela ternura, pelo afecto e pelo amor ) traz paz aos espíritos ... O "saber" da partilha segura, traz "calor" à alma !...

Privilegia-se portanto, aquilo que eu chamo de consolidação do essencial .

Nesse estádio, pesem embora muitas e possíveis "solicitações" exteriores, as pessoas dão-se conta de que estão mais selectivas,  dão-se conta de que pôr em risco uma relação duradoura, em favor de algumas "emoções" pontuais, não compensa, e de que magoar ou ferir irreversivelmente o seu par, em função talvez de nada ou de muito pouco, se calhar não valerá a pena ...

Atingiu-se portanto, uma maturidade existencial ...

Será esse reforço de laços, essa partilha séria de afectos, essa cumplicidade entre as duas pessoas, essa proximidade cada vez mais aglutinada num só ser ... que, sendo escolhida, tornará o casal, numa simbiose tão perfeita quanto possível, e fará com que trilhem o caminho sobrante, em aconchego de vida ...

Deixado para trás o supérfluo emocional, foram e vão ser companheiros de jornada, para o bem e para o mal, quando os olhos já não enxergarem direito, quando os ouvidos já tiverem endurecido, quando as pernas já claudicarem ... quando já quase só, forem a sombra um do outro, em que se tornaram ...

Anamar                                

sábado, 7 de janeiro de 2012

"BARALHAR ... E VOLTAR A DAR !"...


"Eu não falhei milhares de vezes. Apenas descobri milhares de métodos que não funcionam "! - Thomas Edison

Esta afirmação, proferida pelo genial criador da lâmpada eléctrica, entre mais de duas mil patentes registadas, de inventos por si criados ... chegou-me às mãos.

O artigo que a continha, reflectia sobre  a  necessidade da estimulação da criatividade no Homem, como base do seu  desenvolvimento  integral . Era ainda afirmado pelo autor do artigo que ... (sic) "A criatividade está ao alcance de qualquer ser humano, quando alguém se predispõe a sair da mesmice mental ".

Concordo formalmente com a frase supra-citada, não é sobre ela que pretendo pronunciar-me, mas vou sim pegar na afirmação de Edison, para, "jogando" com ela, a aproveitar para o  espírito do que aqui desejo transmitir ...
Ou seja, vou "desmontar" o edifício mental, no senso em que aqui é utilizado,  recreá-lo e adaptá-lo às minhas "filosofices" ...
Que me perdoe Edison !...

Muitas vezes ao longo da vida, talvez mais ao longo dos últimos anos ( em que mercê do meu percurso, das circunstâncias, da minha forma de estar e sentir ) ... me flagrei  aplicando exactamente o pensamento  de Edison, a mim própria.
Quem falha, não irá falhar sempre ... Se calhar, as falhas não foram mais do que tentativas frustradas de outros tantos acertos ...

A vida evolui, faz-se todos os dias, o ser humano erra e acerta, erra e acerta ...
Dos erros deviam ser tiradas ilações ..... por vezes ocorrem repetições !
Dos erros deviam ser colhidas aprendizagens ... muitas vezes não o são !

Uma coisa é certa ... Que as falhas e os erros deixam marcas, gravam cicatrizes ... indubitavelmente !!!...
Que os insucessos acontecidos, mais derrubam do que erguem, dependerá de cada indivíduo, mas penso que globalmente é verdadeiro !
Que nunca se fica o mesmo depois de cada dita "falha" ( ainda que tenhamos consciência, que ela foi apenas um ensaio de proveta não conclusivo ), também é verdade !

A "droga", é quando as dúvidas inculcadas dentro de nós por cada objectivo não atingido, nos tornam mais defendidos, tão defendidos que nos cerram os portões da alma, nos tornam mais "feios" como seres humanos, porque inevitavelmente inseguros, desconfiados, por medo do sofrimento de reincidências ...
A nossa "disponibilidade" como pessoas, face ao mundo e aos que nos rodeiam, fica diminuída, a nossa capacidade reactiva, fragilizada, ou então  potencialmente agressiva, de uma forma irracional, por vezes mal direccionada ... como um animal acossado !!!
A vulnerabilidade aumenta, o "medo" instala-se, e com "medo", o indivíduo não é isento nas apreciações, nas análises, nas conclusões ...
A liberdade, como consequência, restringe-se ... é cerceada !

E aí temos nós, uma pessoa "amputada" do que de melhor teria   em si , para se dar e dar aos outros.

Depois, desponta sempre um certo sentido de injustiça, uma certa vitimização ... "porquê eu ?!" ... "era necessário ?!"... "não podia !!"...
E esse sentimento incontrolável, muito acima do razoável, do que o bom senso determinaria, do que os outros talvez mereçam, torna-nos intolerantes, insuportáveis ... cansativos ...

Só que a "semente", boa ou má, uma vez caída na terra, germina, pode tornar-se erva daninha, pode proliferar feito "praga", pode secar ... matar tudo à sua volta !
Nessa altura, como sabemos, não há volta a dar ... e o único remédio eficaz, é arrancá-la pela raiz, para que dela nunca mais brote uma só folha verde!!!

E dessa forma radical, esse indivíduo definitivamente ficará fechado a novos horizontes, a novas esperanças, a novas tentativas ... tal como essa planta que morreu no pé !!!

Anamar

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

"ANJO E DEMÓNIO ..."

"Anjo e demónio e ... que culpa tenho eu disso??!!

Ora bem, o meu último post tocou um assunto assaz sensível e polémico, pareceu-me, que levou às mais variadas e interessantes tomadas de posição.
Vieram, de várias procedências, algumas pessoas à liça, defendendo convictamente a "sua dama" ;  o blogue animou-se, ganhou vida, agitou-se, sinal de que as pessoas não estão mortas desse lado !

E se assim o foi, imagino a repercussão que terá nos espíritos, a inquietude do tema que hoje lanço.
É por demais controverso, actual, inesgotável, provocador, lato, demasiado abrangente, e por tudo, despoletará amores e ódios, estou certa.

Venho aqui falar-vos hoje da Internet, vulgo Net entre os utilizadores.

Estamos num tempo de "explosão" diária das grandes mudanças, do avanço inimaginável e imprevisível das tecnologias ...
Pertencemos a uma geração, em que num curto espaço de tempo, vivenciou de tudo, e mais o que nunca imaginaria vivenciar.  De facto, os nossos anos "valem" por séculos e séculos de História lá para trás, e operaram "revoluções" incomparáveis, às por direito chamadas de "revoluções", que conhecemos.

A abordagem do fenómeno Net, querida por uns, desejada por outros, necessária a todos, odiada, útil, espantosamente contundente e questionável, doce e perigosa ( muito perigosa mesmo ), inalcançável e até imperceptível, cuja existência é mesmo de cepticismo total para as gerações mais idosas, é um tema de que apenas aflorarei a "rama", alguns pequenos aspectos, pois não tenho a veleidade de escrever aqui nenhum artigo de fundo, exaustivo e se calhar maçante, sobre o mesmo.
Até porque não teria capacidade para o fazer.

Então, a Net, anjo "e" demónio ( não anjo "ou" demónio, reparem ... ), dirá ela própria ... "e que culpa tenho eu disso"???!!!

Como com tudo o que nos rodeia, sempre desembocamos no mesmo sítio ... Quem consegue estragar, adulterar obviamente tudo, é o Homem, o ser mais aberrante e ignóbil que existe.
O Homem tem tudo nas mãos, e invariavelmente, numa maldição estranha, sempre consegue transformar o ouro em pó !
Começa por ser assim com a "casinha" que habita, pondo-a sistematicamente em risco, e com ela, estupidamente, a sua própria existência, e no caso em apreço, funciona exactamente da mesma forma.
A Net é pois uma "droga", que pode ser bem ou mal administrada ... a maior parte das vezes, mal ... inquinando as mentes e os espíritos, finando até os mais saudáveis !...

Ferramenta absolutamente incrível, espantosa, fabulosa, é ela o sustentáculo indispensável para o desenvolvimento da ciência, com todas as inerências potencialmente positivas para o ser humano.
É uma fonte inesgotável de informação, de cultura, de trocas, de partilhas ...
Ela "passeia-nos" mesmo que não possamos viajar, ela cultiva-nos mesmo que não possamos frequentar museus, assistir a espectáculos, ver exposições, ler bons livros e mesmo jornais ...
Ela recua-nos no tempo e mostra-nos tudo o que vivemos e os que viveram bem antes de nós, com uma riqueza informativa que nos pasma ...
Ela brinda-nos com música ou cinema, sempre que, quando, e com a escolha que desejarmos, ao ritmo de um clique ...
Ela transporta-nos a pedaços do Mundo, a locais infindáveis do planeta, e fora dele também ...
Conduz o nosso sonho, sem sairmos de uma cadeira ...
Actualiza-nos a informação de todo o Globo, em tempo real ... e estimula, e esclarece  a curiosidade de crianças e jovens, sobre temas, assuntos, causas, dúvidas ...
Cria a tal teia de afectos ... os tais "amigos" que não conhecemos, que talvez nunca venhamos a conhecer, numa rede de solidariedade, cumplicidade ... "amizade" ( ? ) !!!...
Ela alicia espantosamente ... ela insinua-se ... ela envolve ... cria dependências, altera ritmos de vida.
Ela faz companhia nas solidões, ela cria "sonhos", enquanto cria pessoas ... gente, do outro lado ...

É o maior "supermercado" que existe !
Nela se divulga e transacciona tudo ... de bens materiais, ideias, conhecimentos ... a seres humanos !
Oferece-se, mostra-se, propõe-se, dá-se, troca-se ... impinge-se e agarra-nos inevitavelmente.
Damos por nós, a cada dia ( chegando a casa ), a correr para o computador, num afã inexplicável e quiçá ridículo, para abrir a "janela ao Mundo" ... e a sentirmo-nos muito mais "confortáveis", porque do outro lado estão pessoas como nós ... com quem empatizamos, de quem divergimos, com quem trocamos ideias, sentimentos, experiências, inquietações, angústias ... com quem, estranha, espantosamente e sem pudor, nos abrimos, abrimos o melhor e também o pior, o mais obscuro, o mais"bas-fond" que nos pertence ; os delírios, as fantasias, as ilusões, mostramos  "um rosto" ... o que queremos ... simplesmente porque do outro lado há gente, exactamente  "sem rosto"...

É extraordinariamente fácil, criarem-se afinidades virtuais, porque no fundo, logo à partida, há afinidades de Vidas ...
Andamos todos por ali, vagueamos todos por ali, provavelmente na busca de algo indefinido, que se calhar é lacuna das nossas vidas ... calor humano, compreensão, alguma identidade, afecto, "presença" ... tudo bem virtual, tudo bem "inexistente",  para preencher o vazio da maior parte de nós mesmos, das vidas impessoais, insatisfatórias, vazias, sós, que as sociedades actuais conseguiram criar .

Manipulam-se espíritos, despertam-se emoções ( e como !... ), provocam-se reacções, lançam-se desafios ... encena-se a peça ... lança-se  "o osso" ... com a sensação de uma absurda "segurança" ...
Entre  nós e as personagens que nos acolhem, há todo um mundo virtual, inultrapassável, se o não quisermos.
Como a mulher que dança no varão ... os espectadores vêem, sentem, ouvem, desejam, alienam-se ( é essa a ideia ) ... mas não tocam, não mexem, não devassam !
Como as sombras chinesas, dançarinas atrás de um pano, assim são as "sombras" que povoam muitas e muitas vezes as nossas madrugadas ...  Elas são difusas, indefinidas, mexem e com isso mexem-nos, não se mostram, e com isso despertam-nos o desejo de que se mostrem na realidade ...

Assim são as redes sociais, as mais variadas que proliferam.
Gente só, à procura de gente só !  Gente com dúvidas e sofrimentos, na ânsia de que alguém lhos resolva !  Gente com carências que vai ao "mercado", como quem escolhe uma couve ou uma alface ... há sempre muitas nas bancas ... das mais diversas qualidades e custos ...
Tudo ali, bem à mão, com uma facilidade estrondosa. Sem responsabilidades, sem restrições, sem compromissos ...
Criam-se relações fáceis, porque não estratificadas em valores ( não é esse o espírito ), embarca-se na aventura com uma ligeireza absurda, coloca-se o estatuto real tantas e tantas vezes em risco, em prol daquela "viagem" doce, prometedora, ilusória, falsa, desejada ( porque "proibida e promíscua" ... mesmo para os espíritos mais liberais ) e aliciante, por isso mesmo !...
Afinal ... aparentemente, nada, ou muito pouco temos a perder !!!...

A "resistência" em certos domínios, não é das principais qualidades do Homem, todos sabemos.  "O fruto proibido, o mais desejado", diz o povo, e como tal, o puritanismo, nesta altura do campeonato, sempre uma falsa questão !
Por isso, concomitantemente, a Net é "anjo" e é "demónio",  fonte  do que de pior o Homem possui em carácter, em desígnio, em mente !
Através dela, solta-se e explora-se o ser vil, ignóbil, abjecto ... o lado selvagem e inescrupuloso, num aproveitamento forçosa e negativamente direccionado!
Ela não contempla idades, estatutos, formações ... Usa e abusa dos mais incautos, dos menos defendidos, dos mais ingénuos ...
De crianças e jovens ... a velhos !!!...

Bom, espero não ter sido excessivamente fastidiosa na abordagem deste tema.
Está lançada a discussão, as cartas estão na mesa ....  Esta, a minha análise ... esta, a minha forma de pensar !!!...

Anamar

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

"QUEM DIRIA ??!!...


O mais surpreendente que a Vida tem, é ser surpreendente !...

Colhe-nos desprevenidos, quando distraídos pensamos ter o mar encapelado bem à nossa frente, ou o deserto de areias paradas a perder de vista.
Estamos  sentados num rochedo a olhar, displicentemente, como quem não quer nada ... e de repente, somos "obrigados" a "ver" ...
Estamos adormentados, acreditando estar a viver ... e de repente, uma aragem fresca varre-nos a alma e desperta-nos ...
Julgamos que a estrada a percorrer não tem mais curvas ou lombas a perturbá-la ... e de repente, temos uma "montanha russa" no nosso percurso, que nem imaginávamos estar ali.
Pensamos e acreditamos que nada já nos pode "apanhar de jeito", e eis-nos caídinhos no maior e mais intrincado "puzzle", difícil e desafiador como são todos os "puzzles" ... E gostamos de o estar !

Uma manhã acordamos, e de repente verificamos que a máquina do tempo operou milagres connosco ... porque nos sentimos adolescentes outra vez ... adolescentes em corpos de adultos ... adolescentes com corações cansados, mas desejosos de renovação ... jovens inconsequentes, de repente, com todas as energias inerentes, reforçadas ...

E sonhos outra vez, e desejos outra vez, e fé outra vez !!!
Mas tudo muito mais saboroso, porque tudo embalado agora, numa "prenda" particular, conferida pela maturidade, pela sabedoria, pela experiência, pela ausência de pressa ...
Também pelas cicatrizes, claro, que estão lá para lembrar, acautelar, fazer a diferença ... mas ainda assim, uma "prenda" ... uma "iguaria", que como todas as iguarias, deverá ser usufruída calmamente, degustada lentamente, sorvida em paz ... com requinte e saber !

A idade madura tira, mas também dá !...

Tira-nos a ligeireza da corrida ... passamos a caminhar devagar, e por isso, temos tempo de olhar as azedas que despertam no pino do Inverno ...
Tira-nos a acuidade auditiva ... mas passamos a saber apreciar sapientemente, música doce e embaladora, o canto dos pássaros, o marulhar das ondas nos rochedos ... o sussurrar da brisa pela serra ...
Diminui-nos a capacidade de ver ...  Não importa ... vemos pior ao longe, à distância ... e passamos a ver muito melhor quem temos ao lado, quem nos abraça ... quem nos beija ...
E muito melhor ainda, a doçura, o carácter, os corações, o interior das almas ! ...
Os horizontes longínquos já os sabemos de cor ...  Estarão lá, no mesmo sítio ...
Basta-nos o nosso horizonte próximo ... o nosso lar, os nossos sonhos, os nossos afectos, amigos e amores ...
Reaprendemos a andar de mãos dadas, sem pressa.
Reaprendemos a falar baixinho, ternamente ao ouvido ...
Aprendemos de novo,  porque havíamos já esquecido, como se olha a mesma paisagem com dois pares de olhos, como se escuta o mesmo silêncio com dois pares de ouvidos ... como nos perdemos e nos achamos, só porque estamos lado a lado ...

E tudo nos é devido, porque já não temos muito tempo ...
E tudo nos é permitido, porque ainda é possível sonhar e acreditar !
O estatuto cómodo que adquirimos, permite-nos rir em gargalhadas, sem sequer nos preocuparmos se é consentâneo, se é lógico, se faz sentido ... Faz seguramente o "nosso sentido" ... e isso é que importa !
Aprendemos finalmente o significado da "cumplicidade" que por toda a vida ouvimos, e com que às vezes acreditávamos ter "topado" já ...   Mentira !... a verdadeira cumplicidade é a que a paz dos anos nos traz ... é a que advém da ausência de sobressaltos, é a que queremos partilhar, voluntariamente com o coração, em verdade ... em autenticidade !
Não somos obrigados a partilhar desafectos ... só porque é necessário ...

E também somos surpreendidos quando choramos, julgando-nos sós ...  E bem ao nosso lado, alguém nos enxuga as lágrimas ...
Achamos que a solidão vai doer, por ser a nossa "bengala" definitiva, a única bengala que a Vida nos facultará já ...  Mas não !  A nossa solidão povoa-se de impaciências de "esperas", de plenitudes de encontros, de pequenas / grandes partilhas doces ... de certezas de linguagens e sentires tão próximos, que se confundem ... numa identidade quase única!!!

Porque na verdade ... o mais surpreendente que a Vida tem, é ser mais e mais surpreendente em cada dia das nossas existências !!!

Anamar                                             

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

"PROVA SUPERADA !... "


2012 estreou-se com um dia cinzento e pardacento, ao contrário dos últimos dias do velhinho 2011, que resolveu despedir-se com sol claro e brilhante.

O dia de hoje traz-me uma sensação de alívio ...
Engraçado que as pessoas dizem ( já o ouvi pelo menos a três pessoas, aqui no café onde, "para variar", tomo o pequeno / grande almoço à hora habitual ) ... "Este já passou" ! - como se se tivesse tratado de uma prova de alto grau de dificuldade, finalmente superada.

É que, queiramos ou não, aqueles momentos que antecedem a meia-noite e a "passagem" em si, são angustiantes, são "apertados", para mim, pelo menos.
É incoerente o que digo, o que racionalmente penso a respeito, o que defendo, e o que na realidade sinto.
Mas sempre é assim ... ano após ano, esteja só ou acompanhada ... o raio do nó sufocante, espeta-se-me aqui dentro, e pronto, as lágrimas vencem comportas e vêm por aí abaixo ...

Neste momento, na vertente familiar, felizmente não tenho razão para muitas angústias. A minha mãe atravessa por ora, um período invejável para os seus quase 91 anos, as minhas filhas, sem outras oscilações ou "sobressaltos", além dos inerentes à vida normal do dia a dia, os pequenitos a crescerem saudáveis e de uma forma feliz.
Mais família próxima, não tenho. É pequeno e curto o meu núcleo "de sangue"...

Eu, bom, eu por aqui vou estando ...

Se quisesse definir o meu estado de espírito neste momento, acho que o não saberia fazer de uma forma objectiva e clara.
Tenho o coração em águas paradas ... como que adormecidas. Estou "acinzentada" de alma, e detesto estar acinzentada de alma .
Por natureza sou uma pessoa de remoinho, de turbilhão, de convulsão . Vivo na intensidade do que me rodeia, e o que me rodeia tem que ser pintado com as cores todas, as primárias e as intermédias.
Não sou acomodada nunca, sempre necessito de renovação, de luta, de dialéctica, de disputa, de metas e objectivos diferentes e variáveis ... mas intensos !

Começo o ano a falar de mim ... "Tudo como dantes, no quartel de Abrantes" ... dirão vocês !

Ontem, meia-noite, uma meia-noite, para mim, absolutamente surreal !
Havia previsto passá-la a dormir, na ausência de gente, de afectos, na opção feita por mim, da presença de amigos ... Não me sentia companhia à altura, na noite.
No meu quarto e no escuro da minha casa, os fantasmas perambulavam, atazanavam-me ;  saltaram das "caves" da minha alma, os "safados", para me darem conta do juízo e da paz ... se é que a havia !

Esgotavam-se os minutos para a meia-noite, e a tal sufocação aumentava-me a olhos vistos, dando-me uma sensação de incomodidade, desconforto e infelicidade atroz.
Decidi que não me tomaria de jeito ...
E, para grandes males, grandes remédios !
Não iria sossobrar à "desgramada" da noite, à solidão e à tristeza que teimava ( Não era bem esta a palavra que quereria usar ... mas aí, teria que apor um "ozinho" no canto da página, e amanhã iria ter a "censura" impiedosa, em cima de mim !... rsrsrs ).

Lembrei então, ter meia garrafa de um "tinto" remanescente do Natal, absolutamente divinal ... tinha passas também do Natal ... tinha bolo-rei que ainda o será até 6 de Janeiro ... tinha o estupor das lágrimas que teimavam em me fazer sentir a "desgraçadinha" da "paróquia" ( e eu não queria ) ... tinha um buraco no meio do peito ... tinha um "negrume" na alma, bem mais intenso que o da noite lá fora ... tinha a Rita no sofá ( para quem inteligentemente nunca há passagem de ano, e a quem eu disse a meia voz : "Rita ... isto está mesmo mau ... estás a ver??!!"   Ela não via, claro, estava no melhor dos seus sonos !!! ) ...

Fui buscar um copo de pé alto, do meu serviço de cristal usado em ocasiões merecedoras, porque um bom vinho não dispensa um cálice ( alguém, entendedor, me ensinou a degustar assim ) ... coloquei Énya em fundo e aguardei no relógio, que os minutos se exaurissem.

E exauriram ... como sempre ... inevitável ... obviamente !!!

A um minuto da meia-noite comecei a comer as doze passas, ao ritmo dos segundos, esboçando mentalmente, o "pacote" dos desejos ... deixando que o nariz e os olhos, pingassem tudo o que tinham direito ( p'ra quê impedi-los ??!! ), comecei a saborear o "entorpecedor de serviço" ( acho que nunca um vinho me soube tão bem ... porque era bom e terapêutico ao mesmo tempo, curativo, se calhar ) ... e assim prossegui ...

Interessante, que o nó da garganta, do peito e da alma, foi aligeirando, a sufocação foi diminuindo.
Sentia-me saída de uma passagem estreita que tivesse desembocado numa estrada larga e franca ... sentia-me como tendo atingido a outra margem de um desfiladeiro, depois de o ter atravessado, periclitantemente, por sobre um tronco ... ou depois de ter ultrapassado um arame sem rede por baixo, em equilíbrio instável !!!  Sentia-me um pouco "renascida", das cinzas que haviam restado de mim !!!...

A mente humana é efectivamente complexa, intrincada, incompreensível muitas vezes ... O "bicho papão" havia-se desvanecido ... o "medo" da alma, que me dominava, abateu-se ... E Énya continuou docemente a embalar-me!...

Acho que depois deste 31 de Dezembro ... nenhum outro poderá "ultrapassá-lo" ou "superá-lo"!...
O "espectro" assustador da minha solidão, foi vencido ( convivi com ela "olhos nos olhos", aceitando-a talvez, como inevitável companheira do resto dos meus dias ), a dor da minha tristeza, dominada ...

Mordi os lábios, enxuguei o rosto, e dei uma "ordem" peremptória para que os "fantasminhas" regressassem, em carácter de urgência, às "caves" de onde haviam saltado horas antes, para dançarem no meu quarto ... E intimei-os a que de lá não saíssem ... NUNCA MAIS !!!

Anamar

sábado, 31 de dezembro de 2011

"O HOMEM DAS ROSAS"


O homem das rosas passava quase sempre.

Cabelo todo branco, olhos miudinhos por detrás de umas lentes finas ... e uma rosa na mão.
O rosto sério e determinado, parecia, tinha uma qualquer luz a inundá-lo, lá isso tinha!

Maribel sempre o via passar, do seu portão.
Quase já fazia parte da sua rotina, vê-lo dobrar a esquina, de passo estugado, como se tivesse urgência de chegar a qualquer lado. Maribel não sabia onde.

Olhava-o atentamente e seguia-o com os olhos, desde que a sua silhueta surgia ao fundo da estrada, até que sumia de novo na outra curva.
Àquela hora, a menina descia o caminho, apoiava o queixo na cancela, e "estendia" os olhos pela estrada.
Sempre o coração lhe dava um saltinho no peito, quando ele uma vez mais não falhava.
Aquele mistério era um segredo que não contava a ninguém, e que começava a iluminar-lhe os dias.
"Aquela hora"  passou a ser  "aquela hora" ... e a inquietude dominava-a, até que o coração repousava fnalmente !

Engraçado aquilo !!!...

Entre a menina e o homem dos cabelos brancos, estava tácita e invisivelmente criado um "laço" ...

Um dia ele sorriu, porque afinal para ele, aquela menina também era um mistério.
Por que sempre estava ela àquela hora, naquele portão, com aquele olhar curioso?!
Por que parecia "segui-lo" desde que se avistavam, até que ele dobrava o caminho?!

O tempo foi passando, os dias e as tardes seguiam o seu percurso.

O homem das rosas tinha sempre pressa de chegar ao destino. Maribel nunca soube qual!
Ele nunca tinha tempo para esboçar mais do que um sorriso ... Ainda assim, era um sorriso triste ... contudo doce ... contudo quente ...
Haviam "atado" as suas vidas, por uma flor ... O homem "cativara" a menina, e a menina "cativara" o homem das rosas ...
E, como no "Pequeno Príncipe", sempre somos responsáveis por quem amamos ... e por isso, se pudesse, a menina ter-lhe-ia oferecido uma rosa do seu jardim, para o fazer sorrir mais, e o "prender" para sempre ao seu portão!

E o tempo continuou passando, os dias e as tardes seguiam o seu percurso.

Para ela, aquele homem tornou-se num "menino" da sua idade, passou a ser o sol da sua rua ... e Maribel também não percebia porquê ... mas sentia!
E o que se sente é que importa !  E mesmo sendo cegos os olhos, é preciso "ver" com o coração !...

Para ele, aquela menina, de queixo esborrachado na cancela, era uma espécie de arco-íris que se acendia no céu ...
Mas, os arco-íris não se prendem ... são livres ... e escondem-se em dias que não são de sol e chuva !
E por isso, ele acreditou que aquela "pintura" no firmamento, que ele criara na sua cabeça, era coisa que nunca alcançaria ...
Não acreditou que pudesse lá chegar, mesmo que fosse nas asas de uma borboleta, porque essas são livres também, e chegam a todos os sítios e a todos os corações, onde os homens não conseguem alcançar ... e por isso ... o "homem das rosas" mudou de caminho ...
Tristemente esqueceu que nos tornamos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos ...

Um dia, ao amanhecer, quando nem os pássaros ainda tinham acordado, Maribel foi até ao portão ... outra vez ...  Sempre continuava esperando, dia após dia, tarde após tarde ...

Bem na sua frente, estava uma rosa branca, branca como a neve que é fria, branca, mas pura, como o coração de uma menina ...
E estranhamente, a rosa conseguiu aquecer-lhe, quase queimar-lhe as mãos e a alma !...

O homem nunca mais voltou ... e por isso, não pôde ver as lágrimas da menina a rolarem por um rosto infantil, mas já desencantadamente adulto ...  Não pôde ver os seus olhos que ficaram tristes, na sua rua sem sol ... porque nunca o percebeu ...  Não pôde ouvir os soluços do seu coração ... não pôde ...

Mas também ... ele tinha sempre pressa, não era ??!!...

Anamar

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

" O SER, O TER E O PARECER"


"Os tempos de vacas magras têm, para o homem sábio, o potencial de o relembrar da abissal diferença entre o SER e o TER.

Os tempos europeus e lusitanos de agora são tempos de pouco TER. Não são, porém, tempos perdidos ou improdutivos para aqueles que se preocupam essencialmente, não com o TER, mas com o SER. São tempos que nos mostram e ensinam a diferença entre o que é verdadeiramente essencial e o que, afinal, é apenas simplesmente confortável. São tempos que nos alertam para a precariedade do TER e que nos mostram a perenidade do SER. Que - com dureza mas também com clareza - nos ensinam que o que possuímos, o que amealhamos, os rendimentos que obtemos, estão à mercê dos desvarios de anónimos financeiros, dos apetites de insaciáveis banqueiros, das debilidades dos políticos a que entregamos os nossos destinos, dos conceitos dos teóricos económicos da moda e do acefalismo cinzento dos burocratas que a todos estes enquadram. Mas são também tempos que nos relembram que o nosso verdadeiro tesouro é aquilo que SOMOS, o que aprendemos, o que melhorámos, as capacidades que adquirimos, a nossa força, tenacidade, confiança em nós, o conjunto das capacidades que laboriosamente adquirimos ao longo da nossa existência e que é com o que cada um verdadeiramente É que resiste e ultrapassa e vence a falta ou diminuição do que TEM, que reconstrói sobre os destroços do que caiu, que avança e deixa para trás o deserto da penúria. Enfim, aquele que se concentra no que É sente menos falta do que não TEM.
O essencial é SER, não TER. Os tempos de crise servem para que o homem sábio o relembre e possa não o esquecer nas épocas de prosperidade.
Todos aqueles que dão ou agora aprendem ou reaprendem a dar primazia ao SER sobre o TER estão mais aptos a, apesar dos pesares, ter aquilo que, sem ironias, sem descabelados otimismos, mas também sem desnecessários pessimismos, a todos desejo: UM FELIZ ANO DE 2012! "

Rui Bandeira

Ainda em jeito de Natal e sem querer assumir-me como moralista de coisa nenhuma, que o não sou, peguei no texto que supracito, escrito brilhantemente pelo maçon da Loja Mestre Affonso Domingues, Rui Bandeira, que me chegou às mãos através de e-mail - e que não é mais do que um post seu, do blogue bastante interessante "A PARTIR PEDRA" - e sobre o qual meditei longamente ...
O post integral, "Exortação de mudança de ano", é obviamente mais extenso ;
dele retirei este excerto adaptado, porque suponho aqui concentradas todas as linhas norteadoras do que deveria ser ( e sobretudo neste momento, com maior relevância ), uma reflexão feita por todos nós.

Essa reflexão / conclusão apresentada, "encaixa" na perfeição, julgo, especialmente na quadra que vivemos, a qual, infelizmente continua a evidenciar as mentalidades do exagero, do supérfluo, a postura do excesso, a sociedade irrazoável do "TER".

Não irei acrescentar nada de novo ao exposto magistralmente por Rui Bandeira.
Creio que na sua exposição está tudo dito.

Curiosamente, esta cultura tão ocidental do "TER" em detrimento do "SER", inculcada nas gentes, nos países, nas sociedades do dito "Primeiro Mundo", situa-se nas antípodas das formas de ser e estar dos povos do oriente e das suas culturas.

Lá, efectivamente, a "corrosão" da sociedade de consumo ainda não fez muitos estragos, e a filosofia de vida prevalecente, baseia-se na essência do ser humano, na sua "herança" interior, no repositório de valores, orientadores do Homem, enquanto ser racional e inteligente.
"Vale-se" pelo que se "é" e não pelo que se "tem" ...
Temos qualidade e excelência, se o recheio das nossas existências for de sustentabilidade, de verdade, de tenacidade, esforço e confiança pessoais nas capacidades individuais!
Deverá / deveria ser essa de facto a "tatuagem genética", da bagagem que efectivamente nos acompanha pela vida, sempre no sentido de um crescimento, valorização e melhoria!

Atrever-me-ia humildemente, a apor ainda uma outra reflexão, paralela a esta, e que se baseia no habitual "TER" e consequente "PARECER".

O ser humano vive com a obsessão avassaladora, de que só é "gente", se o "PARECER" ...
É preciso parecer ter quaisquer graus académicos, é preciso parecer ser rico e bem instalado na vida, a qualquer custo, é preciso vestir bem para que o "invólucro" exterior dê credibilidade à "personagem", é preciso ostentar sinais de riqueza para que se possa frequentar determinados círculos ... é PRECISO, é PRECISO ... é PRECISO!!! ...
O "show-off" a que assistimos diariamente, alicerçado em princípios absolutamente balofos e despidos de consistência, continua portanto, infelizmente a grassar.
Classifica e subdivide pessoas, estratifica-as a partir do "PARECER", o que ainda é mais miserável e ignóbil do que a simples dicotomia SER / TER ; marginaliza, rotula, estigmatiza, pela "aparência" !...

Por fim, atrevo-me apenas a tomar como meu, o último parágrafo de Rui Bandeira, que subscrevo integralmente.
Todos aqueles que tiverem a clarividência e a sabedoria, de privilegiar o "SER", sobre o "TER" e o "PARECER", estarão, do meu / dos nossos pontos de vista, a merecerem os votos de um excelente 2012 !!!...

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

"OUTRA VEZ E SEMPRE" ...



Outra vez e sempre ... o Mestre !

Pessoa, Alberto Caeiro ... "Poema do Menino Jesus" ...o poema mais poema alguma vez escrito!

É Natal, é tempo de "Menino Jesus", mesmo que seja só no nosso imaginário.
Jesus feito menino, como Pessoa o escreveu, como Bethânia o disse, é um Deus menino, muito mais menino que Deus!

É uma criança, igual entre as iguais ... É humano e é divino ...
Brinca, chora, ri, deslumbra-se e faz tropelias ... ouve histórias, adormece e tem sonhos !
Salta, corre, colhe as flores dos Homens e com elas fica igual a eles!

Desperta em nós o desejo de o pegar, de o ninar, de o acarinhar...
Uma criança...simplesmente!!!

Porquê surpreendermo-nos ??!!
Afinal, cada criança é muito mais Deus que muitos Deuses!

Outra vez e sempre
, o Mestre que tudo entendeu, e que num, se fez em muitos, transbordou de magia, de ternura, de sabedoria, como se ele próprio fosse menino outra vez!!!...

Anamar

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

" FIM DE FESTA" ...


Fim de festa, é sempre fim de festa !

Natal será festa familiar, dizem ... Ano Novo é festa para amantes ...

O amor que passa no Natal é um amor de sangue ... o amor que passa no Novo Ano, é um amor físico e sensual.

Natal é mesa cheia, é riso de criançada, é euforia de presentes que se desembrulham numa urgência do conteúdo.
Natal são laços e fitas e gargalhadas e correria.
Natal também são cânticos, luzes  e sinos ... E votos, muitos votos de que para o ano, na mesma mesa, à roda das tradicionais iguarias, se encontrem os mesmos rostos ... ainda!
As crianças, mais crescidas, mais adultas ... menos crianças ... sempre esperamos!
Os adultos, mais velhos, os cabelos mais grisalhos, mais pregueados os rostos, o olhar mais mortiço, por mais um ano de cansaços lhes terem diminuído o fulgor ...
Os corações mais fatigados também, porque afinal, trezentos e sessenta e cinco dias deixam marcas e sinais, muitas vezes indeléveis...

Natal, às vezes é lareira, sobretudo se o for longe do betão e do impessoal anónimo da grande cidade.
Pelo menos por certo, a lareira será mais genuína, mais a sério, mais aquela da nossa infância, das memórias remotas lá de trás ...
Não será lareira a brincar de fogão de sala ou de salamandra ... Não!... É lareira de saltar "faúlhas", de estalidos, de troncos que crepitam, de fumarada chaminé acima ... aquela chaminé, por onde as crianças sempre acreditam chegar o Pai Natal.

Natal também é cansaço de fim de noite, regresso a casa "embrulhado" em gorros, cachecóis, xailes, narizes gelados, "fuminho" a sair das bocas no gélido da madrugada já ... olhinhos a piscar de sono ...
E é Natal de amontoados de caixas, papéis rasgados ( em que os bonecos que os povoam já não riem como antes, quando estavam intactos e arrumadinhos junto à Árvore), laços, fitas, muitas fitas ... nos contentores pelas ruas, a desoras.
E é ainda montureira de outro "lixo" ... o humano ... aquele que continuou nos vãos das escadas, nos esconsos das soleiras das avenidas, como sempre ... para quem a noite é tão fria, ou talvez mais que todas as outras do ano, porque mais vazia, mais triste, mais perturbada de memórias e fantasmas !...
Aqueles para quem afinal, o Natal não compareceu, e só o "sabem" pelo calendário, pelo nó na garganta, pelas lágrimas que secam à nascença, nos olhos ...

Tudo isso é ... foi ... Natal!

E Ano Novo é ... será ... o quê?

Bom., doze badaladas ( que afinal dão todos os dias), nessa noite agigantam-se ...parecem determinar magicamente qualquer coisa ... acenam com promessas, esperanças, creres, sonhos ...
Nesse hiato, em que a contagem decresce de doze a zero ... nesse intervalo em que parece que a vida fica estranhamente suspensa, em que a pressa de engolir as passas e formular os desejos nos atropela, passa a vida, a vida de um ano, à nossa frente ... e cresce a fé, de que a próxima "empreitada" sempre seja melhor, e que seja esse o ano em que a felicidade, a realização e os sonhos, se "compadeçam" finalmente de nós ...
O maldito nó,"estrafega-nos" a garganta, um "engulho" incómodo constrange-nos o estômago ... as lágrimas desatinadas e teimosas, humedecem-nos os olhos ... sem que o permitíssemos.

A lareira vai estar mais iluminada, pelas chamas bruxuleantes e irrequietas, mais quente, porque pelo menos o champanhe também já nos aquece por dentro ;  a sala mais intimista, porque só a luz tépida e envolvente das velas e da fogueira  a  inunda, desenhando nas paredes sombras esfíngicas e dançarinas.

A mesa já não é a grande, corrida, com os lugares todos preenchidos ... mas sim uma pequena, discreta, "bastante" ... para as flutes, a taça das passas, os restantes aperitivos, o bolo-rei que ainda é "rei", alguns chocolates para adoçar ... sobretudo a alma!

As almofadas espalham-se também pelo chão ; as mantinhas de lã, sempre xadrezes ( por que será?), largadas a esmo, hão-de servir lá mais pela madrugada,  para cobrir corpos já descobertos e exaustos, então ...
A música é doce e já não tem sinos, nem é de "Jingle Bells" ...
É calma, envolvente, cúmplice ... sussurrante ... lânguida ... sensual ...
Um bom tinto substituirá o champanhe ( mais mundano ), pela noite dentro ... e terá o condão de despertar um tumulto de emoções, de desejos desbragados e incontidos, de loucuras entorpecentes, de vontades incontroladas de fundir dois corpos num só ... para que assim possam ficar por todo o ano ... por toda a vida ... enquanto o sonho deixar, enquanto valer a pena, enquanto for bom ... enquanto for Sonho !...

Novo Ano é para dois, é para os "amantes" desse ano ...
Nunca se sabe se ainda o serão, ao soar das próximas doze badaladas ...

... porque nas vidas, como nas festas ... fim de festa é sempre fim de festa !!!...

Anamar                                         

domingo, 25 de dezembro de 2011

"NEVOEIRO DE VIDA" ...


Abateu-se um imenso nevoeiro frente à vidraça do seu quarto ...

Estranho ... o dia até estivera ensolarado, embora com aquele sol envergonhado de um Dezembro que preverica.
Anoiteceu ... as últimas aves da tarde recortavam o céu, em busca de abrigo para a noite ... e subitamente, como tempestade que se anuncia, um breu, uma cerração, começou a baixar e fechou o firmamento.

A surpresa "chamou-a" à vidraça ...
Esborrachou bem o nariz contra ela, como se assim conseguisse divisar melhor alguma coisa.
Alguma coisa que Ana não sabia bem o que seria.
Por ora, apenas as folhas de plátano profusamente espalhadas pelo chão outonal, jaziam lá em baixo.

O horizonte tinha ficado curto ... melhor, parecia-lhe não ter mais horizonte à sua frente!...
Deixou perder os olhos por ali ... Nada do que conhecia, e há pouco ali estava, surgia, ainda que fosse difuso ...
Ana sentiu um arrepio percorrer-lhe o corpo, sentiu o sangue a fugir-lhe das veias, teve uma sensação estranha de estupefacção e medo ...
Como um cego que tacteia, ficou de repente perdida, surpreendentemente sem rumo ou destino, como se o chão também tivesse sumido debaixo dos seus pés, com a neblina cerrada.

Desenhou um sol no embaciado do vidro ... desenhou um coração ao lado do sol ... desenhou uma gaivota perto do coração ... e sorriu tristemente, achando-se louca !

Por que fora embora o sol, mesmo envergonhado, neste Dezembro prevericador?
É certo que Dezembro combina mais com chuva, cinza e névoas ... mas disso ela já tinha que chegasse !...
É certo que o coração precisa de luz para ter esperança e sonhar ...
É certo que o sonho precisa de "liberdade" para crescer ...
É certo que as pessoas precisam de horizontes para viver ...

Mas aquela cerração que lhe fechara a tarde, fechara-lhe também a vida ... outra vez !
Sim, porque Ana já vira muito nevoeiro da sua janela ... mais ou menos denso, mais ou menos fechado, mais ou menos desesperançoso !...
Sentia-se como quem tem que saltar de uma ravina e não sabe o que a espera lá em baixo!
Sentia-se como atravessando um tronco, entre duas margens de um desfiladeiro !
Sentia um pavor a crescer-lhe nas entranhas, à medida que as asas da noite a tocavam ...
Havia morte por ali ...percebia-se! Havia dor por ali ... ela sentia-a claramente!

Ficou letárgica, quieta, álgica ... Quase continha a respiração, para não perturbar o silêncio e a penumbra ameaçadores ...
Não se perscrutava, não se sentia ... seguramente, Ana suspendera a Vida entre dois parêntesis!

O sol continuava desenhado, o coração continuava sem luz ... o sonho perdera-se porque a cerração naquele fim de dia de Dezembro, fora implacável! ...
                                                                                         
Anamar

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

"É ASSIM, E PRONTO !..."


Que raio de chatice !... é só o que me apetece dizer ...

Que chatice porque é Natal, é Ano Novo, quero escrever, não sei sobre o quê ... sinto-me desconfortável ... só me ocorrem insanidades ... estou sem paciência para mim e para os outros ... sinto-me gripada ... está sol mas vejo um dia cinzento ... sinto-me só ... sinto-me a baloiçar para cá e para lá sem sair do mesmo sítio, como a cortiça à tona de água ...
Enfim, como se vê, um cardápio de estados de espírito, qual deles o melhor !!!
Pareço os miúdos quando têm aquele choro estúpido com a rabugice do sono, ou os bêbedos quando "encalistam" com uma ideia, e "marram" na mesma direcção tempos infinitos.

Há muito já que não me sentia assim neste marasmo mental, emocional, físico até .
Há tempos que a inércia de vida não me apanhava de jeito ...

Mas estes dias, desta quadra "determinada", têm o condão de "massacrar" mesmo os mais resistentes.
Bem queremos imunizar-nos, bem queremos "fazer de conta", mas népia ...
As pessoas fogem de passá-la sós, como se sós não estivéssemos a maior parte do ano! As pessoas inventam saídas, outros locais, confraternizações...
Para quê?
Afinal o mágico daquela noite, nada tem de mágico além das outras noites todas. 
Porque a vida não pára por milagre, para começar  "a cores" no dia seguinte, porque no outro dia somos exactamente os mesmos, já que o Pai Natal não operou "gaita" de "milagre" nenhum ...
Porque todas as histórias quando viramos aquela página difícil de virar, estão lá, todinhas ... apenas pararam naquela frase, naquela palavra, naquela vírgula ... e a retórica recomeça no dia seguinte igualinha ...

Quase nos espantamos como é que é assim, se parecia que tudo iria ser diferente pelo facto do calendário ter deixado cair aquela folhinha ??!!... ou então ... sei lá ... sou eu que devo ser uma "estúpida" ...
Mas hoje estou assim, cáustica, azeda ... irritada! ...

A passagem de ano, então, pior ainda . Acho que este ano vou mesmo fazer o que sempre ameaço ano após ano ... passá-la a dormir !...
Afinal, meia-noite é boa hora de sono !
Porque se estiver acordada, aí sim, vou mesmo "derrapar" ... inevitavelmente despencar por mim abaixo, sem reabilitação possível !
Aquela "treta" das badaladas, das passas, do champanhe, dos votos, dos sonhos, das recordações, dos anseios e das frustrações ... "mata" qualquer um.
Aí é que me vou mesmo abaixo "das canetas" ... Sinto-me a mais infeliz dos mortais, a mais desgraçada, a mais só ...

Aquela coisa de dar um abraço à almofada, de esvaziar o copo sozinha e de me "martelar" com o programa sempre repetido em quantidade e em qualidade da televisão, a fazer de conta que "ai é tão bom, não é ??!! ... não dá !
As passas que não se comem, não desceriam, os desejos que formularíamos não são credíveis ... nos anseios, verdade verdadinha, não acreditamos ... as recordações do que foram outros 31 de Dezembro, teimam em ser sombras chinesas a mexer por detrás do pano, e a "chatear-nos", mortas e bem mortas, apenas mal enterradas ...

O que resta ??
Sejamos honestos : tomar um comprimidinho para garantir, fazer o saco de água quente, desligar o telemóvel ... desligar simultâneamente os miolos sempre mal "programados" ... e dormir ... dormir até que de manhã, 1 de Janeiro do que estiver para vir e não conhecemos, nos sentimos mais leves, como se tivéssemos superado uma prova de grau de dificuldade cinco, na escala de zero a cinco, claro !...

Bom ... e fico-me por aqui !
Por favor não me venham dizer que isto e que aquilo, que devo isto e que devo aquilo, que faço assim e devia fazer "assado" ... não ... poupem-me desta vez ... porque os cancros não são curáveis com pensos rápidos, e hoje ... como diria a Beta, estou irremediavelmente "cheia de não presta" ...

Fiquem vocês bem ... para mal, chego eu, ok?...

Anamar

domingo, 18 de dezembro de 2011

"SODADE ..."

                                 
Hoje, "saudade" diz-se em crioulo ...

Cesária Évora partiu e deixou-a nas gentes da sua terra, que cantou como ninguém, deixou-a nas gentes de Portugal, também nas gentes do Mundo!
A "diva dos pés descalços", a "rainha da morna" que deu Cabo Verde ao Mundo, foi embora ...

Cabo Verde é lá longe, mas sempre será um pouco perto de nós, os portugueses.
A terra das mornas, dos fados, lunduns, xotes, baiões ou serestas ficou mais pobre, ficou mais triste, sem a sua voz.

Oriunda de uma família muito pobre, de cinco filhos, o seu pai tocava cavaquinho, violão e violino, e cedo ela começou a cantar e a fazer actuações, aos domingos, na praça principal da sua cidade, Mindelo na Ilha de S. Vicente.
Aos dezasseis anos, Cise, como era conhecida, começou a cantar em bares e hotéis.
Com pouco mais de trinta anos, por questões pessoais e financeiras associadas à dificuldade económica e política do seu país ( Cabo Verde acabara de adquirir a independência - 1975 ), deixou de cantar para sustentar a sua família.
Esse período arrastou-se por dez anos, em que Cesária teve inclusive de lutar contra o alcoolismo.
Foram os seus "Dark Years", como dizia ...
Encorajada pelo também cantor e empresário Bana, reiniciou a sua carreira, e os seus êxitos multiplicaram-se.
Aos quarenta e sete anos já atingira o estrelato internacional.
Radicou-se então em Paris, onde em 2009 o presidente Sarkozi a medalhou com a Legião de Honra, entregue pela ministra da Cultura Francesa.
Em Setembro de 2011, com a saúde muito debilitada, cancelou uma série de concertos que havia agendado, e a sua editora anunciou então o fim da sua longa carreira artística.
A 17 de Dezembro, aos setenta anos, Cesária Évora fechou a "porta" ...

Cesária foi mulher da praia, e como ninguém, cantou este "algo" que nenhum outro povo define como nós, os portugueses ... a "saudade" ...essa coisa doce e doída que se tem por alguém ou por alguma coisa que perdemos ...

Somos povo de fado ... mas sobretudo povo de saudade !...

Saudade já se tem mal deixamos um amor, tem-se dos que partiram e não voltam mais, ou só daqueles que nos dizem "até logo" ...
Saudade, experimentamos por um sítio, um chão que foi nosso e ficou no nosso coração ...
Saudade ficou de um céu ou de um mar, que nos embalou e nos aqueceu.
De um olhar comprido, tão comprido que não "desgrudou", e se prendeu no nosso para sempre ...
Saudade de um abraço, de um beijo ou simplesmente de um calor, de um cheiro que nos pertenceu ...
Tem-se da infância feita de pais e família completa, tem-se de amores e amigos ... tem-se de NÓS ... tem-se de VIDA ...

Já temos saudades tuas, Cesária, porque afinal ... "saudade é o amor que fica"!!!...

Anamar

sábado, 17 de dezembro de 2011

VIAGEM AO "OUTRO LADO"...


Um painel com desenhos infantis, rabiscados por homens idosos ...
Pavilhão de Psico-Geriatria do Hospital Psiquiátrico do Telhal .

"A Eva, no consultório do médico, sofre da "Síndrome de Down" ...
A Eva, na escola, sofre de "trissomia vinte e um" ...
A Eva na rua, é obviamente mongolóide ...
A Eva para os amigos ... é simplesmente ... EVA !..."

 Aquele meu meio-irmão foi-me "apresentado", ainda eu não era nascida ...

Doze dias antes do meu nascimento, era ele internado na Casa de Saúde onde "vive" até hoje.
Ele pertence, por azar ou por "sorte", ao outro "mundo" ... ao outro lado. Aquele lado que não conhecemos, que não entendemos ...que é mistério!

Entre esse mundo e nós, o mundo dos "mentalmente sãos" ... há, julgo, uma barreira ténue, uma barreira de "nieblas", indivisa, diáfana, mas que  não nos deixa enxergar o que vai para lá dessa fronteira.

O meu meio-irmão, ainda assim meu irmão de pleno direito ( porque irmão de sangue ), "herdei-o" do primeiro casamento do meu pai.
Não o conheci, não convivi com ele, não o "saboreei" como se faz aos nossos chegados ... não o conheço!

Tenho contudo por ele, um carinho imenso, uma ternura ilimitada, quase um "amor" ... que talvez não me fosse exigível ... e uma comiseração que talvez não devesse ter, mas que se me impõe...

O Vítor nasceu de um casamento "mal-fadado" pelo destino. Durou muito poucos anos.
Da mãe, ele apenas usufruiu de dois, porque a "fraqueza de pulmões" a levou tísica, na flor da idade.
Foi então criado por parentes afastados, porque avós também já não tinha. Aproveitou da boa vontade e alguma disponibilidade de corações, quando lhas queriam proporcionar...
O pai, o nosso "querido" pai, como o refere ainda hoje, labutava pela vida, Alentejo fora, para poder sustentá-lo...

Passados bastantes anos, o meu pai voltou a casar. O Vítor teve finalmente direito a um lar de verdade, a carinho de verdade, a família de verdade...
A doença colheu-o ironicamente, quase logo.
Entrada na adolescência, esquizofrenia diagnosticada, tratamentos violentos e desumanos à altura ... uma Casa de Saúde distante, impessoal e fria à sua espera ...

Nasci eu, doze dias depois ...

Ao longo da minha vida, desde criança, o meu irmão era sinónimo de um mundo estranho, desconfortável, penoso de devassar ... Era sinónimo de sofrimento patente, de "injustiça" gritante, de impotência face ao destino ...
Visitas escassas (vivíamos em Évora e a Casa de Saúde é em Lisboa).
Sem transporte próprio, o ritual desses domingos, passava pela camioneta, passava pela compra da caixa com bolos, e em altura de festas, uma ou umas pequenas lembranças, a propósito.

Depois era a angústia (assustadora para uma criança), de franquear aqueles portões, de atravessar aqueles muros altos, passar portas fechadas por molhos de chaves (que voltavam a fechar-se após as atravessarmos) ... Era o medo por aquelas figuras fantasmagóricas, absolutamente estranhas ( a doença consegue incrivelmente distorcer mentes, mas também corpos), das quais nunca sabemos que reacções esperar... Era o penetrar no mundo dos "loucos", simultâneamente estranho e fascinante ...
Era mergulhar numa prisão que não o era ... mas era ... Prisão de pena perpétua, algemas que tornam reféns quem fica para lá das grades!...
Era a confrontação real e de perto com a situação, eram inevitavelmente as lágrimas da minha mãe, rosto abaixo ... era ela a  dizer-me até hoje : "Nunca te esqueças dele...ele tem o teu sangue ...e só te tem a ti ..."
Coisa lúgubre e "pesada" !!...

Telhal é sinónimo de Natal ... porque sempre o Natal foi inerente ao Telhal ...

E assim, lá fui hoje, com um peso tremendo dentro de mim, pela omissão e fuga por que me pauto ao longo do ano ... com uma raiva por hipocritamente pactuar e sucumbir a datas e quadras calendarizadas, logo eu que me rebelo contra isso ... com uma mágoa e um aperto no coração, como sempre ... com as palavras da minha mãe nos ouvidos, a martelar : "Nunca te esqueças dele ... "

Como poderia?!...

A Pena coroava a Serra, e a Serra envolvia a paisagem ... Sol encoberto, folhas tombadas num Inverno a chegar.
Abandono, solidão... acho que já total e absoluta indiferença ... figuras transparentes ... há muito, mortas ...

Um mundo REAL cá fora à minha espera !!!...

Anamar

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

"PERDEU-SE A NOÇÂO ... "

O meu post de hoje é curto e por isso rápido .
Apenas vos quero passar o meu sentimento de surpresa e indignação, face a algo com que me deparei ...
Passo a expor :

Perdeu-se a noção do ridículo e do conveniente??!!
Esse o meu primeiro raciocínio, com o qual me questionei ...
Essa a conclusão, que me "saltou" das páginas do jornal que lia ao pequeno almoço.
Nele se relatava uma notícia sobre um atropelamento fatal, que vitimou há alguns meses atrás, uma mulher de trinta e três anos e o seu filho de dezassete meses.
O condutor da viatura que esteve na origem do acidente, era um homem de cinquenta e sete anos, que apresentou à altura, uma taxa de álcool no sangue, acima dos valores permitidos por lei.

Até aí tudo bem ... ou tudo mal !

O homem (que não mostrou arrependimento, nem terá tido nenhuma atitude que denotasse qualquer solidariedade ou pesar, perante o sofrimento dos atingidos),  foi agora julgado, condenado a três anos e alguns meses de pena suspensa e ... pasme-se ... a depositar semanalmente um ramo de flores na campa das vítimas !!!! (coisa a que a família das mesmas se opôs) .

Bom, eu pergunto-me : Será que se perdeu a noção do ridículo e do conveniente??!!...
Será que a Justiça portuguesa perdeu o resto do bom senso que devia assistir-lhe??!!...
Uma Justiça que é morosa, muitas vezes ineficiente e inconclusiva, perdeu de vez a "vergonha", e permite-se emitir uma pena deste teor??!!...

Que um réu seja condenado a prestar serviço cívico junto das comunidades e da sociedade em geral, é vulgar, faz sentido, é útil e pedagógico.
Aliás, sou apologista, e penso que muitos outros cidadãos o são também, de que as penas, cada vez mais se direccionem para o aproveitamento dos recursos humanos, daqueles que "vegetam" nas nossas cadeias.
Os reclusos, sendo saudáveis e na maior parte, penso, de uma faixa etária forçosamente produtiva, deveriam ser aproveitados pelo estado, como mão de obra braçal nas inúmeras situações nas quais faltam homens, ou são bem pagos por todos nós.
Na vigilância e ataque a fogos florestais, na construção civil de imóveis do estado, na manutenção dos eixos viários ... sei lá ... tantas outras áreas nas quais poderiam ser úteis, sem se tornarem um peso acrescido no erário público, e portanto nos nossos bolsos ... 

Acresce, que todos sabemos ser o ócio potenciador não só de estados depressivos, mas também do despoletar de ideias maquiavélicas, intenções e estratagemas delineados até à exaustão ( porque há tempo de sobra), a serem postos em prática quando a liberdade for alcançada.
É portanto de interesse, a bem da saúde mental dos próprios reclusos, que os mesmos estejam ocupados, o que lhes torna assim, mais "curto" o tempo de clausura, e também porque o cansaço motivado por corpos que trabalham, não deixa espaços livres para ideias mais problemáticas!

Bom, afastei-me um pouco do "leit motiv" do meu post ... a ridícula e despropositada pena, do meu ponto de vista, aplicada  sem nenhuma eficácia, a alguém que parece ter continuado insensível à dor e ao sofrimento causados ...

Anamar