segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

" FIM DE FESTA" ...


Fim de festa, é sempre fim de festa !

Natal será festa familiar, dizem ... Ano Novo é festa para amantes ...

O amor que passa no Natal é um amor de sangue ... o amor que passa no Novo Ano, é um amor físico e sensual.

Natal é mesa cheia, é riso de criançada, é euforia de presentes que se desembrulham numa urgência do conteúdo.
Natal são laços e fitas e gargalhadas e correria.
Natal também são cânticos, luzes  e sinos ... E votos, muitos votos de que para o ano, na mesma mesa, à roda das tradicionais iguarias, se encontrem os mesmos rostos ... ainda!
As crianças, mais crescidas, mais adultas ... menos crianças ... sempre esperamos!
Os adultos, mais velhos, os cabelos mais grisalhos, mais pregueados os rostos, o olhar mais mortiço, por mais um ano de cansaços lhes terem diminuído o fulgor ...
Os corações mais fatigados também, porque afinal, trezentos e sessenta e cinco dias deixam marcas e sinais, muitas vezes indeléveis...

Natal, às vezes é lareira, sobretudo se o for longe do betão e do impessoal anónimo da grande cidade.
Pelo menos por certo, a lareira será mais genuína, mais a sério, mais aquela da nossa infância, das memórias remotas lá de trás ...
Não será lareira a brincar de fogão de sala ou de salamandra ... Não!... É lareira de saltar "faúlhas", de estalidos, de troncos que crepitam, de fumarada chaminé acima ... aquela chaminé, por onde as crianças sempre acreditam chegar o Pai Natal.

Natal também é cansaço de fim de noite, regresso a casa "embrulhado" em gorros, cachecóis, xailes, narizes gelados, "fuminho" a sair das bocas no gélido da madrugada já ... olhinhos a piscar de sono ...
E é Natal de amontoados de caixas, papéis rasgados ( em que os bonecos que os povoam já não riem como antes, quando estavam intactos e arrumadinhos junto à Árvore), laços, fitas, muitas fitas ... nos contentores pelas ruas, a desoras.
E é ainda montureira de outro "lixo" ... o humano ... aquele que continuou nos vãos das escadas, nos esconsos das soleiras das avenidas, como sempre ... para quem a noite é tão fria, ou talvez mais que todas as outras do ano, porque mais vazia, mais triste, mais perturbada de memórias e fantasmas !...
Aqueles para quem afinal, o Natal não compareceu, e só o "sabem" pelo calendário, pelo nó na garganta, pelas lágrimas que secam à nascença, nos olhos ...

Tudo isso é ... foi ... Natal!

E Ano Novo é ... será ... o quê?

Bom., doze badaladas ( que afinal dão todos os dias), nessa noite agigantam-se ...parecem determinar magicamente qualquer coisa ... acenam com promessas, esperanças, creres, sonhos ...
Nesse hiato, em que a contagem decresce de doze a zero ... nesse intervalo em que parece que a vida fica estranhamente suspensa, em que a pressa de engolir as passas e formular os desejos nos atropela, passa a vida, a vida de um ano, à nossa frente ... e cresce a fé, de que a próxima "empreitada" sempre seja melhor, e que seja esse o ano em que a felicidade, a realização e os sonhos, se "compadeçam" finalmente de nós ...
O maldito nó,"estrafega-nos" a garganta, um "engulho" incómodo constrange-nos o estômago ... as lágrimas desatinadas e teimosas, humedecem-nos os olhos ... sem que o permitíssemos.

A lareira vai estar mais iluminada, pelas chamas bruxuleantes e irrequietas, mais quente, porque pelo menos o champanhe também já nos aquece por dentro ;  a sala mais intimista, porque só a luz tépida e envolvente das velas e da fogueira  a  inunda, desenhando nas paredes sombras esfíngicas e dançarinas.

A mesa já não é a grande, corrida, com os lugares todos preenchidos ... mas sim uma pequena, discreta, "bastante" ... para as flutes, a taça das passas, os restantes aperitivos, o bolo-rei que ainda é "rei", alguns chocolates para adoçar ... sobretudo a alma!

As almofadas espalham-se também pelo chão ; as mantinhas de lã, sempre xadrezes ( por que será?), largadas a esmo, hão-de servir lá mais pela madrugada,  para cobrir corpos já descobertos e exaustos, então ...
A música é doce e já não tem sinos, nem é de "Jingle Bells" ...
É calma, envolvente, cúmplice ... sussurrante ... lânguida ... sensual ...
Um bom tinto substituirá o champanhe ( mais mundano ), pela noite dentro ... e terá o condão de despertar um tumulto de emoções, de desejos desbragados e incontidos, de loucuras entorpecentes, de vontades incontroladas de fundir dois corpos num só ... para que assim possam ficar por todo o ano ... por toda a vida ... enquanto o sonho deixar, enquanto valer a pena, enquanto for bom ... enquanto for Sonho !...

Novo Ano é para dois, é para os "amantes" desse ano ...
Nunca se sabe se ainda o serão, ao soar das próximas doze badaladas ...

... porque nas vidas, como nas festas ... fim de festa é sempre fim de festa !!!...

Anamar                                         

1 comentário:

Anibal disse...

Eis um boa excelente reflexão, nos tempos actuais.
Jonas