sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

" O SER, O TER E O PARECER"


"Os tempos de vacas magras têm, para o homem sábio, o potencial de o relembrar da abissal diferença entre o SER e o TER.

Os tempos europeus e lusitanos de agora são tempos de pouco TER. Não são, porém, tempos perdidos ou improdutivos para aqueles que se preocupam essencialmente, não com o TER, mas com o SER. São tempos que nos mostram e ensinam a diferença entre o que é verdadeiramente essencial e o que, afinal, é apenas simplesmente confortável. São tempos que nos alertam para a precariedade do TER e que nos mostram a perenidade do SER. Que - com dureza mas também com clareza - nos ensinam que o que possuímos, o que amealhamos, os rendimentos que obtemos, estão à mercê dos desvarios de anónimos financeiros, dos apetites de insaciáveis banqueiros, das debilidades dos políticos a que entregamos os nossos destinos, dos conceitos dos teóricos económicos da moda e do acefalismo cinzento dos burocratas que a todos estes enquadram. Mas são também tempos que nos relembram que o nosso verdadeiro tesouro é aquilo que SOMOS, o que aprendemos, o que melhorámos, as capacidades que adquirimos, a nossa força, tenacidade, confiança em nós, o conjunto das capacidades que laboriosamente adquirimos ao longo da nossa existência e que é com o que cada um verdadeiramente É que resiste e ultrapassa e vence a falta ou diminuição do que TEM, que reconstrói sobre os destroços do que caiu, que avança e deixa para trás o deserto da penúria. Enfim, aquele que se concentra no que É sente menos falta do que não TEM.
O essencial é SER, não TER. Os tempos de crise servem para que o homem sábio o relembre e possa não o esquecer nas épocas de prosperidade.
Todos aqueles que dão ou agora aprendem ou reaprendem a dar primazia ao SER sobre o TER estão mais aptos a, apesar dos pesares, ter aquilo que, sem ironias, sem descabelados otimismos, mas também sem desnecessários pessimismos, a todos desejo: UM FELIZ ANO DE 2012! "

Rui Bandeira

Ainda em jeito de Natal e sem querer assumir-me como moralista de coisa nenhuma, que o não sou, peguei no texto que supracito, escrito brilhantemente pelo maçon da Loja Mestre Affonso Domingues, Rui Bandeira, que me chegou às mãos através de e-mail - e que não é mais do que um post seu, do blogue bastante interessante "A PARTIR PEDRA" - e sobre o qual meditei longamente ...
O post integral, "Exortação de mudança de ano", é obviamente mais extenso ;
dele retirei este excerto adaptado, porque suponho aqui concentradas todas as linhas norteadoras do que deveria ser ( e sobretudo neste momento, com maior relevância ), uma reflexão feita por todos nós.

Essa reflexão / conclusão apresentada, "encaixa" na perfeição, julgo, especialmente na quadra que vivemos, a qual, infelizmente continua a evidenciar as mentalidades do exagero, do supérfluo, a postura do excesso, a sociedade irrazoável do "TER".

Não irei acrescentar nada de novo ao exposto magistralmente por Rui Bandeira.
Creio que na sua exposição está tudo dito.

Curiosamente, esta cultura tão ocidental do "TER" em detrimento do "SER", inculcada nas gentes, nos países, nas sociedades do dito "Primeiro Mundo", situa-se nas antípodas das formas de ser e estar dos povos do oriente e das suas culturas.

Lá, efectivamente, a "corrosão" da sociedade de consumo ainda não fez muitos estragos, e a filosofia de vida prevalecente, baseia-se na essência do ser humano, na sua "herança" interior, no repositório de valores, orientadores do Homem, enquanto ser racional e inteligente.
"Vale-se" pelo que se "é" e não pelo que se "tem" ...
Temos qualidade e excelência, se o recheio das nossas existências for de sustentabilidade, de verdade, de tenacidade, esforço e confiança pessoais nas capacidades individuais!
Deverá / deveria ser essa de facto a "tatuagem genética", da bagagem que efectivamente nos acompanha pela vida, sempre no sentido de um crescimento, valorização e melhoria!

Atrever-me-ia humildemente, a apor ainda uma outra reflexão, paralela a esta, e que se baseia no habitual "TER" e consequente "PARECER".

O ser humano vive com a obsessão avassaladora, de que só é "gente", se o "PARECER" ...
É preciso parecer ter quaisquer graus académicos, é preciso parecer ser rico e bem instalado na vida, a qualquer custo, é preciso vestir bem para que o "invólucro" exterior dê credibilidade à "personagem", é preciso ostentar sinais de riqueza para que se possa frequentar determinados círculos ... é PRECISO, é PRECISO ... é PRECISO!!! ...
O "show-off" a que assistimos diariamente, alicerçado em princípios absolutamente balofos e despidos de consistência, continua portanto, infelizmente a grassar.
Classifica e subdivide pessoas, estratifica-as a partir do "PARECER", o que ainda é mais miserável e ignóbil do que a simples dicotomia SER / TER ; marginaliza, rotula, estigmatiza, pela "aparência" !...

Por fim, atrevo-me apenas a tomar como meu, o último parágrafo de Rui Bandeira, que subscrevo integralmente.
Todos aqueles que tiverem a clarividência e a sabedoria, de privilegiar o "SER", sobre o "TER" e o "PARECER", estarão, do meu / dos nossos pontos de vista, a merecerem os votos de um excelente 2012 !!!...

1 comentário:

Anónimo disse...

Verdadeiramente excepcional , quer o tema, quer as reflexões nos tempos que se avizinham.
Preocupa-me saber que temos que empobrecer para darmos valor ao que é importante, mas mesmo assim, não consigo imaginar o que seria o drama de uma guerra agora, sei do que falo pois estive na Guiné, por isso adorei e muito o seu post.
Augusto