sábado, 31 de dezembro de 2011

"O HOMEM DAS ROSAS"


O homem das rosas passava quase sempre.

Cabelo todo branco, olhos miudinhos por detrás de umas lentes finas ... e uma rosa na mão.
O rosto sério e determinado, parecia, tinha uma qualquer luz a inundá-lo, lá isso tinha!

Maribel sempre o via passar, do seu portão.
Quase já fazia parte da sua rotina, vê-lo dobrar a esquina, de passo estugado, como se tivesse urgência de chegar a qualquer lado. Maribel não sabia onde.

Olhava-o atentamente e seguia-o com os olhos, desde que a sua silhueta surgia ao fundo da estrada, até que sumia de novo na outra curva.
Àquela hora, a menina descia o caminho, apoiava o queixo na cancela, e "estendia" os olhos pela estrada.
Sempre o coração lhe dava um saltinho no peito, quando ele uma vez mais não falhava.
Aquele mistério era um segredo que não contava a ninguém, e que começava a iluminar-lhe os dias.
"Aquela hora"  passou a ser  "aquela hora" ... e a inquietude dominava-a, até que o coração repousava fnalmente !

Engraçado aquilo !!!...

Entre a menina e o homem dos cabelos brancos, estava tácita e invisivelmente criado um "laço" ...

Um dia ele sorriu, porque afinal para ele, aquela menina também era um mistério.
Por que sempre estava ela àquela hora, naquele portão, com aquele olhar curioso?!
Por que parecia "segui-lo" desde que se avistavam, até que ele dobrava o caminho?!

O tempo foi passando, os dias e as tardes seguiam o seu percurso.

O homem das rosas tinha sempre pressa de chegar ao destino. Maribel nunca soube qual!
Ele nunca tinha tempo para esboçar mais do que um sorriso ... Ainda assim, era um sorriso triste ... contudo doce ... contudo quente ...
Haviam "atado" as suas vidas, por uma flor ... O homem "cativara" a menina, e a menina "cativara" o homem das rosas ...
E, como no "Pequeno Príncipe", sempre somos responsáveis por quem amamos ... e por isso, se pudesse, a menina ter-lhe-ia oferecido uma rosa do seu jardim, para o fazer sorrir mais, e o "prender" para sempre ao seu portão!

E o tempo continuou passando, os dias e as tardes seguiam o seu percurso.

Para ela, aquele homem tornou-se num "menino" da sua idade, passou a ser o sol da sua rua ... e Maribel também não percebia porquê ... mas sentia!
E o que se sente é que importa !  E mesmo sendo cegos os olhos, é preciso "ver" com o coração !...

Para ele, aquela menina, de queixo esborrachado na cancela, era uma espécie de arco-íris que se acendia no céu ...
Mas, os arco-íris não se prendem ... são livres ... e escondem-se em dias que não são de sol e chuva !
E por isso, ele acreditou que aquela "pintura" no firmamento, que ele criara na sua cabeça, era coisa que nunca alcançaria ...
Não acreditou que pudesse lá chegar, mesmo que fosse nas asas de uma borboleta, porque essas são livres também, e chegam a todos os sítios e a todos os corações, onde os homens não conseguem alcançar ... e por isso ... o "homem das rosas" mudou de caminho ...
Tristemente esqueceu que nos tornamos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos ...

Um dia, ao amanhecer, quando nem os pássaros ainda tinham acordado, Maribel foi até ao portão ... outra vez ...  Sempre continuava esperando, dia após dia, tarde após tarde ...

Bem na sua frente, estava uma rosa branca, branca como a neve que é fria, branca, mas pura, como o coração de uma menina ...
E estranhamente, a rosa conseguiu aquecer-lhe, quase queimar-lhe as mãos e a alma !...

O homem nunca mais voltou ... e por isso, não pôde ver as lágrimas da menina a rolarem por um rosto infantil, mas já desencantadamente adulto ...  Não pôde ver os seus olhos que ficaram tristes, na sua rua sem sol ... porque nunca o percebeu ...  Não pôde ouvir os soluços do seu coração ... não pôde ...

Mas também ... ele tinha sempre pressa, não era ??!!...

Anamar

5 comentários:

F Nando disse...

Uma bela história para terminar e o recomeço de um Novo Ano...
Bom Ano!
Beijo

Anónimo disse...

Adorei a historia deste "Homem das Rosas", por favor diga-me as rosas que este Homem habitualmente trazia, seriam Vermelhas ?
Extradionário,depois uma rosa branca pura de neve, de urso polar de gato branco, de cão branco.
Qual seria a pressa deste homem em chegar ao seu destino ? que destino seria esse.
Um Homem de cabelos brancos, possivelmente idoso,claro que a menina de certeza , transformou-se numa Bonita Mulher, numa Princesa Encantada,tambem por isso uma noiva muito bonita. Adorei minha querida Anamar o seu bonito, delicado, sensivel e muito belo conto, para um Ano de 2012 com um belissimo inicio fruto da sua criatividade. Parabens
JONAS

anamar disse...

Olá Fernando

Fico feliz por teres gostado ...

Um excelente ano também para ti !

Um beijo da

Anamar

anamar disse...

Jonas

Você e os seus "delírios"!!! rsrs

Dou-lhe o benefício da dúvida, sim ... talvez fossem vermelhas as rosas, talvez tivesse pressa de as levar a alguém especial ...

Apenas, como histórias são histórias, contos são contos...(e sempre ficam ao cuidado do autor dos mesmos), nem sempre o "happy end" com que todos sonhamos, acaba concretizando-se.

Apesar de que...."somos responsáveis por quem cativamos ..." aprendeu o Pequeno Príncipe, Maribel não viu realizados os seus sonhos.
O "Homem das rosas" desapareceu injustamente da sua vida, e do seu sonho de criança...

Um beijinho

Anamar

Anónimo disse...


Olá Anamar.

O 25 de Abril está por aí e sei que tem um belo escrito sobre o mesmo.

Será que o pode reeditar ?

Um admirador seu.