domingo, 25 de dezembro de 2011

"NEVOEIRO DE VIDA" ...


Abateu-se um imenso nevoeiro frente à vidraça do seu quarto ...

Estranho ... o dia até estivera ensolarado, embora com aquele sol envergonhado de um Dezembro que preverica.
Anoiteceu ... as últimas aves da tarde recortavam o céu, em busca de abrigo para a noite ... e subitamente, como tempestade que se anuncia, um breu, uma cerração, começou a baixar e fechou o firmamento.

A surpresa "chamou-a" à vidraça ...
Esborrachou bem o nariz contra ela, como se assim conseguisse divisar melhor alguma coisa.
Alguma coisa que Ana não sabia bem o que seria.
Por ora, apenas as folhas de plátano profusamente espalhadas pelo chão outonal, jaziam lá em baixo.

O horizonte tinha ficado curto ... melhor, parecia-lhe não ter mais horizonte à sua frente!...
Deixou perder os olhos por ali ... Nada do que conhecia, e há pouco ali estava, surgia, ainda que fosse difuso ...
Ana sentiu um arrepio percorrer-lhe o corpo, sentiu o sangue a fugir-lhe das veias, teve uma sensação estranha de estupefacção e medo ...
Como um cego que tacteia, ficou de repente perdida, surpreendentemente sem rumo ou destino, como se o chão também tivesse sumido debaixo dos seus pés, com a neblina cerrada.

Desenhou um sol no embaciado do vidro ... desenhou um coração ao lado do sol ... desenhou uma gaivota perto do coração ... e sorriu tristemente, achando-se louca !

Por que fora embora o sol, mesmo envergonhado, neste Dezembro prevericador?
É certo que Dezembro combina mais com chuva, cinza e névoas ... mas disso ela já tinha que chegasse !...
É certo que o coração precisa de luz para ter esperança e sonhar ...
É certo que o sonho precisa de "liberdade" para crescer ...
É certo que as pessoas precisam de horizontes para viver ...

Mas aquela cerração que lhe fechara a tarde, fechara-lhe também a vida ... outra vez !
Sim, porque Ana já vira muito nevoeiro da sua janela ... mais ou menos denso, mais ou menos fechado, mais ou menos desesperançoso !...
Sentia-se como quem tem que saltar de uma ravina e não sabe o que a espera lá em baixo!
Sentia-se como atravessando um tronco, entre duas margens de um desfiladeiro !
Sentia um pavor a crescer-lhe nas entranhas, à medida que as asas da noite a tocavam ...
Havia morte por ali ...percebia-se! Havia dor por ali ... ela sentia-a claramente!

Ficou letárgica, quieta, álgica ... Quase continha a respiração, para não perturbar o silêncio e a penumbra ameaçadores ...
Não se perscrutava, não se sentia ... seguramente, Ana suspendera a Vida entre dois parêntesis!

O sol continuava desenhado, o coração continuava sem luz ... o sonho perdera-se porque a cerração naquele fim de dia de Dezembro, fora implacável! ...
                                                                                         
Anamar

6 comentários:

Anónimo disse...

Permita-me dizer-lhe a minha opinião, mais uma vez, talvez uma ultima.Ana é uma sortuda, porque a seguir ao nevoeiro, à Tempestade o Sol surgirá de novo radioso e brilhante forte e quente para a abraçar, para a aquecer, para a envolver, como só ele o sabe fazer.Parece-me que Ana só vê "Nieblas"à sua volta e sempre, porque estranha quando as não vê e portanto já faz parte da sua rotina e maneira de sentir a natureza, deslumbra-se sempre e muito, quando parte para os Trópicos, aí sim fica em Paz com a natureza e consigo própria.
Jonas

Anibal disse...

Olá Anamar,
Deixe-me dizer-lhe a Senhora é uma excelente ficcionista, adorava saber escrever assim, os meus Parabens.

anamar disse...

Olá Jonas

Obrigada pelo seu comentário.

De facto esta "Ana" é muitas "Anas" a quem repentinamente, o "nevoeiro" desce frente aos seus olhos...

Esperemos que a cerração desta Ana se possa dissipar, e de novo o "horizonte" se desenhe na sua vida...

Um abraço de Bom Natal

Anamar

Já agora, e porque refere poder ser a "última" vez que me comenta, lamentá-lo-ia profundamente, já que me habituei a vir aqui e analisar as suas opiniões sempre desassombradas. Obrigada.

anamar disse...

Aníbal

Obrigada pela sua sempre presente generosidade.

Volte sempre!

Escrever "assim", não tem segredo ... é só preciso deixar o coração falar, acredite!

Um abraço de Boas Festas

Anamar

Anónimo disse...

Olá Anamar,
Há muito tempo, que não comento o seu Blogue, perdoe, não a esqueci sempre que posso venho cá, muitas vezes antes de dormir venho ler o que escreveu.
Feliz e Santo Natal para si e todo o seu Clâ, que tem a sorte de ter uma pessoa maravilhosa como a Senhora.
Augusto

anamar disse...

Olá Augusto

Obrigada porque "não me esqueceu" ... apareça quando puder e quiser.

Só espero não lhe causar "insónias", uma vez que me lê ao deitar ... (brinco)
Um beijinho com desejos de Boas Festas também para si

Anamar