domingo, 18 de julho de 2010

"AO SABOR DAS LETRAS..."


Saramago encontrou Deus...o Deus que procurou a vida inteira, tenho a certeza, embora se dissesse ateu...
Onde ele estiver, Deus está a agradecer-lhe a forma enviesada como ele lutou por Ele, em vida.
Pelo humanismo, pela luta pelos desfavorecidos e marginalizados socialmente, pela denúncia corajosa e desassombrada das injustiças e arbitrariedades, duma sociedade que está a cair de podre, de uma forma frontal e livre...

Depois, vem a faceta de Saramago, que sou franca, desconhecia, de homem sensível, capaz de rasgar um sorriso aberto naquela cara circunspecta, capaz de se emocionar com aquele mar, aquele vento de Lanzarote, capaz de falar com o carinho, como o faz, da avó Josefa, ou do avô, que lhe mostrou a vida, capaz de querer que as suas cinzas repousassem quase anonimamente, sob a oliveira que plantara na ilha que o viu morrer...

Vem o Saramago, que, de miúdo humilde, quase miúdo de rua, teve que lutar pela subsistência da própria família...

Sou agnóstica, portanto, talvez religiosamente, não tão radical quanto Saramago.
Sou suficientemente egoísta e corrompida pela vida mundana de uma cidade descaracterizada, de um país triste, para nem sequer me poder agarrar a convicções que me dessem razão de vida.
Eu acho que isso, está de facto, entregue aos grandes seres...

E assim, a minha vida é de incoerências entediantes, em que defendo, admiro, vejo, analiso grandes causas, mas o vazio toma-me e tolhe-me...
"Alugo" as pessoas, e depois penalizo-me por isso. Isolo-me o mais possível, e depois sofro horrores...os dias cansam-me de vazios e ausência de horizontes...o silêncio, a quietude, a solidão...são os meus aliados preferenciais, e depois, desejo morrer, porque isto não é viver...

Hoje, acordei convicta que era segunda feira, e pensei que pelo menos, haveria mais vida lá fora, sente-se buliço, sente-se gente...
Depois lembrei que era domingo, e isso causou-me um mau estar que não se entende.
Neste momento, a minha vida é passada entre acordar, não ter nada para fazer e dormir...dia após dia...
As pessoas amigas e são algumas, as fiéis, e até algumas mais recentes, me parecem sinceras na disponibilidade que me oferecem de ajuda, porque acham que não me esforço, porque que tenho que reagir a esta apatia, e tentam de tudo para me tirar deste lodaçal....Não percebem que eu não tenho força para me reerguer....Estou entupida de químicos, e os dias são cópias uns dos outros.

Imaginam o que é (como hoje, por exemplo), pensar: vou fazer o quê, daqui a pouco? E excluir todas as hipóteses que me ocorrem, porque parece que os pés ou o coração estão grudados a este quarto, a esta cama, a este sono doentio, por contínuo?

E penso muitas vezes, embora tenha consciência que não é mais que uma infantil utopia, como desejaria ir embora, não sei para onde, nem por onde...mas depois também sei, que carregaria comigo todo o mal que faço a mim própria, mesmo sem querer...só porque ele está dentro de mim!...

Anamar

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