quinta-feira, 8 de julho de 2010

"O QUE FICA E FICARÁ..."

 
Acham que é possível ter saudades de alguém, ainda estando com esse alguém?
Ter saudade de algo que acontece, enquanto ainda acontece?
Ter saudade da Vida, estando a fazê-la todos os dias?

Pois é...foi o que aconteceu comigo ontem (já tem acontecido noutras circunstâncias, mas ontem foi notório)...

Realizou-se a Festa anual "da Begónia", de encerramento do ano lectivo, como vai sendo habitual, entre os professores que na minha Escola dão aulas no período nocturno.
"Da Begónia", penso que já vos expliquei, porque, a brincar se criou a "Confraria da Begónia", que é anualmente engrossada, por todos quantos se aposentaram nesse ano escolar (os "begoniandos", que dessa forma, assumem  a categoria de "Barões e baronesas da Real Ordem da Begónia", ou seja passam a "begoniados"....)
É uma confraternização de muito mais que colegas, que transcende a relação meramente de cariz profissional, é uma confraternização de irmãos, uma partilha de afectos, em que é oferecida uma begónia (que é uma flor particularmente bela, aos aposentados nesse ano lectivo, como disse.

Pois bem, o ano lectivo 2009/2010 foi para mim um ano absolutamente distinto e marcante , em toda a minha carreira.
Primeiro, porque estive afastada da escola desde fins de Novembro, por razões de saúde, e depois, porque a falta de saúde era do foro psicológico , deprimindo-me, incapacitando-me, exaurindo-me e causando-me uma mágoa e uma tristeza que ainda carrego como cruz.
Acontece que há cerca de uma semana tornei-me eu, também, begoniável,  porque saíu a aposentação antecipada que requerera em Dezembro, e como tal, este ano, a festa do fim de ano "bateu forte", visto que a senti como sendo particularmente um adeus ou despedida minha (embora também o fosse p'ra outra "companheira de estrada" de há muitos anos).

Penso que, desde que esta "brincadeira" se iniciou, este, foi o ano em que mais colegas se reuniram. Entre os que estão e os que estiveram em actividade, seríamos perto de quarenta pessoas...e eu estava tão feliz!...
Uma felicidade que me fez esquecer por horas, todo o sofrimento por que tenho tenho passado, que me apagou a longa "invernia" que atravessei, pelo calor humano que me foi transmitido, pela amizade que senti, pelo sentir-me querida e acarinhada...pelo perceber, finalmente, que tinha importância para as pessoas...

Ao mesmo tempo, amordacei na garganta a emoção que me assaltava, pela "despedida", pelo virar de página, pelo fecho de um ciclo e um recomeço de vida...com tudo, de bom e de mau que ela me poderá dar daqui para a frente...
Mas a partilha, o estar ao lado de, a cumplicidade, a amizade, as palavras que recebi, no fim, de alguns colegas (e que jamais esquecerei), deixaram-me por demais, com um nó no coração...

E à medida que o jantar se aproximava do fim, a saudade e a nostalgia já me invadiam, e eu já estava a vivê-lo no passado, ele já me estava a fugir, porque tudo é assim na minha vida...nunca vivo nada em pleno...vivo sempre com a angústia do fim à vista, e a tristeza de não poder perpetuar tudo o que me conforta a alma...

Eu sei que esta filosofia não é correcta, porque como dizia John Lennon: "o passado já foi, o futuro não sabemos se será...o presente é o que temos", e em vez de o saborearmos, por vezes não o agarramos sequer, como um "oferta" com laço e tudo...porque as sombras dos pensamentos erróneos nos dominam...
 E como nada é mais efémero que a própria Vida, se não sorvermos estes pequenos/grandes momentos com que ela nos presenteia...então não fica mesmo nada...e nada disto fará sentido!...

Deixo aqui a foto da minha begónia, porque ela poderá morrer, como uma planta que é... mas o que ela representa, estará sempre vivo na minha memória para todo o sempre!...E é amarela...a cor que mais gosto...a cor do sol que amo e que saúdo todos os dias...

Anamar

1 comentário:

Anónimo disse...

Bom pelo menos todos, incluindo os homenageados, ainda evidenciam boas capacidaes cognitivas e motoras...mas se chegar ao nosso burgo a moda da reforma aos 72...como já escrevi num comentário abaixo , estes acontecimentos deverão ter lugar em espaços maiores com direito a ajudas técnicas, cadeiras de rodas, andarilhos... e será que vamos encontrar o lugar de encontro ou simplesmente será difícil lembrar quem é a Maria do lado ou mesmo o nome póprio...

Nem quero pensar ao que chegámos...

Beijihos

Maria Romã