quinta-feira, 29 de julho de 2010

"UM ANO...."

Faz amanhã dezoito anos que o meu pai partiu....faz amanhã um ano que o Óscar me deixou....

Resta-me a Rita...aliás, vão restando cada vez menos e menos coisas na vida das pessoas, à medida que se escoa o que nos foi destinado viver.
Não tenho escrito nada nos últimos dias, porque me tenho sentido vazia, sem energia, sem metas....
Se calhar como deve ser... As metas alcançáveis ou sonhadas, vão encurtando e aproximando-se cada vez mais de nós, na razão inversa da força do que sonhámos ou em que acreditámos....

Começa a haver uma espécie de encolher de ombros, uma espécie de indiferença instalada, um amorfismo, que se o consciencializarmos dói...dói mesmo!

Na vida, os restos que nos vão ficando, vão sendo uma espécie de sobras de coisas normalmente boas (porque das más, nem os restos queremos guardar), que vivemos.

São sobras de amores eternos, como os dos nossos pais ou filhos....aqueles cujo sangue é mais o nosso....nunca apagados, sempre doídos, apenas um pouco apaziguados.
No entanto, sempre carregaram consigo um pedaço de nós mesmos...

São sobras de paixões que nos deram seiva, nos tornaram flor florida, nos levaram a ver o sol brilhar todos os dias, verão ou inverno, fizeram das nossas noites paraísos....e das quais ficam as tais sobras, mais ou menos avassaladoras, que nos matam e consomem, e escurecem o nosso céu irrecuperavelmente...
As consequências dessas sobras nunca serão apaziguadas, antes, sangram e sangram e sangram....

São sobras de amores a seres que partilharam o nosso espaço, com uma dedicação e uma devoção, eu diria cega e incondicional.
Seres que vieram para as nossas casas, em boas, más condições...mas que sempre aceitaram sem nenhuma reivindicação o que quisemos ou pudemos dar-lhes.
Sabemos à partida que normalmente lhes sobrevivemos....mas a sua ausência deixa-nos sempre um buraco que nada preenche.
O Óscar foi-me trazido pela minha filha, eram  quinze centímetros de gato....após a morte do meu pai, para me salvar da depressão profunda que me afundou durante dois anos....Partiu, no mesmo dia, há um ano!

Há oito meses que estou de novo profundamente mal, e eu acho que a Rita percebe isso.
Quando sente que a angústia me está a doer no peito, vem para junto de mim e olha-me, parecendo querer dizer-me algo que nem ela nem ninguém sabem dizer-me...

Enfim....os horizontes deixaram há muito de ter a amplidão dos da minha planície alentejana, o saco das metas e dos creres, vai-se esvaziando...e o saco dos "restos" vai-se avolumando....até quando?...

Anamar

2 comentários:

Anónimo disse...

Margarida, esta depressão também há-de passar e vais de novo ter tranquilidade para apreciar coisas bonitas da vida, porque as há. E tu também as tens tido, não tens? A tua "Ritinha" é uma delas. Também tenho uma coisinha dessas, bem fofinha, e sei bem que ela gosta muito de mim.
Malmequer

anamar disse...

OBRIGADA PELAS TUAS PALAVRAS....COMO DIGO NO MEU POST SINTO QUE CADA VEZ MENOS ME VAI SOBRANDO NA VIDA, E CADA VEZ MENOS VOU TIRANDO PARTIDO DAS COISAS BOAS, QUE REALMENTE HÁ....
MAS TAMBÉM SEI, QUE DIZER ISTO É UM VERDADEIRO SACRILÉGIO COM TANTA COISA QUE SE VÊ À NOSSA VOLTA....MAS....FAZER O QUÊ???
OBRIGADA UMA VEZ MAIS E UM BEIJINHO
ANAMAR