sexta-feira, 18 de março de 2011

"AMOR - ÓDIO"


Os telemóveis são um inferno na vida das pessoas...
Basta que estejamos em qualquer sítio, os variados toques de chamada, desde as campainhas estridentes, a músicas da actualidade, aos clássicos melodiosos e outros, tudo sai da "cartola", tudo toca...

E a primeira coisa que se ouve é: "Onde tás?..."

Ora bem, controle mais apurado nunca vi, "marcação" mais em cima, também não!...
Normalmente apanham-nos nos sítios mais inoportunos: na fila do supermercado justo na hora de pagar, quando estamos à procura das chaves na mala, com as mãos cheias de sacos de compras quase a cair, quando estamos numa sessão qualquer em que deveriam estar desligados, e desgraçadamente logo nesse dia nos esquecemos de o fazer, o que nos deixa ruborizados ainda que estejamos às escuras...até mesmo quando, esperando uma comunicação de alguém e resolvemos dar um saltinho rápido à casa de banho, em desespero de causa...pois é nesse momento que é maior a probabilidade do famigerado tocar...e normalmente toca mesmo!...

Isto já não falando que devassamos sem querer devassar, as vidas das pessoas; as conversas são sempre feitas em decibéis acima do normal, e desde o "olá amor" aos berros irritados de mães com filhos, de maridos com mulheres, de verdadeiras lutas verbais titânicas entre pessoas...escutamos tudinho...E então quando são os velhotes coitados, com o ouvido curto...uma desgraceira!!!

O telemóvel "cobra-se", ou melhor, a ausência de comunicação através dele!
"Liguei-te ontem! Deves ter aí uma chamada não atendida!" - Como fingir que não demos por isso?
Ou: "É muito esquisito estares sem bateria! Não puseste a carregar de noite?"...
"Que raio...nem uma mensagenzinha a avisar...não me ligas nenhuma!..."
E quando anda uma suspeição no ar, em que procuramos desvairadamente ouvir "para lá" do telemóvel, ruídos de fundo do local onde estará o nosso interlocutor..."Hum...O gajo estava na estação, porque ouvi perfeitamente o comboio!..."
E fica no ar aquela coisa sem certezas, mas com fortes indícios!...

Depois o telemóvel é um constante desafio. Quando esperamos num consultório, quando vamos no comboio, quando estamos no café, ele está bem à nossa frente, não seja que não o oiçamos, e espreitamo-lo, gulosos, como a um bolo na vitrina.
O malvado "queima-nos" as mãos, não nos dá paz, damos-lhe voltinhas e voltinhas e é a altura de disparar mensagens, mesmo quando pouco há para dizer! Nessa altura não nos lembramos da conta ao fim do mês, que até dói!

Quando estamos "incomunicáveis", com "assuntos importantes" a tratar, sempre o desligamos, não vá o diabo tecê-las, porque com o simples facto de lhe pegarmos, parece que a nossa visibilidade transparece, ou então a nossa voz que procura ser natural, sempre faz a pessoa do outro lado disparar: "Estás sozinha? Podes falar?...Mesmo??".
Bolas, engolimos em seco: "Caraças, como é que se percebeu que eu devia era ter desligado esta porcaria??!!..."

Bom, o telemóvel ajuda em situações de aperto, normalmente os cretinos, os safados, os que não têm rosto.
Nada melhor que uma mensagem escrita para se dizer o que nunca houve coragem para ser dito olhos nos olhos, nem mesmo por chamada de viva voz.
"Desengomam-se" da situação, não tendo que ver a cara do outro lado, as lágrimas do outro lado, o dedo acusatório do outro lado, a confrontação que viria do outro lado, da sua própria mesquinhez, falta de carácter e consciência!

O teor da mensagem também diz tudo, já vai avisando.
Se nem o bendito "LOL" ou :) aparecem, se os beijinhos doces, carinhosos, grandes, quentes, húmidos, etc, etc, etc, ficaram no "tinteiro"...a "coisa está preta"!
O laconismo da mensagem torna-a formal, distante, fria, gélida mesmo...pode, apenas na sua simples leitura, ditar logo uma "sentença".

O telemóvel dá insónia às pessoas...Abençoado tempo em que as minhas filhas iam para as discotecas e que por falta de hipóteses de comunicação, aguardávamos a sua chegada confiantes que tudo estaria bem.
Com o "bendito" no bolso, se não há resposta do outro lado, logo o filme se desenrola nas nossas cabeças, nunca menos do que com feridos, mortos, etc...e claro que não dormimos mais...

E quando os perdemos ou no-los roubam?!
Aí, com eles, vai-se-nos a alma! Ficamos "nus" até ao tutano, lá se nos vai metade do "equipamento"...porque afinal, lá, estava TUDO...
É um vazio em grau superior, ao que já experimentamos se saímos de casa e por acaso lá esquecemos o "apêndice". Já aí nos sentimos mal, como se o oxigénio se tivesse reduzido a metade...e este "buraco" coexiste até que tenhamos regressado e o avistemos.
Também, se não o avistarmos, ficamos doidos, e aí andamos nós, feito baratas tontas, a telefonar de outro telefone, para localizar, às vezes nos sítios mais improváveis, o trim-trim de quem diz: "Estou aqui...vê lá se me vês!"
Poça, que alívio!!...

Inevitabilidade das novas tecnologias, o que é facto é que mantemos com ele uma relação de amor - ódio, que atravessa as nossas vidas, impõe-se no nosso quotidiano, impregna-se na nossa realidade, criando-nos obviamente uma dependência tal, que não poderemos mais viver sem ele!!!...

Anamar

2 comentários:

Unknown disse...

Bellissimo...
Belo, e perfeito.
Bom domingo.
C.Filipe

anamar disse...

Obrigada Filipe
Como vai isso (mesmo sem ser por telemóvel.....rsrsrs)?
Bom domingo também. Beijinho para si e para o Gui
Anamar