segunda-feira, 21 de março de 2011

"SONHOS"


Esta noite tive um sonho.
Daqueles raros sonhos que chegam até de manhã, até que abramos os olhos...daqueles raros sonhos que deixam que os lembremos mesmo quando já acordados.

Sonhei com o meu Alentejo e se calhar, não era mais que um recado para que o visite.
Sonhei-me menina, ainda em Évora, criança muito só que era, em passeio de fim de tarde, no pino do Verão, como tantos que fiz, em direcção ao Bairro de Almeirim, limítrofe da cidade, e então separado desta por uma estrada quase sem trânsito, quase sem perigo, com os campos a ladeá-la.

Lembro com toda a clareza que no pino do Verão, os campos eram de ouro, eram de sangue, eram de macelas e campainhas roxas.
As estevas e as giestas engrinaldavam-nos, de sol os pintavam; os rosmaninhos e os alecrins de aromas os perfumavam...

Lembro de me sentar, já então, debaixo de um sobreiro, de uma azinheira, e me perder, por ali perdida, apenas escutando o resfolegar do vento naquele mar de espigas ondeantes, deixando os olhos irem mais e mais além, porque o Alentejo não tem horizontes, deixando os ouvidos impregnarem-se da melopeia das cigarras, dos grilos, dos trinados dos tentilhões, das andorinhas, abelharucos, cucos ou rolas...ou vendo os voos em preguiça das cegonhas planando na brisa, na ida para os ninhos...

Havia, houve sempre um silêncio "audível" que me agradava, que não se sente em mais nenhum sítio deste Mundo de Deus, que me fazia bem, que me aquietava, me preenchia, me "iluminava" por dentro.

Havia, houve sempre cheiros adocicados, cheiros à terra, terra-mãe, terra-alma, terra-coração...

E eu ficava por ali, horas esquecidas, porque nesse tempo não havia tempo, nem horas, nem preocupações, nem angústias...

Hoje começou a Primavera, ou melhor, começará logo às onze da noite, ouvi dizer...
Mas o dia é de Verão. O sol, o céu e sobretudo a temperatura, não são consentâneos com uma estação de transição.

Vim atrás do sol, ao Belas. Este espaço do golfe é absolutamente privilegiado.
O verde da relva à minha frente nas subidas e descidas das encostas, a construção denotando alta qualidade , o azul absolutamente límpido e uniforme do céu, e a brisa, só uma brisa que corre (hoje abençoada), emprestam a esta tarde um agradável bem estar e calma.

À vinda, no carro a música da FM lançou para o ar Bob Marley e com ele, Jamaica.
Jamaica foi a "maldade" desta tarde, em tudo ou em quase tudo, perfeita!
Jamaica foi 2006 e 2006 está muito, muito lá atrás...Jamaica nem sei mesmo se existiu, ou se faz tão somente parte do meu imaginário...
Jamaica não sei se não terá sido também um sonho, só que daqueles que se perdem na madrugada e não chegam até de manhã, até que abramos os olhos...para os contar!...

Isto hoje nem "aquece nem arrefece"...mas tinha que vos contar...porque afinal, esta noite tive um sonho!!...

Anamar

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