quarta-feira, 23 de março de 2011

"ERAM OUTROS TEMPOS !..."

Hoje resolvi começar a reler os meus escritos.
Não sei se vos disse, mas tenho imprimido todos os textos do meu cantinho, desde o início, e com eles formado livros, em suporte de papel, óbvio.
Eu sou muito à antiga em certas coisas e confio, mas confio muito, nos livrinhos na estante, propiciando uma maior facilidade de leitura.
Além de que eles serão o meu espólio mais precioso (não pelo conteúdo que é irrelevante, mas pela autenticidade, transparência, pelo desnudar sem censura ou pré-intenção, daquilo que realmente sou, da pessoa que eu vou sendo e que um dia terei sido), a deixar aos meus netos.

Não sei se algum deles terá a pachorra de os ler, quem sabe em adultos, quando eu já for uma imagem pálida nas suas cabeças, se algum, dizia, terá a curiosidade de saber quem era e como era aquela avó (ainda por cima demasiado ausente nas suas vidas, como já tenho confessado).

Comecei a relê-los (já vou em sete volumes), por saudosismo, para auto-análise, até para tentar perceber a minha evolução ou involução ao longo destes anos.

Que o meu discurso tem sempre uma tónica muito próxima, isso eu sei.
Que se pauta por uma dolência e cores escurecidas...também!
Que, se calhar desmotiva a leitura por se revelar verdadeiramente chato...é possível!
Não é isso que me preocupa primordialmente.

Ao aceitar "assomar" quase diariamente a este varandim, sem décor, maquilhagem ou fantasia, aceitei um risco inerente...talvez o afastamento dos leitores.
Apenas, este meu "debruçar" da varanda, é o "meu" debruçar, e tem que ser livre, verdadeiro, autêntico, sem condicionalismos ou pressões de "parecer bem".
Por isso continuo e continuarei, de uma forma independente a vir aqui, enquanto tiver fôlego, necessidade, gosto por fazê-lo, tendo ou não "audiências", gostando ou não quem me lê...

Comecei como é lógico, pelo primeiro volume, onde encetava os primeiros passos nestas andanças, onde em cada post quase sempre havia um "feed-back" sobre o mesmo.
Na altura havia alguém que me lia e hoje não me lê mais, seguramente.
Alguém que a vida se encarregou de afastar de mim, alguém que a estrada levou para outros horizontes, de uma forma injusta e magoada...

Reflectia eu há tempos, por aqui, como a nossa existência cruza e descruza com outras; como o tempo, carcereiro implacável, mais afasta do que aproxima quem já se quis muito bem, mercê de tantos acontecimentos, mercê de sofrimento, dificuldade, dor.
Como ele molda sem dó nem piedade os corações, como ele semeia injustamente mágoas inultrapassáveis, como ele fustiga os sentimentos...

A "perda da inocência" que foi mote de um dos meus primeiros posts, acaba mesmo por instalar-se; o cair do pano no palco do nosso dia a dia, acaba por deixar inevitavelmente, os figurantes em cena, já sem espectadores na sala, sós consigo próprios!

Esse alguém, que certamente hoje também já a perdeu infelizmente, exortava-me então, a continuar a acreditar, a acreditar em mim, acreditar num futuro, acreditar num presente, porque, segundo ele, o acreditar está no melhor sítio do ser humano: na sua cabeça!

Pois meu amigo (era assim que me tratava na altura), mesmo não me lendo...no sopro do vento, na nuvem que passa, no sussurro de uma borboleta, ou até nas asas da "minha gaivota", que seja eu a poder dizer-lhe agora, que lembre o que me disse na altura, e que continue com a tenacidade, a determinação que tem tido na vida, a coragem, a fé e ainda a esperança com que, apesar dos pesares enfrenta as "rasteiras" que a mesma injustamente lhe preparou, encarando cada dia que se inicia na sua vida, e que mantenha guardados intocáveis dentro de si, na sua cabeça, os valores de persuasão com que há anos atrás me procurava animar, em dias de céu cinzento...

Eram outros tempos!!!...

Anamar

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