sexta-feira, 11 de março de 2011

"SIMPLESMENTE UM GESTO"

Estava aqui no café, agora já do costume, o tal de que vos falei, depois do Escudeiro ter encerrado (aquele a que eu chamava e ainda chamo, "dos velhos"),
estava aqui, julgava eu, em trânsito para uma consulta médica, que agora me avisaram ser só às 12,30h.
São pouco mais de 9h da manhã de um dia outra vez mais do que de "fundiça"....chove de novo depois de uns dias animados, de sol e céu azul...Ainda ontem!
Também, ainda não é Primavera!...

Fiquei por aqui a queimar tempo. Voltar para a cama que ficou em casa a esperar-me, não era certamente "boa política".
A esta hora o café, muito mais deserto do que à minha hora habitual, é frequentado por três ou quatro pessoas, na generalidade de bastante idade, que normalmente gostam de se levantar bem cedo, e aqui vêm tomar o café e sobretudo ler o jornal.

Neste meu "deambular observador" sobre rostos, posturas e conversas, houve algo que me fez reflectir.
As mesas junto à parede, onde gosto de me sentar, estão logicamente em fila, em sequência. À minha frente eu tinha uma e atrás de mim outra.
A da frente estava vazia até ao momento em que a ela se dirigiu um senhor bastante idoso, com o seu sobretudo, cachecol, boné na cabeça e chapéu de chuva.
De jornal na mão aprestou-se a sentar-se, mas antes, e porque ficaria de costas para mim, não o fez sem me pedir licença para assumir aquela posição...

"Realmente - pensei - como os tempos mudaram!..."
"Onde é que hoje, alguém das gerações actuais está desperto para uma pequena regra cívica como esta??!!"

Quem é que dos jovens ou até das pessoas da faixa etária dos 30,40 mesmo, se lembra de pedir licença ou desculpa, por se sentar de costas voltadas, numa mesa de café?

Quem é que num transporte público jamais se levanta, para dar lugar a um idoso, às vezes a uma mãe com uma criança ao colo, às vezes a uma grávida até??
Poucas pessoas, muito poucas pessoas!!

Já não falo naquela "regra" quase obrigatória que eu recordo bem, de quando era miúda, de um cavalheiro abrir a porta a uma senhora, deixá-la passar primeiro, dar-lhe por exemplo o lugar no comboio, dar-lhe o lugar de frente para a sala, numa mesa de restaurante, lhe afastar a cadeira para que ela se sentasse ou dar a volta e abrir-lhe a porta do carro!!!...Já não falo!!

Vão todos cair-me em cima, rir a bandeiras despregadas, achar que desta é que me "passo" definitivamente da cabeça. Vão todos chamar-me de "machista", vão todos dizer (já os estou a ouvir) "Então as mulheres não queriam a igualdade, não queriam emancipar-se??...e patati e patata...Olha-me esta!!""...Vão todos chamar-me de incoerente, achando que me mostro frágil ou "princesa da ervilha".

No entanto eu também sei que esses que rapidamente argumentam e têm a defesa do sexo na ponta da língua, são aqueles que ao chegarem a casa, se "abolastram" no sofá a ler o jornal ou a ver futebol na televisão, enquanto as respectivas, chegadas também há pouco do emprego, se esfalfam na cozinha com a janta, de olho no banho das crianças e nos trabalhos de casa destas...

Eu penso que nada disto deveria constituir "guerra de sexos". Afinal, um gesto de educação nunca ficou mal a um idoso, a uma pessoa de meia idade, a um jovem, indistintamente do sexo, devendo as crianças ser educadas nesses princípios e valores.
Regras de civismo e de coabitação social, nunca serão "demodées" ao longo dos tempos, das gerações, nem minimizam ninguém!
Antes, são sinal de formação e de evolução de um povo e de uma sociedade.
Não são propriamente direitos nem deveres, obrigações ou cedências, são normas que, ou nos foram inculcadas pelos nossos ascendentes, pelas escolas que frequentámos, pelos exemplos que "bebemos", e nada nos custa que façam naturalmente parte das nossas vidas, ou não foram, e se calhar não só não as usamos, como as achamos ridículas, excessivas ou desadequadas...e é pena!!!

Anamar

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