quarta-feira, 30 de março de 2011

A VIDA QUE "NUNCA" TEMOS !....


Hoje este post é e não é meu!

É meu porque o seu conteúdo foi por mim totalmente "adoptado" e subscrito.
Não é meu, porque não fui eu que o escrevi...

Por razões óbvias, não me foi possível solicitar à sua autora, autorização para colocar o seu magistral conteúdo no meu humilde espaço; mas porque o acho extremamente bem escrito, de uma lucidez, realismo, objectividade, clarividência a toda a prova...achei que tinha, de alguma forma, "obrigação" de partilhá-lo convosco!

Tenho a certeza que ela não objectaria à sua colocação...

As boas sementes dão boas flores e bons frutos ; nesta vida, há que reflectir mais e mais todos os dias...sempre!

À Dra. Carla Machado, onde estiver...os meus agradecimentos, de coração...os nossos agradecimentos, de coração! Bem-haja!


“A Vida Normal”, Carla Machado in PUBLICO, 24.08.2006

Doutorada em Psicologia pela Universidade do Minho


“Todos passamos a vida a desejar a vida que não temos.
Queixamo-nos do emprego, dos colegas que são chatos, do chefe que não nos dá valor, do muito que trabalhamos e do ordenado que é fraco.

Reclamamos do tempo, que chove e não se pode ir à praia, que não chove e faz mal à agricultura, do sol que é pouco ou demasiado, do suor, do frio e do vento, do calor que nunca mais se vai embora e do Verão que nunca mais chega.

A família cansa-nos, mas odiamos quando esta nos ignora; dizemos mal dos amigos sem os quais não sabemos passar; suspiramos pelo fim do serão em que as visitas se vão embora, mas despedimo-nos combinando um novo jantar. Estamos fartos dos filhos, mas passamos o tempo a falar deles e a mostrar as suas fotografias aos amigos. O barulho que fazem enlouquece-nos, mas o silêncio da sua ausência é insuportável. Queixamo-nos do marido ou da mulher, que não são como dantes, que nos irritam, que não nos surpreendem, mas suspiramos quando nos faltam e reclamamos quando fazem alguma coisa com a qual não contávamos.

Estamos no Algarve a suspirar pela frescura do Minho, no Minho damos por nós desejosos da brisa costeira; na cidade irrita-nos o artificialismo e em Trás-os-Montes formigamos com a ânsia de fugir à ruralidade.

E do país, todos nos queixamos até ao momento em que “lá fora” concluímos com um orgulho disfarçado que realmente “comer, comer bem, só mesmo em Portugal”.
De queixume em queixume, passamos pela vida muitas vezes sem deixar verdadeiramente que a vida nos atravesse. E só quando somos roubados ao quotidiano que tanto maldissemos, damos conta do tempo que perdemos, nos lamentos sobre o tempo que os outros nos fazem perder.

Há pouco mais de um mês, numa consulta que era suposto ser de rotina, foi-me diagnosticado um tumor. Felizmente benigno, como soube após 24 horas de espera.
E, tal como seria de prever, naquele momento inicial em que o espectro de algo mais grave ainda não tinha sido afastado, o meu pensamento imediato foi: “Mas afinal porque é que eu estou aqui, afundada em Braga a trabalhar, em vez de ter já há muito tempo fugido para Bora-Bora?”
Passado contudo tal instante, e nas 23 horas que se seguiram, foi da vida normal que tive saudades antecipadas.

A vida normal: trabalhar, ir ao cinema, abraçar quem amo, rir-me das pequenas parvoíces do quotidiano, ver a minha filha a dormir e sentir o seu cheiro.
A vida normal está aqui mesmo ao lado. E aposto que Bora-Bora tem imensos mosquitos.”



O texto do jornal Público que envio em anexo foi escrito em Agosto de 2006 pela Prof. Dra. Carla Machado, colega da Escola de Psicologia da Universidade do Minho. 

Com o decorrer do tempo o tumor que ela refere no texto, veio infelizmente a revelar-se maligno e, após uma luta de quase 5 anos, a Prof. Carla faleceu anteontem (Fevereiro 2011) tendo sido hoje a cerimónia fúnebre.

Sendo ela, sem dúvida alguma, desde há alguns anos, a referência na área, tenho um orgulho enorme em ter sido seu orientando aquando do meu mestrado, tendo sido ela a incutir-me o
gosto e a motivar-me a seguir em termos de investigação e intervenção, a área da psicologia da justiça.

Hoje recordaram-me esta sua crónica. 

Permitam-me que como homenagem, difunda mais uma vez este seu texto. Sem queixume, sermos exigentes connosco e com os outros e sermos sempre competentes e cada vez melhores. 
Ela era assim.

Ricardo Barroso


Anamar 



2 comentários:

Anónimo disse...

Uma lição de vida...

Beijinhos
Maria Romã

Anónimo disse...

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