quarta-feira, 25 de julho de 2012

" LEVAR A CARTA A GARCIA "

Há pessoas que parece nunca terem crescido.

Confrontamo-nos por vezes, no nosso caminho, com cabelos embranquecidos que não tinham por que o estar, com posturas tão absolutamente "naïves", que nos pasmam.
São pessoas muitas e muitas vezes traquejadas na Vida, às vezes com uma escola de existência muito sofrida, com traumatismos existenciais que funcionaram da forma inversa, ou seja, em vez de conferirem uma maturidade "protegida", digamos assim, parece que a retiraram.

São eternos meninos grandes que parecem recusar-se a ficar adultos.
Indivíduos que sofreram uma regressão personalística, e não um avanço.
Creio que complicam em vez de simplificar, enchem-se de tarefas, avolumam outras ... tarefas sem fim, que nunca se dão feitas, mas que lhes "alimentam" a inquietude de espírito.
Mergulham em imbróglios complicados de resolver, mas se os não tiverem também não vivem ...
Os problemas nas suas cabeças, agigantam-se, porque se instala um imobilismo, um cansaço atroz e uma estagnação psicológica, que os tolhem mentalmente, os emperram psicologicamente, os indisponibilizam emocionalmente, os paralisam, convencendo-os contudo, que as soluções sempre aparecerão ... só que no dia seguinte ...

E esse dia seguinte, é um dia seguinte não se sabe de que semana, de que mês, de que ano !...
No entanto, essa convicção instala-lhes alguma paz no coração, enquanto nela vão acreditando.
Para eles sempre estará só numa questão de tempo, a resolução de determinados aspectos da Vida, quando, para quem está de fora e distanciado, é absolutamente claro, que essas posturas são absolutas "fugas para a frente", auto-justificações inconsistentes, conclusões e convicções infantis, contudo necessárias para viverem e minimamente se sustentarem, em termos de alguma estabilidade, e se se pode dizer, tranquilidade, ainda que a prazo ...

Em tempos, na minha escola, existiu um presidente do Conselho Directivo, que vivia a correr daqui para ali, carregando papéis nas mãos, numa afobação extrema.
Quando abordado, todos já sabíamos de cór, qual a frase resposta : "Agora não posso ... mais tarde ! Desculpa !"
A eficácia do seu desempenho enquanto por lá esteve, ficou muito a desejar ;  contudo, a personagem em causa envelheceu a olhos vistos, durante o seu período de vigência, e ninguém terá dúvidas que aquele homem sofria a bom sofrer, com as responsabilidades que lhe pesavam, que aquele homem se esforçava para um excelente desempenho, se embrulhava desesperadamente nos problemas ... e pior ... convencia-se que os resolvia ...

Eu entendo estas posturas de ingenuidade, como uma procura de auto-satisfação, ou  mesmo de uma "carícia" pessoal imprescindível ao próprio "ego", porque, sem nenhuma prosápia, esse indivíduo está convicto estar a fazer um bom trabalho, a desenvolver o esforço adequado a conferir-lhe sucesso no que faz ... em suma, que apresenta competência nos desempenhos.

Nada disto que afirmo vem imbuído de juízos de valor negativos, pejorativos, desabonatórios, sobre as pessoas em causa .

Falo em tese, da percepção que me fica das coisas, tão só !...
Aliás, quem seria eu para o fazer ??!!...

Penso que se trata de distúrbios de personalidade, quiçá instalados pelos traumatismos psicológicos a que a Vida os submeteu.
Penso que essas pessoas têm necessidade de se auto-convencer que são insubstitíveis, convencer-se o quão imprescindíveis são, enquanto apoios e pilares, na família, na sociedade, no Mundo, e de que este talvez "parasse", se elas desaparecessem ...

São pessoas de uma generosidade extrema.
São pessoas que colocam sempre os outros, e os problemas reais ou imaginários, à frente de si mesmos.
São pessoas que para aliviarem a carga dos demais, têm um espírito de entrega, esforço, dedicação, missão e dever, absolutamente exacerbados.
São pessoas que se anulam, são de uma abnegação incomensurável em prol de causas, de valores, de princípios, que convictamente defendem e por que pugnam

Para mim, tudo isto seria louvável, não o considerasse já patológico, perturbador, destruidor mesmo do próprio indivíduo, sendo que cada vez mais, o aliena em relação à realidade.

Conheço  de muito perto, casos que encaixam na perfeição neste "boneco" que aqui desenho.
Dividi a minha vida, de certo modo, exactamente com uma pessoa, cujo perfil se insere em parte neste modelo.
São indivíduos que sem dar conta, repito, sem  nenhuma  intencionalidade ou  má fé, subalternizam as capacidades dos que lhes estão perto ;  infantilizam mesmo os seus dependentes.
Por vezes cerceiam-lhes asas, porque afinal, na Vida, a necessidade impulsiona as pessoas, obriga-as a reagir, responsabiliza-as, valoriza-lhes capacidades.

Mas insisto, não presumo estar certa nesta minha forma de observação e análise ; não tenho a veleidade sequer, que corresponda a uma análise com grande correcção.
Não tenho formação científica neste âmbito.
Admito por isso, que estas conclusões talvez sejam atrevidas, possam mesmo constituir erros grosseiros ... espero que ofensivas ... não !!!
Elas resultam simplesmente, da sensibilidade que tenho das situações e do conhecimento das pessoas.

Para mim, trata-se dos tais seres, que existem na Vida, como costumo dizer, apenas para levarem a "Carta a Garcia" !!!...

Anamar

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