terça-feira, 31 de julho de 2012

" PENSAMENTOS À SOLTA "



As pessoas só morrem de verdade, quando as matamos no nosso coração ... Ao contrário, há muitas que já partiram e continuam bem vivas, exactamente por isso ... porque estão dentro de nós.

Ontem falava-vos em perdas.
Às vezes nem sei por que busco determinados temas, ou por que eles vêm ter comigo para que sobre eles reflicta.
Falava-vos a propósito de Julho, que para mim parece ser recorrente tratar-se de um mês de perdas, um mês de mágoas, também de saudade,  também por tudo, de reflexão ( as minhas intermináveis reflexões ), porque cada vez mais acho que na Vida nada acontece de facto, por acaso ou circunstância.

Tem dias em que penso que tudo é mera aleatoriedade, puro jogo, em que se ganha agora, para se perder amanhã, em que pouca coisa parece ter lógica ou faz sentido ...  vai simplesmente ocorrendo.
Mas há acontecimentos, momentos que me "abanam" de tal forma, que, porque me oscilam as bases, me retiram o equilíbrio, me descontrolam o norte, me retiram o chão firme e seguro ...  me obrigam a estacar e a sentir que parecem ser momentos de viragem, parecem ser intencionalmente, momentos em que a "roda livre" em que vamos andando, dia após dia, deverá parar, deverá pausar ...

São momentos em que parece  importante "fechar para balanço", regressar à "concha", recolher à "toca", voltar ao "útero materno "...
Normalmente são momentos de expurgação, de meditação, de crescimento, de reequilíbrio, da tal "aferição" que tantas vezes refiro nos meus escritos.

No dia a dia, o ser humano caminha em "piloto automático", quase na generalidade ;  penso que o posso afirmar sem grande margem de erro.
Uns de uma forma, outros de outra, por esta ou aquela razão ou esquema de vida, cria-se uma espécie de insensibilização às realidades, de que já nem damos conta, e vamos caminhando sempre, porque urge fazê-lo, por sobrevivência, porque os dias se sucedem aos dias, e há que ir acordando em todos eles.

Gera-se um "adormecimento" no ser humano, em que parece realmente que todos, uns atrás dos outros, não somos mais que o hamster na sua roda ensandecida, ou o atleta no tapete rolante.
Fazemos quilómetros de percurso, e não saímos do mesmo ponto ...

É então que inesperada e subitamente muitas vezes, algum desígnio ( não sei qual ), desencadeia um qualquer terramoto, um qualquer acontecimento crucial e determinante, como se alguém se colocasse bem na nossa frente, desligasse a passadeira, ou imobilizasse a roda, e nos dissesse : "Pára !  É hora de tréguas de Vida !..."

E surpreendidos a princípio, porque muitas vezes colhidos de surpresa, começamos então a reduzir o ritmo, a afastar as cortinas do nevoeiro que nos uniformizara o caminho, o qual já não questionávamos, porque nos adaptáramos a ele.
Sentamo-nos então na beira da estrada, na sombra de um pinheiro manso, cuja copa é doce e acolhedora, porque até pela forma que exibe, é uma abóbada celestial ... e com o azul até ao horizonte, com o silêncio a esbanjar-se à nossa volta, com as borboletas e os pássaros a voejar aqui e ali ... tentamos começar a respirar até ao âmago, o oxigénio que escasseava e não tínhamos dado por isso ...
Semi-cerramos os olhos, despertamos os ouvidos, para que o coração comece então a pulsar em alívio e paz.

E choramos, se calhar choramos muito, aliás é desejável que choremos tudo de uma vez, e desesperamo-nos naquela quietude de  beira de estrada ;  se calhar gritamos interrogações bem em voz alta ( porque também ninguém nos ouve ), se calhar revisionamos tudo o que foi e já não é, como foi possível que o fosse e não seja mais, e sempre nos fazemos aquela pergunta, inerente à presunção arrogante do ser humano se sentir realmente importante : " Porquê eu ?  Porquê a mim ?... "

O pinheiro manso não responde, o azul do céu não se compadece, o som do mar não nos apazigua, as borboletas e os pássaros continuam indiferentes, nos seus caminhos a trilhar, as lágrimas acabam secando ... e finalmente estamos nós frente a nós mesmos, como a solidão do soldado no campo de batalha ... meros sobreviventes ... AINDA !!!...

Percebemos então que há sinais, sinais que temos que aprender a interpretar, para os quais teremos que estar despertos ,  percebemos que talvez tenha sido assim, porque simplesmente tinha que ter sido assim ... e que talvez haja uma lógica e uma verdade, subjacentes a isto a que chamam " VIVER " !!!...

Anamar

Sem comentários: