quinta-feira, 26 de março de 2020

" AQUI DA MINHA JANELA "- HISTÓRIA DE UM PESADELO - Dia 15






NA  CORDA  BAMBA !...

Ontem deitei-me profundamente angustiada, desanimada, desencorajada ... apavorada.
Os números da pandemia pelo mundo fora, ultrapassam o meu conceito de pesadelo.
Dizia  para mim, que por mais pensamentos positivos que fizesse, por mais aparente descontracção que fingisse demonstrar  desde logo para mim mesma ... por mais auto-convicção, de que é só preciso ter calma, resiliência e paciência ( porque um dia destes o folhetim acaba, a página vira e acordamos libertos do que havia sido, tão somente, um brutal pesadelo ) ... de pouco serviu.
Sentia-me perfeitamente encurralada, perdida em estrada sem escapatória ...
Eu que quase me desabituara de chorar, agora, do nada, as lágrimas caem-me cara abaixo, num estado de espírito esfarrapado e num desequilíbrio que me assusta.  Lembro muito a fragilidade emocional da minha mãe, nos últimos anos, de quem dizíamos a brincar, ter o coração ao pé da boca ...

Ouvi a propósito, ontem, um depoimento de um psicólogo que dissecava as dificuldades sentidas por este regime de excepção que nos enclausura, sem fim à vista.
E retive algo que me parece muito importante : dizia ele, que um dos primeiros passos para suportar com sanidade este cárcere forçado, é ter aceitação dos nossos estados de espírito, sem brigarmos connosco mesmos, por os acharmos de fragilidade inadequada, por sentirmos que o auto-controlo que em situação normal é imprescindível à nossa segurança, se está a esboroar.
Aceitarmos pacificamente a angústia, a incerteza, a ansiedade ... convivermos com o desânimo e o medo ... como respostas obviamente normais,  à violência traumática a que estamos sujeitos.
Se tivermos que chorar ... pois que o façamos.  Se tivermos que gritar ... idem.
Não desvalorizarmos ou sufocarmos qualquer tipo de emoção, é fundamental.

Depois, sentirmos que para além de nós, estamos a vivenciar fenómenos comunitários.  E estamos solidariamente a "trabalhar" também, para os ajudarmos a minorar, e a resolver uma causa comum.
Esse sentimento de altruísmo, fortalecer-nos-à  e ajudar-nos-à a reerguermo-nos e a sentirmo-nos mais "gente" ...

Falar e expressar os seus sentimentos, dividir com a família e os amigos ( neste momento, obviamente por via virtual ), as dificuldades, os desânimos, o medo e tudo o mais que nos povoe o espírito, sem medo de julgamentos e até mesmo de nos expormos, por parecermos não tão fortes quanto acharíamos ser-nos exigível , ou julgarmos estar a sossobrar à pieguice ... será outro passo a dar ...

Contactar sempre com os nossos afectos, por longe que estejam.
As novas tecnologias são, neste campo, uma benção,  que há anos atrás nem sequer cogitaríamos quanto !...
O toque, a presença física, a voz real, a pele, o colo, o abraço ... o beijo ... vitais para o ser humano, agora impedidos de os usufruir, terão que ser remediados com as comunicações, seja de que natureza forem ...
Uma criança de tenra idade, a quem de repente são subtraídas as presenças de avós, de tios, primos, a ambiência habitual e segura da escolinha, dos amigos, dos professores ... enfim, as figuras de referência afectiva ... tudo ao mesmo tempo ... precisa também readquirir a estabilidade e a normalidade possíveis para que, sem poder entender o que a rodeia, não sofra um traumatismo emocional com consequências gravosas excessivas ...

Depois, teremos que instalar rotinas neste novo esquema de vida.  São obviamente rotinas totalmente diversas  das nossas conhecidas rotinas, da vida fora da "guerra" ... mas ainda assim, rotinas ...
Quaisquer umas ... o que nos der na telha fazer, sem obrigatoriedades ou excesso de zelo.  Sem "forcings" desnecessários .  Até porque temos todo o tempo do mundo !
Vamos mesmo surpreender-nos com as aptidões e capacidades que possuímos, sem o saber !
A vida é vista com outros olhos, os valores assumem outra dimensão, tudo está forçosamente relativizado.  Não se corre mais, para nada !!!
E por isso ... sem stress !...

Acordei com a determinação de que hoje seria dia de faxina, e por isso, a "Margarida-empregada" passou a receber ordens da "Margarida-patroa" ... areia dos gatos, rega das plantas, limpeza de pó ( de uma só das divisões ... nada de exageros ... e sem batotas ! ), arranjo das casas de banho ... etc, etc, etc ...
Como "adoro", sempre adorei e me realizei com todas estas ocupações domésticas 😌😌😌 ... resolvi, para "minorar os estragos",  seguir os conselhos da minha filha mais velha ( parecida comigo pelo menos nesta área ) ... e com a janela aberta  e a  música aos berros, desatei a aspirar furiosamente, como se não houvesse amanhã !...

Acreditem ... dá um resultadão !!!

E por hoje, é tudo.  Até amanhã !  Continuem bem, por aí ...

Anamar

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