domingo, 22 de março de 2020

" AQUI DA MINHA JANELA " - HISTÓRIA DE UM PESADELO - Dia 11






ESPERANÇA


Hoje apetecia-me  baldar-me ... apetecia-me fazer-me de songamonga, de esquecida, ou fugir ( p'ra onde ?... não tenho !... ) ... Afinal hoje é que não tinha mesmo nada de especial para vos contar, neste décimo primeiro dia de clausura.

O dia amanheceu lindo de sol, e depois, apanhando-nos distraídos, começou a semear nuvens aqui e mais além, que se foram avolumando e tornando a tarde bem mais desmotivante.
Disseram-me tratar-se de cirros, nuvens formadas na alta troposfera a 10000 Km de altitude, associadas a tempo agradável, cuja orientação indica a orientação do vento.  As coisas que as pessoas sabem ! ...
Levantei-me meio estremunhada pelas dez e tal, ainda atarantada por uma insónia malfadada que me atazanou o espírito a partir das seis da manhã.   Ora estamos exactamente numa época em que as insónias são de todo desaconselhadas, já que criam terreno fértil para que as sensações mais depressivas nos atormentem.  E foi o que me aconteceu.
Neste clima de medo, insegurança, paranóias, cansaço já a instalar-se , neurastenia crescente propiciada pelo isolamento voluntário já longo e sem fim à vista, uma insónia é um desastre total !
Nada de bom nos assalta, pulamos de desgraça em desgraça, de preocupação em preocupação, como rastilho em restolho deixado ...

Decidi portanto e rapidamente preparar-me para uma caminhada, que funciona como um copo de tinto para levantar o astral.
Temperatura amena  como disse, excesso de pessoas nas ciclovias e vias pedonais, procurando a higienização  mental e o desenferrujar de articulações meio paradas, fruto da permanência e uma inactividade acrescida, em casa.  Contudo, não mais do que pares  circulavam, e ainda assim, bem afastados uns dos outros.
O regresso a casa e o encarar de uma nova semana, que será por certo apenas mais uma de uma grande história nas nossas histórias, o voltar ao silêncio de uma casa onde apenas eu e os gatos atestamos que por aqui há vida ... quase me atiravam p'ra uma fossa danada, e nem o "sentir" que por todos os lados as vivências são as mesmas, as dificuldades também, e nem o saber que todos arrastamos correntes para melhor ou pior irmos conduzindo adiante este barco, no meio de uma tempestade sem tamanho ... me animava.
Sei exactamente que é a hora de, de longe nos sentirmos perto.  Sei exactamente que por detrás de cada janela iluminada, haverá o esforço comum da solidariedade que nos devemos, e que importa respeitar .  Sei exactamente que advirá da robustez das cadeias criadas, o sucesso na vitória ...

Sei tudo isso, mas ...

Foi então que o telefone tocou e foi a vez de, do Kiko ao António passando pela Vitória, naqueles seus discursos parcos de palavras, nas idades desajeitadas que detêm, os meus miúdos me dizerem "olá avó ... como vai isso por aí ?"...
E pronto ... lavou-se-me a alma outra vez.  E estou novinha em folha para amanhã recomeçar uma nova semana ... com esperança, confiança e certa mesmo que a vida se reinventa, se reorganiza e arranja as formas mais sub-reptícias de nos compensar, de nos amparar  e não nos deixar despencar para o abismo existencial !

Até amanhã e façam o favor de continuarem benzinho ... 😄😄😄

Anamar

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