sábado, 28 de março de 2020

" AQUI DA MINHA JANELA "- HISTÓRIA DE UM PESADELO - Dia 17

AS  ANDORINHAS






E depois há dias assim ...
Não sei se foi das raízes, se é mesmo o maldito espelho que não está a ajudar nada !
Levantei-me já cansada, com o peso nas costas ... Acho que não é bem nas costas, mas mais para o meio do peito ...
Ainda na cama, ligo o telemóvel que durante a noite não tem ordem de dar um pio, e pronto ... deparo-me com a tragédia bem vívida, bem real ... outra vez à minha frente.  Não era pesadelo nocturno !...  Mais de cinco mil infectados ... cem óbitos !
E nem espiolhei ainda a realidade dos países mártires ...
Países de coragem, de luta, de abnegação, força e fé !  Fé nos seus povos que continuam a esbracejar, titanicamente,  como já li, numa praia enfrentando o tsunami...
O soco  seco, no estômago, fez-me retomar a realidade.
Ficar na cama seria uma opção.  Aquela, era a que eu queria, podendo apagar em sonhos de esperança, o pesadelo.
Mas, disse para mim mesma, que não era solução !  Afinal ... logo, amanhã, depois , a realidade nunca escamoteável, estaria sempre além das minhas janelas, sem apelo ...

Assim, mesmo estando também "escaqueirada" da lesão muscular contraída na passada segunda-feira, lá me levantei.
Para abrir a janela do quarto, passo por um famigerado espelho, e foi aí que voltei a constatar o inevitável :  Rosto macilento, olheiras vincadas de noites mal dormidas, "preguinhas" de apreensão no meio da testa, conferindo-me um cenho carregado ... e claro ... uma auto-estrada previsível no meio do cabelo, que está reclamando à minha revelia, a cor com que Deus Nosso Senhor me acha ajustada nesta altura do campeonato !.....
Torci o nariz e pensei :  hoje, o "restaurador" comprado no super  e cuja eficácia desconheço, terá que entrar em acção.  Porque ... pelo menos isso !  O meu astral não poderá piorar à custa destes dramas femininos !
A questão era saber se escolhera bem o tom... Vamos que de repente eu me torne tricolor, como as gatas ?!...  😄😄😄

Passando adiante na minha história, voltei a meditar sobre a "nojentisse" crescente, exibida sem pudor, humanidade e moral, pela Europa de norte.  Xenófoba, discriminatória, egoísta, e desconhecendo a palavra solidariedade, "estranha" e exige esclarecimentos  (de alguma forma ), que justifiquem a incapacidade dos países do sul ( com menos recursos, economicamente mais desfavorecidos e fortemente golpeados neste momento pela catástrofe ), para enfrentarem a desgraça que sobre eles se está a abater ...

"Nojenta" classificou e bem, António Costa, a declaração infeliz, desapropriada e inclassificável, do ministro holandês, em recentes declarações.
Mas  infelizmente, não apenas a Holanda inviabilizou a aprovação das eurobonds, medida tentada no Eurogrupo como solução possível para mitigar economicamente a recessão dramática que eclodiu e avançará, e que é tão destruidora para as sociedades dos países economicamente mais débeis, como o coronavírus ...
Os senhores do dinheiro, economias mais fortes e folgadas, com a Alemanha a liderar, fazem perigar a unidade e o espírito que subjaz ( já não sei ... ) à criação da União Europeia.
Valores tão básicos e importantes como a solidariedade dos povos, está a esfrangalhar miseravelmente, nobres princípios, objectivos e metas, mentores da criação dessa Organização.
Parece esquecerem-se os compromissos assumidos da erradicação da pobreza, reforçando-se a coesão económica,  e o favorecimento do desenvolvimento sustentável das sociedades com essa mesma coesão,  a promoção da paz e do bem estar dos cidadãos em liberdade e justiça ... entre outras linhas programáticas de base, que nortearam a criação da referida instituição ...

Nos tempos do "sonho" ... porque agora, na altura em que deveriam ser lembrados, respeitados e postos em prática ... o egocentrismo das potências dominadoras surge nas formas mais hediondas ....
Afinal, "casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão" !.....
O Homem no seu pior !....

Mas pronto ... as andorinhas voltaram !
Vi-as ontem, rodopiando na mata.  Olhei e sorri aos seus voos rasantes, portadores de esperança, de renovação, de certeza, de confiança e de promessa ...
De que tudo voltará a ser como foi ... de que a vida voltará a saber sorrir-nos ... de que as Primaveras continuarão a despontar, como as flores ... de que a Vida vencerá a Morte ...
... e que haverá outros Marços azuis e não negros ... de alegria e felicidade para todo o Mundo !...

Até amanhã !  Fiquem bem, por favor !




Anamar

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