sexta-feira, 4 de junho de 2010

"PERGUNTO-ME..."


Geralmente me esqueço que tenho um "site meter" no blogue. Até porque com muita frequência escrevo a desoras, depois de postar o texto, desligo o PC e procuro "outros" horizontes....

Também, como aparece na nota introdutória do "filosofices", é verdade que escrevo mais por gosto, necessidade, amor a este jogo de caracteres que pode criar um bom ou mau texto, uma boa ou má comunicação, uma acertada ou completamente errada imagem sobre o autor, por parte de quem lê...

Certo é, que escrevo muito sem me preocupar com quem está para lá deste veículo transmissor, ou seja, tomo mesmo à letra, embora não intencionalmente, a ideia e a certeza que a escrita é um acto de solidão, é um acto de encontro connosco mesmos, e por isso, para ser isenta e vernácula, genuína e autêntica no que transmite, não pode ter peias, correntes ou grilhetas...

Dito doutra forma, enquanto escrevo, não posso "sentir" olhos, ouvidos, vozes, de aquiescência ou desagrado, desse lado...senão auto-amputo tudo o que preciso ou quero dizer, independentemente da importância ou relevância do assunto em si....

Tudo isto é exactamente assim, o que não significa que, por cada post que aqui deixo (com as minhas tão discutíveis opiniões, sentimentos, formas de pensar), eu não verifique os comentários dos leitores das minhas "escrevinhações" (se os há)...

E não é por nada em especial, não é para alimentar nenhum sentimento narcísico da minha parte....É tão simplesmente para perceber em jeito de eco, se realmente o tive ou não, se há quem concorde ou discorde da forma de eu me exprimir sobre qualquer tema, ou se, ao contrário, as pessoas ignoram esses mesmos temas, por eles terem talvez  uma tónica repetitiva, ou serem tão intimistas ou irrelevantes que não têm discussão possível.

Ou até mesmo, para perceber se eventualmente estou equivocada, sobre a forma como vejo muitas das realidades à minha volta, (que não sei se são as verdadeiras, se aquelas que os meus olhos, alma e coração lêem), ou se os temas que me "chegam" imperativamente, são desinteressantes, dispensáveis, não sedutores, superficiais, para a generalidade das pessoas... 

Efectivamente constato que existem muitos outros espaços que os leitores franqueiam muito mais, estabelecendo com o autor dos blogues, uma plataforma de dialéctica que acaba por ser verdadeiramente interessante, aliciante e enriquecedora.

Bom, como vêem, "as conversas são como as cerejas", já todos sabemos.
Era minha intenção escrever sobre algo completamente diferente, mas fui "puxada" para aqui....

Neste momento só quero despedir-me do astro-rei, que lá bem ao fundo me está a presentear com um pôr de sol fascinante...assim, una espécie de prémio da vida, que HOJE ainda tive o privilégio de contemplar : o seu poisar na linha do horizonte....Aquela bola de fogo laranja, a recolher-se,  é dos acontecimentos que, em qualquer lugar do Mundo me extasiam e me suscitam um sentimento de gratidão!!...

Anamar

quarta-feira, 2 de junho de 2010

"VAMOS LÁ CAMBADA!..."


E pronto, começou a "cegarrega" das "vuvuzelas"...

Um país que em cada dia que passa, acorda mais e mais  de calças na mão (e qualquer dia nem isso...), fica feliz se tiver uma vuvuzela e vier para a janela "azucrinar" a cabeça ao desgraçado que teve o azar de ser seu vizinho...só porque o campeonato  do Mundo (é sempre a mesma droga), começa daqui a dias na África do Sul!!...

É mesmo coisa de pobreza, não acham???
Parece aquele menino ( de outros tempos, claro), que não tendo dinheiro para uma bola de futebol, construía uma de trapos, com duas pedras fazia uma baliza, na alma travestia-se sempre de Eusébio, e não precisava mais nada para fazer o seu próprio campeonato de rua ou de pracinha e ser feliz, pelo menos por uns tempos...

O "filme" é o mesmo das eleições; ganhem os da esquerda, ganhem os da direita, tenha-se votado ou não em consciência, num país analfabetizado politicamente e não só...mesmo que não haja dinheiro p'ra prestação da casa e para o resto da sobrevivência do mês, e ei-los, de bandeiras ao vento, dependurados dos carros até alta madrugada, rua abaixo, rua acima, porque o depósito enche-se de novo, se for o caso...

E claro, as cornetas, os buzinões, os apitos, os berros e...as vuvuzelas, são ensurdecedores!

Penso que não é ser radical, ou do contra, gratuitamente;
Penso que não é "armar-me" em coisa importante, por achar tudo isto uma infantilidade e uma imbecilidade...
Claro que fico feliz se Portugal tiver uma boa prestação, e mostre ao mundo que os pigmeus, em certas coisas, também se podem tornar gigantes. Seria anormal se assim não fosse.

O problema é que,...por que raio tenho eu que levar com "aquelas" gaitas aos ouvidos, se nada daquilo é construtivo, resolve os problemas das pessoas (apenas pela alienação que traduz), e me moem a alma, a mim também, esquecendo-se sempre que a liberdade deles acaba onde começa a minha...

Ao menos que inventassem algo melódico, que não agredisse os tímpanos, que até fosse agradável ouvir, mil vezes por dia...sempre era menos mau...

Bom, como vêem, o meu humor hoje está um pouco "enfarilhado"...

É que mal deitei, há pouco, o nariz para fora da janela, no intuito de refrescar, desta sauna inclemente, que foi o dia de hoje...e catrapumba...levei logo com uma "vuvuzela" nas "trombas" (salvo seja), e resta-me consequentemente, fechar tudo, morrer de claustrofobia, ou então, ser "incinerada" prematuramente, com o calor que vai nesta casa, ou melhor, lembrei-me agora...emigrar (para os pólos, não, que aquilo lá está a derreter....)..........as Galápagos.....talvez fosse uma boa aposta!
Têm como recepcionistas uns "lagartões" de respeito...mas deve reinar um silêncio, que agora até me dava um certo jeito!!...

Anamar

domingo, 30 de maio de 2010

"CONVERSANDO COMIGO MESMA"



"Até amanhã"...
e arrastando os pés, o homem saiu. Tinha estado a tomar café e a ler o jornal da casa, que se aprestou a deixar depois, à saída, para outro utente usar....
Saiu como digo, arrastando os pés... os seus mais de oitenta a isso o obrigavam. Esteve sentado numa mesa atrás daquela onde me sentei e deixou o jornal a uma senhora na mesa depois da minha.
Nessa mesa estava a tomar café e a ler, uma mulher, muito modestamente vestida, cabelo sem cabeleireiro por perto (via-se), na casa dos cinquenta anos, talvez. Fazia intervalos frequentes na leitura, algo desatenta, portanto, como que em "viagem", regressando depois...como quem tem todo o tempo do mundo. Olhava para longe como quem olha...mas não vê...

É sábado, não disse. O Escudeiro, hoje, excepcionalmente fechou, e estou a tomar o pequeno almoço, naquele a que eu chamo "o café dos velhos".
É um café muito antigo e carismático cá da terra, por acaso ao contrário do Escudeiro, com muito mais luz (valha-nos isso), frequentado por pessoas da faixa etária sénior e "extra-sénior"...
Os pigarros ouvem-se constantemente, as conversas entre mesas (sim, porque os clientes são sempre os mesmos), andam  à roda das doenças, inevitavelmente, e as despedidas fazem-se "até amanhã"...

Eu, que ao acordar, quando ainda estamos naquele dorme acorda, faço sempre o balanço do dia que me espera, pensei: "que dia é hoje? Sábado...", e sábado é o primeiro de dois dias absolutamente terríficos, neste momento, para mim, que formam o fim de semana, e o fim de semana para mim, é devastador!
Se nos outros dias da semana, tenho sempre algo a fazer ou a tratar, aos fins de semana, que se "cheira" no ar a ociosidade de quem trabalha toda a semana, é um vazio e uma angústia a amarinharem por mim, porque me pergunto a mim mesma: " vou fazer o quê?  e de facto, não consigo (e não sei como fazê-lo), arranjar eventos, pessoas libertas ou que alinhem comigo.... fica aquela coisa das horas a passarem, o sol a cumprir a sua obrigação (que é caminhar até se pôr), e depois, bem, e depois é uma noite mais para dormir... ainda há tão pouco me levantei...

Lá vem a D. Madalena essa já conhecem)....ainda a não vejo e já lhe ouvi a inconfundível voz, lá para a entrada do café.
Obviamente só podia ser utente deste café, claro. Quase tem lugar cativo...
Encontrou logo um "amigo", um compincha que dialogava com ela, com uma bonomia, como se a D.Madalena, por ser atoleimada, fosse uma criança....

Tive o azar de que se sentaram na mesa atrás de mim, que entretanto vagou...
Claro que a minha concentração foi "p'ro espaço"!!!!!
Porque a D.Madalena quando vem, é p'ra ficar, e o dia está completamente cinzento, com uma aragem desagradável, não há sol e portanto os bancos da minha praceta não "convidam" ninguém... Assim, dos seus dois  poisos possíveis, este, é o viável para a D.Madalena no dia de hoje.

Vamos agora ver este filme ao contrário, que será o que muita gente dirá: "coitadinha, está deprimida porque não tem programa para o fim de semana, porque está só, angustiada, porque não tem ninguém afectivamente próximo a quem se ligue!!!...
Não deve ter os problemas económicos que arrasam as famílias deste país...não deve ter que aproveitar o fim de semana para fazer os trabalhos que a maioria das mães de família e donas de casa têm, porque durante a semana correm para os empregos, não deve ter que minimamente analisar o andamento escolar dos filhos, porque também é quando têm tempo para isso....não deve ter que ir correndo para as grandes superfícies abastecer-se, por ser mais barato!
Se está no café, não está no hospital,  portanto deve ter por certo, saúde razoável que lhe permita essa disposição, e certamente algum dinheiro para gastar...."

Na realidade tudo isto é verdade, e eu devia ser tão agradecida seja lá a quem for, porque, no fundo, os reais e sérios problemas da vida  das pessoas, aqueles que, por desespero levam tantos ao suicídio, levam tantos jovens a deixar os estudos prematuramente, para entrar no mercado de trabalho, levam tantas vidas familiares a desmembrarem-se, levam tantos doentes de carácter urgente a morrer pela impossibilidade de recorrer à saúde privada, marginalizam e atiram para caminhos de desgraça, pessoas  na desesperança da sobrevivência... esses problemas eu tive a sorte de de facto não viver..

E sinto, sinto que devo agradecer por poder ir ao café ( mesmo "dos velhos"), acordar para um sábado (mesmo cinzento),tentar achar que o vazio que está cá dentro e origina o vazio exterior terá que ser preenchido de alguma forma, e que eu não posso sossobrar, e não posso toda a vida dar-me o luxo de pagar semanalmente oitenta euros a uma psicoterapeuta (que  efectivamente é extraordinariamente fundamental e devia ser acessível a qualquer pessoa ) e mais oitenta euros de quando em quando ao psiquiatra, para me entupir de químicos, que tornam mais azul o esmaecido do meu céu...

Tenho que festejar estar viva porque possivelmente estando viva, terei acesso a usufruir essa natureza gratuita que nos oferecem, na simplicidade e beleza de uma flor à beira da estrada, no som do mar e nos salpicos da espuma nos rochedos, no sol a deitar-se ou a espreguiçar-se, na chuva que me encharca e no calor abençoado do sol, que me seca a seguir, na melodia do canto dos pássaros, na melopeia do vento nas searas no meu Alentejo, na beleza esfuziante duma borboleta...tudo sem eu pedir, tudo sem eu eu sonhar, tudo sem eu merecer sequer...

Bem, a minha crónica de hoje é uma crónica de paz, porque, não me perguntem porquê, hoje sinto-me pacificada por dentro, como se uma turbulência destrutiva estivesse a deixar-me, para que eu tivesse direito finalmente ao sossego do sono da criança que ainda sou...

Amanhã não sei como será......mas pelo menos hoje, sinto-me assim, e amanhã é outro dia!...

Anamar

sexta-feira, 21 de maio de 2010

COISAS QUE "TALVEZ" SE EXPLIQUEM....OU NÃO....

Estranho!....
Hoje venho aqui falar de algo que não sei falar.
Acabo de chegar de uma igreja, onde acendi duas velas.... Mais estranho ainda, visto que sempre me conotei como uma agnóstica confessa. O meu pai, era o tal que dizia que se no leito da morte pedisse um padre, o ignorássemos....porque ele já tinha sim, morrido...

O que me levou então a tomar esta atitude aparentemente paradoxal, vista de fora? O que me levou a quebrar o meu racionalismo de posse da razão, e depois das velas acesas, com o olhar perdido....não sei, se calhar no infinito, guardar aquele recolhimento de não mais de dez minutos? O que me levou a procurar aquele local de silêncio e sombras ....e "conversar", conversar simplesmente, interiormente, não com Deus, não com os santos cujas imagens revestem os altares, não com a Virgem de Fátima, no seu mês de Maria???!!!!

Ontem fui à margem sul, onde já sobejamente referi, a minha mãe vive neste momento. Fui para a ver, fui para conversar um bocadinho, fui para lhe levar alguns dos miminhos que eu sei que ela gosta.
Regressei e obviamente, talvez três da tarde, tomei a ponte 25 de Abril, sob um calor abrasador.
Vinha devagar, o rádio baixo, como gosto, o vidro aberto, para refrescar um pouco.
O tabuleiro da ponte tinha aquele trânsito que lhe conhecemos, nunca pouco, e nunca muito lento.
Vinda da via verde, acessei àquela faixa reticulada da esquerda, comecei a fazer pisca para passar para a faixa do meio, de betão, cujo pavimento eu gosto mais...e assim que inicio a manobra, o carro entra-me numa derrapagem incontrolável, todo o meu lado foi "socado" contra o rail separador do tabuleiro, o meu airbag lateral rebentou, e como uma bailarina, numa dança louca e frenética (eu fiquei tão atónita que tirei os pés do acelerador e travão), rodopiou enquanto quis, até que, situando-de totalmente na faixa central, retomou o caminho a direito, como se nada tivesse acontecido.
Não houve quebra de vidros, os vidros e luzes funcionam normalmente, portas e fechaduras também....

Já há uns anos, experienciei (na altura não era eu a condutora), a sensação aflitiva e de total impotência de uma derrapagem, só que em estrada aberta, digamos assim. Desta vez, a pergunta que me faço, não é a da derrapagem propriamente dita, porque para isso há explicação científica que já darei  (porque pode até ser útil),....a pergunta que me faço, é, como é que no puzzle do trânsito que circulava....o pesadelo não foi mais longe, e eu não provoquei choque, ou choques em cadeia???!!!!
Eu "dancei" aleartoriamente entre os carros e não toquei nenhum!!...

A derrapagem em si, explica-se pela subida do ar quente do tabuleiro inferior, onde circula o próprio comboio. O ar quente ao subir diminui o atrito e portanto a aderência dos carros ao piso. No Inverno é o ferro da retícula que também impede uma maior aderência....

Retomo o início deste post; podem rir ou achar ridícula toda esta explanação; provavelmente vão achar que a sugestão, o choque ainda, a estupefacção e a consciencialização do que ali poderia ter ocorrido, me tolda o raciocínio, me tolhe a racionalidade ....me retira o discernimento....

Retomo o início deste post, em que me assumo como agnóstica confessa.
Tenho, contudo, sempre, dentro de mim, e é para ele que apelo, agradeço ou suplico....o meu pai, que me deixou há dezoito anos, e que, como uma espécie de guia ou bordão, se estivesse corporizado, de tudo faria, como sempre fez, para me proteger....

Por isso, podem achar que tudo são coincidências ridículas....Para mim, ontem, às três horas, naquela ponte, a mão dele estava lá....e guiou aquele carro até porto seguro....

Anamar

domingo, 16 de maio de 2010

"A INGENUIDADE JÁ FOI...."





Realmente a "ingenuidade" já foi....

É domingo e o " calvário" dos fins de semana instalou-se efectivamente na minha vida....
Depois de ter ido ver os meus pilantrinhas, e explicar ( ? ) o Big Bang e a Teoria da Relatividade ao António, que mo solicitou...8 anos!....(como não dizer que a ingenuidade já foi)!....resolvi ir ao cinema, para ocupar mais uma tarde de doidos, com mais uma futebolada que "de certeza" livra o país da recessão.... (que pobreza! de terra que nós somos!....), e como estamos a entrar em mais uma época baixa de sétima arte, sem grande escolha, já que as férias, o sol, o calor e o mar, começam a deitar a cabeça de fora....fui ver um filme novela, de desfazer corações , um pouco pindérico no argumento de sentimentos irreais....adolescentes....

"A melodia do adeus", baseado em mais um romance do fabrico em série e tónica igual, de Nicholas Sparks, que talvez referenciem pelos primeiros romances que o lançaram,.... "As palavras que nunca te direi"e "O diário da nossa paixão"  foram livros que li com agrado.O primeiro, adaptado também ao cinema, não me defraudou....

Estive a ver agora na estante, e admito não ter contado correctamente, e detecto que "aguentei" ler oito volumes dum autor, que se tornou um ídolo dum público feminino, cujos livros, têm sempre a mesma matriz, que "pintam" a vida normalmente com a mesma paleta de cores, e cujo fim, já se identifica, ou adivinha, no pricípio...

E cansei....
Não comprei mais, não aguentei ler mais, achei que estava a desaprender sobre a vida real....ou então, essa vida real, já me endureceu de tal forma, que me tornei progressivamente mais exigente com os conteúdos.
É um autor que vende aos quilos, é um daqueles fenómenos um pouco inexplicáveis, tem o seu público fiel (preferencialmente feminino, e por isso se contariam pelos dedos os homens que estavam na sala) e deu direito a muitas, muitas lágrimas, ou fungadelas ao longo da exibição, por parte da assistência...

Não é por acaso que Nicholas Sparks entra na minha leitura de cabeceira.
Ele faz parte do longo deserto afectivo e dum período duro e inconsciente, de adormecimento e imaturidade da minha vida....Ele é por assim dizer "O simplesmente Maria", a "Crónica Feminina", "Os Caprichos" (lembram?), "A Escrava Isaura", "O pantanal"....onde eu me ia "abastecer" para continuar a acreditar que a vida é dos grandes amores....que é tudo sentido e verdadeiro o que nos contam, que tudo, mesmo depois do sofrimento, tem um final feliz à nossa espera....
Trinta e três anos de uma longa travessia sem oásis....
A escrita de Sparks é onírica, e o ser humano, (preferencialmente o profundamente emotivo, que é o feminino), precisa "agarrar-se"a realidades minimamente felizes, que não vive...

Por isso hoje, eu não diria, a "lamechice" do que estive a ver ( porque respeito o direito à opinião e ao gosto das pessoas), mas o conteúdo (vou dizer assim), conseguiu despoletar em mim uma raiva, um azedume, e até uma mágoa ainda, porque, não vou a Fátima a pé, mas cá no fundo continua a existir aquela luzinha um pouco crédula da adolescente que eu fui, apesar das "lambadas" que fui levando pelo caminho, e apesar de, quando racionalizo, saber que o que há para percorrer, já só é uma vereda com cardos e silvas....nem chega a ser uma estrada....

Anamar

quarta-feira, 12 de maio de 2010

"A SUPER AVOZINHA..."




Não tenho por hábito, por muitas e variadas razões e convicções, expor na NET, aqui e noutros locais, fotos familiares ou pessoais.
Normalmente procuro aquilo que quero, em tantas hipóteses que a NET nos oferece, e sem que o objectivo seja plagiar (de forma nenhuma), completo ou ilustro o trabalho que quero fazer...
Também, refiro-me de alguma forma aos meus familiares mais chegados, porque fazem parte do meu quotidiano, quando, por esta ou outra razão , são motivo de referência.
Como sabem, este blogue é intimista, e como tal, ao escrevê-lo, sempre abstraio de tudo o que me rodeia;
Não é propriamente uma espécie de egocentrismo gratuito....até porque ninguém tem que "levar comigo"...é porque aqui, é mesmo o tal buraco do deserto, que se calhar todos precisaríamos ter, para gritar, rir, chorar....nós, e ele, o buraco....e ninguém a existir à nossa volta....

Bom, mas desta vez, eu trouxe aqui, pelo inusitado da coisa, uma foto pessoal mesmo, da minha mãe, a tal velhinha que contabiliza os tais 89 anos... (eu , não faço parte da história, apenas não tinha nenhuma foto onde ela estivesse só).
Já deixei ao longo deste blogue, aqui e ali, salpicos, do que é a personalidade da mulher com quem ainda hoje tenho a felicidade de repartir a minha vida, mas vou só acrescentar aqui e ali alguns pormenores, que mesmo conhecendo-a como conheço, me deixam o queixo cair...e levam a minha filha mais velha (o elemento que ela mais respeita na família....rsrsrs), a epitetá-la de "a super avozinha".... Senão, vejamos....

Eu casei muito novinha, dezanove anos (coisas das épocas), e o meu ex-marido, que na altura, já licenciado e a trabalhar, devido às vissicitudes da vida sempre viveu um pouco afastado dos próprios pais, foi, por assim dizer, "adoptado" por ela  (ainda éramos solteiros na altura), como o patinho feio, pretinho, no meio da ninhada amarelinha....

Foi, portanto ele, um filho,  e não o "tradicional" genro, (ele, aliás, trata-a ainda hoje,e apesar dos pesares, por "mãe"...),

Foram passando os anos, muitos, muitos anos...e o nosso divórcio aconteceu....

Tínhamos na altura uma vivenda, tradicionalmente de fins de semana, embora com todas as comodidades....
Implantada num jardim de mais de mil metros quadrados, vive rodeada de trepadeiras, relva, árvores e arbustos que florescem numa explosão de cores, espantosa. Tem uma piscina muito grande e tem sempre, como aqui já tenho dito a brincar....5x5 cm de terra onde a minha mãe, claro....tem que colocar uma sardinheira.

Eu acho que ela conversa com elas, enternece-se por cada botão, do borboto à flor aberta....enfim....

Isto para vos contar o quê?
Que, após a minha, felizmente já pacífica separação neste momento, com quem vos parece que a minha mãe decidiu ficar, para o melhor e para o pior, nesta vida?....
Pois é!  Deixou a sua casa fechada, onde muito pouco vem, "deixou" uma vida que seria certamente mais perto de mim, por ser na mesma localidade, e ficou com o "outro" filho, com as buganvíleas e as glicínias, com os noveleiros e as azáleas.......e claro.....com as suas sardinheiras!!!

Eu fico feliz por ela, pelo sol que ela apanha, pela alegria de se sentir útil e protectora (não esqueçam que ela é da época em que os filhos-homens eram imbecilizados pelas mães, no que toca aos trabalhos domésticos...), por cada ninho, cada melro, cada cuco que ela pode ouvir....e fico louca da vida quando me conta, pujante de energia : "Antes das seis e meia da manhã já estou na piscina" (onde molha as pernas até às coxas), fazendo aquilo a que ela chama de  hidro-ginástica para ajudar as articulações dos dois joelhos, que numa queda fracturou, já com oitenta e dois anos.
"Depois faço meia-hora de ginástica, aos ombros, aos braços, ao pescoço, e passo os rolamentos em madeira pelas costas, obrigando a coluna a ficar o mais direito que consegue, e os braços a irem para trás o que puderem...." Tomo então o meu duchinho quente, visto-me, e começo "a minha vida"!!!....Sim, porque eu quero cá estar com vocês ainda muito tempo!!!!....

Sempre conheci a minha mãe assim...."depressões"?...."papa-as" ao pequeno almoço....as suas rendinhas, os bordados quando ainda via bem, e o seu Sporting de que até a um treino assistiu e de cujos jogadores (no tempo do Augusto Inácio) tem autógrafos e dedicatórias carinhosas, e que agora grandes "dores de cabeça" lhe dá.....chegam-lhe para viver....

Agora digam-me: Com uma progenitora assim, com uma força destas, com uns genes que já não se fabricam....como é possível ter saído uma "pamonha" que nem eu???!!...

Anamar
                                 
                                

segunda-feira, 10 de maio de 2010

"NADA SE PERDE....TUDO SE TRANSFORMA..."




Um domingo absolutamente atípico, um domingo, sem grandes excepções, ao que prevejo serão os meus domingos daqui para a frente...
Considero que entrei no cinzentismo da vida. O que é que eu hei-de fazer, senão andar rua abaixo, rua acima, com o risco mais que inerente, indesejável e nada oportuno, de gastar dinheiro, com as lojas a piscarem-me os olhinhos , depois de ter percorrido todos os meus contactos possíveis, do telemóvel e cada um já ter programa definido - senão, como dizia, percorrer as labirínticas ruas (p'ra mim são sempre labirínticas, a menos que ande de GPS na mão), de um Centro Comercial qualquer, de preferência um, que descobri,  pertíssimo aqui de casa, que estranhamente , ou não (...), eu não conhecia - o Oeiras Parque, aconchegante, espaçoso, pequeno, luminoso....Por que será que nunca foi incluído nas "rotas"?.... Já não interessa....

Enfim, eu até sei por que vim aqui...não foi numa súbita curiosidade de conhecer o Centro, eu, que nem aprecio particularmente estes espaços; vim, porque a minha vida, presa por arames, parece a de um zombie, mexido por cordelinhos, e o programa do dia, por cada dia que passa, depende sempre de tanta coisa....mas, espremido, não tem , de facto, nunca, luz...

Na 3ªfeira passada, movida por desígnios de injustiça, indignação, tristeza, de morte e raiva, eu estava no píncaro dos Himalaias...eu podia tudo, eu ia ser capaz de tudo...uma mulher nova tinha nascido!....
Na 4ªfeira, razão tinha o médico, quando com toda a objectividade me disse:" nem tenha ilusões que se iria aguentar, assim, num clique, sem fármacos....de uma assentada!..."
Não disse nada, mas pensei: "estes gajos (os psiquiatras), que mania têm de nos enfiar as "pílulas milagrosas" goelas abaixo (o meu cardápio conta, por exemplo com sete qualidades por dia)...enquanto podem!...Nem percebem que isto é como o tabaco...a gente consciencializa as coisas, faz a mentalização adequada, exercita o seu auto-domínio....e pronto....tem de ser dum dia p'ro outro!"....- isto era eu a pensar...

Quanta infantilidade!! Nessa mesma quarta feira, já eu era como um balão, com um furinho minúsculo, mas a perder ar...e fui perdendo, perdendo, perdendo...e hoje, domingo, nem preciso tirar a guita do pipo...simplesmente porque nada há já para sair...

Enquanto estava comodamente instalada numa poltrona do Centro, com os olhos no tudo e no nada, de repente, atravessou-me o espírito, a D. Ester.
A D.Ester era uma senhora que morou sempre na avenida onde eu e os meus pais vivíamos. Era uma senhora, na verdadeira acepção da palavra,  penso que até mais nova que a minha mãe, bem desempoeirada, vivia com o marido e lembro que um lindo gato, persa, branco, que desafiava as leis da gravidade constantemente, porque se pavoneava ao sol, no parapeito da janela, que, muito embora fosse um primeiro andar, me deixava com o coração nas nãos. A D.Ester, não tinha, portanto, filhos.

Inesperadamente, enviuvou, e esteve viúva, algum, não muito tempo. Recordo, e era bem pequena, (talvez 13, 14 anos), quando a D.Ester, senhora, como disse, respeitável, insuspeita de comportamento, foi sujeita, a todo o tipo de comentários, pelas mentes pequeninas, desdenhosas, sem a frontalidade e coragem (para a época) em que viveu, mentes maldosas que se realizam para, e pela infelicidade dos outros, porque pôs um anúncio de casamento num jornal, voltou a casar e foi bem feliz, com um companheiro um pouco mais novo, com quem viveu, até à morte deste, também.
Pouco depois, partia a D. Ester...

Hoje, eu percebo-a lindamente...pareço vê-la, à sacada, com o seu gato branco, à hora do regresso do trabalho do marido.
Era o tipo de pessoa que não viveria sem afecto, que precisava de amor para respirar, definharia na solidão...

Há seres assim, não conseguem secundarizar o amor, viver em desertos afectivos.
Não conseguem ver cor em nada, sozinhas....olham sempre, mas só vêem se forem quatro olhos a direccionarem-se no mesmo sentido; o valor e o valer a pena das coisas, só se justifica se partilhada, não têm maturidade nem autonomia afectiva....têm que ter luz no fundo do túnel que é, de facto, a vida.
Há pessoas que não vivem senão partilhadas, sem dar-se e receber, sem se dividirem....

Ao longo da vida ouvi a minha mãe dizer (e di-lo até hoje : "A vida tudo nos dá e tudo nos leva")....
Eu estou mais (e ensinei anos a fios aos meus alunos, o princípio do grande Lavoisier, da conservação no universo....)
Eu não acho que a vida tudo nos leve. O que nos dá, apenas transforma....e enquanto que à chegada, a "nossa arca dos sonhos" está repleta, e a das recordações, vazia....no fim da jornada, a dos sonhos esvazia como o meu balão furado, e a das recordações, tenho que me sentar em cima dela para a conseguir fechar...enquanto espero...

Estas "arcas" são a nossa vida...e nela, de facto, nada se cria, nada se perde...tudo se transforma!...

Anamar

sexta-feira, 7 de maio de 2010

"HOMENS EM FUGA"

Por que será que o ser humano tende a repetir os registos e padrões comportamentais de vida, ainda que erráticos, mesmo que o perceba e o consciencialize, se sinta desconfortável com eles....parecendo nunca aprender nada, como tatuagens grudadas à pele para sempre???...

A Psicologia explica de certeza, os psicólogos, psiquiatras, psicanalistas devem conhecer e saber explicar estes meandros da alma, tão complexos...

Eu não fugi à regra...
Os homens que eu amei...os homens que me amaram (?), comportamentalmente têm de facto, todos,um padrão comum, um misto de prazer e sofrimento que parece ser o que eu busco, um masoquismo patológico centrado em mim...São todos eles, "homens em fuga"...

A  matriz original começa na figura parental do meu pai, cuja vida (como algumas vezes já aqui referi), era ser viajante de uma firma de ferragens. Foi o primeiro homem que me dava por felicidade, os escassos momentos que estava presente.
Era uma figura "incerta" na minha vida. Desde sempre, o vi sair para viagem às segundas feiras, e acho que desde muito tenra idade, devo ter interiorizado que sempre era incerto que ele voltasse.
Na minha cabecinha de menina, sempre, a figura do meu  pai, era uma figura de ausência, duvidosa, incerta, insegura, fugidia...
Já não referindo sequer, que toda a minha vida vivi a eminência da sua morte, dada a diferença abismal das nossas idades. Quando eu nasci, já o meu pai tinha quase cinquenta anos anos...e como tal, sempre me foi incutida a ideia de que não estaria cá para me ver crescer, tornar-me mulher, partir para a vida...como os pais "normais" das minhas amiguinhas...

Pela vida fora, até hoje, e agora já com  maturidade afectiva e emocional, pelo menos assim o deveria ser, os homens que mais amei e que mais me fizeram sofrer, são  homens agri-doces, com comportamentos emocionais exactamente em repetição deste registo.

Homens que podem ou não estar, que não é sequer seguro que estejam, homens em eminência de desaparecimento, que nunca me transmitiram segurança, paz, normalidade...
Homens que me dividem com outros afectos, que me dão, na generalidade migalhas, homens com um charme próprio (não intencional), mas que me provocam destruições irreversíveis sem recobro possível...

De uma forma subtilmente ilógica, ou para a qual não tenho qualquer formação científica esclarecedora...é como se a minha vida se desenvolvesse sobre a cratera de um vulcão....

Os outros, aqueles que me valorizam e entendem esta convulsão de sentires, com as minhas inseguranças, omissões, incompletudes...aqueles que estão sempre lá, prontos a "bombeirar" chamas avassaladoras, angústias e sofrimentos...esses, que me tornariam a vida tão mais simples e normal, não "mexem" com a minha adrenalina afectiva, não me motivam emocionalmente, tenho-os como "amigos", âncoras de vida, esteios de afecto, ombros de apoio...e nunca terão possibilidade de ser o "homem-carnal", o "homem-sanguíneo"...o "homem-amante", como se o sofrimento da dúvida, da incerteza, fosse um doentio auto-masoquismo ou flagelação, que me estimulasse e impelisse sempre para os mesmos abismos...

Realmente o ser humano, muitas vezes nem se merece, nem merece as "benesses" que tantas vezes a vida lhe faz desfilar ao alcance de um coração ávido, sedento e sofrido....e deixa voltar esquinas, a quem deveria ficar, e quer "morrer" por quem paira com indiferentismo, e nem reconhece os afectos que lhes são prodigalizados...

Anamar

quinta-feira, 6 de maio de 2010

"QUEM ESPERA POR QUEM NÃO VEM, NUMA HORA ESPERA CEM..."




Segundo ela, quem for às Galinheiras, mesmo em frente ao Café Central, num rés do chão, cujo número não lembra já, numa casinha de janelas pejadas de flores, modestas que nem ela, cujos vasos se estendem pela calçada, junto à porta, não há quem não conheça a D. Joana...

A D.Joana regressou "à sua casinha", graças à intervenção da Assistência Social, embora não esteja curada, nem virá a estar seguramente nunca mais, com uma das pernas em permanente chaga aberta, não sei se de uma úlcera varicosa, mas que a limita na sua vida no dia a dia.

A D: Joana, quase "residente" do Hospital de Santa Maria, é uma velhinha, a "avó", como toda a gente carinhosamente, a trata  no hospital , é alentejana, de Flor da Rosa, quase sem rugas, nos seus 89 anos, com um ar de bonomia, apesar dos pesares, muito branquinha de pele, e uma bandolete inseparável, a dar-lhe um ar cuidado e limpinho, num cabelo duma alvura espantosa.
É de uma educação invulgar, sente-se sempre agradecida por tudo o que lhe fazem, evita o mais possível incomodar o pessoal e suporta as suas dores, como pode.

"Amanhã, a esta hora já estou na minha casinha"....rejubilava a D. Joana, repetindo esta frase mais de vinte vezes na véspera de ir...Nem queria acreditar...e a felicidade estampava-se-lhe no rosto...
"Como estarão as minhas florzinhas??!!...Se calhar tudo seco!" (esta última estadia no hospital durara dois meses e meio). "Tenho uma flor de noiva, a minha avenca, dois gladíolos, um, cor de rosa, e sardinheiras muito bonitas....Se calhar está tudo seco!" - dizia, desalentada, única nuvenzinha que lhe atravessava de quando em vez o olhar...

Aguardou, mais do que o previsível, a chegada do transporte hospitalar, com o seu robezinho rosa, o seu ar desempoeirado, o andarilho a postos....devido a burocracias de última hora, enquanto dizia : "Quem espera por quem não vem, numa hora espera cem!!..."

Todos quiseram despedir-se da D. Joana, que acenava, corredor fora, quando finalmente chegou a hora.

O hospital ficou mais pobre...a D. Joana mais rica, na sua casinha das Galinheiras, frente ao Café Central, com as suas flores, que mesmo as mais "doentes", reconhecerão certamente a dona, e irão florir pela alegria desta nova Primavera da vida da D. Joana...

Anamar

terça-feira, 4 de maio de 2010

"UM PEDAÇO DE VIDA...UM PEDAÇO DE PAPEL"



A casa estava na penumbra.
Ainda não tinha ligado as luzes eléctricas, estava deitada sobre a cama, de lado, voltada para a janela.
Esta, era um mero quadrado recortado na luz crepuscular do exterior, que àquela hora era de um azul-cinza tão pálido, mas tão pálido, que não sendo o fogacho alaranjado já pouco intenso lá bem no fundo, dir-se-ia que os deuses já tinham ido dormir....

Todos os objectos do interior e do exterior, o recorte do casario, eram só sombras chinesas, vultos, que mais se adivinhavam do que se viam....

Era uma hora muito estranha.
No céu já não havia pássaros, a aragem corria algo forte, para este Maio promissor de um Verão que se anunciava....
Era a hora das bruxas....da quietude, do silêncio, da letargia, do adormecimento da natureza...
Sempre se sentia cansada nesse espaço temporal de pausa, até que o céu ficava definitivamente escuro....Parecia que ocorria ali uma suspensão de vida durante algum tempo, uma época de pausa, de intimismo, um quebrar ou deixar pender os sonhos, as forças, os projectos, os planos, toda a energia que o sol radioso da manhã seguinte repunha, recuperava, regenerava....

Eram assim os dias, as semanas que se juntavam em meses, que perfaziam anos....que completavam vidas....

Abriu a janela e deixou que a aragem da noite lhe atravessasse o corpo semi-nu.....fez uma pausa, abriu a mão onde estava ainda bem preso aquele mail....e deixou-o ir, flutuando nos golpes da aragem nocturna....enquanto se dava conta que ao alcance do clique daquele "enviar", iam vogando ao acaso, seis anos da sua vida...

Pensou:"Irónico....nem sequer está por aqui a minha gaivota. Se estivesse, ela podia trazer-me o papel de volta, do éter, do silêncio...pensando que eu me descuidara e o deixara escapar, e dizendo-me -tem cuidado! seis anos da vida de alguém, assim, perdidos, é um crime. Vê se és prudente!!"

Não....na hora das bruxas já as gaivotas fecharam a pestana há muito....

Continuou nostálgica,,, e nem Vénus, o único astro "plantado" bem ali na sua frente, teve o condão de a fazer acreditar que há mais vida lá fora, que há mais esperança e futuro do que a sentença ditada naquele definitivo papel...

Anamar

domingo, 2 de maio de 2010

O TAL "JEITINHO" QUE SÓ MÃE INVENTA....




Nunca tinha estado hospitalizada, felizmente...

Nunca atravessei este deserto do que são dias intermináveis, a começar ainda não são sete da manhã e sem términus determinado...

Nunca experimentara a sensação claustrofóbica de não ter por perto os nossos pertences, o nosso televisor, o "chato" do nosso PC (que de repente passaria a ser um querido...), até a nossa caneca do leite.

Nunca passara antes pela "exaustão", de nada haver para fazer, excepto comer (que parece acontecer de hora a hora), mandar e receber telefonemas e mensagens...e dormir, dormir, dormir...já sem posição, com as "cruzes" em reclamação e os músculos das pernas a doer de não trabalharem decentemente há dias...sei lá...nunca atravessara de facto, o deserto...

As pessoas que tenho como conhecidos e amigos (meu Deus...como são tantos...nem eu fazia ideia, o que me traz uma felicidade sem tamanho) , fazem-se e desfazem-se em tempo, em engenho e em arte, para fazer deste local um verdadeiro SPA...mas um SPA à séria...
Já não falo das minhas filhas, claro, digamos que essas sempre terão alguma obrigação "institucional". ( Não gosto do termo "obrigação"...amor não é nem nunca foi obrigação...).
Elas inventam, elas desdobram-se, elas desmultiplicam-se, para que as lágrimas não molhem o rosto da menina mimada que eu sou...

De alguma forma, este aprendizado doído, tem muito de positivo, e tem-me também mostrado, como, de facto, o afecto entre as pessoas que se querem, vem à tona, mesmo que o mar esteja encapelado, ou melhor, sobretudo se o mar estiver encapelado...
tem-me mostrado como a dor, as horas de sofrimento, as incertezas, as desesperanças ou as pequenas alegrias, solidarizam indistintamente o ser humano....e sem darmos conta, todos em comunhão, todos iguais, damos por nós a falar de nós e dos nossos, a falar de tudo e a falar de nada...simplesmente porque somos GENTE...

É de facto uma experiência  que todos "deveriam" viver, pelo menos uma vez na vida.
Vejam que não falo no mau sentido, óbvio.
Esta colmeia ou polvo gigante, imparável, este "monstro", cidade em ponto pequeno, que nunca dorme, esta "solidão acompanhada" também, a dor, o medo que às vezes é pior que o sofrimento, a união ou fraternidade e solidariedade comoventes, que se criam nesta comunidade (porque afinal, o barco é de todos....) enriquece, porque igualiza, relembra valores  que às vezes, muitas,...chegamos a desacreditar ainda existam na sociedade injusta, desumanizada, egoista e tão sozinha como a que vivemos nestes tempos.

Já tive a minha mãe internada mais do que uma vez nos hospitais, por razões várias. E diariamente a visitava o quanto podia, tentando suprir aquelas pequenas coisas que sempre fazem falta, pelo simples facto de não estarmos no nosso espaço, estarmos fragilizados e como que indefesos.....
Mas nunca pude imaginar o que traduz aquele olhar "comprido" que vai ficando, quando a hora é de regresso; quem esteve, parte para a vida cá fora, para a "liberdade", e quem fica, continua contando as horas, que descontam dias, que reduzem tempo, o tal tempo que levará teoricamente ao sanar das maleitas, ou, pelo menos, que nos devolva à nossa "normalidade".

Agora, a situação é inversa. Quem "encomprida" o olhar, sou eu, quem chega e parte a correr à custa da sua própria alimentação, do seu próprio bem estar, da sua vida, roubando tempo à hora de um almoço, que por isso não se faz, à custa de um esforço acrescido, são as minhas filhas, sobretudo a que também já tem lá em casa, três "utentes"hospitalares, de quando em quando...
Ela de facto faz de tudo, "entope-me" de felicidade traduzida nos miminhos, nas revistas de fofocas, tentando pensar em tudo o que possa aligeirar a nostalgia ou as lágrimas da tonta que sou....

Mas ela que me perdoe, e perdoa...porque conhece a avó que ainda tem (e que desta vez, pela primeira vez e desgosto seu, os 89 já não lhe permitem estar por perto). Se a minha mãe estivesse aqui, tenho a certeza, e não sei explicar o porquê deste meu "feeling", a corrente do afecto, o saber afectivo maduro e prático das coisas....aquele "jeitinho" que ela saberia dar,  (e que lá longe está dando em pensamento), um parecer querer  levar debaixo do braço as nossas pieguices reais ou não, do hospital para fora, aquela frase encorajadora real ou falsa, de estímulo, coragem, fortaleza, fé....esse "jeitinho" só mãe (algumas) sabe dar...

Anamar

"AS SUPER BACTÉRIAS..."- uma "estadia" na Dermatologia do HSM


"Elas aí vêm!!!....o exército das super-guerreiras, para mim, as "mulherzinhas verdes"...De elmo, viseira e capacete, ar ameaçador, eis o batalhão que se uniu e avança, pensando levar a melhor...Marcha unida, sorrateiramente...espreitando "portas e janelas" que incautamente tenham sido esquecidas abertas....
As "mulherzinhas verdes"...já sei por que acho que seriam verdes...se as visse, a elas....às bactérias!
É que hoje, nas "démarches" do banho diário, em cavaqueio com a utente que mal cabia na cabina ao lado, coitada (no mínimo 130 Kg), encetámos um diálogo... (sim, porque estas coisas custam sempre menos se formos criando uma boa vizinhança e afinal isto é uma família de gente que está toda num raio duma canoa furada...)

Contava-me ela, que se vira "grega" para exterminar uma que apanhara lá no serviço e certamente se encantou com uma das suas pernas gordinhas...
Era uma chaga, que instalada, não regredia por nada, aumentava sem parar e deitava um líquido verde, tipo "lata de tinta entornada"...

A partir de tal história macabra, meu Deus.... passei a "vê-las" por todos os cantos e recantos, buracos e buraquinhos, numa "orgia" delirante, tipo "glutões" (lembram-se?)...a "trincar-nos" pedacinho a pedacinho....claro que na minha mente, neste momento, só pode ser de atacantes verdes...

Guarda unida!!!!
Cornetas e cornetins, quais baratas em fuga à frente do Sheltox!!....

Caíu no chão??... Não toca!!.... Pés no chão??!! Oppss...nem pensar! Elas estão lá à espera do dedo mindinho...Passei a olhar de soslaio, desconfiada, tal como quando a "apocalíptica" Gripe A se avizinhava...
Já pensei em "escafandrizar-me" (já que tenho que estar mesmo por aqui), garrafa de oxigénio às costas, luvas e óculos espaciais, numa nobre missão de defesa contra as "mulherzinhas verdes"...

Para além disso, acho que vou andar pé ante pé, de lupa...e elementar....caçá-las aos quilos, exportá-las (pensei no Hugo Chavez....parece-vos bem?...), e com isso ajudaria o Sócrates a dizer que finalmente tinha salvo a economia do país...

NOTA : Nada disto tem intuito ofensivo, mas apenas humorístico....parece-me óbvio.De alguma forma, apesar de tudo, foram "medos" por mim vividos.
Longe de mim estar a ridicularizar ou a minorar o sofrimento humano.
Oxalá não apanhe, eu própria sem contar, alguma das renomadas bactérias hospitalares, nesta minha estadia forçada na Dermatologia do Hospital de Sta. Maria...

Anamar 

segunda-feira, 19 de abril de 2010

"LEMBRAM-SE ?"....



Nestes Tempos que afinal ainda são pascais, fui ontem, apesar de não ser a aniversariante, surpreendida pelo António, pela Vitória e pelo Quico ( como ele se "arranja"para se auto denominar próximo de Frederico, tanta volta este nome exige na língua), por este "mimo" de que alguns se lembrarão, outros não...não faço ideia se se vendem nas pastelarias a peso, ou não....

Ele eram tremoços, ervilhas, bercinhos (sim porque estes são os bébés), passarinhos...sei lá!
Era o meu pai que me comprava na Suiça ou na Nacional, um cartuchinho com todos os tipos, a peso, e floria dessa forma a minha Páscoa...


O meu pai já cá não está há muito...mas a ternura e o amor vence eternidades!
Por isso me lembrei de compartilhar com vocês, algum do licor que estes bébés têm na barriguinha...porque no meu coração, o doce, o licor, a memória, a saudade e o "quentinho" que estas amêndoas pascais, tão mas tão especiais rechearam em plenitude!!






Anamar











                                                                           

sexta-feira, 16 de abril de 2010

"UMA ESTRANHA EM MIM"

Como sabem, os mais atentos, não estou bem de saúde. Daí vai um passo para a a ausência de vontade de escrever, mais ainda a inspiração do que quer que seja, para lá de uma imperiosa vontade de estar na cama a dormir, quantas vezes profundamente , nove e meia, dez horas....o que tem acontecido com frequência.

Há duas noites, contudo, deparei-me com o início dum filme que já vira no cinema, e que achei tão empolgante, quanto nessa altura : "Uma estranha em mim", que intencionalmente dá nome a este post, com um desempenho magistral duma versátil Jodie Foster.

Aprontei-me p'ro ver desde o início (detesto quem faz "zapping" de programas, apanha bocados aqui, bocados ali, e fica feliz).Mas cada um é como cada qual e vive como quer.

É um trailer, bem concebido, bem conseguido, bem desempenhado, mas o que já na altura aqui comentei neste espaço, creio...não é nada disso, que me empolgou, mas a mensagem que o mesmo, com sabor amargo, nos deixa no fim, cuja veracidade, alguns de nós, infelizmente experimentamos...

E porque a estou a sentir com clara nitidez na pele, no corpo e na alma, desta vez pareceu fazer-me arder uma alma já chamuscada  : até que ponto um acidente traumático (e um acidente traumático pode sê-lo de muitas formas...), condiciona, determina, traz ao de cima, um outro "ALGUÉM" que, do banco dos suplentes, espreitava a altura de fazer substituições na equipa principal?....

Ao ler isto, até eu mesma me assusto...mas o que é um facto, é como é que as condicicionantes adversas de ventos e marés, conseguem trazer o pior (se calhar também o melhor) de um outro ser, um outro alguém, até talvez nosso desconhecido, estanho....um ser que nos leva a um encolher de ombros e nos diz ao ouvido"que se lixe! que importa!...o que é que isso interessa?!"

É um estranho dentro de nós, que nos leva ao mais impensável, ao mais censurável....como se fosse um ser, e é, em ser incógnito até de nós, anarquizante, castigador, humilhador, destruidor....como se  não importasse muito (e se calhar não, para o próprio), o certo, o correcto, o moralmente aceite, o valorativo....como se a frase "quanto pior, melhor....".......fosse a "cabeça" dessa entidade  abstacta mas mandante....

"Há várias formas de morrer....há que descobrir é uma forma de viver"....
Isso é dito no filme e é inteiramente verdade...
Eu não sei como se fica, se pior, se melhor....mas sim diferentes.
Aquela estranha  fará seguramente de nós, outras personagens, outras pessoas, outros indivíduos.... Jamais seremos os mesmos.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

"UMA MÃO CHEIA DE NADA..."

Sabem quando se olha para as mãos e se constata que se tem uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma??
Sabem quando se sopesa a vida e se constata que não valeu muito a pena?
Sabem como, como a areia da praia que nos escoa "safadamente" pelo intervalo dos dedos, a nossa vida vivida assume o papel duma ampulheta, imparável, sem rolha que se lhe coloque, a piscar-nos os "olhinhos" com ar bem malandro e a dizer"não te afobes" porque isto pára mesmo a curto ou a mais longo prazo??!!
Sabem quando o ipê já está de novo a anunciar o Verão, ainda ontem o pinheiro piscava, piscava e dizia..."Jingle bells, jingle bells", e todos fazíamos de conta que éramos profundamente felizes, porque o António era um menino/homem, responsável e aplicado...a "estabanada" da Vitória não tinha mais dentes ou sobrancelhas para "costurar"e no fim do "pelotão" vinha aquele cara sem vergonha, mais para "Robim dos Bosques" ou "pinguço"?

Sabem quando já nos afogamos de episódios feitos memórias, quando acreditamos que se calhar valeu a pena....e nós a ficarmos ainda, mas a ver partir já tantos dos que nos cercaram?

E a vermos portas que rangem e já se vão irreversivelmente fechando?
E mais um domingo, perseguido logo logo, do sábado a seguir?
E sabem quando já perceberam que aquele dia, daquele mês só era um...e o sol, à nossa revelia a tombar para dormir lá ao fundo??!!
E haverá um dia, "esse será o primeiro" em que nada já diz nada a ninguém??!!
E o mar rebentará de mansinho numa areia que foi nossa, mas já não é o mesmo mar...e já não é a mesma areia??

E sabem aquele aniversário em que não houve outro remédio senão convidar o velho, e sentá-lo à cabeceira...sempre com olhos de serviço sobre ele...se se baba, se deixou tombar o guardanapo, se a carne está bem esmigalhada...porque afinal, aquele "estulpício" tinha que lá estar??!!
E na cabeceira da cama, ao lado da imagem de Fátima...mesmo para os ateus, a corte dos mortos, feitos urubus à espera, apenas à espera...e a lixar aquele filme de domingo, porque é dia de visita....e "lá terá que ser"??!!

Sabem....vocês sabem todos! Fazemos de conta que não!

"Olha eu aqui com vinte anos"....olha  quando peguei pela primeira vez no "embrulhinho" e já está na Faculdade...

Sabem...vocês sabem todos! Fazem é de conta que não!,,,

e  nós rodeados de arcas cheias, mas que bem podiam estar vazias, porque "o disco rígido" não é lá que está!!...
Olhem com atenção e muitas vezes para as vossas mãos, elas são apenas o suporte que o velho foi enchendo, enchendo, pôs nas costas e percebeu, como diz a Lena, que aquilo foi a sua VIDA!!...

Anamar

sexta-feira, 2 de abril de 2010

"A CLAREZA DUMA FRASE"...


Sempre advoguei a eutanásia, nos humanos, nos animais...sempre que isso parecesse ser a última das últimas alternativas...e como sempre achei óbvio e fácil, determinar a fronteira entre o momento X e o momento Y, ou seja, o momento da vida e o momento da morte.!

Ontem, mercê duma frase que o meu médico me disse, percebi, quão difícil será determinar esse cliché em que se diz: "desliga a máquina"!...
A partir daqui, eu determino que este ser, deixou de existir "ad eternum", para mim...

Da conversa tida num consultório de psiquiatria, o médico, a certa altura disse-me: "deixe desligar a máquina! Esse luto tem que fazer-se...e para haver luto, tem que haver defunto...e para que haja defunto , tem que "desligar as máquinas"....
Desligue, ou deixe desligar as máquinas. Saia daquele quarto hospitalar, respire fundo e encare o sol cá fora, porque o seu breu, a sua chuva, o seu tempo pardo, dura há demasiado tempo...
Só há luto, se houver corpo, e só há corpo se a manutenção mais do que artificial duma vida, que se calhar nunca foi vida, foi invenção, foi criação sua, foi fantasia, cessar de durar, porque já existe há tempo demais...

E eu pensei : meu Deus, quantos dias, meses, anos, levará um pai a decidir, um marido a resolver, um simples caso dum animal (e eu tive recentemente essa experiência)...a mandar desligar as máquinas!!!...

Porque afinal, são aquelas máquinas que mantêm com valor ou sem, com interesse ou não, com finalidade ou não, aquele morto-vivo, vivo ou morto, no nosso espírito, no nosso coração, na nossa alma...ainda que no assunto em apreço, este "morto" esteja bem vivo, tenha querer, tenha desejos, tenha vontades, não esteja nun estado letárgico, de amiba feito homem...

Terei o direito de prender nas minhas mãos uma ave que sente os perfumes da Primavera lá fora?
Terei o poder de parar o mar livre a bater no rochedo, para todo o sempre?
Poderei manietar uma criança, num quarto, e deixá-la lá, esquecida?
Poderei prender correntes aos pés de quem já nasceu livre?...

Não devo ter...não posso ter...chega a ser criminoso...
É como queimar a seara que no pino do Verão, no meu Alentejo, aguarda para ser ceifada e dar pão!...
É como secar à míngua de água, aquela flor que já me iluminou os olhos de tanta beleza...
É como cortar as mãos que já me acariciaram e deram tanta paz...

Meu Deus!!...Tenho que desligar aquelas máquinas!!!!....

Anamar

segunda-feira, 29 de março de 2010

"QUE ALTAS, QUE BAIXAS...."



"Que altas, que baixas, em Abril calham as Páscoas...."

Sempre ouvi este ditado popular, da boca da minha mãe. Este ano, felizmente, ainda voltei a ouvi-lo, de viva voz...
Haverá tempo em que será a memória do coração que mo lembrará....a este e muitos outros. É assim que se cria a memória colectiva, que é um património de um povo, penso...

Estou há quatro meses em casa, com uma depressão, isto, para explicar da irregularidade da minha vinda aqui.
Passei a saturar-me das coisas que mais gostava, quando trabalhava...e o PC foi uma delas. O sono, a falta de disposição, a saturação, têm-me impedido até de respirar o oxigénio de que dependo...escrever!

Bom, entretanto a  Primavera está aí, meio encolhidita, sem a pujança que todos ansiamos.
A fazer jus ao companheiro, de má memória que nos deixou, deverá ser para valer, e breve breve, tudo quanto é borboto rebentará, tudo quanto é botão dará flores e flores, o tempo amainará e, dizem, o ser humano também começará a senti-la germinar dentro de si...

A minha gaivota é que, sem borrascas no mar, não recuará a terra, e duvido que venha por aqui ver a minha presença, trazer-me os seus sonhos longos de asas estendidas, porque não terá como planar, haverá muito peixe bem à beirinha da praia, e no próximo Inverno, logo virá por aqui, ver se eu ainda aqui moro...

Faz exactamente um ano, no dia de hoje, eu estava bem longe, no Gerês, numa daquelas fugazinhas que dificilmente repetirei....respirando aquele outro mundo, vivendo aqueles outros dias, aqueles cheiros, aquelas cores, aquela natureza "à borla"...e recordo que tudo estava já muito florido...inclusive a minha alma!!!

Este ano, por dentro e por fora, estou tal como a minha saúde, e este fim de tarde, chuvosa, desabrida, desconfortável!!!

Lembrei agora...será que o alecrim da minha infância com que se atapetava o tempo, naquela vilória do Alentejo, lá do fundo, já floresceu?
Será que a glicicínia e a flor da Páscoa, imaculada, que rodeava festivamente o andor da "Senhora de ao pé da Cruz" já floresceu?
E olhem que eu sou agnóstica....mas na minha tenra, muito tenra infância, fui, de asinhas, coroinha, descalça e com um cestinho de pétalas nas mãos, ao lado da "Senhora"....a quem eu se calhar, ainda atribuia todos os poderes de, pela vida fora, me vir a tornar, senão total, imensamente feliz!!!....

Anamar

terça-feira, 23 de março de 2010

"É-SE FELIZ SEM SABER!..."





E o Ray era rei do maior reinado que há....a Terra....Era rei do nada e do tudo, naquele rio Martha Brea....
Na sua jangada, orientada e movida com um longo bastão, tinha a Terra por sua conta....
Não se colhe nada que a Terra dê....a Terra quando quer, devolve ao homem o fruto maduro, a raiz pronta a comer...
O Homem tem água, tem aquelas águas mansas navegáveis, tem o trauteio da sua melopeia lenta, tem o marulhar do caudal que se deixa navegar para cima, para baixo, tem as sombras, tem os verdes, as cores dum matiz, que nenhum pincel ninguém nunca soube pintar...tem o canto, o pipilar, o grito que corta o espaço e o silêncio depois...

O Ray tem os seus trajes andrajosos que me me atreveria a dizer que são sempre os mesmos, tem o cabelo enrolado na cabeça como "rasta" que é, dizem os colegas "hierárquicos", que tem um cabelo que arrasta no chão....e fala muito pouco, quase nada....

Que inveja!.... a civilização "incivilizada" "faz" poucos seres tão livres, como o "rasta" Ray da Jamaica...



Vem ver! Como é possível, este por de sol, estes laranjas, esta brisa que convida a desbravar....e a floresta virgem com os cheiros doces e frutados, de tudo o que por lá exista...e não sabemos o que é!...
Os hibiscos, os coralillos mexicanos, as buganvílias, outros e os mesmos verdes....outra e a mesma Terra....o mar rebentando ténue, nos rochedos da beira....

Vê! Que espectáculo! O frescor da tarde a chamar-nos para fora, a curiosidade de tudo ver antes que se quebrasse o sortilégio, a apelar-nos para dentro, a Gros e a Petit Piton, indemovíveies....anos e anos, séculos e séculos....milénios e milénios....e gerações a passar, e a mata a fazer-se, a crescer, indiferentes, os gigantes a contemplar os pigmeus...aos seus pés...
E a água , turquesa, ágata, translúcida....e os peixes, ali, ao alcance duma mão....

Vem ver!.... Amanhã, jé é outro dia, outras cores, outros plúmbeos, laranjas, azuis....porque nós também já não somos os mesmos....

Eu juro, que cheiro aqui e agora, tudo...que vejo aqui e agora, tudo, que oiço aqui e agora, tudo....meu Deus, não parar o tempo é um crime....deixar que a ampulheta continue, grão a grão a correr, um desatino...um atentado...uma provocação!....
Deus me valha...Deus me acuda....mas eu parei lá atrás....no tempo em que era feliz e não sabia!......

Anamar

segunda-feira, 22 de março de 2010

"SE EU FOSSE CRIANÇA..."

Se eu neste momento fosse criança, no mínimo que estaria era assim...
Chegada da rua, depois de toda uma tarde num consultório médico, com uma dor de cabeça daquelas de amarinhar paredes, pedindo a Deus e às almas uma caminha, um gato, um saco de água quente e silêncio...constato à entrada da porta, um mar de água, que já encharcava o tapete.
Abro a porta do contador, e cai de lá uma enxurrada, levando a suspeitar numa verdadeira hecatombe.
Fechei de imediato a torneira de segurança, mas a água persistiu e persiste em cair, depois, a corrida à lista telefónica para localizar um número operacional a esta hora, da CMA, dos SMAS, do raio que os parta....telefone p'ro piquete (que não responde), telefone para os serviços de roturas na via pública....como se isto fosse via pública (eu já estava por tudo...)... depois tem que se  abrir um roço,  é necessário um canalisador...mas ao abrir o roço como o tubo é de chumbo, pode fissurar e então espicha água por todo o lado....enfim....não vos canso mais....
Juro que vou dormir de braçadeiras, e se amanhã eu ainda estiver viva...ponham no jornal, porque neste pobre país, roturas, avarias e quejandos, só a horas normais de expediente!!!!
Por vias das dúvidas, tenha sempre consigo, um kit de bombeiragem, canalização, abertura de portas, iluminação, tipo petromax...e o que mais se lembrarem.

E nas vossas orações nocturnas, peçam ao anjinho de serviço, que tenha em conta que o céu não paga horas extraordinárias...

Anamar

segunda-feira, 15 de março de 2010

"E A GENTE A ENVELHECER...."

E a gente a envelhecer...
Quando a droga do comprimido de 15 mg, que devia render até de manhã, à uma hora, já não faz efeito...e a "outra", armada em mãe diz, com ar sabedor: "tomas primeiro   uma cápsula de 15mg e depois, se for preciso, tomas outra para repor os trinta que o médico prescrevera antes"....

E a gente a envelhecer... quando jurava que tinha posto à cabeceira, a cápsula sobressalente, para, se fosse o caso, não espantar o sono...e quando gastas todas as hipóteses a cápsula levou "chá de sumiço"....vai-se à cozinha buscar outra, e o sono que devia discretamente manter-se, já tinha ido p'ro espaço....a maldita aparece no tapete!
No tapete ela, porque o sono emigrou!!!!

E a gente a envelhecer...quando a a Cláudia telefona e diz: "Mãe, o António tem umas dúvidas para te por; e eu....pronto, estou f..... (não se pode dizer) e sai o pirralho e diz : "Vó, o petróleo é uma rocha líquida....certo?? Constituída por o quê??....
Vá lá dizer àquela meia leca de gente de 8 anos... o que são hidrocarbonetos???!!!! E gesso??? Gesso então....é tabu!!
Que vontade de assobiar para o alto, e fazer de conta que não se ouviu nada!!
nesta mania das interactividades, com pais e avós!!! A gente engolia e calava!!!!!

E a gente a envelhecer, quando magistralmente, a outra acha que "o alemão" já tomou conta da família inteira, e a única que se safa é ela...claro!!
E diz... a avó com 89 já ultrapassou pais, irmãos....todos!
Tens que te ir mentalizando...... (mas aquilo sai tão pouco convincente, que se vê logo é que ela é que não quer pensar no assunto!!)

E morre o cão. E agora, mãe, é certo que a avó vai atrás! Nada disso...há que ocupá-la com naperons de cozinha linha 6...até p'ra empregada!!!

E a gente a envelhecer, quando a "desdentada" da família, acha a avó senil porque não articula um daqueles nomes horrorosos dos bonecos animados!!! Ainda se fosse a Branca de Neve, o Kalimero, o Tom e o Jerry....

E a gente a envelhecer quando vê aquele pinguço com cara de Robim dos Bosques...a repetir o que ouve e ninguém percebe nada....sempre a rir (do mal, o menos....)

E a gente a envelhecer quando injustamente dei em ter fome, são duas e meia da manhã....a Rita borrifa-se p'ra estas frescuras, quer lá saber que eu tenha outra insónia.......

Afinal, como se pode não envelhecer neste "esquema" maluco?????

Muito sã estou eu!!!

Anamar

domingo, 14 de março de 2010

"POR ESTAS E POR OUTRAS É QUE ADÃO COMEU ( OU MORDISCOU ?) A MAÇÃ...."

Fiz a maior burrice que se pode fazer: às 8 da noite pendia de sono sobre o teclado do PC e pensei..."não dá, não dou uma p'ra caixa...Que se lixe o jantar, mas como tenho medicamentos a tomar, uma fatia de bolo, um copo de leite substituem a refeição; a Rita, o saco de água quente e o mundo que desabe..."

Claro que nestas circunstâncias e com lençóis térmicos, em quaisquer 5 minutos e já estava do outro lado....
E assim foi, até que às famigeradas onze da noite, tinha a noite feita. Olho arregalado e vá de Morfex 30mg....quais 15 que o médico prescrevera!!!!
Aninhei-me, anichei-me o mais comodamente que pude, e dispus-me a contar carneiros, visto que nem vislumbre de sono. São estas lindas horas, (três e meia da manhã) já "encroquetei" na cama, dez vezes para a direita, outras dez p'ra esquerda e como....nada de sono.... pensei:"vou levantar-me e contar uma história" que estava mesmo aqui debaixo da língua...

Então é assim:
Pedro e Heloísa mantinham uma relação afectiva, com os seus altos e os seus baixos, como todas as relações afectivas. Durava há largos anos, mas tinha a pecularidade de Heloísa ser bem mais velha que Pedro. Ela já se habituara aos olhos gulosos dele, que do seu quintal, catrapiscava sempre a fruta do quintal alheio, naquela de "a galinha da minha vizinha..."

Tudo corria aparentemente duma forma calma, quando Pedro achou que já perdera muito tempo na vida, que já estava na gare daquela estação sempre a ver os comboios passar, passar, e não apanhar nenhum...enfim, os desígnios insondáveis da natureza humana.
Reencontra uma ex, temporária...qualquer coisa, amiga, lá de trás, a Alexandra e desencava-a para uma nova vida a dois.

Claro que Heloísa foi às urtigas e Pedro iniciou o maior "love" com Alexandra.
Apenas, os anos não trazem só rugas e cabelos brancos, e Heloísa arquitectou uma frente de combate.Vestiu-se "p'ra matar", de acordo com as circunstâncias, claro (que era um "departamento" a que Pedro sempre fora vulnerável, uma mulher discreta, bem vestida, com presença...)

E dirigiu-se a uma sala de espectáculos, para ver um filme estreante, com um, senão o melhor actor que Pedro apreciava. Era altamente provável o encontro a três.
E assim foi.
Heloísa pôs um ar distraído e distante, de quem vê montras num Centro Comercial, e de repente, como quem não quer a coisa, olha p'ro lado e diz: Olha que giro, há quanto tempo, Pedro! É a tua nova namorada?
Pedro apanhado de surpresa diz: "Sim, é a Alexandra e esta é"..... "a Isabel", respondeu rapidamente Heloísa. "Muito gosto"!
"Bem me tinha alguém dito, que acabaras aquela relação longa, com uma pessoa bem mais velha que tu.....Agora, para contrabalançar, arranjaste uma namorada que podia ser tua aluna....rsrsrs"
Vim ver este filme que estreou com aquele actor imperdível!... Vocês se calhar, também!"
Bem, tive muito gosto, não vos roubo mais tempo.
Eu, também terminei recentemente uma relação....que coincidência!...Então, namorem muito, e boa sorte! Eu costumo sempre dizer (dirigindo-se com um largo sorriso à Alexandra), que é preciso ter sorte com os homens...com uns, mais que com outros...rsrsrs"

E com o Pedro? -  perguntou a franganota. - o que me diz, Isabel, você que já o conhece bem???

Heloísa/Isabel fixou  Pedro bem nos olhos, intencionalmente, e dirigiu-se à Alexandra....."O Pedro? (como quem pára para se concentrar...)....o Pedro, será a sua sagacidade (duvido que soubesse o que era...), inteligência (outro calcanhar de Aquiles), e perspicácia, que lhe responderão a isso ao longo dos tempos!!...."

Pedro que já "os" estava a sentir entalados disse: "Então e com as mulheres, não é preciso ter sorte?... - perguntou com ar de quem diz : pago p'ra ver....

Heloísa/Isabel fez uma pausa estudada, e respondeu: "Com as mulheres.....é sobretudo preciso é... saber escolhê-las!!..."

O sorriso de Pedro ficou amarelo...e cá p'ra mim o pastelinho de feijão comido pouco antes, começava a entruviscar-se-lhe no estômago

E afastaram-se.
Heloísa não aguentaria muito mais tempo aquele skecht teatral....as lágrimas estavam já a rebentar....
A franganota sentia que havia ali qualquer coisa que não jogava....mas não percebia o quê, e limitou-se a dizer , só p'ra não ficar calada: "Simpática esta tua amiga!"....
Pedro estava calado, fechado, não podia "dar bandeira", mas só dizia p'ra dentro de si: "Filha da p.... ; agora é que eu percebo por que não se deve minimizar a inteligência das mulheres maduras!!..."

Não sei, mas acho que o filme não lhe assentou muito bem!....
E acho também que as mulheres são umas "cascavéis"!!!!!......  rsrsrs

Nota: Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência

Anamar

sexta-feira, 12 de março de 2010

"E DE REPENTE...A PAZ..."


"A tradição já não é o que era"....impingem-nos num anúncio televisivo....sim, não, talvez....
Como não há regra sem excepção, e como desde os meus seis aninhos me ensinaram....a Primavera está aí a despontar (oficialmente a 21 deste mês), e para 21 já falta tão pouco, que o sol veio só lembrar os desmemoriados e fazer acreditar os cépticos, que quer o homem acredite ou não...aí temos a renovação a operar-se bem frente aos nossos olhos, aos nossos narizes....às nossas mãos....

O sol irrompeu, não muito forte, como convinha, num céu todo ele azul límpido, a luz tornou as cores menos esbatidas, os olhos analisam a primeira promessa de borbotos em explosão.... e até os braços se preparam para carregar os primeiros ramos de giestas, de alecrim, de alfazema, de junquilhos, narcisos, ou mesmo de singela macela salpicada de onde em onde de papoilas envergonhadas...
Nos campos já se ouve o cuco, o melro de bico amarelo e a pôpa já carrega gravetos para o futuro ninho...

Ainda ontem houve cataclismos horrorosos cujo ónus muitos choram até hoje, e assim, como que num milagre, tudo acalmou, em tudo se fez paz, e a promessa de que sempre será assim, aí está...feita pela Natureza....que desta forma mostra a insignificância do ser humano face à sua pujança, face à sua real determinação...

Estou a escrever inundada deste sol meio envergonhado da tarde, a minha gaivota emigrou para o seu habitat natural, as areias que recebem o rendilhado da espuma mansa.
Imagino que o mar estará igualmente em paz consigo próprio, imagino os areais pejados de gaivotas recepcionando os barcos recém chegados da faina, e uma espécie de acalmia no coração vai tomando conta, de mansinho, de todo o nosso universo, e se calhar promessas nunca feitas, flutuam pelos ares fora, como dizendo ao ser humano que se pacifique porque inevitavelmente, cada dia é simplesmente uma conta do rosário que nos cabe desfiar até ao fim....

Não posso dizer que estou feliz, esperançada, ansiosa....Não espero nada em particular na minha vida, em mais uma Primavera que se avizinha....mas não posso negar que estes raios serenos de um sol que experimenta descer mansamente no infinito, de alguma forma apaziguaram o meu coração tão encapelado, a minha mente tão conturbada, o meu espírito que está exangue de sangrar...

Há uma espécie de promessa latente, não sei bem do quê....
O ser humano não a sabe ler...só a adivinha...
Os cheiros adocicados de tudo o que vai por aí "estourar", também se anunciam....e sempre irão fazer ver ao homem, que aproxima a sua paleta de cores, daquela que jamais alcançará....
Uma espécie de quietude, de serenidade, de silêncio interior remete cada um de nós, ao estado embrionário do ventre materno...não esquecendo nunca, que a Mãe, é a Natureza, que nos prodigalizará sempre aquilo que ela entender...

Anamar

quarta-feira, 10 de março de 2010

"A MOCHILINHA..."


Posted by Picasa
Hoje eu ganhei uma mala nova....A bem dizer, aquilo lá não é uma mala, é uma mochilita que me assenta lindamente às costas, e não tem marca, porque o valor daquela mochilita, não vem do Louis Vuiton, Valentino, Ana Salazar, etc

Encontrei-a meio aberta, num daqueles jardins de outono, de folhas amarelecidas, castanhas e vermelhas, que a  brisa faz rodopiar pelo chão.
Olhei-a por dentro e por fora. Por fora já estava meio estragadita, mas de dentro, começaram a espreitar, um polichinelo, um cavalinho de balancé, um arlequim, uma bruxinha de vassoura um "sempre em pé"....e eu perguntei-me a quem pertenceriam aqueles tesouros....

E pensei que aquela mochila, sem ser de "griffe " era mais valiosa que todas as que eu já usara....

Experimentei meter a mão e sabem o que de lá saíu? Um boneco de neve com nariz de cenoura, que o arrebitou ainda mais e disse : "Não queres brincar comigo??"
Eu fiquei baralhada de surpresa, e disse-lhe : "Mas não vês que eu já sou muito velha p'ra brincar com vocês?"
E ele, rápido na resposta, logo retorquiu : "Isso é que tu te enganas, porque nesta mochila não há idade limite p'ros sonhos....e tu podes sempre sonhar que és uma menina que vais a uma festa com estes amigos!!" Aqui há muita luz, muita paz, farandolas, músicas de roda....aí fora é que deve ser chato!"
"Mas vou contar-te um segredo : aqui, a gente todos os dias sonha um sonho novo; ao fim de semana ou em ocasiões especiais que é o caso de hoje, vestimo-nos de gente grande e vamos explorar tudo p'ra lá da mochilita....
Também podes ter os teus sonhos por aí.....tens é que saber fazer deles "sonhos de gente grande, a que se chama realidade" ....
Tens é que saber viver com o que carregas nas costas e com o que vês neste parque de folhas esmaecidas....
Tudo tem o seu tempo...é impossível ser criança outra vez....apenas não fiques eternamente criança!
Tens muito mais com que brincares, fora do escuro da nossa mochilinha, do que quando a carregavas nas costas, lembras??

"E agora, que sabes que entre o mundo do polichinelo e esse que está à espera que seja outra vez Primavera, vai apenas a distância desta mochila e da tua capacidade de crescer...agarra os dois e vive-os em paz.....ambos têm a cor dos nenúfares no lago....ambos têm a cor do arco-íris do céu e ambos te esperam, com o cheiro dos narcisos que qualquer dia vão desabrochar...

Anamar

segunda-feira, 8 de março de 2010

"ESTE COLOMBO É UM TRATADO..."


  Entrei no Colombo e pensei: aqui temos nós o itinerário privilegiado para pelo menos os próximos trinta anos, atendendo a que o meu pai faleceu aos noventa e a minha mãe, beira os oitenta e nove...

E então qual o maravilhoso, quanto emocionante programa de domingo ?

Após um pequeno almoço super tardio, nunca antes das 3h, graças ao sono e por sua vez graças à medicação, arranjei-me e passarei ainda a produzir-me melhor, assim  como quem vai de passeio importante, como quem vai a um encontro com amigos, assim como quem espera o príncipe encantado  ao virar da esquina, (porque nestas coisas nunca se sabe) e não como quem vai informalmente às compras...

Cheguei a Colombo, dia de jogo na Luz (portanto imaginem a frequência(?), dirigi-me às bilheteiras dos cinemas, e embora já tivesse jurado não voltar a ver filmes entre pipocas. coca-colas, gomas ou catinga, lá comprei um bilhete para um filme que me interessava, e como faltavam duas horas e meia para o dito, fui tomar assento na sala de visitas do Colombo.

De facto, este centro é um "tratado"...

Tive que esperar que ficasse livre uma "fauteil", o que não é nada fácil, muito menos hoje, e acomodei-me.
Troquei os óculos escuros que conseguiam tornar mais escura a claridade razoável ainda do dia, lá fora, e comecei a analisar quem dividia aquele espaço comigo...

Ao meu lado, uma senhora aí de setenta anos, sem revista, sem jornal nem nada, (porque há muito esse uso), de casaco comprido tipo rainha de Inglaterra, "camel", chapéu de abinhas reviradas, com o cabelo enrolado atrás, acompanhando-o, gola de pele, mala de mão em ouro velho, maquilhada cuidadosamente, via-se que era passante, mas figurante também..
Esteve todo o tempo que eu também estive, com um rosto fechado, que não demonstrava emoções... sem um sorriso, sem um esgar de nada. Não alterou a "pose", nem quando um "aluado" decidiu fotografar-se deitado no chão, ao comprido, situação, pelo menos inusitada!!

Há depois os "habitués" que dormem a sono solto, sem receio sequer de serem roubados. Babam-se, roncam, deixam descair as cabeças....enfim, eu sou muito mázinha!!...
Há aqueles de cuja turma eu passarei a fazer parte, que são os "voyeuristas"....gostam de olhar, mas também de ver...e hás os que se se despedem, como tendo certa a companhia semanal, quiçá diária ...

No Colombo tiram-se muitas fotografias. Os bandos de chinocas adoram por fundo, aquelas palmeiras imensas, e também há os papás babados com as criancinhas, para  quem serve qualquer fundo, desde que elas estejam lá...
Só falta ser servido um chazinho com bolos, como corolário daqueles auspiciosos fins de tarde....

Chegou a hora do filme, fui vê-lo, claro, depois jantei num dos muitos restaurantes que por lá grassam, paguei e vim para casa...

As lágrimas caíam-me em tal profusão cara abaixo, que nem vi uma cancela que existe agora na entrada da garagem onde guardo o carro.
O vigilante, que já me conhece há muitos anos, dizia-me:"tenha calma, não aconteceu felizmente nada aqui....mas já vinha a chorar, por isso não viu....foi alguma coisa grave, que lhe aconteceu?...."

Eu, agradeci e entrecortadamente disse-lhe; "sim....de facto muito grave!"....Não adiantava dizer-lhe mais nada, óbvio! E enquanto os soluços engolidos, daquela solidão que eu lá adivinhei,e carreguei comigo, faziam-me dizer :"eu não quero isto p'ra minha vida!...Isto, para mim, não dá!....

Tenhamos esperança,,,pode ser que eu não tenha a longevidade dos meus progenitores....

Anamar

quarta-feira, 3 de março de 2010

" A FORÇA DO ACREDITAR...."

Vi há escassos dias, um filme que tem à cabeça nomes insuspeitos e que são cartões de visita, para que eu aqui, humildemente, pouco tenha a acrescentar; Clint Eastood como realizador, Morgan Freeman e Matt Damon, como artistas principais.

O nome da película "Invictus", que eu teria trocado, na boa, pela "Força do acreditar" ....que me pareceria mais consentâneo pelo enredo....

O filme roda em torno do fim do Apartheid na África do Sul, indiciando a política seguida por Nelson Mandela, depois do vergonhoso cativeiro ,até 1990, e da sua consequente libertação depois de 27 anos de um regime racista levado às últimas consequências.

"Eu sou dono do meu destino, capitão da minha alma" frases ditas por Mandela sobre si mesmo, são slogans bem mais latos e abrangentes...
Clint Eastood nos seus quase oitenta anos, não perde a oportunidade para transmitir, que para qualquer causa, é a força do querer sobre um crer genuíno e unificador, que impulsionará o homem para metas quase impossíveis de atingir...

Alguém que parte, para o que quer que seja, com o estigma da derrota, da incredulidade, com uma auto-estima e valorização em dúvida....não chegará efectivamente lá!!...

Acreditar-se na força do timoneiro, criar uma vontade inabalável em torno de uma causa quase impossível, será seguramente o esteio, o farol, a tocha olímpica, que arregimentará à sua volta a força inquebrável, de um tsunami atingindo a praia!!!
A força do querer, unificadora de uma causa comum, move montanhas, estimula a confiança, é o real motor de arranque, em qualquer domínio da vida....

Isso é o que me falta a mim....e isso é o que torna esta película como uma mensagem invulnerável!!!....."Uma boa cabeça e um bom coração, fazem uma excelente combinação!...." - Nelson Mandela

Não deixem de ver....e depois, digam-me....Simplesmente EMPOLGANTE!....

Anamar
 

terça-feira, 2 de março de 2010

"ISTO DO SER E NÃO SER...."


Não sei muito bem explicar, estou triste como as nuvens carregadas com que o céu por aqui fechou....
A minha cabeça está muito entruviscada, que acho que foi uma palavra que eu inventei e que se calhar só na minha cabeça faz sentido....
Quando eu digo "entruviscada", é porque a coisa está preta....Explicando melhor...preciso urgentemente de escrever.... (tenho a água pelo gargalo) e nada de parir nada de nada...
Estou naquelas circunstâncias de que já vos tenho falado, de mais uma letra e entorna o caldo....

Antevejo muitas tardes como hoje, em que estou repleta, mas entupida....
A minha cabeça está p'ra montanha russa, tudo confuso, tudo "almareado" (esta não é invenção)....e pergunto-me: sobre que porra de assunto eu vou falar????

Dos antidepressivos, salto para os ansiolíticos, e volto aos antidepressivos....hoje estou tonta, azamboada (difícil esclarecer à minha filha mais velha, se menos tonta, se igualmente tonta....quantas vacilações no andar p'ra direita, contra quantas p'ra esquerda)....como se isto se medisse assim....

Dei a terceira queda, acho, apesar de tudo, felizmente cá em casa, senão o estrago seria seguramente maior, parece que estou sempre debaixo do efeito de uns "birinights"e lá me vou equilibrando no salto alto (sim porque não me presto a grandes interrogatórios)...O pior é quando tenho que me amparar a uma ombreira, a um corrimão....sei lá! E é aí que eu vejo, que mesmo dormindo muito, sobram horas e horas nestes dias que por acaso estão a ser "compinchas  à brava", com o que nos dão cá p'ra baixo!!!!

Isto é assim, eu incontestavelmente não estou lá muito sã.....mas depois vejo o mundo dos "mortais normais" e só encontro gente à beira dos Morfex, dos Bromalexes, dos Prozacs.....cada qual arrastando um alforge pior que o outro....e estou extenuada, desta oscilação entre o vazio de alma, quando aquela profusão de cápsulas, comprimidos, bolinhas de todas as cores, e outros que tais,  estão a actuar, e a dor que chega a ser física, da subida da ansiedade e da angústia....

E pronto, isto é uma pescadinha de rabo na boca, entre um mundo de lá (que não está tão longe como isso), e um mundo de cá, para o qual não estão "despertos" , mas caminham a passos largos rumo a um qualquer Inferno, aqui mesmo, pela Terra....É tudo uma questão de tempo e de resistência...

Perdoem esta visão apocalíptica ....mas a minha vida é exactamente assim...não inventei nada...juro!

Anamar