domingo, 24 de outubro de 2010

"E SE TIVESSE SIDO DIFERENTE?..."

Faz hoje quarenta anos que me casei.
A primeira, a única, a última vez...
Era um sábado outonal, como hoje, de um sol fraco e pouco luminoso, como viria a ser a minha vida, afinal. Era um sábado do "Verão dos marmelos", como diz a minha mãe (depois vem o do S. Martinho, e depois, pronto, o Inverno fica à porta...)

O casamento era às 9,30 h da manhã, no Registo Civil de Oeiras, e até hoje, a sensação mais nítida que recordo, foi a do desconforto que senti (dorminhoca como eu era), de querer que me deixassem em paz, quando a minha mãe, às seis e pouco da manhã me foi acordar, quase me arrancando da cama, porque a cabeleireira vinha pentear-me, havia que vestir-me, havia que preparar coisas de última hora (sabem como é), os convidados (só família e a minha melhor amiga ao tempo), começariam a chegar, havia que recepcioná-los (porque afinal, depois o almoço ainda demoraria por certo), vinha também o fotógrafo...
Acho, que desde sempre, o entusiasmo que pairava, não era meu. Eu afinal tinha dezanove anos, se calhar, objectivamente rectroespectivando hoje, o que seria de esperar de uma criança metida a mulher??

Não vou entrar em pormenores...aliás, não quero entrar, porque fico nostálgica, interrogo-me e questiono-me sobre todo o meu percurso até hoje, passo a película mesmo sem querer, tendo a ponderar tudo e todos; não julgo, avalio, analiso-me e não vejo grande coisa que me aqueça o coração.
Esse casamento cessou há sete anos atrás; tardiamente, demasiado tardiamente, deixando obviamente, danos colaterais inultrapassáveis.
Lembro que foi  um casamento "morno", amorfo, cinzento, sem chama, sem paixão, desde sempre, mesmo desde o início, em que é espectável que a "fogueira" se acenda...

Talvez eu tenha sido a pessoa mais responsável por todo o insucesso de uma infelicidade acompanhada...
Eu era uma criança, filha única numa família de pais velhos, focalizados, obsessivamente focalizados em mim...e eu, tenho, como já perceberam, ânsia de liberdade, necessidade de asas...queria fazer-me ao mundo...aquela, foi a minha forma enviesada de o fazer...

Sempre vivi muito só, com a minha mãe, com uma ou duas amigas, tão crianças quanto eu. "Ninguém me obrigou" como a minha mãe costuma dizer...mas também ninguém me alertou ou falou comigo, como os pais de hoje se preocupam em saber dos sentires, dos estares, dos caminhos razoáveis ou não, a trilhar, por parte dos filhos...

Tenho dentro de mim, hoje, uma tristeza estranha; uma tristeza de perdedora, que dói, que me traz às lágrimas... afinal, eu não soube construir nada na minha vida, e à parte as minhas duas filhas (isso não se questiona, sequer), a  minha rota é de permanente colisão com a Vida.
O que se aproveita hoje na realidade?
Uma família esfrangalhada!! Uma família que duvido faça jus a esse nome!!

O que sobrou na verdade, foi uma profunda solidão;
solidão em mim, solidão e desacerto na vida da minha filha mais nova (que também não se encontra), e uma família talvez unida, da minha filha mais velha, que com três filhos, acabou construindo uma célula à parte, até talvez por defesa, por necessidade, ou porque foi a saída que lhe restou...
E desejo muito que ela, que luta sempre por uma ligação tradicional dos "sobrantes" (sem êxito, a maior parte das vezes), ela, que tentou arvorar-se em "matriarca" desta pseudo "coisa" que restou, pelo menos, no seu núcleo, a consiga manter...

Entretanto, aos "trancos e barrancos", como "soi dizer-se", vou manquejando vida fora, desacertando mais do que acertando, dando topadas que ferem, nas pedras desta estrada demasiado dura e cruel, e por cada ano que chega, acho que o "Verão dos marmelos" e depois o do "S.Martinho" vão acabando mais depressa, levando com eles o último sol, antes que o Inverno se instale, também cada vez mais cedo!!...

Anamar

terça-feira, 19 de outubro de 2010

"A VIDA ENTRE PARÊNTESIS"

Tenho a minha vida entre parêntesis...
Não são aqueles parêntesis que se abrem com o nascimento e se fecham com a morte. Esses, temos todos afinal, certos e seguros....e...."what you can't change, you must accept"...alguém disse....ou se não disse, digo eu agora....pronto!

Hoje, durante a caminhada, onde fui só, como acontece quase sempre agora, ia eu a pensar exactamente isso; parêntesis entre ritmos de vida profissionalmente falando, parêntesis entre um amor e outro (?), quem sabe, parêntesis entre um amor e muitos amores, parêntesis entre um amor e nada....parêntesis entre saúde e doença, cada vez mais plausível com o avanço dos anos...pendências económicas que nos deixam todos os dias na insegurança, que infelizmente quase todos sentimos e correspondem àquele espaçozinho entre os parêntesis...

Podem colocar-se entre eles as reticências, porque é exactamente o que esse espaço envolve... reticências, dúvidas, interregnos, pendências, é esse o termo que eu acho mais adequado. E para mim, não há pior que pendências, na vida.
Sempre gostei de arrumar o que quer que fosse, e arquivar, arrumar e arquivar, porque tudo o que está naquele "chove, não molha", à espera de... dá cabo de mim....e isso são os três pontinhos no intervalo dos parêntesis....

Na Matemática, existem os parêntesis rectos e os parêntesis curvos, devem lembrar-se.
A minha vida, acho que ainda está nos parêntesis rectos.
Só depois deles resolvidos, é que se passa para a operação seguinte, que é desembaraçar os curvos, e depois, na seguinte ainda, "limpá-los" finalmente e a equação simplificar-se!....

Pois bem, é exactamente isso a minha vida neste momento; uma nuvem que paira sobre a minha cabeça, e que oscila entre ser dissipada pela brisa que corre, ou "despencar" numa enchurrada de água...

Ontem falava com o sr. Alexandre, no Escudeiro, ao pequeno almoço, já não sei a propósito de quê, e lá veio a Vida e as suas estórias...
Dizia-lhe eu:" Felicidade é um conceito utópico....não existe, globalmente falando....Há pedaços de felicidade, e juntando todos, ainda não perdi a esperança de construir um castelo!"...
Ao que ele me respondeu: "Mas, nos intervalos desses pedaços, é que é uma "droga"!!!!!  Dói, dói horrores!"...

Abrunhosa , no seu último single diz: "Dói....sei como dói andares ao sol por essa "rua"...."!
Na verdade, a "rua", por vezes, é longa e dura demais... as reticências que intercalamos entre os nossos parêntesis, às vezes são tão cansativas e desesperantes!...

Durante o caminho, passo perto da igreja de Queluz, onde hoje decorria a missa do meio dia; apercebi-me disso, pelo coro de vozes, em uníssono, nos cânticos litúrgicos que chegavam cá fora....e pensei: "Para estas pessoas, as reticências no meio dos parêntesis, devem ser as mãos de Deus.... do seu Deus....e vão vivendo!

Logo ao lado, o pavilhão gimnodesportivo dos bombeiros, onde decorria alguma competição ou campeonato.
Em uníssono, outra liturgia, em que as palavras não se distinguem, apenas a melopeia é igual em qualquer lugar do Mundo.
E pensei: "O que põem estes, no meio dos parêntesis, no lugar das reticências? Provavelmente o exorcismo dos cinzentismos das suas vidas, no rasgo da felicidade, se o seu clube alcançar a vitória"...

Parêntesis...parêntesis...parêntesis...até que o último, curvo, saia da equação....e esta se simplifique de vez...

Anamar

sábado, 16 de outubro de 2010

"JOGAR CONVERSA FORA"...

O Outono está de facto em plenitude.
Olhando à nossa volta, as "marcas" todas estão lá. É o sol, fraquinho, fraquinho, é o azul duvidoso do céu, que tanto está azul, como ameaça com a aproximação de nuvens "suspeitas", é o despir despudorado das árvores por aí espalhadas...são as "benditas" iluminações de Natal, imaginem, que a Cãmara de onde vivo  se apressou a instalar...

E nem a teimosia de alguns, que persistem em continuar com as mangas curtas das t-shirts de verão, demovem as estações a modificar o seu percurso. Ainda assim, lembro-me, lembrar-nos-emos por certo, muitos de nós, do inusitado desta roupa leve, quase em pleno Novembro, há uns anos atrás, consequência como se sabe, das alterações climatéricas...
E até os ditados populares, desconfio que começam a cair em desuso....
Se aqui estivesse a minha mãe diria, como diz, ano após ano: "Águas verdadeiras, as do S. Mateus são as primeiras..." e acho que até o S. Mateus se anda a baldar...Que é feito dessas "águas"?

Neste momento, estou a ficar de novo "outonal".
Arrebitei na eminência de um trabalho que me propuseram, que não só me iria complementar a redução sofrida no vencimento, como me iria ocupar o corpo e o espírito. Simplesmente essa proposta ter-se-à gorado, creio.
E tirando a caminhada diária, e as voltas que todos temos que dar no quotidiano da vida, não há muito a acrescentar.

Breve, breve Novembro chega, e para "desgraça" minha, traz com ele todos os dias do calendário.
Eu, nem me vou alongar com este assunto, porque as pessoas me acham tontinha, mas cada um sente o que sente, tem direito a sentir, ainda por cima....e este ano, vou dar uma de "excêntrica do euro-milhões"....
Não há telemóvel p'ra ninguém, não há conversa p'ra ninguém, vou estar numa espécie de retiro ou"aquário" emocional....é um direito que me assiste.
Não vale a pena gastarem saliva a explicarem-me e a tentarem convencer-me que é uma infantilidade....que o dia se mantém no calendário, nem que eu fuja para a China, que afinal em todos os dias se comemoram coisas boas e más, que é óptimo, porque é sinal que estamos vivos, que não resolvo nada de nada fugindo a nada....obviamente!
Que "sabe-se lá para o ano a avó ainda cá está!"..... 
Como vêem, eu tenho a lição toda estudada, mas também, teimosa como sou, vou fazer como eu quiser!!!!!

Neste momento começo a ficar encasulada. A satisfação que tenho ao meter-me sob o édredon dentro de uns lençóis que eu, por gosto, ainda acho mais macios do que realmente são, é indescritível...
Parece ser a melhor hora do dia...parece um regresso ao útero materno, ou quando muito à toca ou covil do lobo.
É um local de protecção, porque, daí a pouco "apago-me"...e com esse apagão, lá se vão as mágoas, as preocupações, as inquietudes de mais um dia que se esgotou.
Ando a adormecer cedíssimo, o que seria óptimo, se representasse uma noite de sono apaziguador e continuado....
O pior é quando acordo, já sem sono, olho para o relógio e verifico que são por exemplo duas ou três da manhã....
Aí é que está tudo tramado, porque fico a "encroquetar" na cama duas ou três horas, até que o sono ou o cansaço se condoam de mim, e me repeguem nos braços...
Essas horas são absolutamente "lixadas"...toda a gente sabe disto, porque a solidão, o silêncio e o negrume da noite, agigantam nas nossas cabeças, o que às vezes nem a luz do sol dissipa....

Bom....isto hoje foi, como dizem os brasileiros um pouco "jogar conversa fora". Foi um mix de tudo e de nada....foi um deixar rolar!!!!....

Anamar

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

"RETALHOS DA VIDA REAL"

Não foi por norma, hábito meu, abordar determinados temas de maior controvérsia ou melindre social.
O meu último post focava uma questão sobre a qual já tenho reflectido, e que afinal nada tem de transcendente, antes, é do domínio comum.

Hoje trago aqui um outro tema que de alguma forma também tem contundido comigo, sobre o qual tenho reflectido, no qual já "peguei" por vários ângulos, tentando encontrar alguma lógica ou aceitação para mais uma hipocrisia social, ou para o sofisma baseado nos valores, na moral e bons costumes.

Reparem que não vou aqui tomar partido vinculativo de nada nem de ninguém, até porque o caso e as pessoas envolvidas nele, me merecem ambas, consideração e até amizade.
Apenas pretendo colocar um dedo numa chaga aberta, mais frequente que o que se supõe, e que gostaria de poder entender neste século XXI, já começado há uns aninhos.

Um casal, com um casamento mais teórica do que realmente estável, um filho pré-adolescente, uma vida já um pouco desgastata e desencantatória.
Uma separação latente que acaba consumando-se, com toda a panóplia de sofrimentos, dores, dificuldades....tudo o que nós sabemos envolve um divórcio. O filho, "obviamente", de acordo com uma lógica estabelecida, entregue à mãe.

Até aqui, infelizmente mais um caso igual a tantos e tantos outros.
Um homem habituado ao tradicional "esquemazinho" cómodo, das pantufas, televisão e casa organizada, vê-se de repente com o Mundo a desabar-lhe em cima; é a gestão de um local para viver, é a gestão das tarefas tradicionais do dia a dia, é o sentir-se órfão de uma mãe que ainda tem, mas de uma mulher que já não....

Nesta altura, chegam sempre os "anjos da guarda", amigos, muitos deles já veteranos da liberdade e independência, bombeiros na salvação daquela situação...
Aquele homem tem que esquecer, partir para outra, reentrar, como há largos anos não fazia, na frequência da "night"....agora com o "glamour" vantajoso da maturidade, do charme que as têmporas esbranquiçadas lhe conferem, da experiência acumulada e aperfeiçoada ao longo dos anos da "prisão dourada"....
E depois, aquele homem, é um homem....e um homem precisa de sexo, precisa de mulheres....indistintamente, qualquer uma que o faça esquecer de preferência a análise séria, honesta e detalhada, da vida que se esfrangalhou...
Disso, os "amigos" encarregam-se....Mulheres soltas por aí e predadoras pelas mais variadas razões, é o que não falta, nos bares, discotecas....sei lá!   E esse indivíduo, "come" uma qualquer, mesmo que na manhã seguinte lhe não recorde o rosto....

A ex-mulher....para essa, os valores sociais, éticos, impostos pela religião moral católica como sabemos, tem um sacerdócio de vida a cumprir.
Tem que educar o melhor que souber e puder aquele filho, tentando poupá-lo o mais possível ao ruir da arquitectura familiar em que vivera (o que só por si a coarta na sua independência e liberdade), deve dar-lhe um exemplo intocável de boa mãe, guiando-o por caminhos que façam dele um bom estudante, um rapaz com princípios de vida de honradez, de luta, determinação, respeito por si e pelos seus semelhantes.
Se possível, aquela mulher deveria tornar-se um ser assexuado....

Mas estamos de facto no Século XXI, e também ela não quer renunciar a ter vida própria, nos anos que ainda tem pela frente.
Recupera gostos que tinha e havia abandonado, recupera amigos que deixara com o casamento, recupera a vontade de ir a um cinema, a um bar ou a uma discoteca.
Arranja-se se calhar com mais cuidado, porque tenta recuperar a auto confiança e a auto-estima que se haviam esbatido lá para trás....e como tem corpo e sangue a pulsar, não perde a esperança de viver, retalhos de felicidade, visto que a Felicidade que ela julgava existir, sabe ser utópica...

Como é que a sociedade a vê, a rotula, a aceita?....
Infelizmente, e sobretudo nos meios masculinos (por incrível que pareça), ela não é mais do que uma "gaja"....e normalmente aquela "gaja" até é uma puta!!!....

Bom....abstenho-me de comentar mais o que quer que seja....Não trouxe novidades a ninguém.....Talvez apenas, abanões de consciência!!

Anamar

terça-feira, 12 de outubro de 2010

"A GRANDE SOLIDÃO..."



Já tenho lido com alguma frequência, que há homens que contratam o serviço de uma prostituta (acaba por tornar-se sempre a mesma), apenas para conversar com ela.
Não querem nenhuma prestação sexual, apenas buscam ouvidos, ombro, coração talvez, que os oiça, que lhes perceba o silêncio em que vivem mergulhados....a quem digam, como se não falassem com ninguém que pudesse apontar-lhes puritanamente um dedo social, a sua história...

Hoje, inesperadamente entendi-os.

Muitas pessoas têm uma dupla faceta ou personalidade nesta vida, como queiram.
Muitas pessoas são muitas vezes o que não são realmente. E quem com elas convive e lhes conhece por exemplo o seu lado lunar, apenas, não entende, quanta sensibilidade, fragilidade, convulsão de valores e sentimentos podem existir num lado solar daquela pessoa, que nunca haviam detectado existir...

A "máscara" socialmente aceite desses homens, por exemplo, precisa de quando em vez, cair, e, falando genuinamente para alguém que por vezes se transforma numa amiga, lhes alivia a alma, lhes apazigua o coração.

São normalmente pessoas votadas ao que eu chamo de "a grande solidão", por espartilhadas por uma gama de valores e princípios éticos, sociais e morais, quantas vezes hipócritas.
São pessoas que calam dentro de si o que contêm, até que não dê mais, e a máscara do sofrimento tenha que cair...

Anamar

domingo, 10 de outubro de 2010

"O EU INTERIOR..."

Tenho andado muito arredada da escrita.
Não tenho tido a concentração direccionada para aqui. Aliás, sinto-me um pouco dispersa, pensando em tudo e em nada, como se pressentisse que a minha vida vai dar uma volta. Uma volta qualquer...
Talvez seja algum renascimento da fase complicada que tenho vivido. Talvez seja o caracol a deitar os pauzinhos de fora, depois da "chuva" que caíu...
Sinto como que uma primavera antecipada, depois de um inverno rigoroso. Ando com aquele "frisson" que se tem, quando se inicia algo novo, se decora a divisão de uma casa, se começa um novo amor...
Não sei bem porquê este estado de espírito, das trevas p'ra luz....mas sinto-o...

Talvez um reencontro com o meu "eu" interior, com o meu equilíbrio, com o ponto central do meu "yang-yin"...
 Quero estar de bem com a vida, não posso estar permanentemente zangada com o mundo, e tenho que começar por algum lado, e esse lado está a ser a busca do meu equilíbrio pessoal, da paz do meu espírito...
Oxalá eu consiga levar esta nau a bom porto.

Ontem fui ao cinema. Fui ver um filme mal cotado pelos críticos, o que para mim lhe confere pontos, à partida;
Tinha SIMPLESMENTE dois actores de referência: Júlia Roberts, para mim indiscutível, e Xavier Barden, que já vira há anos atrás em "Mar adentro", e me marcara muitíssimo.

No seu global, é uma película soft, sem dúvida, rodada em locais espectaculares, com uma mensagem pouco inovadora no geral, mas aqui e ali, salpicada de enormes mensagens, em meio da pequena mensagem que "aparentemente" passa.

Lamento sempre a rapidez com que os planos se sobrepõem, nos filmes; não dão tempo para reflexão, interiorização, e desfrute das imagens simultâneamente, por vezes excepcionalmente belas, que até era o caso.
O filme, com um título meio estranho, e para mim, de mau gosto, "comer, orar e amar", foca exactamente o seu reencontro (depois de uma busca interior persistente), de uma mulher de sucesso, descrente, receosa, defendida do amor e da vida, que parte do zero, recusando uma vida que a insatisfaz e a incompleta...

Mas não é uma mulher qualquer, não é uma mulher acomodada, e luta e busca até ao fim do mundo (o filme termina na Indonésia, Bali) de valores espirituais em que acredita; procura ajuda, conhece pessoas e regista mensagens espantosas de uma civilização que nada tem a ver com aquela donde vem, a América,vazia, materialista, fundamentada em lobbies económicos e de consumo, corruptíveis.
É dito que a Indonésia é um apelo aos amantes de uma das formas de comunicação mais puras...o silêncio!

Aliás, tenho a sensação, que cada vez mais, a insatisfação dos princípios ocidentalistas, estão a aproximar as pessoas, de valores ancestrais autênticos, espiritualistas, despojados, vernáculos...

Lembro a minha ida à Tailândia, lembro a minha ida às Maldivas e sinto ainda hoje, sobretudo da Tailândia, tudo aquilo que arquivei no coração, na mente  e debaixo da pele...
Lembro com uma nitidez absoluta tudo o que lá inspirei e me preencheu a alma até hoje...
São locais de uma introspecção, de um silêncio, de um crescimento interior, de uma reflexão e meditação incríveis, que não há palavras que os descrevam...só vivendo-os lá mesmo...

Anamar

domingo, 3 de outubro de 2010

"AO GOTEJAR DA CHUVA NA VIDRAÇA"

 

Primeiro dia com "sabor" a Outono/Inverno, este ano.

Eu"julgava" que o sol nunca mais se ia embora, e sempre acreditava que os dias de sol quente e luminoso estariam "ad eternum"...
Mas não, hoje acordei desagradavelmente com um céu todo igual e todo cinzento, com chuva sistemática.
Desagradável, é injusto e inadequado, pois afinal é o terceiro dia do mês de Outubro, e isto, é efectivamente o que a mãe natureza prevê para esta altura...mas este convite ao recolhimento é de um doce/amargo, que pela surpresa me perturbou...

Lá dirão vocês, lá dirá a minha filha mais velha, o que raio tem o tempo de tão importante, para tanto mexer comigo?!...Não sei...não sei, mas tem.
Esta mudança de estação, que afinal como tudo, tem a sua beleza muito própria e que eu muito admiro, está envolta num casulo de nostalgia que me perturba. Ela convida à interioridade, ela faz sentir mais a solidão, ela é, pelo menos para mim, uma estação de balanço...

Pessoa, o mestre, como já nomeei tantas vezes, sabiamente proferiu aquela frase que coloquei num post há tempo e tempo, e que está inscrita na parede do restaurante em Geia : "Um dia de chuva é tão belo quanto um dia de sol...ambos existem, cada um, como é!"...tinha mais uma vez toda a razão ao dizê-lo...

Geia...Geia exactamente num Outubro lá para trás...para trás do nevoeiro..
Porque entretanto, uma parede de nevoeiro se instalou...e pronto...não se dissipou nunca mais...

Chegámos aos dias adivinhados dos jardins sozinhos, dos bancos vazios, das árvores a "descabelarem-se", do rodopio das folhas dos plátanos pelas alamedas, do vento desabrido, já a virar chapéus de chuva, de pessoas  que correm a fugir ao pingo-pingo desta chuva miudinha e teimosa...
Mas também às manhãs de domingo na cama, sem horas, sob o edredon, a dividir carinhos, confidências, ansiedades....a ouvir apenas as gotas da chuva a bater no beiral da janela e a convidar a dormir, acordar, dormir de novo....ao som da mesma melopeia pacificadora que nos convida a ficar, ficar, ficar...quando se pode...

A minha crónica de hoje, parece uma página do boletim metereológico...mas não é.
Estou no café dos domingos, como sempre a tomar o pequeno almoço tardio, sem conseguir ou poder pôr no papel do tanto que me vai cá dentro, deste aperto-sufocação, que pelos vistos tem estado latente, como uma doença incubada, e hoje extravasou...porque as comportas desta barragem de sentimentos, que se calhar ando a reprimir, foram galgadas pela torrente, porque as muralhas se desfizeram como os castelinhos de areia feitos à beira-mar, quando aquela ondinha provocadora sobe, e deixa os meninos tristes...só porque hoje amanheceu cinzento, com chuva, silencioso, só...e a minha habitual incoerência tocou "a rebate"!!...

Anamar

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

"SINAL DOS TEMPOS ! ..."


As pessoas não estão a investir no amor.

Verifico que as relações hoje em dia, são cada vez mais pontuais, efémeras, de momento, sem perspectivas de continuidade e se calhar, sem vontade mesmo dessa continuidade.
E este estado de coisas, desencantado, verifica-se em qualquer faixa etária.
Eu tenho uma filha com trinta e dois anos, que se pauta nesta base também, de sentimentos e vivências;
Tenho amigos da minha faixa etária com dois ou três insucessos sentimentais e afectivos, que por defesa, comodismo, descrédito. o que quer que seja, não arriscam nada mais, e preferem e dizem que querem viver sós, que estão bem sós, que não equacionam mais, outros esquemas de vida...

São pessoas com filhos já ausentes, tal como eu, que não querem limitações, justificações a dar, qualquer tipo que lhes "cheire" a pressão, ou que considerem como tal.

Fazem a vida como querem, rodeiam-se de amigos ou isolam-se, se é essa a sua vontade, agarram no carro e vão por aí, ou não, fazem amor menos vezes do que gostariam, mas "paciência", como dizem (tudo tem os seus custos....), e estão felizes ou aparentemente felizes, embora utopicamente defendam que o Homem é um animal gregário, e não existe para estar sozinho...

E este estado de coisas, partilha-se pelas mais diversas faixas etárias. A minha filha, teve desde sempre colegas e amigos, rapazes e raparigas, cujo percurso fui acompanhando ao longo das vidas.
Hoje, estão todos eles, logicamente na casa dos trinta anos e quase todos estão já, com dois ou três insucessos emocionais em cima, estão com separações, afastamentos, tristeza nas suas vidas.

Alguns têm filhos e optaram por viver para eles, ou limitados por eles (não sei como dizer), mas quase todos, no auge de uma juventude que deveria ser de alegria, descontracção e leveza de alma, a parecerem já "velhos", cansados no desencanto que carregam...

Assim sendo, e porque também vivem numa sociedade de competitividade feroz, agressividade e exigência profissional  desumanas,  fazem uma vida a trabalhar quase sem horários (muitos deles), e depois, têm os tais casos pontuais, que os deixam mais vazios afectivamente, porque de afectivo têm pouco, sendo meramente de realização física, quando são!...

E assim vão passando anos, e assim as pessoas vão ficando cada vez mais sós, vão perdendo o encanto e o acreditar, a frescura e o romantismo inerente a uma adolescência que desejaríamos todos, creio eu, se pudesse perpetuar no tempo, porque, de facto, o estado de paixão, ingenuidade, pureza e entrega incondicionais, são a maior "oferta" que poderíamos ter no tempo que por cá estamos....

Anamar

domingo, 26 de setembro de 2010

"ESTÓRIAS DE UM DOMINGO SEM HISTÓRIA...."

O domingo hoje começou às avessas.
Pretendia ir ver a minha mãe à margem sul, e portanto iria levantar-me um pouquinho mais cedo.
Foi uma noite de insónias....às seis da manhã estava eu aqui no computador a completar um post que escrevera ontem no meu blogue, e no qual entendi que deveria acrescentar mais um parágrafo...
já tinha tido um bom tempo sem dormir por volta das duas e meia, e depois às seis foi o descalabro ; escrevi, fui beber leite à cozinha, e claro... o sono foi para o espaço.
Moral da história : acordei agora, mais de onze da manhã, em sobressalto (coisa que eu detesto, porque como sempre acordo mal humorada, tem de ser devagarinho, assim como quem não dá por isso), e... já não fui ver a minha mãe hoje. Teve que ficar para amanhã....

Estou agora a tomar o pequeno almoço, e já pensei : agora vou para a caminhada, de castigo..."toma lá que já almoçaste"!!!!!......

Depois, não sei, não prevejo grande coisa para este domingo, já descaradamente outonal, embora nos queira enganar com um sol bem luminoso ainda....Em última análise vou até ao Colombo, naquele programa "aliciante", de terceira idade, de emparvecer naqueles cómodos sofás da praça das palmeiras, a contemplar os passantes...
Mas eu gosto!....Gosto de ver as pessoas, as suas reacções, a sua correria mesmo ao domingo, ou então...torná-las "transparentes", virar-me para dentro, e entregar-me apenas à "película" que me vai passando pela cabeça e pelo coração.
Depois regresso...daí a pouco o domingo termina, amanhã é outra vez domingo, e depois e depois...sempre domingo!

Eu bem arranjei uma agenda (nas agendas, supostamente marcam-se actividades a cumprir); a minha também tem actividades marcadas : anos da Fátinha, café com a Bia, cabelo, Verdizela, Telheiras...como vêem, o cardápio é longo e variado...

Tudo estranho um pouco, isto, embora não afirme que AINDA me não sabe bem este "dolce farniente", este excesso de horas para ter horas para fazer coisas sérias.
Mas qualquer dia, como a D.Madalena, vou ficando por aqui mesmo à espera de fazer as "tais" horas à séria, que felizmente não sabemos quantas e como são!

E entretanto lá fui p'ra caminhada, e todo o caminho, com os bofes à boca vou dizendo p'ra mim mesma : "É por uma boa causa!..." "É por uma boa causa!..."
Fui de novo só, ou melhor, fui eu acompanhada de tudo aquilo que vai transcorrendo imparável pela minha mente.
O itinerário passa pelas traseiras de uma casa onde a minha filha mais nova viveu, e parte dele, era o percurso que algumas, poucas vezes eu fazia, quando ela me pedia para lhe passear o Nico, por não o poder fazer.

O Nico, engraçado, acho que nunca vos falei do Nico. O Nico é o cão mais rafeiroso que se possa imaginar, que tem tanto de vira-lata como de "melga" de doçura e afecto. O Nico parece nunca parar de querer agradecer o que por ele fizeram...
Veio da rua (todos os animais que a minha filha arranja são abandonados à sorte), e é conhecido por meio mundo aqui onde vivemos, tantos os anos em que sobreviveu...e não viveu.
Quando penso nele, a imagem que imediatamente me ocorre e ocorrerá sempre, um dia, é a do seu rabinho, porque dum rabinho se trata o coto que lhe deixaram por malvadez, a abanar loucamente de alegria.
O Nico também não tem as pontas das orelhas, porque igualmente lhas mutilaram, foi atropelado e abandonado duas vezes, e as pessoas jogavam-lhe água oxigenada sobre um corpo que era uma chaga quase total, pela sarna que contraíra...

Constato que não tenho fotos do Nico, talvez porque agora vivamos mais longe um do outro, mas jamais esquecerei os seus olhos doces e vítreos das cataratas que quase lhe tiram já a visão; é um animal sem idade, doente apesar de tratado e acarinhado o melhor possível, com insuficiências cardiacas e renais....mas é um "guerreiro" e um "resistente", na Vida!

Era um cão castanho ; e digo era, porque à semelhança dos velhinhos, a idade embranqueceu o Nico...e quando o olho com muita tristeza, custa-me pensar que mais cedo ou mais tarde, é um possível canditato a mais uma "deserção" no nosso núcleo familiar, já tão pequeno!!...

Anamar

sábado, 25 de setembro de 2010

"A PASSAGEM"



Os animais morrem com os olhos abertos.
Creio que os humanos também....Isso disse-me o veterinário quando eu me despedia do Óscar, há um ano, e tinha urgência em lhe fechar as pálpebras...

Com as pessoas é igual, ao que parece. Felizmente não fui ainda confrontada com essa realidade. Mas logo alguém, por perto, lhe coloca a mão nas pálpebras e lhe cerra os olhos, antes que passe tempo demais....

A Lena hoje não foi à caminhada. Tanto melhor para ela.
A meio do percurso, como quem dorme a sesta, estava entre  sol e sombra, um gatito todo preto, com a ponta das quatro patas brancas.

Estaquei....estaria mesmo a dormir, como tanto gostam? Baixei-me e os seus olhos estavam entreabertos.
No corpo o sinal do rodado dum carro, embora parecesse incólume.
Perscrutei-lhe os batimentos cardíacos...não tinha. Estava absolutamente exangue, e no entanto, ainda morno, constatei.
Olhei-lhe a expressão inerte....
Por que será que temos tanta pressa em fechar os olhos aos mortos? -pensei
Será porque nos culpabilizamos inexplicável e psicologicamente,  por eles partirem, e nós ainda por cá ficarmos?
Será para, sobretudo no caso dos animais, indefesos, fiéis, dedicados, não ficarmos com a sua expressão de doçura mesmo nessa hora, gravada nos nossos corações?
Será para que os seus olhos, que nos suplicam ajuda, não fiquem incrédulos de os não salvarmos....e isso, nós não aguentamos??
Será que uma vez mais, não conseguimos sair de nós, e por cobardia, defesa, comodidade, evitamos confrontar-nos com a maior e mais certa realidade da Vida....a Morte?

Deveríamos deixar morrer os nossos entes queridos (pessoas ou animais), morrerem podendo, se o quisessem, a olhar para nós, talvez dessa forma, lhes amenizássemos a "passagem"!....

Anamar

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

"EXCLUSÃO SOCIAL"

Para se ser gato, p'ra se ser cão, p'ra se ser pessoa...é preciso ter sorte...

Li há poucos dias no jornal, que de dia para dia, aumenta o número de casos de pessoas "largadas" nos hospitais, cujos familiares "desapareceram" e as deixam, entregues ao seu destino....destino??... se é que ainda o têm!!
Só no Amadora-Sintra, neste momento, vai p'ra mais de quarenta, essas pessoas.
As moradas dadas na inscrição são falsas, não se responde a solicitações da assistência social, não se visitam...não se aparece.
Deitam-se no "velhão", pura e simplesmente...
Isto já p'ra não falar nos reclusos das suas próprias casas, degradadas, águas-furtadas, inacessíveis....sujeitos à boa vontade de vizinhos e conhecidos. Normalmente rodeados de fotografias de "outros" tempos de maior auspício, de "outros" familiares " não desaparecidos, de "outra" alegria....

A crise social, económica e afectiva piora tudo...mas a exclusão instala-se sobre tudo aquilo que é "peso" e incomoda...
A vida actual é de perda de valores, é de "plástico", é descartável, é de sobrevalorização do material, do ter em detrimento do ser....

Mas ainda que se presuma que quem tem maior tendência a tomar essas atitudes sejam pessoas de estratos mais desfavorecidos em termos de classe social, económica, cultural e afectiva até, que raio de sociedade é esta que permite que se deite a cabeça na almofada, de coração desanuviado, e se deixe a mãe, o pai, velho e incapaz, indefeso e sem capacidade reivindicativa de nada (nem sequer do seu "espaço" no núcleo familiar  que criou, por vezes a duras penas), entregue à solidão, ao abandono, à exclusão mais total que se possa conceber, que é a do descaso, do esquecimento, da ingratidão e da ausência de afecto?

São pessoas como estas que abandonam os seus cães... ("familiares" e "briquedos" das criancinhas), nas auto-estradas, porque têm férias de que não prescindem, para serem obviamente atropelados de imediato, como sabemos, loucos que ficam de desespero, atrás do carro que os largou, não "acreditando" que os "seus", os tenham esquecido!...

São pessoas como estas que dormem o sono dos justos, à noite....sem necessitarem sequer de comprimidos!!!...

Anamar

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

"E O TEMPO QUE VOA...."


Acho que o Outono está a instalar-se mais cedo...
Breve, as árvores vão desemaranhar a folhagem porque a deixam tombar pelas calçadas, pelos parques e alamedas, breve, as folhas resistentes irão amarelecer e ganhar aquelas cores que nunca canso de referir.
Os amarelos, os ocres, os laranjas, os castanhos, até os vermelhos preparam os nossos espíritos para a falta de calor que a temperatura do ar nos sonega...

Sei que os dias estão ainda bem ensolarados, mas o sol que brilha, já é um sol "postiço", que não tem a luz nem o calor dos meses anteriores.
As criancinhas retomaram as mochilas e rumam às escolas, as estradas enchem-se de carros de pais afobados, que antes do emprego as têm que deixar nos colégios....há uma azáfama latente, que não se vê claramente, mas que paira....

A D. Julieta e as suas companheiras de "sala", apertam-se apertadinhas, para caberem quatro, por banco da praceta, antes que a torneirinha do céu comece a jorrar água cá para baixo, e a escorrace para o único poiso alternativo, no seu caso....o "café dos velhos" de que também já vos falei.

O cheirinho às castanhas assadas não demorará a chegar, o que nos leva a pensar que ainda "ontem" vimos este "filme" e já estamos numa nova "reprise"...ou melhor, que o tempo efectivamente voa!!!....

Qualquer um destes dias, tenho a certeza, vou atravessar o jardim, onde só haverá pombos masoquistas à chuva, porque, estar, ninguém está....e quem passa, passa apressado, pelo desabrido do tempo....e a beleza de um jardim de inverno (porque a tem, e muita), advém do tapete das folhas de plátano que rodopiam, revestindo as alamedas....e pela solidão que o atravessa e que eu gosto, por ser introspectiva, melancólica, um pouquinho triste que nem eu...

Anamar

domingo, 19 de setembro de 2010

"O ANTÓNIO"

Impressiona-me a maturidade do António...

O António tem nove anos, está inserido num espaço familiar preocupado, culto, atento, exigente...frequenta um bom colégio e nós sabemos muito bem quanto isso é determinante na formação de uma criança.

Gosta de ler, é curioso, vive rodeado de jogos didácticos, vai ao cinema, tem acesso à Net, com o controle dos pais.
Tudo isso faz a diferença, e eu sei disso.
Mas, para lá de tudo isso, é uma criança, como dizia, com uma curiosidade nata e uma informação que eu considero invulgar para a sua idade.

Desde bébé que viaja várias vezes por ano para a Suiça, onde vive o pai, sozinho, entregue às tripulações de voo. É quase da "família" destas. Por isso, o António viaja com frequência no cockpit do avião, onde é "amigo", presumo, dos comandantes; fará toda a gama de perguntas, calculo, o que o leva a ter já um interesse pela pilotagem, que o faz dizer querer ser piloto, quando crescer.

Noutro dia telefonou-me e confrontou-me com uma questão da minha área: O diálogo foi curioso....Ele começou assim : "Vóvó, o petróleo é uma rocha líquida, certo? Só que eu queria saber de que é feita, e já agora, o giz também me interessa...."

De outra feita foi a mãe que me ligou e me disse : "Mãe, o António quer fazer-te uma pergunta".
Passou-lhe o telefone, e diz-me ele : "Vó, eu sei que o Einstein, desenvolveu, na Suiça, uma teoria, da relatividade, E= m c2....essas coisas que relacionam o tempo e o espaço....mas eu queria saber mais sobre isso, porque não percebo muito bem!"

Fiquei literalmente "entalada", fulminada com aquela pergunta, largada de supetão e disse-lhe : "Olha, isso é muito complicado para a tua idade, mas a Vó vai ver se arranja qualquer coisa adequada aos anos que tu tens, que possa esclarecer-te melhor sobre esse assunto, ok?"

Pedi a ajuda de uma colega (preciosa, na altura)...e nos anos do António ofereci-lhe o livro "O tempo e o espaço do Tio Alberto", que sei que levou para férias para ler.
Por acaso estive com ele ontem, falámos de outras coisas, mas esqueci de lhe perguntar se já o tinha lido.

Mas ontem, uma vez mais me surpreendeu.
Eu estive de férias na Costa Rica, e o António já se tinha informado basicamente sobre algumas coisas do país.
Diz-me ele : " Vó, lá fala-se o espanhol, não é? Falavas espanhol? É um país muito pobre, verdade?"
E eu, lá lhe expliquei numa conversa que mais parecia de adultos, tudo o que auscultei da realidade do país. E disse-lhe: "Sabes que foi Cristóvão Colombo" que primeiro lá chegou....sabias?"
E diz-me ele : "Sim, , Cristóvão Colombo, ao serviço dos reis de Espanha. Sabes que pensam que ele era italiano?"

O António tem mais dois irmãos.
Frequentam já os três um óptimo colégio, como disse, e têm actividades extra-escolares. Inglês, Judo e Natação no caso dele, Ginástica, Inglês e Natação também, no caso da irmã do meio....
Os pais tentam, como podem, chegar economicamente a tudo isso...

Ele é o tal menino, que, quando lhe foi explicado que as despesas eram imensas, e não era oportuno na altura satisfazer-lhe uma dada solicitação, disse, com um ar sereno e sério : "Não faz mal ; Eu quando for grande e ganhar, posso ajudar nas despesas, está bem??""...

Posso, de facto, ser "suspeita", mas o António é já hoje, com nove anos, um menino lindo por dentro e por fora!!...

Anamar

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

"STEP BY STEP...."

Todos os dias faço uma caminhada de vários quilómetros, não só na remota esperança de recuperar ou manter alguma juventude que tende a ir-se, como para me convencer de que faço alguma coisa útil por dia.

O percurso delineado, feito umas vezes sozinha, outras com a Lena, é longo e variado : tem descidas, tem zonas mais planas, tem zonas de sombra (uma bênção nestes dias que voltaram a aquecer), tem zonas de exposição implacável de sol. e tem subidas, verdadeiras "montanhas" para quem já vem esfalfado, de regresso a casa, para quem se sente totalmente empapado do suor e este lhe escorre do pescoço sei lá até onde...

Para mal dos meus pecados, a subida, e ensolarada ainda por cima, é no regresso, quando algum cansaço já se acumula, e é algo acentuada. Lógico que a faço com dificuldade, como Cristo a caminho do Calvário, imagino...respiro ofegante, coloco o corpo a 120º, para, deslocando o centro de gravidade, facilitar a escalada, e lá vou eu.
Quando vou com a Lena, sempre conversamos, rimos, sei lá...
Quando vou sozinha, vou entregue a mim própria e ao que me povoa, e dei por mim, num destes dias, a constatar o seguinte : (o que não deixa de ser curioso, tem um total fundamento de verdade, e me fez reflectir)
Se, no sopé da subida e ao longo desta, sempre for olhando para a frente, para o que me falta, para o que tenho que "penar"...o esforço redobra, acho que não conseguirei, suponho não ter mais forças....
Se começar a amarinhar, passo por passo, sem olhar em frente, mas sim para o chão, cada passo é uma conquista, e quando dou por mim, atingi o ponto máximo...a partir daí, eu considero a caminhada "no papo"!....

Relacionei isto, com a Vida, assim, de repente...e pensei : "esta caminhada é a vida, de facto....feita passo a passo, conquista por conquista, momento por momento, um dia de cada vez....
Para quê olhar para as dificuldades implacáveis que me esperam, com antecipação?
Para quê, sofrer a dobrar, cada passada que dou, sabendo que me faltam ainda tantas??!!...

Cada vez mais, o meu registo emocional vai sendo este, motivado por muita coisa do que a vida me tem ensinado: sofrer por antecipação, nunca mais, apressar o que tem um um fim garantido, também não, dia após dia, sim, momento por momento sim, sorvendo-o tanto quanto puder por ser seguramente único (como se fosse o último...frase feita, mas eloquente...) viver o agora, porque o depois...jamais se saberá...

"Step by step"... Aprendendo com cada um, mesmo que a aprendizagem seja de sofrimento e dor, é de certeza, de aquisição de maturidade e crescimento interior, e valerá por certo, se mais não for, pelas memórias e conhecimento que nos deixa...

Anamar

domingo, 12 de setembro de 2010

"AUSÊNCIA PROLONGADA..."

Verifico que há uma semana aqui não venho....

Sinto que não tenho na realidade muito do que falar...nada de muito relevante ocorreu na minha vida, nestes dias que agora se assemelham, e que tenho que descodificar no calendário em qual estamos.
Ainda nada deliniei e nem sei como vou fazê-lo, para ganhar algum dinheiro extra, pois o meu móbil neste momento, é ter um mínimo de tranquilidade económica, face à redução do vencimento. e portanto estou um pouco numa de "standby" no rumo destes meus dias.

Tenho um grande objectivo, reforçado até pela viagem que fiz, e que é, conseguir juntar todas as economias possíveis que possa, e viajar...viajar o mais que puder....porque cada vez mais sinto que o património mundial, é algo inestimável, algo que é triste se não lhe pudermos aceder....

Não pensem que me motivam as grandes metrópoles...os lugares badalados de turismo massificado...
Não...motivam-me os locais em que se supõe estar num qualquer paraíso sonhado, motivam-me as pequenas e rústicas aldeias no interior duma Provença, duma Itália despretensiosa, de interior lindíssimo...motiva-me uma esplanada onde possa escrever ou ler na paz dum local quase ignorado!
Queria tornar o Mundo cada vez mais o meu "quintal"!....

Por outro lado sinto em mim já, capacidades que não sentia anteriormente, para poder estar só comigo mesma, capacidades de intimismo, de introspecção....
Não sei se este patamar corresponderá também a fruto de toda uma medicação que se arrasta há largos meses; o facto é que pareço "navegar" neste momento, num estranho mar "flat", estou um pouco "adormecida" em relação aos altos e baixos do dia a dia!

Ontem, fiz um programa que às vezes faço, e me faz sentir agradavelmente livre....
Levantei-me tarde, sem preocupação de horários, tomei o pequeno almoço, tarde e más horas, claro, fui até ao Colombo....almocei um gelado imenso....(a prevaricação dá-me gozo...)....e fui ao cinema ver um filme espectacular : "Entre irmãos"...

"Entre irmãos" é um filme sem nomes sonantes, mas duma profundidade atroz!
Aborda problemas reais e humanos, seguramente vividos por famílias, cujas vidas, de alguma forma, foram "atravessadas" pela guerra.
Foca os conflitos individuais e humanos de quem sofre sevícias, torturas, toda a espécie de barbárie animalesca que um conflito armado propicia, e depois foca os problemas psicológicos, pessoais e familiares, traumáticos de quem é vítima de tal experiência...

Fui, obviamente coagida a lembrar os nossos ex-combatentes do Ultramar, com tudo o que isso me traz à memória....

Brilhantemente o filme termina com uma frase absolutamente real e nos fará pensar :" Dizem que quem vê o fim da guerra, são os mortos....Eu não sei sequer se conseguirei continuar a viver!"....

Aconselho-vos vivamente a visionar a película....

E pronto....o meu fim de semana não teria muito mais a contar....mas valeu a pena!

Anamar

domingo, 5 de setembro de 2010

"MAIS ....OU MENOS....UM SÁBADO !"

Ontem fui ao cinema com uma amiga, que não encontrara ainda depois de férias.
Uma amiga daquelas que não são amigas, são irmãs ; faz parte do "baralho" das quatro que eu acho que muito mais que o epíteto de amigas, deveriam tê-lo de irmãs, de facto....irmãs de sangue, mesmo.

A nossa amizade remonta há mais de trinta anos, quando as nossas filhas ainda vestiam casaquinhos de Inverno azuis, quando eu, por necessidade tirei a carta de condução (porque a Escola de Alenquer, onde nos conhecemos, nos esperava diariamente).
Da nossa amizade, passou-se à amizade do "clã", dos maridos, dos filhos que foram crescendo em simultâneo, tendo as primeiras espinhas na cara ao mesmo tempo, os primeiro namorados também...
Muitas férias fizemos juntos, no Algarve, em casas alugadas em partilha, idas a Elvas, à matança do porco, e uns dias em Madrid também, para arejarmos, rirmos, brincarmos.
Acho que era um tempo mais ou menos "leve", mais ou menos despreocupado...hoje parece-me ter sido OUTRA vida.
A criançada ainda não dava muito que fazer, e éramos, realmente, cada vez mais cúmplices, e eram longas as caminhadas nos areais à beira-mar, nos "Três Irmãos", em Porto Covo, na "Luz", no "Alvor", onde eu fazia dela, o "padre" onde nunca fui ; e já então, objectiva, pragmática, de cabeça arrumada, ela me ajudava na clarificação de tanta coisa...

Depois, o destino foi carrasco, absolutamente carrasco.
O Zé "partiu"...sem avisar, num Fevereiro ensolarado, em vésperas de irmos de novo, os quatro, rumo a Espanha, numa fugazinha de fim de semana e férias de Carnaval.
Partiu e deixou-nos todos "órfãos"...não só a família...e tudo passou a ter outra "cara"....
Naquela casa, passou a faltar alguma coisa ; naquela casa, parte da "alma" desapareceu. Era duro, era violento frequentá-la, frequentar um sítio de tantas passagens de ano, de tantos aniversários, de tanta risada, de tanta comunhão...era duro!

Entretanto eu divorciei-me, os filhos cresceram e fizeram-se à vida, em caminhos não propriamente entrelaçados, espantosamente diversificados. Esses filhos já têm outros filhos, que não conhecem sequer os rostos uns dos outros!!!....

Ainda ontem, depois do cinema, entre duas tostas, umas bebidas a servir de jantar, e conversa que nunca se esgota, nós dizíamos : " Como a vida dá voltas sobre voltas, impensáveis, num lapso de tempo, que é infinitésimo afinal, comparado ao tempo universal!!
Se nos dissessem, se nos contassem lá atrás, se nos tivessem deixado espreitar por uma janelinha, que tudo isto, que tanta coisa, faria parte das nossas vidas...se calhar iríamos duvidar...."

E quando nos separámos, desejando sempre o próximo encontro (porque este sempre fica incompleto), no ar pairava uma nostalgia de qualquer coisa que não se explica, uma espécie de saudade de algo indefinido que ficou lá atrás...saudade, se calhar, daquilo que fomos, saudades da Vida...

Entretanto o filme que vimos, levezinho, ternurento, daqueles filmes que não nos acrescentam nada...apenas nos dispõem bem, não nos gastam os "neurónios" ainda saudáveis, são "cor de rosa" (como se a vida o fosse)....têm um "happy end", como conviria....

"Cartas para Julieta"...o amor reencontrado cinquenta anos depois....
Vanessa Redgrave, uma senhora distinta, como sempre...um amor guardado no coração e na alma (utopicamente, quase nos fazendo acreditar poder acontecer nos tempos que correm), e paisagens lindas duma Itália verde, de uma Verona, Siena, Livorno, absolutamente envolventes....e mais um sábado....ou menos um sábado na minha vida!!...

Anamar

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

"PORQUÊ?...

Só queria ser igual à minha mãe...
Mas não, os genes dela não passaram seguramente para mim...

Como já aqui disse algumas vezes, é uma senhora de quase noventa anos, que vive sozinha, numa vivenda rodeada de relva, flores e árvores, com uma piscina...dantes, com o Gaspar.
Infelizmente o Gaspar, dia 10 de Janeiro deste ano, cometeu a "injustiça" de a deixar...e morreu antes dela, coisa que ela pediu que não viesse a acontecer nunca... Ficou, portanto, mais só.
Como a vivenda é na margem sul, e não exactamente à mão de semear, vou vê-la, não com a frequência, se calhar que podia e devia...mas é a vida...

Temos uma empregada comum, há largos anos, que serve de "pombo correio" entre as duas, e que tem por ela um carinho muito especial, porque a tem como a avó que a criou, lá na Ucrânia tão distante.
Tem de facto um desvelo e preocupação com a minha mãe, inexcedíveis, que não são os bens materiais que pagam. Felizmente não vive longe dela, e é duma solicitude comovente.
Telefonicamente, contactamo-nos, obviamente mais que uma vez por dia.

Dantes, a minha mãe falava o dia inteiro com o Gaspar, que a entendia lindamente e lhe respondia ao "jeito dele"...tinham uma linguagem de cão, perfeitamente perceptível. Dele, tinha carinho, dele tinha companhia, dele tinha compreensão.
Quando por vezes chorava e se fechava no quarto, o Gaspar deitava-se à porta e gemia até que a dona de lá saísse, e olhava-a com um ar compassivo, triste e cúmplice, como que a querer dizer-lhe: "Que é feito da garra da minha dona??!!...Deixa-te disso!!!" - e lambia-lhe até as lágrimas, se teimosas, elas rolavam...

A minha mãe é de amores únicos. Depois do Gaspar não quer, nem é capaz de ter substitutos...

Hoje, acho que fala com as flores, porque conhece cada borboto que abriu e floriu, cada buganvília que se "queixa" da falta de sol, conhece o vento que abana os pinheiros e desfolha as árvores, e ciranda por ali todo o santo dia, nos mais de mil metros quadrados de casa.
Ela varre, ela lava, ela estende, ela rega diariamente as plantas onde a rega automática não chega, como se fossem bocas sequiosas, porque... "coitadinhas", o calor é muito, ouve os programas de rádio desportivos, porque o seu Sporting é sagrado, e todo o futebol faz parte do seu quotidiano, os telejornais, uma só novela, e nada mais...porque "a televisão só dá porcarias e desgraças"!!!!

Pelo calor ou pela chuva no Inverno, faz renda...catadupas de naperons para cozinhas inexistentes, porque a família já foi toda contemplada, e não há mais cozinhas que os comportem, com linha grossa (porque os olhos já não permitem mais), com as fotografias do "seu Gaspar" sempre junto dela, no sofá...

Levanta-se mal o dia espreita. Agora no Verão, às 6h da manhã está a pé (resquícios da vida no seu Alentejo distante, em casa dos pais), e depois de quase não parar todo o dia, antes das 9 está na cama...

Levanta-se, vai para a piscina, onde faz uma hidroginástica que inventou, para a ajudar na manutenção dos movimentos ( a minha mãe fracturou há talvez 5 ou 6 anos as duas pernas, com três fracturas, o que me adivinhava o fim...).
Depois, faz ginástica, aos braços e ombros, toma o seu duche quente e pronto, está pronta para mais um dia "de trabalho"....

A minha mãe tem uma disciplina, uma persuasão, uma força de vontade e um objectivo utópico e quase infantil....poder acompanhar o crescimento dos bisnetos...
Não quer morrer de forma nenhuma...eu acho mesmo que só irá, se a apanharem distraída!!!

Uma destas noites em que estava com insónia, pelas 4 h da manhã, levantou-se, olhou pelos vidros e viu um luar lindíssimo, de uma lua cheia que iluminava todo o jardim, e segundo ela, pensou : "o que vou eu fazer para a cama, se não tenho sono, e a lua está tão linda???!!!".....

Nessa noite, iniciou os "trabalhos" mais cedo....
Foi para a piscina, fez a ginástica, varreu todas as folhas tombadas durante a noite, como sempre, tomou o seu duche, e então.....o sol começava finalmente a acordar!!!...

Por que é que que eu não sou igual à minha mãe????!!!!

Anamar

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

"SÓ PARA ESPAIRECEREM !"

Hoje a inspiração está falha....então, deixemo-nos simplesmente extasiar com estes "mimos" da mãe Natureza, sempre pródiga, generosa, gratuita!!!!..... Valha-nos isso!



       Oportunamente, trarei mais "maravilhas" para vocês...

Anamar

"E MAIS DECRETO....."

Começo a ficar preocupada com a preocupação ou efeito, que alguns dos meus posts causam a terceiros, nomeadamente a minha filha mais velha, que na sua boa intenção de me ver bem, começa a "bombardear-me" com tentativas de solução, pressionando-me e deixando-me ainda pior.
Eu sei que é tudo por uma boa causa, a de filhos ou amigos...sei que é na boa intenção de tentarem ajudar-me.
Mas o que é facto é que começo a sufocar-me aqui deste lado, em relação à escrita.

Este post, tenho-o escrito desde domingo...
Sei que nem aquece nem arrefece, é sempre a mesma merda...mas desculpem, por precisar de pôr cá fora o que me apetece pôr.
Essa, a função do meu blogue...não outra.
E se ele começa  a funcionar como "lápis azul"...então cerceia a minha liberdade de sentir e aliviar...
estive até hoje na dúvida se o colocava ou não no "ar", sopesando os "danos" colaterais. Mas bolas! Só queria que entendessem: será que eu sou tão anormal, que gosto de sofrer?
Pensem um pouco: quem mais que eu quereria ser feliz e estar bem? Quem mais que eu quereria encontrar um caminho de vida positivo, ver a vida de outra cor?
Não vêem que se o não faço, é porque não consigo? E não vêem o caudal de cansaço e tantas vezes de desistência que me assola?....
Eu sofro exactamente como aqui coloco....sinto exactamente como aqui escrevo, agarro-me a todas as bóias que me estendem, como um náufrago...mas sinto ser uma questão de resistência pessoal! Estou extenuada, bolas!!!!



Que inferno!

Ontem decretei que não fazia mais anos, e hoje decreto que não haja mais fins de semana!
Ontem foi sábado, hoje é domingo...entre um e outro, venha o diabo e escolha!!
Hoje é aquele dia famigerado, em que percorro a lista do TM e toda a gente está ocupada : a Manuela está na Escócia, o Manel foi para a Ericeira, o Pedro deve estar a banhos, a Bia nunca sei o que faz ao fim de semana, porque nunca se combinou nada, a Fatinha está no Algarve...a Lena, bem, a Lena tem a sua vida familiar que eu, de facto, não tenho o direito de devassar mais.
Aqui, a anormal sou mesmo eu...

Pensei que um sítio possível para estar em paz, fosse a esplanada que já tenho frequentado muito...o Belas Clube de Campo, com a vista a espraiar-se no horizonte até à ponte 25 de Abril, até aos campos de golfe, até aos lagos, ainda por cima com um ventinho super agradável a correr, na canícula deste domingo insuportável!...

Mas, azar dos azares; isto está cheio que nem um ovo...quer no interior, quer cá fora na esplanada. Claro que cada mesa tem três ou quatro pessoas, famílias que vieram aqui normalmente almoçar, criancinhas que naturalmente incomodam...ou incomodam-me a mim, que estou sem paciência e queria estar só.

Estou a apanhar com a conversa da mesa ao lado, em que se fala de decoração de casas XPTO, direito de partilhas pós-divórcios, de amor e ódio, da vida de terceiros....
Por aqui existem os Manéis, os Franciscos, os Zés Eduardos, as Marias, as Constanças....tudo muito "in", tudo muito "bem"....ou então, eu já estou tipo "avis rara" que não se enquadra em nada e me canso de tudo.
No fundo, se calhar, o que eu sinto é desdém ou inveja por não conseguir ser normal como os demais....
É a minha tradicional raiva da vida, é a acidez e mau estar a subir por mim acima...

Tenho que encarar que qualquer dia ninguém me atura, de tal modo estou acre, azeda, insuportável, provavelmente (como dizia ontem), absolutamente farta de mim própria, e sem conseguir sair disto...

O que é que posso fazer?? Não sei viver...não racionalizo...vivo vinte e quatro horas pendente de um emocional que está podre, e por isso estou a ficar "incuravelmente" ainda viva!...

Estou esgotada...hoje sinto-me absolutamente cansada, com uma angústia a amarinhar-me, e a puxar-me para casa...embora eu saiba que não é boa ideia.

Afinal, ainda nem 4 h são, e é domingo....

Anamar

sábado, 28 de agosto de 2010

"DECRETEI !..."

É mais um sábado.
Ando a dormir mal e estou agora a tomar o pequeno almoço. É meio dia e meia, estou no café "dos velhos", como eu costumo dizer, como se o Escudeiro, agora encerrado para férias, não estivesse ainda mais "tumba" que este!
Este, é mais um lugar de poiso de "aves de arribação", e depois, de "habitués", tipo D. Madalena, que é utente diariamente, quando as primeiras chuvas ou frios a desalojam da minha praceta.
Não faz realmente bem à cabeça este ambiente, eu acho...e dou por mim, que já não estou boa, a ouvir falar de desgraças, ao lado, por trás...na mesa da frente....
A Lena um destes dias dizia-me : " Tu, por amor de Deus, não me pares muito por aqui!!...."
As hipóteses diferentes são muitas, mas a vontade não ajuda; podia, por exemplo, ir até junto do rio e tomar por lá o pequeno almoço. Mas não, o imobilismo habitual e derrotista invade-me, e não me mexo....
Os fins de semana são terríficos....continuam a ser terríficos. É um vazio e um buraco assustador cá dentro.

Daqui a uns tempos, não muitos...faço anos.
E meditava eu, um destes dias, em como "voou" o tempo, do ano passado para este ano.
Este ano vou arranjar um esquema alternativo, para "saltar" o dia no calendário. Não há quem aguente os telefonemas, os parabéns, as palavras que me vão marcar a data....
Não, não quero fazer anos! Não quero mais dias e semanas e meses a escoarem-se por cima de mim e a arrastarem-me, violentando-me, numa espécie de vórtice ou tsunami...Chega!

Não tenho inimigos, ou pelo menos acho que os não tenho. Não considero ninguém como tal....mas tenho um, monstruoso e inultrapassável....o TEMPO...que é carrasco e que passa, passa e passa e é intolerante e insensível ao sentir de cada um...

Este ano não faço anos...aliás...não vou fazer nunca mais....DECRETEI!
Vou sumir do mapa nesse dia, para infantilmente o esquecer!...

E pensar que quando somos jovens adoramos fazer anos! É uma emoção a chegada do dia, é uma eternidade até que ele chegue e uma ilusão sobre o que será a vida, fazendo mais e mais aniversários, com tanta estrada a percorrer....
A entrada na adolescência, o sentir-se adulto, as conquistas, a liberdade e independência que pensamos sempre que se alcançam (quando afinal sempre somos escravizados por algo na vida), os sonhos que temos ( e parece que não há tempo que chegue para lhes dar vazão), as metas e as conquistas que vamos alcançando, as realizações obtidas....

E mesmo quando começam os primeiros "invernos" na vida, a força que sentimos em nós, para os atravessar, mais ou menos incólumes....
Ainda nada é tempestade, deserto, impossibilidade!
Olhamos em frente, e o caminho ainda é tão longo para percorrer, que estamos seguros que mais cedo ou mais tarde atingiremos o desiderato de ser felizes...
Não demos ainda as primeiras "cambalhotas" da vida, e acreditamos sermos eternos vencedores,  que  temos forças para sermos eternos lutadores, e não sucumbiremos nunca!...

Que ilusão, meu Deus!

Se nós pudéssemos espreitar por uma "frestazinha" lá atrás, o que realmente é a realidade??!!
Se nós pudéssemos aos vinte ou trinta anos não ter a ingenuidade que lhes é inerente, e perceber que é mesmo verdade, o que, os que estão "quilómetros" à frente, nos dizem e sempre achamos uma chatice e um pessimismo incomodativos??!!

Mas não...e de repente, um dia "acordamos"....; perdemos então a inocência!
Instalou-se a "invernia" à séria, nas nossas vidas. O caminho encolhe a esta velocidade assombrosa, e começa a "escurecer" muito mais cedo; o ar desabrido começa a invadir-nos, e é quando os olhos já capitulam, que afinal passamos ironicamente a "ver melhor", a "ver tudo"...a ver que o "tudo" é já tão "pouco"!....

Por isso , decidi : não faço mais anos!!! Queiram ou não!!!...

Anamar

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

"MAIS DO MESMO..."


Começo a cair na realidade...
Chegada de férias, como sabem há poucos dias, não pelo facto de serem férias, porque "férias" tive eu, forçadas o ano inteiro, mas porque o "mundo" onde estive foi outro, me parecia que "tudo" tinha ficado da porta para fora, no "quintal"...

Esta sensação de liberdade, de libertação de peso no coração em quase todos os momentos, acompanhou-me de facto quase todos os dias, como vos contei, na Costa Rica.
Do rafting ao rappel, de cavalgada a floating, de cobra a macaco, de mar a céu, de calor irrespirável a chuva torrencial...de tudo experimentei, como quem procura como que "desintoxicar-se" à viva força, como quem precisa deixar pendurado num galho da mais alta árvore da selva, todas as perturbações que a preenchem e a destroem...

Mas acabou, claro, como tudo acaba....

Dirão: "olha-me esta...queria que o bem bom durasse o tempo todo!!"....
Não é o caso, juro-vos...só queria de facto voltar a ver o mundo com as cores que lhe são devidas, voltar a sentir-me um pouco solta, criança, inconsequente...sei lá,  mesmo por aqui, no meu "buraco", com a D. Madalena e o resto da comitiva no seu posto de todos os dias, nesta praceta descaracterizada ; reduzida às caras do costume, aos cafés do costume, confinada à casa, ao PC, às poucas compras no Super por baixo de mim, que faço diariamente (porque como não cozinho não preciso de grandes coisas...) ; confinada ao dormir, com a Rita aos pés, umas noites mais impaciente que outras (acho que não está bem e tem dores) e ao levantar a sacudir o "pó" do "sótão", a tomar o meu duche e a sentir-me gente (única fase do dia em que ainda sinto uma energia acrescida), como se ESTE, fosse o dia em que a minha vida iria mudar...; confinada a constatar que ando presa por "arames" e a fazer de conta que me aguento e que estou viva!

Lá irão dizer : "Puxa...lá voltamos ao mesmo...não há remédio para esta cabeça!" - e se calhar não há mesmo!

Poderia (e se calhar deveria?) não estar a escrever aqui nada disto, mas precisei aliviar um pouco a "tampa", e estou-me borrifando que daqui a pouco tenha a minha filha "à perna",  por causa deste texto!

É que, se também não escrevo, pouco sobra, fico sem o resto do ar que respiro, que já não vai sendo muito...portanto, como costumo dizer : "Pulem este post...quem sabe um dia destes a minha vida muda mesmo radicalmente, assim como se me saísse o euro-milhões na forma de brinde dos céus, embrulhado com laço de fita e tudo?!...

A coisa recomeça a ficar "preta", como "soi dizer-se"...o que significa que as coisas postiças nunca deram grande resultado; mais cedo ou mais tarde, o invólucro cai e lá ficam as misérias à mostra!
No meu caso, a força que parece que tinha, está a ir-se (certamente não era real), estou a sair da cena que montei, desasada, assim, sem palmas, com a sala vazia e a cortina a correr-se...

Desculpem...uma vez mais.
Começo, como diz a minha mãe (que tem quase 90 anos) de si própria, a ficar "farta de mim"!
Fazer o quê? Começo, ou recomeço a cansar-me de ser um foco de preocupações e mau estar para terceiros, e gostava de, repentinamente...."pufft"....sumir do mapa, desaparecer de circulação, esfumar-me no espaço!!...

Anamar

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

""PURA VIDA..."

                                                                                                                 E cheguei.... 



















Se eu quisesse descrever a Costa Rica, faria um borrão verde num papel, pintava azul de um lado e outro e uma doçura nos rostos, que só conheci nestes países atravessados pelos trópicos.

Os homens, então, são particularmente amáveis e doces, de uma doçura e sensualidade quase irresistíveis!
A alegria, a leveza de vida, a inconsequência que paira é igual aos ritmos musicais que os acompanham quase vinte e quatro horas por dia. Começam o dia cantando e terminam-no cantando também...é realmente "pura vida"....o lema perfeito desta terra, saudação permanente entre as pessoas...os TICOS, assim chamados por ancestralmente, na sua linguagem, usarem os diminutivos sempre terminados em "tico".

Os cheiros adocicados, eu já os conheço, são os de sempre, os tropicais, inigualáveis em qualquer lugar do mundo, as cores, de todos os câmbios e tonalidades, os gritos, trinados, assobios, chilreios de todos os pássaros, começam mal o dia começa também, e este, começa muito cedo.
Antes das cinco da manhã já o dia se inicia, com sol ou com chuva.
Este ano tenho os gritos dos "monos" (macacos), bem perto do hotel, que pelas quatro da manhã já urram a anunciar um novo dia. Hoje, estavam particularmente barulhentos...dizem que anunciam a chuva que chega, e que de facto tem sido torrencial....

Não há "stress", não há afobação, não há esgotamento; as pessoas têm o que a terra dá e o mar carrega, não vivem em função dos bens de consumo, não se preocupam com

os bens materiais...têm  uma natureza pródiga à sua volta, e água, muita água por todo o lado; Caribe de um lado, Pacífico do outro, e muita, muita fauna e flora, inestimáveis (5% da biodiversidade mundial).
Este país, tão pequeno no mapa é um verdadeiro "pulmão" do Mundo, e penso que, felizmente, ainda não está muito divulgado....
É um país sem exército constituído, é um país cuja prioridade dos seus habitantes, todos eles, com ou sem formação, é o desenvolvimento, numa aposta de preservação total da generosidade do pedaço do planeta que habitam.
Há uma consciencialização comovente, de todas as pessoas, desde o motorista da "pick-up" que te transporta, ao biólogo que se mudou definitivamente para lá para estudar "in loco" a flora e a fauna existentes, pois todos têm uma noção muito clara, dos atropelos irreversíveis que estão sendo feitos ao planeta!

A Costa Rica não tem máquina fotográfica ou câmara de filmar que a enquadre...ela apenas pode ser transportada nos nossos corações e nas nossas mentes, para o resto da Vida!!....

Anamar

terça-feira, 3 de agosto de 2010

"TEARS IN LIFE"

 Hoje fui dar um beijo à minha mãe.

Vou-me ausentar por alguns dias, tentando carregar para longe do meu horizonte, toda a angústia e morte interior, que me assola há muito.
Como se levasse e pudesse deixar fardos ou cargas, pela simples ilusão de que não estou no mesmo sítio de sofrimento...
Como se o céu não fosse exactamente o mesmo, como se o sol também o não fosse, como se a lua, mesmo cheia, não "escutasse" lá, exactamente como cá, os meus murmúrios, não me embalasse e não me estendesse os braços para me secar lágrimas....
Quanta ilusão!....
O peso que transporto é tão grande, que nem sei se o avião vai chegar a bom porto!!

Bom, mas dizia eu que fui dar um beijo de despedida à minha mãe, porque, apesar de eu odiar todas as despedidas, sei que ela não pensa assim, e sempre diz a uma qualquer de nós : "Sim, porque isto, há viver e há morrer"!!....
Coitadinha da minha mãe que nem aos noventa anos conseguiu criar o seu próprio estatuto pessoal....e para ela, a vida....somos nós, do Frederico até mim...

Vinha a atravessar a ponte, e sempre me acompanho de música no carro, medianamente alta, o suficiente apenas para eu a ouvir, quando Eric Clapton lançou para o ar aquele maravilhoso, quanto arrepiante "Tears in Heaven".

Esse tema, por razões particulares, e por mais anos que vão passando, está ligado a um passado algo recente, está ligado a uma pessoa por quem tenho um carinho peculiar, mas que a vida se encarregou de desviar noutra rota, numa encruzilhada....

E porque os pensamentos, tal como as cerejas e tal como as conversas também são incontidos e indomáveis, fiquei a pensar como é frequente que na Vida, pelos mais variados motivos, as pessoas se "percam"....

A gente perde objectivamente pais, filhos quantas vezes, amigos, companheiros de jornadas tantas vezes longas, amores que se partilharam com a força duma chama que podíamos garantir jamais se extinguiria, vizinhos, pessoas de crcunstância no nosso relacionamento diário...

As pessoas "perdem-se"...perdem-se mesmo....e por vezes encontram-se em situações de doença, partida, dificuldade...
Quantas vezes sabemos de este ou aquele, que foi tão próximo nosso....e que partiu....partiu sem avisar (tinha que ter avisado todo o mundo que foi o seu...) !
E pior que isso, nesses momentos em que nos apoiamos uns nos outros, em que choramos juntos, em que atiramos a rosa branca sobre o esquife que desce, em que lembramos tudo o que já foi....prometemo-nos que dali para a frente irá ser diferente...tem que ser diferente...

E depois... a Vida, polvo de tentáculos gigantes...reduz todas as coisas ao que já eram...

"Tears in Heaven"  ou "Tears in Life"....não sei o que será mais real!!!

Um beijo para vocês todos.....espero voltar.....porque isto, como diria a minha mãe : "Há viver e morrer!"....

Fiquem bem!

Anamar