domingo, 13 de dezembro de 2009

"HAVERÁ UM NATAL..."







Olá
Calculo que calculem que não estou a bater bem....e não se enganam, de todo.
Há dias (poucos) atrás, resolvi fechar o "estaminé" por aqui. Achei que se calhar escrevi coisas que não deveria ter escrito, por outro lado, por referenciado que está, o blogue não comporta coisas que precisava escrever e não escrevo (pois sendo do domínio público, deixo de ser eu mesma a de uma forma incondicional e inconsequente , entenda-se livre, a sentir-me solta para escrever o que me desse na gana - das maiores obscenidades aos pensamentos mais santificados).

Em suma, sinto-me de facto limitada mesmo no bom sentido, a manter "um boneco" que tem dias não corresponde minimamente ao que eu sou, ao que eu sinto e ao que exponho...Esses, normalmente, são os dias em que não escrevo.

Eu sei que gente feliz procura gente feliz, e gente amarga, descrente, cansada e triste, afasta de si todos os outros, (porque ninguém aqui é Cristo...), só que não consigo explicar que eu também queria sê-lo....apenas não consigo!

E levo a vida a ouvir estupefacções perante eu o não ser.
É a velha história do "tens que pensar ", "não deves fazer"....."assim não adiantas nada"..."sabe-se lá o dia de amanhã"..."tens tudo para dar certo"....
Juro, nunca tive tanto psicanalista na minha vida a julgararem em causa alheia....porque para julgar em causa própria, chego eu, que sei tudo isso, que cubro a dor a ansiedade e as mágoas, com uns tais cobertores que inventaram e se chamam anti-depressivos, e que servem lindamente para me robotizarem ou tornarem-me um "zombie" no meio da multidão!

Eu já desisti de tentar explicar a quem nunca o experienciou, o que nos leva a desejar por misericórdia, que um dia com um céu limpo e um sol de Inverno esplendoroso (e que eu adoro, terminando o dia junto a uma lareira para uma boa conversa, bem négligé, frente a um copo de vinho, sem horas...varando a noite...), dizia que já desisti de explicar, que esse céu, esse sol, essa lareira, esse vinho....os sinto como agressões, provocações,  porque de acordo com o meu interior deveria chover a potes, estar um dia cinzento, uma borrasca tão grande quanto a da minha vida.

Assim, tentei criar outra "casa" num outro espaço...mas o resultado foi catastrófico...ambiente gelado, falta de conforto, sei lá...um vazio ainda mais vazio que por aqui. Aqui, pelo menos já fiz um ninhozinho, ao qual sou fiel, como as andorinhas......

Resolvi ir ficando, massacrando quem me lê e  talvez ache que me entende, rachando a cabeça da minha filha mais velha que, por bem, eu sei, acha que não faço esforço para alterar os pressupostos à forma como encaro os dias neste momento... e aconselhando a quem acha assim uma coisa do outro mundo eu entregar-me a este imobilismo, solidão e enconchamento, a mudar de espaço ou de blogue e procurar algo com mais lógica, mais soft, menos em tons de cinza!...

Talvez seja verdade que não há nada mais ilógico que a lógica que me tem como refém  hoje. Acredito que sim....acredito que sei "as orações de cór" e não rezo....mas também sei seguramente que eu serei a protagonista duma história que eu gostava de conseguir levar a bom termo...disso eu estou absolutamente certa!...
Se não avanço um passo, é porque o não consigo fazer..


Deixo-vos um poema que adoro do grande David Mourão Ferreira...com que acordei vá-se lá saber porquê às três e meia da tarde, e que não mais me largou a cabeça:

«Ladainha dos póstumos Natais»

«Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito»

 

David Mourão-Ferreira, in "Cancioneiro de Natal"

Anamar

2 comentários:

MariahR disse...

Olá Anamar
Como te entendo...talvez venha um dia um Natal em que nos consigamos aceitar tal como somos.
Grande abraço
Maria

anamar disse...

Olá Maria
Uma maré muito muito ruim por aqui...muitos focos de incêndio na origem deste gigante que atravesso.
Haverá um Natal em que talvez me sinta ainda mais só, mais exaurida, mais desgastada que este....haverá, talvez, mas será difícil...
Um beijinho
Anamar