quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

"RESPIRO..."



O despertador tocou...puxei o édredon, aninhei mais o gato nas minhas costas, e recusei-me a abrir os olhos...
Os números luminosos na penumbra do quarto, marcavam quatro e um quarto da tarde. Chovia...de certeza tinha que estar  a chover!
O reflexo que vinha da rua pelos interstícios da persiana, parecia mostrar um esgar de sol, e na verdade também não conseguia ouvir aquele barulhinho aconchegante da água, quando bate nos peitoris...
Mas que raio, eu tinha direito a inventar um cardápio do tempo...e de certeza estaria a chover!

Constatei que respirava...logo, vivia!...

Apetecia-me inventar uma história para o dia de hoje...assim uma história de fadinhas, varinhas mágicas, sininhos e luzinhas de piscar.
Apetecia-me montar uma vassoura e sair pelo meio dos flocos de nuvens, por aí... ao encontro de um sítio onde ainda houvesse malmequeres.
Será que ainda há malmequeres pequenininhos, minúsculos, como aquele que só os olhinhos do António seriam capazes de descobrir, no meio das ervas, para me oferecer??!!...
O Pedro...o Pedro um dia também me ofereceu um malmequer pequenininho...e eu derretida....porque me sentia menina e mimada!!!
E não estávamos no país dos sonhos nem nada!...

Lancei o meu bafo no vidro da janela...embaciei-o... e consegui desenhar um sol. Aí vi que realmente estava viva ainda... Gente morta não desenha sóis...

Sim, porque muito tempo andei enganada. Julguei que estava muito viva... sentia o sangue quente pulsar-me nas veias, subir-me à cabeça, ao sexo, ao coração.... mas não estava nada.....estava só a sonhar!...

Sonhei todo o tempo que me deixaram.
Andei por aí, a julgar que era gente....e não era....andava fantasiada de gente, isso sim...e era feliz!
Eu também, não presto para gente....sou assim mais....uma coisa inventada... Sei que estou viva porque realmente embacio a vidraça!

Os meus olhos, andam um bocado à minha revelia. Olham sempre lá p'ra longe, ou lá p'ro alto... Aí, é porque andam à procura da minha gaivota.
Só gente doida é que acha que tem gaivotas, não é?
A minha, de quando em vez, desafiava-me, pesquisando-me...de soslaio.
Essa sim...tinha a mania que era gente, e não acreditava, quando eu me fartava de lhe dizer que era muito melhor ser gaivota...

Dancei a minha vida de roda..."Um, dó, li, tá...cara de amendoá"...Soltava gargalhadas de menina, cada vez mais entontecida da dança de roda....e a vida estava sempre no mesmo sítio.
Agora, pronto... acabou. Deixaram-me sozinha naquele relvado, só com o sol que consegui desenhar, com os olhos teimosos, o coração mais ainda (porque não quer e não quer ficar ali sozinho), a chamar, a chamar, a gritar para me ouvirem...e nada...e nem sequer há malmequeres, mesmo pequenininhos...

"...um sorriso colorido....quem está livre, livre está!..."
Anamar

4 comentários:

Anónimo disse...

Olá Ana
Ainda bem que tudo bem contigo.
Um beijinho

Fernando

anamar disse...

Olá Fernando
Não...de facto, tudo mal comigo...acho que cada vez tudo pior comigo..."deixa p'ra lá!", como dizem os brasileiros.
Beijinho
Anamar

Anónimo disse...

O chá estava uma delícia.
Obrigada
beij

Maria Romã

Anónimo disse...

Os convites já seguiram..
beij, outra vez

Maria Romã