quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

"A SÉPIA OU A CORES..."






A minha casa está pejada de molduras rodeando fotos recentes, assim assim, ou antigas.
Parece uma galeria de história, e de certo modo é exactamente isso...a minha história...

Aquelas que mais me prendem os olhos, são as fotos a sépia ou a preto e branco, que se lhes tivessem deixado acumular a poeira do tempo, seriam verdadeiras relíquias.

O que é um facto, é que por vezes acham que eu tenho um culto bizarro pela fotografia, quase uma compulsão interior; sem elas sentir-me-ia muito mais despida, vazia, ou pobre.

Há fotos desde a minha bisavó, ao mais novo elemento da família, que tem dois anos e meio, mas se minuciarmos, sem os efeitos das novas tecnologias, as fotos a preto e branco e a sépia, ganham uma riqueza toda especial.

"Parece um museu", há quem diga, mas cada sorriso, cada penteado, cada toilette, narra só por si uma história, uma época, e eu ainda consigo claramente lembrar, as cores dos vestidinhos com que a minha mãe me ornamentou para o efeito, tivesse eu dois, cinco ou mais anos.

Há fotos que nos fazem sorrir de ternura, perante a imagem que exibem...
há as que nos deixam com uma saudade doce, dos que já partiram; ainda dói, sempre vai doer, mas o desespero já deu lugar à paz quieta da doçura; outras têm histórias à sua volta, que conseguiríamos repetir quase fielmente...tão bem sabemos como foi...a birra da criança que não queria ser fotografada, a cara atontada de quem se surpreendeu com o flash inesperado, a expressão de "pose" estudada para a situação, ou o rosto simples e desartilhado de quem convive calmamente com o tirar de uma foto, naturalmente, sem quaisquer subterfúgios para o efeito...
há as que ainda têm o calor, o cheiro e o som do local onde foram captadas...e há as que vão estar guardadas em arcas, ainda muito e muito tempo, até que as dores que com elas se abrem , cicatrizem por completo...
Essas que evocam momentos julgados felizes, são as que nos arrancam lágrimas de desespero ao revê-las, porque os tais momentos já inevitavelmente fugiram, ou porque foram momentos sacralizados no nosso coração, que se tornaram intocáveis.








Em qualquer circunstância, eu tenho de facto o culto da fotografia, acho que já aqui disse neste espaço, que era como se eu conseguisse meter para sempre, dentro daquele quadradinho de papel, o que estou exactamente a viver nesse momento...
É como se pudesse afinal, "driblar" o tempo, como se o aprisionasse, porque o fixei, fi-lo parar ali, e mais ainda, posso fazer daquilo, uma reprise visualizável vezes sem conta, sem ter que pagar novo bilhete de ingresso por cada exibição!!!...

Eu, aliás, tenho, ordenados em arquinhas de cartão, pequenos/ imensos apontamentos, que vão de uma folha de azevinho, a uma concha ou pedrinha da praia, um guardanapo de papel duma esplanada, o que resta de um bilhete de cinema, uma factura de um restaurante...e claro, muitas e muitas fotografias estritamente mais particulares, embrulhadas em dias felizes, de céu azul, mar turqueza e sol a iluminar flores aos molhos...eternidade!!!...

E será para a eternidade que me acompanharão, seguramente, quando esse dia chegar e já não for eu a contemplar as "sépias" do meu "museu", mas ser eu a fazer parte, quadradinho a quadradinho desse eterno "museu"....

Anamar

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